terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O que alimenta a saudade?


A saudade se apresenta assim que a pessoa amada se ausenta. E ela chega com uma adaga na mão esquerda bem aos moldes medievais. Rasga, perfura, dói.
A saudade é traiçoeira. Sempre te pega sozinho. Ela é o ou a amante que paradoxalmente gosto do outro ou da outra.
A saudade nos saúda com a fragrância de um perfume, nos colore o dia com a foto preto e branco.
A saudade é definitivamente obesa. Ela pesa, mas o que a alimenta?

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Que rei sou eu?


O Pelé é o rei do futebol. Roberto Carlos o rei da jovem guarda. Michael Jackson o rei do pop, Juan Carlos I o rei da Espanha. Reginaldo Rossi o rei do brega. E eu aqui me pergunto, que rei sou eu? O rei leão? Hey Jude? Acho mesmo que estou mais pra Rei...naldo Gianecchini. Tô falando sério!

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Mães não fazem 69

Tudo que minha mãe me fala sempre tem peso dois. Hoje, aos sessenta e nove anos, sua voz está pesada. Também pudera, a semianalfabeta que me ensinou o ABC carrega na carcaça o peso de sete AVCs.
De tão doce contraiu diabetes e o coração do tamanho do Amazonas uma hora precisaria de pontes. Cinco safenas e uma mamária. Generosa até na doença, uma ponte pra cada filho.
Dona Nonata tem como vizinha a morte, que por sinal não deu sorte, foi ter logo como vizinha uma mulher forte. Mamãe ficou torta, puxa a perna, porém nos ensinou a fazer tudo direito e nunca puxar o tapete de ninguém.
Mas o pior de tudo isso citado acima foi ouvir da boca de minha mãe um dia após seu aniversário a seguinte frase: Ontem eu fiz 69. Essa minha mãe!!

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Rabo crônico

Definitivamente, brasileiro gosta de rabo. As mulheres adoram um rabo de cavalo, os homens, um rabo de saia, os boleiros, um rabo de arraia, as fofoqueiras, um arranca rabo, os políticos, um rabo preso, os covardes, meter o rabo entre as pernas, office boy, o rabo da fila, e os comprometidos, um rabo de olho. Se você não concorda, então...

domingo, 11 de novembro de 2012

Caminhando...


Caminhando nos rincões dos meus pensamentos tropecei na ilusão de suas promessas. Doeu, não os joelhos, o coração. Esse, coitado. Perdeu o fio terra e se queima toda vez que o interruptor da paixão é acionado.
Caminhando nos rincões dos meus pensamentos escorreguei nas súbitas reticências de suas falas. A pausa inquieta cobriu-me como o sudário mitigando a fluência de dias vibrantes e intumescendo meu cataclismo interior.
Caminhando nos rincões dos meus pensamentos esbarrei nas reminiscências de sua essência. Arfei, suspirei, busquei a lógica na vertigem do ilógico. Paciência, não consigo as respostas nem nos tubos de ensaios da ciência.

sábado, 10 de novembro de 2012

Quimera


Gostaria de morar num lugar onde fofoca fosse algo fofo como uma foca. Gostaria de morar num lugar onde olho gordo fosse raquítico. Gostaria de morar num lugar onde preconceito não fosse tão precoce quanto nossos pré-conceitos. Gostaria de morar num lugar onde a paz de espírito fosse o espírito da coisa. Gostaria de morar num lugar onde a cobiça fosse cabaço.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O lenço

Setembro
Intenso
Outubro
Tenso
Penso
Repenso
Não entendo.
Moral imoral
Amoral
Não me arrependo.
Senso
Denso
Um brado
Brando,
Novembro
O lenço.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Saudade Morta


Ontem matei a saudade
Hoje acendo uma vela
Véspera de finados
Celebro a morte
Da saudade dela.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Tempestade

Quatro da manhã, trovões e a ameaça de mais chuva. Casa destelhada, vigília acompanhada de Tom Jobim, águas de março, halloween. Manaus, caos, Sandy sem Júnior... furacão, arrasa, devassa, toca o terror. Furacão... meu amor.

domingo, 28 de outubro de 2012

Poeta – um fingidor


Estranhei as velas de trinta e cinco anos sobre o bolo de aniversário do poeta cuja idade eu calculava uns cinquenta. Curioso, perguntei-lhe a idade e ele foi lacônico. Cinquenta. Inquieto, tasquei-lhe outra pergunta. E por que velas de trinta e cinco anos? Enfático, respondeu. Eu comemoro os anos que me restam.

Adeus

Hoje acordei com um sorriso frouxo e me deparei com o seguinte bilhete na cabeceira da cama.
“Não te quero mais. Sua felicidade me incomoda.”
Assinado: Tristeza da Silva

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Manaus

Manaus...
Habitada por gente simples
De sorriso fácil e jeito faceiro
Esparrama suas idiossincrasias
No chão íngreme de seu canteiro

Manaus...
Aqui se abraça o inimigo
Como se fosse um irmão
Numa alegria atônita
De quem come peixe com as mãos

Manaus...
Que não prescreve o mormaço
De ar molhado como a dizer:
Sou este inferno de amar
Apedreja-me, e ainda terás o meu afago

Manaus...
Perene abrigo verde, tingido
De Eldorado para todas as tribos
E quando do teu arco a flecha parte
Longe de ti... O pior castigo

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A Coroa

Microconto.Juvêncio sonhou em encontrar a coroa de sua vida. Ontem foi ao Municipal clube e se envolveu numa briga por causa de uma. Hoje pela manhã o vi cercado delas. Lembrança de seus amigos e familiares.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Uma vez por semana

Microconto. Eu, réu confesso, matei a saudade com requintes de felicidade. Agora é esperar pela missa de sétimo dia e matá-la novamente.

I have a dream

Em 1993, era eu o último aluno a sair da sala de aula quando um louco se aproximou de mim todo desconfiado, olhou para os lados e sussurrou com um bafo de liberdade a seguinte frase. Preciso da sua ajuda para libertar jovens cidadãos dos grilhões da alienação. Quer ser professor?
Sim. Respondi sem pensar.
Eu, que sonhei em ser comissário de bordo, caí de paraquedas nessa profissão a partir desse convite. O Boeing da educação precisa de pessoas preparadas, comprometidas e apaixonadas pelo que fazem e esse insano professor que me convidou enxergou tais qualidades em mim.
Já que era para embarcar nessa viagem, que de céu de brigadeiro não tem nada, tinha que ser como piloto. Sabia das turbulências, mas com o manche em minhas mãos ficaria mais fácil voar dentro das nuvens carregadas.
Então hoje viajo nos livros e sem remorso troquei meu speech “bem vindos a essa aeronave” por bem vindos a vida!
P.S: I still have a dream. Yes, we can.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Começar de novo

Quando era criança não gostava da noite, ela me parecia a metáfora da morte. Cresci e passei a gostar do anoitecer, agora a metáfora é do prazer, porém hoje esse entardecer me remeteu aos meus dias de criança e piorou quando escutei a música “começar de novo” de Ivan Lins. Lembrei da mamãe fechando as portas e janelas com essa música de fundo como trilha sonora de alguma série da TV. Então, anoiteça pra mais um dia começar de novo.

sábado, 6 de outubro de 2012

Aos pés da rija carne

Aos pés da rija carne
Rendi minha longevidade
Inútil riscado do tempo
Diante de tal sublimidade

Aquela que mal saiu do berço
Me escangalha do avesso
Depois me embala, ironicamente
Sem pressa, prenhe de apego

E cantando eu quero você
Como eu quero
Me faz dormir e sonhar
Nos braços do futuro degelo

E se não mais levantar
É porque o sonho virou pesadelo
Aos pés da rija carne
Me rendo...
Vou desaguar no meu antigo terreiro

Mas por hora não quero mais conjeturar
Sem pressa e prenhe de apego
Vem me escangalhar do avesso
Aos pés da rija carne
Sempre me rendo

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Durou enquanto foi bom

Microconto. Vende-se uma cama de casal seminova.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Homenagem ao Ricardo Sales

Homem perspicaz e resoluto. Resolveu mudar as estações por conta própria. Promessas e mais promessas, palavras ao vento e o antônimo do sim vinha em formas de jabs. Knockdown a todo momento o deixava cada vez mais íntimo da lona que estava ali como sempre preparada para acolher o sparring do “não” cuja toalha jamais seria jogada. Estrategista, fez dos clinches a camisa de força da lei de Murphy para manter seu cartel digno de sua coragem.
O knockout pendulou em ganchos, esquivou daqui, esquivou dali, espalhou o frango e nada de baixar a guarda e muito menos usar de golpes baixos. Não foi preciso morder a orelha de ninguém para sair vencedor. Ele só precisou de fé e fair play, gêmeos xifópagos, siameses indispensáveis a qualquer boxeur queixo duro.
Suas fraquezas, que insistiam em cinturá-lo, foram surpreendidas por uma joelhada voadora no meio da cara, não digo que me surpreendi, o cara que conheceu a adversidade já nos primeiros anos de vida não ficaria no corner da zona de conforto se fingindo de coitadinho sob os aplausos da comiseração. Bobeira, meu amigo, é não viver a realidade. E ele foi a luta, uma baiana seguida de um arm-lock fez com que a paralisia infantil batesse e saisse resmungando: Esse cara é casca-grossa!
Nos últimos seis meses e muitos rounds dentro do octógono da vida, Ricardo fez uma raspagem na dificuldade e finalizou o percalço que dessa vez não teve a ajuda do gongo. Ele jamais confundiu derrotas com fracasso e com o passaporte da vitória nas mãos e o mundo aos seus pés, hoje meu amigo, te parabenizo pela conquista e tomo a liberdade para te sacanear: você finalmente está com as duas muletas nos Estados Unidos!






terça-feira, 18 de setembro de 2012

Sou Poe...

Sonhei em ser poeta. Fiquei no meio do caminho. Sou Poe.. Quem me dera!

domingo, 16 de setembro de 2012

Crack

Microconto. Waleska se envolveu com o Ronaldinho Gaúcho, Adriano, Robinho e Bruno. Coitada, viciou em crack.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Esperar...

Esperar…
Tem sido meu exercício de paciência nos últimos seis meses. Contar dias e horas tornou-se o anabolizante da minha ansiedade. Hipertrofia nada salutar.
Esperar...

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Beijo linguístico

Fazendo uma pesquisa tosca sobre o beijo e suas figuras de linguagem, ou seria figuras de linguadas? Consegui identificar sete tipos. Aí estão eles:

Beijo-antítese. Uma cabeça pra um lado e a outra pro outro.
Beijo-onomatopéia é aquele que produz sons do tipo splash.
Beijo-hipérbole é aquele beijo exagerado com a impressão de que seremos engolidos.
Beijo-eufemismo é aquele beijo suave, sem pressa.
Beijo-pleonasmo é aquele que por si só já é um pleonasmo. Não beijamos quem não gostamos.
Beijo-clímax é aquele que dispensa definição.
Beijo-zoomorfização é aquele beijo animal com mordidas e pegadas.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Esperar...

O tempo, tão relativo, tem me mostrado ao longo dele quão impotente, quão pequeno eu sou. Esperar é meu calcanhar de aquiles, minha cripitonita. Esperar me escangalha a alma. Ficar rascunhando o futuro é um exercício de tortura. Dói, tira o sono, me deprime.
Enquanto escrevo essas mal traçadas continuo a esperar... esperar... esperar... o futuro que chegará com o nome de presente e muitas vezes o presente é de grego. Que esse não seja o meu caso. Oremos ao senhor.

domingo, 9 de setembro de 2012

Aurora Voluptuosa

Berço de desvarios,
Regaço quente
Esfriando reveses de,
Noites em claro e,
Dias obscuros.
Aurora voluptuosa...

sábado, 8 de setembro de 2012

Aborto elétrico

Microconto. Ela estava grávida, levou um choque. Aborto elétrico. Nasceu o Legião Urbana.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Bodas de perfume


Até chegar a composição complexa e sólida da madeira eles passaram pela empolgação das bodas de papel, primeiro ano de casado e a certeza de que casamento não é ruim como as pessoas falam. Lua de mel sem fim, perene. Vento bom arejando a janela na varanda. Vendaval embaixo dos lençóis e o colchão, coitado, precisando de reposição. Sugiro até que revejam essas bodas, deveria ser bodas de lençol ou cama para o primeiro ano de casado.
O segundo ano chegou idílico como a leveza do algodão e sem aquelas pequenas sementes negras e triangulares que precisam ser extraídas antes do processamento das fibras. E fibra e discernimento são vitais para a saúde do relacionamento que, por sinal, nem de longe precisou ser intenado na UTI. Pressão arterial do casamento 12 por 8!
Três anos. Bodas de couro. Ela se orgulha, meu bebê ainda dá no couro. Mas cai a ficha, casamento não é só cama, assim como o couro, ele tem outras muitas utilidades. Acentuam-se as diferenças ou as semelhanças – o que muitas vezes pode ser um problema também. Porém, exercita-se a cumplicidade todo santo dia embaixo de quarenta graus de derreter a moleira. Um balão de oxigênio é bem vindo. Dá um novo gás ao laço matrimonial.
Ao longo dos anos, Durval e Suymara aguaram o casamento com o regador do companheirismo, fidelidade e franqueza. A plantinha do amor floresceu como as mais lindas pétalas de uma boa safra de amor. Querem uma prova? Dudinhaaa, Vem cá! Bodas de flores regado com uma nova vida. E tenho certeza que nesse lindo campo tem mais flores, tem mais vidas!
Cinco anos casados e eles nos mostraram com quantos paus se faz a jangada indelével das bodas de madeira. A amarração é feita paulatinamente isolando as frivolidades da rotina. Do contrário, não há jangada que resista ao sal do mar do cotidiano, maresia corrosiva e agressiva como um câncer.
Porém, hoje, seis anos depois, Durval e Suy comemoram bodas de perfume, e não é um perfume qualquer, não é nenhum Avon da vida ou muito menos uma seiva de alfazema, fraca e falaz. É um Prada, italiano, criado para pessoas atemporais, inteligentes, elegantes e visionárias. É a cara da riqueza! rsrs
Parabéns Suy e Durval, amigos de longa data. Meu carinho por vocês é enorme!



sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A contragosto


Agosto de augusto não tem nada. Mês que usurpa de nossos dias com o furor de um tornado. Assomo de coisas ruins. Nunca fui com a cara dele, eu o acho um mau caráter. Sempre aprontando das suas. Se dependesse dele, provavelmente duraria o ano todo.
E olha que meu pai comemora aniversário nesse mês, grandes amigos também celebram seus aniversários em Agosto, mas tenho cá minhas desconfianças que esse é o mês de aniversário do coisa-ruim. Quando ele faz a festa os convidados pagam as prendas. E pagam com fraturas, sangue, cheque especial, cartão de crédito e tal.
Tudo que envolve a palavra gosto eu não gosto. Quando bebo não como tira-gosto, quando recebo meu salário, que desgosto! Na minha casa sempre ouço da minha mulher: aqui é tudo do meu gosto, na sala de aula um monte de aluno a contragosto, rua recife até evito, ojeriza do hospital 28 de agosto.

domingo, 26 de agosto de 2012

Corri pro abraço

Dias pálidos se bronzeiam com abraços apertados, palavras verdadeiras, olhos nos olhos e conversa, muita conversa. Nada de bronzeamento artificial. Esse, vicia e mascara tal qual a felicidade etílica. Definitivamente, troquei as cápsulas de humor químico pelos tonéis de abraços desfibriladores.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

No aeroporto

Microconto. Roberto corria em direção ao finger quando o telefone tocou. Com um oi turbinado ele atende. Aí, vamos sair hoje? Não estou na cidade. Roberto perdeu o avião.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Furo de reportagem

Microconto. O repórter subiu o morro. Ele queria um furo de reportagem. levou um tiro.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Rio de Janeiro

Vejo um Cristo, me curvo.
Corcovado...
A encantar índios e gringos
No calor do teu regaço
Lindo tu continuas...

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Único

Único. Que é só no seu gênero, na sua espécie. Muito superior aos outros de seu gênero ou de sua espécie; incomparável, ímpar. Que é só um. De cuja qualidade ou natureza não há outro. Exclusivo; excepcional. A que nada se pode comparar. Que não tem semelhante. Superior a todos os demais.
Bom, é assim que vocês do Terceiro 1 se adjetivam – terceiro único, sem o clichê do “Terceirão” tão comumente usado pelos alunos do último ano do ensino médio. Vocês deixaram o aumentativo para as emoções vividas no decorrer do ano. Os pré-universitários querem a intensidade do momento.
O que não é top vira motivo de tapas, fight. Top e fight, estrangeirismo incorporado ao meu vocabulário de tanto que as ouço, no entanto lamento informá-los, mas fight não é top, é brega. Deixem a violência para os fracos. E tem sido assim, dos choros as gargalhadas, dos afagos as unhadas o volume é sempre o mesmo. No máximo! Turma do barulho, do dominó, do futebol, turma do caralho!
Quando o espantalho do cansaço se aproxima para o abraço do estrangulamento (é) era na FM de vocês que sintonizo e assim reenergizo o corpo e meus vinte e um gramas de alma.
E quando o bicho pega pro lado de vocês, qual estação vocês sintonizam? Help! FM do povo, já que dizem por aí que a voz do povo é a voz de Deus. Eu até tento falar classicamente numa língua bárbara, porém é na aula de português que rola aquela química. Sinergia gratuita, admiração escancarada, me desculpem o pleonasmo, uma admiração admirável.
Mas tenho certeza do agradecimento de vocês aos outros membros do corpo docente da escola que a propósito, nunca fizeram doce e muito menos corpo mole quando o assunto é educação. Prepará-los para o nível superior seria um cheque sem fundo, um equívoco irreversível dentre as grandes possibilidades depositadas na conta de um educador. O golpe de mestre, o cheque-mate é prepará-los para vida.
Já estamos no meio do ano, o terceiro único daqui a pouco será coisa do passado, as brincadeiras pueris ficarão no bolso da memória juvenil e a trotes largos vocês caminham rumo ao trote universitário, a farra de boas-vindas a um mundo novo, porém não se enganem, a farra para por aí. Vocês ainda passarão muitas noites em claro estudando teorias, teoremas, tecidos, fonemas.
Quero finalizar meu discurso parafraseando um trecho de uma música do Lulu Santos que sintetiza muito bem a passagem de vocês pelo Melo e Póvoas, na verdade esses versos resumem a vida. Ano que vem quando voltarmos para essa escola, nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia.





segunda-feira, 9 de julho de 2012

Manaus, algemada pela violência


A violência nos atinge a queima-roupa. Queima roupa e compra um colete a prova de balas, conselho de amigo e dizem que conselho bom até do diabo a gente aceita.
Calibre 38 nas mãos de desequilibrados. Tambor cheio de balas tocando o terror na cidade do mormaço. A dança acaba com um corpo no chão maculando o asfalto de vermelho e os gritos do desespero. E o Dj que aterroriza a festa troca o CD e parte pra outra com a ameaça de fazer uma mixagem naqueles que se aproximarem.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

... E eu me achando

Hoje é aniversário da minha mãe e pensei em presenteá-la com algo que fosse a cara dela, mas sou péssimo para escolher presentes, nunca acerto. Então decidi perguntá-la.
- Mãe, o que a senhora quer ganhar de presente hoje?
- Meu filho, gostaria de dinheiro pra comprar meu remédio.
Amordaçado pelo silêncio fiquei. Chute nos culhões! Murro na boca do estômago. Mãe, quantas noites a senhora foi dormir mais tarde por minha causa? Quantas noites a senhora deixou de dormir por minha causa? Quantas manhãs a senhora acordou mais cedo por minha causa? Quantas vezes a senhora deixou de comprar suas calcinhas para comprar minhas calças? Quantas vezes a senhora chorou por minha causa? Quantas vezes a senhora largou tudo por minha causa? Foram essas perguntas que ficaram ruminando na minha cabeça na eternidade daqueles segundos. E eu achando que estava arrasando não consegui perguntar mais nada. Nem o nome do remédio.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Jantar dos namorados

Lua cheia, copo vazio,
Mesa cheia, corpo vazio,
Boca cheia, papo vazio,
Barriga cheia, bolso vazio,
Assim foi o jantar dos namorados.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

No dia dos namorados

Após uma conversa ao pé do ouvido, o pé na bunda foi ouvido de longe. Ela descobriu no dia dos namorados que o pé de cabra era na verdade um pé de galinha.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Pescador de ilusões

Com a roupa amarrotada e a cara passada mergulhei num uníssono lago de bom dia, professor. Respirava uma esperança ressecada e com a voz grave fui apertando a mão de cada um escamado. Abordado por um peixe de médio porte tive o sono afogado pela comparação com um pescador.
Então pensei cá com minhas barbatanas: É, sou mesmo um pescador de ilusões.

domingo, 27 de maio de 2012

Hotel cinco estrelas


Nunca fui de resolver meus problemas com os punhos cerrados de ódio e dedo em riste. Nem mesmo quando o peito tufava de juventude. Oceano pacífico em pessoa. As palavras, cujos poetas revestem de lirismo, essas sim são os sonhos de valsa que carrego comigo. Obviamente em algum momento da jornada tenha distribuído palavras farpadas caramelizadas de chocolate amargo.
Por onde passo pegadas de altruísmo vou deixando com a perene esperança de derrubar as barricadas construídas pelos soldados do egoísmo. É inebriado por esse amor ao próximo que caminho sem a vaidade do perfume, sem o lenço do rancor, sem o documento da empáfia.
Quero otimizar a fugacidade de minha estadia nesse hotel chamado vida. A hora do check-out aproximasse a cada celebração de aniversário trazendo consigo a prata no cabelo, pés de galinha e a dor na ponta do bico de papagaio o que infelizmente não dificulta o pulo do gato e muito menos de subir no telhado. Vou aproveitar o parco tempo que tenho para ir pintando as estrelas do meu hotel. Tamanha efemeridade exige de minha parte que pinte cinco.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Para os amigos

Toda vez que fico doente penso que vou morrer. Uma unha encravada e já começo a me despedir dos familiares e amigos. Tem sido assim desde os cueiros, essa é a tônica, a crônica de minha vida. Tenho medo da morte desde quando tinha medo dos mortos, o que me garantiu vários conselhos de minha sábia avó: “Meu filho, tenha medo dos vivos.” Ao passo em que esse temor cresce a morte me fortalece e me fortalecerá até o dia em que esse cara de pau aqui vestir o paletó de madeira. Minha missão? Deixar o meu sorriso no sorriso de quem por perto estiver, quero a profusão do amor, quero aliviar a dor. Quero ser para os meus amigos férias em Natal, bloco dos sujos no carnaval, poema de Drummond, crônicas do Millôr, e como o Jobim, nunca perder o Tom. Esse texto efêmero como a vida e simples como eu, despeço-me com: Valeu a pena! PS: Então viva a vida, pois ela não nos dá a chance de PS.

sábado, 7 de abril de 2012

Coletivo

Na caravana da vida, conselho é cambada, congresso é corja. O fato, esse era de cabra, agora é de lobos... alcateia de engravatados. E nós, um bando de cáfila, falange proletariado a viver em manada (ô vida de gado) a mercê da matilha de súcia.

terça-feira, 20 de março de 2012

A cura e a doença

O uniforme maculado de mediocridade carrega nas costuras as trevas da alienação. Eles cambaleiam sorridentes rumo ao cemitério de mortos-vivos. A farra do farto mundo vazio leva a dezenas de exonerações num parco período de tempo. E os doentes fazem hola cada vez que um World Trade Center de bagagem cultural desmorona-se nos braços do seu Duc. O seu Duc não se incomoda e muito menos investiga tanto desmoronamento. Com mão de obra barata, ele constrói um novo prédio num fechar de páginas e traça as metas de novas conquistas. Metas ambiciosas. Conquistar noventa e um por cento de autômatos e dar cabo a não natural função de PENSAR. ( to be continued)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A gulosa

LOIRA FAMINTA, boca aveludada e bumbum G. Realizo seus desejos completos. Carinhosa e não sou careta. Quer conferir?Fone: 7823-1180. Cada anúncio naquela folha de classificados era como lotes de terra batida de luxúria. Metro quadrado de sussurros e gemidos vendido a preços populares. O prazer da carne nu e cru oferecendo o profano pincelado de sagrado por aquelas gêmeas da Eva. Meus olhos sobrevoavam aquele latifúndio do amor fácil e aquelas palavras maquiadas do pecado da gula incharam minha libido a ponto de tufar tanto dentro do meu saco da tentação que minha vida monogâmica foi tornando-se flácida. Syleuza deslizava de uma extremidade a outra na cama, remexia, gemia e gemia enquanto descansava seus duzentos e oito ossos fraturados de mordidas. Ela hibernava em desejos reprimidos. Pensei em acordá-la para serenar os ânimos e acabar com seus sonhos calientes e os meus indecentes, porém impermeabilizada estava ela. Amarrotei o jornal e o larguei ao lado da cama, desliguei o abajur e deitei meu corpo em labaredas. Queria a luz do dia invadindo a janela do quarto para, enfim, apagar aquele fogo. Insistentemente boca aveludada... Desejos completos... Bumbum G. ... Carinhosa... Latejavam em minha cabeça. Levantei-me e desembrulhei aquele cataclismo de desejos. A transgressão me lambia a pele. Ligo ou não ligo? Era a pergunta que não queria emudecer. Ainda que roído pelas traças do tempo, o respeito, órgão vital em um relacionamento pulsava forte em meu crânio calvo apesar do cárcere privado que se tornara meus mergulhos em límpidos aquários. Na geografia da Syleuza tinha eu migrado de porto seguro para porto velho. Ela é carinhosa e não é careta. Bom, mas por que ela não colocou a idade? E se for uma velha e gorda? Careta? Se for para ir ao inferno, é melhor que seja acompanhado de uma mulher jovem e bonita. Então, como um bom professor de lingüística, fiz uma breve análise do discurso. Careta é uma palavra anacrônica. Essa loira deve ter seus quarenta e cinco anos. Puta velha... Poderia ligar para outra terceirizada, era assim que encararia aquele encontro, no entanto caros leitores, a palavra tem poder e faminta foi a que despertou meu interesse e abriu meu apetite. Syleuza continuava a gemer e a rolar na cama de meus pesadelos. Os ponteiros do relógio na parede refletiam o meu instinto e protagonizavam o meu futuro ali na horizontal um em cima do outro. Vesti-me de coragem e liguei fragmentando a fala. Uma voz lânguida invade meu ouvido. - Olá, boa noite. - Loira... Loira fam... Faminta? - Loira glutona! - Qu... quanto... cu... custa? - Cento e dez reais por uma hora e meia. Pronto. Juntei a sede com a vontade de comer. Detalhes acertados, com a testa beijada deixei Syleuza em meio a devaneios impudicos e desgarrei-me dos braços do espantalho da solidão rumo ao breu daquele encontro às escuras. A tentação arreganhara de vez seus dentes em minha direção. Cheguei a casa 171 na Rua Belo Horizonte ciceroneado pelo medo e através da campainha anunciei minha chegada. A porta abre-se rangendo no silêncio palpitante daquele momento e vejo a dois passos de mim cento e dez quilos de uma loira faminta... Engoli a seco as imagens do meu pensamento e extraí, testemunhado pela lua minguante, as presas afiadas da tentação.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Mundo de Vidraças

Na noite em que pingos de espírito natalino encharcam de altruísmo os corações mais fleumáticos, Joaquim com seus cabelos pretos e bigode alvo racha a pele na sequidão de seu deserto intrínseco. Criado pela madrinha cujo senso de família ficou arraigado em tenra idade, ele era o próprio compêndio de uma aridez emocional. Teve a chance de pontilhar as letras castrada pela dura cartilha de uma criança que tinha o pedido de benção guardado no bolso do abandono desde os primeiros cueiros. Adultecera cedo e a perene ojeriza pelas relações familiares era o cume de um legado degenerativo. Experiente aos dezenove anos ganhava pouco dinheiro com muito trabalho para a madrinha – pois, ele não via um único centavo do salário - singrando as águas pálidas do Solimões e as negras do Negro como ajudante de bordo do motor de linha Andrade. Carregar fardos de feijão, farinha, engradados de cerveja era bem mais leve que o fardo do desamparo. A ausência da figura paterna pesava como uma cruz em cada braço. Seu Luís, proprietário do Andrade, tentava debalde assumir o papel de educador com receio de vê-lo às cegas em caminhos lôbregos. Num recreio carnavalesco lá pelos rincões do Careiro da Várzea Joaquim encontra o fim dos dias insípidos no olhar rutilante de Nonatinha. Foi amor à primeira vista. Aquela carioca de cabelos na altura dos ombros e olhos arredondados lhe caiu como uma tábua de salvação. E incentivado por ela e corroborado pelos conselhos de seu Luís largou a vida de marítimo para trabalhar por conta própria e logo a prosperidade bateu-lhe a porta e o matrimônio pousou-lhe sobre os ombros oito meses depois de muitos encontros às escondidas. A união foi o visto para a liberdade. O casulo matrimonial de muitos é a carta de alforria de outros. Já no primeiro Natal, o primeiro em família com direito a ceia e estouro de champagne, deixou a esposa em casa com a desculpa de ir ao açougue apanhar sua capanga com a renda do dia e viu o romper da aurora no puteiro Maria das Patas. O sereno boêmio da Manaus dos anos setenta lhe caíra como um véu. O brilho da primeira estrela no céu era o convite da metáfora do prazer àquele notívago outrora reprimido. As noites no Maria das Patas – reduto dos açougueiros e taxistas – roubaram aquele homem renegado pelo pai dos braços daquela que seria capaz de cortar os pulsos por ele. Todas as noites Nonatinha ameliamente esquentava a janta, arrumava a mesa e o esperava perfumada de esperança de que com a chegada da primeira filha a gandaia juvenil se esvairia. Mero engano, com as rugas marcando a passagem do tempo em sua face, Nonatinha, doméstica não letrada, resolutamente embrulhara a esperança num papel de resignação estóica. Os filhos foram nascendo um atrás do outro, todavia o sangue farrista do pai ausente lavava as veias de Joaquim não o permitindo largar o osso da velhacaria. O coração leviano o mantinha refém das portas mundanas que o dinheiro abria. Com o aumento da prole e a concorrência de algumas bocas profanas disfarçadas de sobrinhas da madrinha, os negócios ancoraram em meio a um lodaçal movediço. Por conta da escassez do dinheiro o ritmo frenético de suas farras e a presença constante dos amigos foi se desvanecendo. Os arranca-rabos se hospedaram na casa metade de madeira, metade de alvenaria. A casa era a própria síntese do casal. Sem mais as porções de ilusões proporcionadas pelos rabos de saia Joaquim queria, em plena véspera de Natal, encontrar o pai como se sua benção o libertasse do pântano da solidão...

domingo, 1 de janeiro de 2012

Vitrines

Braços cruzados para trás, passos curtos, queixo no peito, balbucio na ponta dos lábios típico dos insanos e a companhia itinerante de dois vira-latas. O desvario do cabelo prateado endossava a suspeita de mais um órfão da sanidade mental vitimado pela finitude terrena.
Assim perambulava em meio à multidão pelas ruas do centro da cidade um dos moradores mais antigos da av. Eduardo Ribeiro, seu Bafo de Onça. Depois que ficou viúvo a casa tornara-se quase que inóspita. Só pisava naquele assoalho para descansar as pálpebras. A fachada da casa retratava fielmente as fraturas que a morte da esposa causara em sua vida.
A solidão fermenta a loucura quando a viagem aos porões da alma se dar pós encontro da vida com a morte. Sem mais os ouvidos atentos de sua amada, não era possível agora ouvi-lo cantando todo santo domingo:
“... Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
“Que entornas no chão...”
As Vitrines, de Chico Buarque, era a música favorita dela. Bafo de Onça perdera a poesia que galopava em suas veias e se isolou como alguns falaram, ou se libertou como falaram outros, em um mundo sem vaidades e sem as fatias do tempo. Completamente raptado pelo desapego as coisa materiais, respirava dor, porém buscava na transparência das vidraças a certeza de encontrar o esplendor da verdade sem o absolutismo pregado pelo casal de filhos que tentou, sem sucesso, interná-lo em um sanatório.
Eles são todos loucos!Mais cedo ou mais tarde vou encontrá-la, ela foi às compras, só isso. Esse era seu mantra. Bafo de Onça dava mais ouvido aos dois cachorros que aos próprios filhos que vez por outra o ironizavam ao dizer-lhe da proximidade de tal encontro. De fato pai, o senhor está prestes a encontrar a mamãe, mas não nesse plano terreno. Alimentar-se só de esperança encherá seu peito de terra e seu corpo de pebas. Cravou a filha.
Retornar para casa à noite não mitigava a saudade dos quarenta anos dedicados àquela mulher de um homem só. E sem a companhia dos vira-latas a atmosfera era ainda mais lúgubre musicado pelos pingos da torneira da pia metaforizando o choro dos amantes.
Isaura, a filha mais velha, percebera a ausência dos cachorros naquela semana e os reconheceu dormindo em frente da Mesbla sob o sereno de março. A loja ganhara dois cães de guarda enquanto Bafo de Onça, enfim, gozara da tranqüilidade de noites bem-dormidas. E a filha estranhara a súbita mudança de ares.
Domingo, oito de março amanheceu e Bafo de Onça acordou cantarolando, sacou do guarda-roupa a sua melhor roupa, reconciliou-se com o chuveiro, preparou um bom café da manhã e foi ao encontro dos seus fieis escudeiros que durante uma semana fizeram vigília na porta da loja de departamentos. Antes, porém, passou em uma floricultura, comprou um bouquet de flores e com um sorriso tatuado no rosto chegou ao seu destino. Os cães fizeram a festa e sem cerimônias diante da vitrine ele entregou seu sorriso àquele manequim utopicamente perfeito e bailou cantando:
“... Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
“Que entornas no chão...”