segunda-feira, 11 de abril de 2011

Filhos

É chegado o momento de mudar o disco, o ritmo dos dias - tem a partir do parto - a cadência dos choros da inocência. Planejados ou frutos de uma felicidade fugaz em braços de carnavais eles chegam como uma bomba-relógio subvertendo todo o nosso relógio biológico. Filhos...
Pedaço de mim,
Metade afastada de mim.
Berçando-os baixinhos em versos translúcidos de amor trocamos o dia pela noite, pernoites... Incontáveis pernoites... Trocamos fraudas, mama daqui, mama dali, mamadeira, haja mamadeira, ufa! É madeira de dá em doido. Filhos...
Pedaço de mim,
Metade exilada de mim.
Vêm os primeiros dentes, dói... Dói na gente. Dentes de leite, um sorriso, um deleite. Vêm os primeiros passos inseguros, os seguramos, os levantamos e paramos para vê-los se equilibrando na metáfora da vida. Filhos...
Pedaço de mim,
Metade arrancada de mim.
Eles nos fazem vagar em sonhos quiméricos prenhe de esperança escoltada pelo medo da perda e a coragem de quem ama como um bicho. Medo e coragem, essa antítese ambulante moldurada de porto-seguro disposta a extremos incondicionais. Filhos...
Pedaço de mim,
Metade amputada de mim.
Ensinamos-lhes o beabá e eles nos ensinam a conjugar verbos do tipo: perdoar, dividir, e principalmente amar. Eles crescem e não podemos mais respirar por eles. Mas como bons para-raios que somos estaremos sempre no alto de um arranha-céu desviando-lhes, ou pelo menos tentando, de todas as descargas desse moinho chamado mundo. Filhos...
Pedaço de mim,
Metade adorada de mim.
Agora rezemos para que nunca cantemos... Saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu...

4 comentários:

  1. Tá tão lindo que nem sei o que comentar. Aplausos, aplausos, aplausos
    Bjux

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  2. Essa simbiose de versos seus com versos do Chico, além de terem ficado perfeitas para desenvolver o tema, formaram um poema lindo, forte e maiúsculo. Parabéns!

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  3. primo, que belezura!!!!! eu, pai recente e corujão, me emocionei. a maria percebeu versos do chico, eu não; então, podemos mesclar mais um verso do "poetinha":

    "filhos, melhor não tê-los
    mas se não os temos, como sabê-los?"

    desde já peço autorização para publicar no meu blog de literatura, olhar o tempo, ok?

    abração

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  4. Li este também, maravilhoso e com uma das canções que mais gosto do Chico, você tá ficando chato viu moleque rsrsrs.

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