sábado, 23 de outubro de 2010

Discurso de Formatura

Lá ia eu começar mais uma aula de inglês em plena manhã do primeiro sábado de fevereiro de 2006. Olhos avermelhados pelo torpor de uma noite mal dormida, sono desenhado na face, e o friozinho na barriga natural do primeiro dia de aula. Friozinho esse que me acompanha desde a primeira aula que ministrei lá no ano jurássico de 1994. Quando não mais senti-lo, é porque o ato de lecionar já há de ter me lesionado.
Antes de entrar na sala uma ligeira prece rogando aos deuses da educação alunos com a mesma disposição e motivação que as minhas. Do contrário o semestre já estaria fadado ao fracasso.
Quando virei a maçaneta e coloquei meus pés naquele espaço que carinhosamente chamo de permuta de conhecimento tive minhas retinas encandeadas pelo brilho faiscante dos olhos ávidos por aprendizado daqueles quatorze quinze alunos.
Silenciosamente agradeci aos deuses da educação e risquei um sorriso no rosto. Então começamos a aula e por tabelinha começávamos ali a estreitar laços de amizade que nem de longe suspeitávamos que aconteceria.
Foi um semestre auspicioso. Diria mais, foi um semestre dos sonhos. Sempre pautado é claro na filosofia socrática – o diálogo. Transmissão de conhecimento meus amigos se dá através do diálogo. Quando a aula não era boa, as sugestões eram sempre bem aceitas por esse humilde educador. E quando vocês não correspondiam as minhas expectativas, meus conselhos sempre revestidos de muito carinho eram sabiamente bem aceitos por vocês também. Parafraseando Platão, o belo é o esplendor da verdade. E foi montado no cavalo da verdade que cavalgamos durante esses quatro anos.
Vocês não tiveram medo de mergulhar nas águas da aquisição de outro idioma. Engoliram água, bateram pernas, bateram braços, bateram cabeças – só não bateram boca - e espantaram todos os tubarões do comodismo e foram paulatinamente aprendendo a nadar. Os homens que me desculpem, mas creio que o segredo está na alma feminina da turma. Acho que poderia até chamá-las de Silmara D’arc, Mônica (Anita) Garibaldi, Martha Tereza de Calcutá, etc.
Mas os meninos, claro, também têm o seu valor. Com eles por perto a turma era ainda mais homo, calma meninos! Quero dizer ainda mais homogênea. Em suma, cá estamos festejando o sucesso de mais uma conquista e o mérito é todo de vocês. Daqui a pouco vocês vão atravessar aquele portão e um rombo se abrirá em nossos corações. Então encerro minha fala com versos de uma música do Lulu Santos. E quando vocês cruzarem aquele portão nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Lei de Talião

...E aquele lobo do homem vivia sob a lei de talião. Com ele era olho por olho e dente por dente. Pobre coitado, acabou cego e banguela.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

domingo, 17 de outubro de 2010

Enigma

Alguém...
Ligeiramente
Incendiou-me
Nas
Entranhas.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O voto

O veneno do voto são nossas conveniências.
(Paulo Medeiros)

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A visão do Inferno

A penumbra esbranquiçada tem um violento cheiro de orgia no ar. A música de gosto duvidoso – é o que menos interessa naquele momento - anima homens solteiros e casados na perene busca animalesca por fetiches e aventuras ilícitas. Na mesa de plástico branco as garrafas de cerveja quente se misturam as vendedoras de sexo em trajes fuck me baby e combinam com a performance fria das strippers.
Na passarela-vitrine putas fora das formas padrão de beleza vêm e vão com um sorriso escravo alugado na cara. É ali naquele cadafalso que elas fazem a exposição da mercadoria de quinta categoria. É a lei da sobrevivência. Elas se rebolam literalmente para tirar daquele mundo profano o pão sagrado de todos os dias.
Os clientes avarentos em seus lares, sonegadores de impostos em seu país e impostores do amor tornam-se verdadeiros perdulários diante dos vícios e dos prazeres selvagens da carne. Os pobres carentes saem da casa só para maiores sem nenhum real furado no bolso da calça jeans encardida. Diante da face do prazer não há amanhã, o limite é a chuva de prata.
Eles só caem na real no dia seguinte quando nem o dinheiro do ônibus os infelizes têm. O que eles têm agora é muita vantagem pra contar. Fiz isso, fiz aquilo, foi assim, foi assado, foi cozido, foi guisado.
No próximo pagamento uma nova página dessa busca insaciável pelo sexo vazio a dois será escrita. Parafraseando o saudoso Tim Maia, no inferninho vale tudo, só não vale dançar homem com homem nem mulher com mulher.

domingo, 10 de outubro de 2010

Metamorfose Ambulante

A voz oscila, falha. É grave, é aguda, é motivo de gozação. Um rascunho de bigode se desenha discretamente nos cantos da boca como se fosse um time de futsal – são cinco pêlos de um lado e cinco de outro. Algumas espinhas já começam a pipocar no rosto. Os banhos agora são mais freqüentes e mais demorados. O garoto é a própria testosterona.
No bolso da calça do colégio um bilhetinho. Na hora da saída quero falar contigo atrás da cantina. No Orkut mais scraps. Na prateleira do quarto a coleção do Max Steel ainda faz parte da rotina do menino de treze quase quatorze anos que acabara de trocar a pubescência pela puberdade, se é que existe alguma diferença.
Depois do banho demorado tem que rolar um perfume, o penteado despenteado tem que estar impecável. A mãe condena o que as gatinhas do colégio absolvem. O desencontro dos cabelos. Penteia esse cabelo direito menino! Que coisa mais feia!
O pai não fala nada, mas se fosse a filha, a Larissa, a conversa seria bem diferente, não é seu Paulo? Pode ter certeza que sim. rs.
O fato é que os anos voaram e as brincadeiras de criança vão cada dia mais dando espaço aos CDs de música, ao isolamento no quarto, aos telefonemas secretos, fins de semana na casa de colegas de escola, etc.
Atravessar a rua de mãos dadas com o pai nem pensar. O que os brothers vão pensar dele. Ele tem que manter a fama de mau. Sabe que um vacilo diante dos amigos pode custar um ano inteiro de piadinhas corrosivas que serão lembradas daqui a cem anos, e não estou aqui usando de hipérboles não. Nessa idade a crueldade dos sarros é implacável.
E quando indagado sobre as súbitas mudanças ele parafraseia Thiago de Melo: Não tenho nada de novo apenas o jeito de andar. Ah moleque!PS: Júnior ama os pais e sua admiração por eles está tatuada em sua retina. Ele muito mais que o pai, é coruja.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Encontro

Quando meus olhos encontram os seus
Eles falam pela boca
Que tímida...lá no fundo deseja a sua
A vontade de roubar-lhe um beijo
Rouba minha razão

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O show tem que continuar

Dizem que o sonho de todo palhaço é ver o circo pegar fogo. O humorista Tiririca - candidato a deputado federal pelo estado de S. Paulo - ensandecido com tantas iniquidades no país do futuro passou a mão no bigode, ajeitou a peruca, derramou litros de gasolina em volta do circo e foi as emissoras de TV pedir que o povo riscasse o fósforo. Pois, segundo ele, do jeito que está pior não pode ficar. A iniciativa irônica rendeu mais de um milhão de fósforos riscados.
Agora a câmara dos deputados estará muito bem representada, o ar lúdico estará impregnado em cada canto daquele lugar, as brincadeiras jocosas darão o tom (que não é o Cavalcante por enquanto, quem sabe nas próximas eleições) dos próximos projetos toscos por eles apresentados, a Florentina fará sucesso por lá. Mas não podemos negar que de agora em diante tais projetos terão a assinatura de um deputado genuinamente palhaço.
Para aqueles que duvidaram: Cala a boca abestado. Afinal de contas, o show tem que continuar. Tiririca pra Presidente!

sábado, 2 de outubro de 2010

Oh gostosa!

Aquele momento foi único
Tudo aconteceu muito rápido
Abri-te, deslizei minha mão sobre teu corpo
Peguei-te ao meio,
Aproximei minha boca da sua;
Você suava, não resisti.
Uma hora você estava por cima
Outra hora estava por baixo
Poucos minutos depois você estava acabada.

Oh coca-cola gostosa!