terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Cachorro

Sempre fui muito reticente em relação a ter cachorro em casa por uma simples questão de espaço e despesa. Minha casa é pequena e meu dinheiro é parco. No entanto minha filha com todas suas armas de sedução quis me fazer acreditar que seria interessante ter um cachorro em nosso lar. Disse não! Ela argumentou, não, Larissa! Aí ela me fez uns cafunés, não vem que não tem! deu uns beijinhos, esquece essa ideia! disse que me amava, pronto, a pulga que estava atrás da orelha dissipou. Sim!
O Poodle misturado com Pastor Alemão - sei nem se é possível essa mistura - aos três meses ainda não tinha nem nome. Lá estava eu palpitando, com cara de durão, claro. O batizei de Marley Black Medeiros de Jesus - vulgo dorminhoco- já que era pra dar um nome, dei nome sobrenome e apelido.
Pensem num cachorro folgado. O cara se amarra num cafuné, minha filha agora dá mais atenção para ele do que pra mim. Me falaram que ele ia comer qualquer coisa, porém está sendo tratado a pão de ló e leite da vaquinha mococa, só dorme com o ar condicionado ligado. Ciúmes? Imagina! eu com ciúmes de um vira-lata disfarçado de Pastor Alemão pulguento, eu hein, tem mil!
Pra piorar quando chego em casa ele corre pra cima de mim querendo brincar, me lambe todo, me morde, se esfrega, putz, é um grude. Nunca gostei nem de mulher grudenta que dirá do Marley Black.
o fato é que os dias vão se passando e o coração vai amolecendo. Às vezes estou por aí e me pego pensando no negão de olhar cálido. Agora sou recebido em casa com abraço dos filhos, beijo da esposa e lambida do Marley. Estou gostando mais dele do que de muita gente. O Marley é black, o Marley é brother.
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sábado, 28 de dezembro de 2013

Enrustido eu?



Em meio a mais um bate-boca ela tropeçou nas palavras e topou na seguinte frase: Você nunca diz que me ama, seu enrustido! Houve um silêncio... Ele fitou-a enrubescido e limpou a garganta. Desculpa! Outro silêncio. Pensou em se justificar, porém falar o que depois de uma topada na calçada do seu machismo incabível nos dias de hoje e sempre. Após anos de casamento ela descobriu que Pablo era um romântico enrustido.
É tão difícil assim falar "Eu te amo" para as pessoas que amamos? Tenho extrema dificuldade de falar isso para algumas pessoas. É, acho que sou um romântico enrustido.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Retrospectiva 2013



Janeiro trouxe o medo do novo em terras estrangeiras.Fevereiro castigou com o frio e a saudade dos meus. Março negro. Abril de incertezas. Maio de decisões. Junho sem festas juninas, comemoramos o que seria o último aniversário da mamãe. Julho de confusões. Agosto mais desgostos. Setembro de reinício. Outubro ou nada. Novembro o lenço, luto. Dezembro preto e branco. Sem graça, sem Nonata.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Bodas de Cretone

23 de dezembro de 1994 começamos a escrever nossa história no papel de nossas próprias Bodas. Fiz papel de homem e a assumi depois de três longos anos de namoro. Longos para ela, efêmeros para mim. Casei quando o peito ainda tufava de juventude e a vida tão somente era confete e serpentina.
Vida de solteiro era papel ofício, sem espaçamento, em branco, vazio, sem eira e nem beira. Estranhei o papel almaço do casamento com seu espaço duplo e suas margens, porém com muito respeito, foi assim que mamãe me ensinou, andei na linha sem rascunhos de vida louca. Era jovem demais e insano de menos. Não ia fazer esse papelão e me tornar papel picado, pois ela é baixinha e invocada.
Após dois dedos de espaço veio o primeiro filho fruto da falha da pílula anti-vida e do espermatozoide kamikaze que estourou a camisinha. Espermatozoide forte trouxe um filho doce justamente no ano de nossa Bodas de Algodão. Sem planejamento e muito menos script - dizem que Deus escreve o certo por linhas tortas - era hora de escrevermos um novo capítulo de nossa história.
Vieram outras Bodas. Veio a de Couro quando ainda dava muito no couro. Não há colchão que aguente tanto chap chap chap. É bem verdade que agora estou mais ao som desse banzeiro. Depois veio Bodas de Flores e seus espinhos, claro. Seria uma quimera pensar num relacionamento só de flores. Com sete anos de casado quis chutar o balde, balde de lata até o tucupi de questionamentos e perguntas sem respostas. Bodas de Latão. Porém ela filosofava, sábia, muito sábia, parecia Platão. Rosângela segurou a onda, segurou o rojão.
2006. Agora sim, tudo planejado. Construímos nosso casulo e aumentamos a prole. Agora uma mocinha. Larissa foi planejada, calculada, tudo anotado na minha planilha do Excel. Ela não podia nascer em maio uma vez que eu, Rosângela e Júnior aniversariamos nesse mês. Mais um aniversário em maio a firma quebraria. Ela chegou nos braços de julho e trouxe a leveza e o brilho da seda em meio as comemorações de Bodas de Seda sem as larvas agora da conturbada crise dos sete anos. Passamos a ser quatro.
Os anos foram se passando e o peito que tufava de juventude foi adquirindo os cabelos da maturidade. Muita coisa boa aconteceu. O saldo é positivo. Outras Bodas comemoramos: Linho, Marfim, Cristal, Safira, Rosa, Turquesa e esse ano é Bodas de Cretone. 23 de dezembro. Como ando meio aperreado de dinheiro, provavelmente vamos comemorar com panetone. Cretone, panetone, a rima é pobre, mas o sentimento de amor mútuo que fermenta dentro de nós é tão rico quanto o Amazonas.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Então é Manaus...

Que Simone que nada! Quero ver todo mundo cantando dia 25/12 lá no teatro Amazonas a nossa versão.

Então é Manaus, um forno talvez
Aqui não tem brisa, calor outra vez
Então é Manaus, de ti eu sou fã
Com chuva ou sem chuva, mormaço o ano todo
Então é Manaus, paid'égua meu bem
Que venha a Copa e os Ingleses também

Então é Manaus, pro bichado e pro são
Pro rico e pro pávulo, num só coração
Então é Manaus, chibata no balde
De janeiro a janeiro, o ano inteiro
Então é Manaus...

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Boa viagem

Atenção senhores alunos com destino ao ano letivo de 2014, a aeronave dispõe de duas saídas. Alunos com destino a aprovação desembarcarão pela porta da frente. alunos com destino a reprovação desembarcarão pela porta dos fundos. Alunos em conexão, ou melhor, em recuperação, permanecerão na aeronave.
Em caso de emergência, estudem os capítulos 1,2,3. Em caso de despressurização da avaliação, conselho de classe, ultima chamada.
O serviço de bordo - livro à milanesa - será servido assim que estivermos em voo de cruzeiro.
A educação agradece pela sua preferência. Ano letivo 2013,portas em automático. Boa viagem.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Futuro?

"Calma que você tem a vida toda pela frente" desbota velhacamente a metáfora. Desculpa colorir o clichê de sinceridade, mas não é mister dizer, como diria Machado de Assis, que ninguém tem a vida toda pela frente. Atracar-se no pescoço do dito lugar-comum é dar de ombros e amortalhar o que temos de mais precioso nesse plano terreno. O presente, regalo do Cara lá, que não é brasileiro e muito menos grego.
Vivemos a embalsamar o momento sem nem desconfiarmos da nossa transformação em sombras, caricaturas grotescas, projetadas no espelho do tempo. Quebre o espelho e chute os cacos de quimera. A vida toda pela frente faz parte do mistério da eternidade. Afinal, você gosta de futuro ou presente?

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Só na cabecinha

Mentira tem passos calculados. É gelo sob um calor de quarenta graus. Derrete e vira lama, sujeira. mentira tem pernas curtas, cambotas e cheia de varizes. Mentira tem mau hálito, fede, incomoda. Mentira é novela mexicana. Escrota e insuportável. Mentira não tem altura e nem largura. Mentira é estrábica e gaga. Mentira é cartão de crédito, tem senha, código de segurança e um dia a conta chega. Mentira é avião sem trem de pouso, é aeroporto clandestino da má intenção. Em suma, mentira está na cabeça, só na cabecinha.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

"Bença" mãe

Enquanto meu sobrinho despachava suas malas a fome fazia check-in em meu estômago e abria um vazio tal qual o que já estava hospedado em minha alma.
Assim que aquela aeronave recolheu o trem de pouso eu decolei rumo a minha casa. Antes porém, paguei um mico. Não paguei o estacionamento. Cinco reais por vinte minutos. Surreal! Mas deixemos as cifras na caixa-preta e continuemos com o texto.
Saí do aeroporto com o pensamento desafivelado. Ouvia palavras incessantes, no entanto não as conectavas. Incongruências de um coração dilacerado.
Subitamente rasguei meu plano de voo e decidi ir encontrar meus pensamentos. Cemitério Parque tarumã. Escala compulsória toda vez que por ali passar.
Na entrada comprei um maço de velas - minha mãe gostava de velas, uma caixa de fósforos e segui para a sepultura 1492. Aterrizava ali pela segunda vez só essa semana. Logo eu que pouco a visitava. E olha que ela era minha vizinha. Tentativa insana de compensação. Não tem compensação, não tem comparação.
Acendi as velas - serviço de bordo num cemitério - e junto com minha filha rezamos um Pai Nosso e uma Ave Maria, minha mãe gostava de rezar. E no silêncio abissal da quadra 56, fila 39, arguições gritavam dentro de mim.
Decolei do Parque Tarumã morto de fome, mas com a certeza que minha mãe continua muito viva dentro de mim. "Bença" mãe!

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Vidas cruzadas

Estava eu malhando os bíceps de minha paciência na academia bancária quando a Miss Volúpia arreganhou - com pés insinuantes - as portas do desejo. Entrou e se sentou. Ela cruzou as pernas, eu descruzei os braços, cruzou um cheque, cruzei os dedos. Nossos olhos se cruzaram, tremi. Meu telefone vibrou, linha cruzada. Ela se levantou, vibrei. Nos cruzamos, malhei os quadríceps. Vidas cruzadas. Nos casamos, nos juramos, nos separamos. A vida descruzou diante da fugacidade do belo.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Homenagem à minha mãe

Vou começar este texto sendo curto e objetivo. Mãe, a senhora foi uma heroína. E isso não é nenhum exagero ou muito menos uma força de expressão.
Dona Nonata veio muito jovem do interior para ganhar a vida na cidade grande, casou-se e teve cinco filhos, mas o coração – que quase lhe traiu em 2004 – ainda tinha lugar pra mais um, ou melhor, mais uma filha.
O poeta escreveu uma vez que tinha uma pedra no meio do caminho, e no seu mãe, havia pedras, alguns cacos de vidro e muitos espinhos.
Não foi fácil chegar aqui, mamãe passou muitas dificuldades na vida, porém em momento algum fraquejou. Anos oitenta. O país em crise, papai desempregado e ela – junto com o papai, é claro – com poucos recursos financeiros e seis filhos para alimentar.
Deve ter sido muito duro pra ela ter que olhar pra seis crianças e não ter de onde tirar dinheiro para alimentá-los. Quando conseguia uns míseros trocados pra comprar pão, fazia a multiplicação deles. Lembro que a mamãe cortava o pão em fatias bem finas para que pudesse repartir para os seis moleques. Ficava sem comer, seus filhos não.
Também lembro - e essa é uma imagem muito forte pra mim - quando ela acordava de madrugada, fazia o fogo, torcia o pescoço das galinhas e as depenavas uma a uma. E quando os primeiros raios de sol surgiam no horizonte quase todas as galinhas já estavam vendidas. Matava pra não morrer, no entanto se morrer por nós preciso fosse, ah... Não tenho dúvidas de que a ela faria isso. Nossa... Com a dona Nonata não tinha tempo ruim. O seu Joaquim sabia que podia contar com ela pro que desse e viesse.
- Nonata, vai acordar os meninos pra nos ajudar, mandava nosso pai.
- Ah, Joaquim, deixa os meninos dormirem mais um pouco, coitadinho dos bichinhos, respondia ela morrendo de pena da gente.
Aí vieram os problemas de saúde. De tão doce contraiu diabetes, depois os AVCs. Sete, isso mesmo, sete perniciosos e insistentes derrames. Mamãe ficou torta, puxava a perna, contudo nos ensinou a fazer tudo direito e a nunca puxar o tapete de ninguém. Aquela caboquinha do Careiro era sábia. Bom, mas como se isso não bastasse em 2004 foi preciso corajosamente abrir o peito e construir seis pontes, sendo cinco de safena e uma mamária. Uma ponte pra cada filho. Generosa até na doença. Mamãe tinha o coração do tamanho do Amazonas.
Essa cirurgia no coração me deu a exata dimensão do que somos, somos muito semelhantes a uma vela acesa, - já dizia meu pai - basta um simples sopro e pronto, já era. No dia em que eu e papai estávamos diante do médico que faria a tal da cirurgia, e ele nos explicando da gravidade do problema, ouvi as mais duras palavras que um filho pode escutar de alguém. Quando alguém nos chama de FDP, nós até relevamos, mas ouvir um: “Ou ela opera, ou ela tem só mais seis meses de vida.” é duro pra caramba.
Naquele dia caiu a ficha. A vida da mamãe estava por um fio, então pensei cá com os meus botões. Cara, minha mãe pode morrer. Só que a impressão que tinha é que isso nunca aconteceria. Esse procedimento cirúrgico ela tirou de letra.
Mas numa dessas ironias da vida, ou da morte, quem sabe? primeiro de novembro foi o último dia - pelo menos nesse plano terreno - ao lado dela. Ela que sempre foi muito corajosa estava com medo. Eu sempre tão confiante estava receoso. Manaus de um calor infernal chovia forte, eu, talvez o menos carinhoso, fui o último a beijá-la.
E hoje os braços da saudade me estrangularam assim que desci as escadas e atravessei o corredor. A janela estava aberta, mas ela não estava na cozinha esperando pelo seu café da manhã. A casa assustadoramente vazia me levou a um vazio continental. O radinho de pilha calado me deixou pilhado. Fui trabalhar mais um santo dia sem a benção dela que se foi justamente no dia de todos os santos.
Agora não vejo mais a efígie da mulher forte, trabalhadora que durante anos de sua vida acordou cedo e ia à luta sem medo da labuta, sem medo da vida...
Mãe... a senhora deixou seus sonhos para que nós sonhassemos
derramou lágrimas para que nós fossemos felizes
a senhora perdeu noites de sono para que nós dormissemos tranquilo
acreditou em nós apesar de nossos erros
jamais esqueça que levaremos pra sempre um pedaço de seu ser dentro do nosso próprio ser.
Parafraseando a senhora mesmo, nós gostaríamos de ficar só mais um "bocadinho" com a senhora. Saudades eternas... Nós te amamos!
© 2013 MicrosoftTermosPrivacidadeDesenvolvedoresPortuguês (Brasil)
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domingo, 27 de outubro de 2013

Pablo, qual é a música?


Que música é essa? Por que não estão cantando o tradicional "Parabéns pra você?" Festa estranha com gente esquisita? Não tem bolo? Como assim só chocolate? E esses caras de preto e branco? Bobos da corte! E essa rede que não para de balançar? Tem gente dormindo no ponto! Hernane, para de gritar ! Léo Moura quer dar uma palavrinha. Putz, gol de novo.
O Seedorf veio? Se der ele vem. Pessoal, só um minuto, Léo Moura vai se pronunc... putz, enquanto isso na área do Botafogo, gol de novo! Hernane, sossega o teu facho! A festa não é sua, viu! E que música mesmo está tocando? Pablo, qual é a música?
Dá-lhe dá-lhe dá-lhe ô
Dá-lhe dá-lhe dá-lhe ô
Dá-lhe dá-lhe dá-lhe ô
Mengoooooooo!!

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Vida de parênteses

Ela tem seus predicados, suas concordâncias. Cheia de acentos gráficos, às vezes agudos outras vezes graves. Tem seus parônimos, homônimos, suas fases. Sabe usar ênclise, próclise e mesóclise. Sempre me lembra que todas as proparoxítonas são acentuadas. Não curte muito uma aglutinação, porém, justaposição é com ela mesmo.
O que faz dela um advérbio? Sufixo, seu calcanhar de Aquiles. Mente. Abstrato não é o seu forte. Concreto, coitada. Acredita no coletivo; essa corja! bando de alcateia. Perdeu o prumo, o rumo, o acento, o hífen, o hímen. E ainda vem me dizer que tamanho não é documento. Se acabou naquela paroxítona, objeto direto do seu desejo. Pensou que era um travessão, ilusão... Na verdade era um morfema.
Ela não era radical até se juntar com umas desinências nominais, verbais e tal. Hoje não tem mais essa com ela não, os afixos agradecem, pois ela está pegando prefixos e sufixos. Agente da passiva que nada! Já andou até participando de umas verborragias por aí. Fizeram dela uma vogal temática. Ela nega, mas eu sei.
Se continuar assim jamais encontrará seu complemento nominal.
4 minutes ago · Manaus
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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Mãos

Eis as mãos
que abrem alas pro meu carnaval
são elas conduzindo o mundo
na luta entre o bem e o mal
mãos que semeiam a terra
fazem a guerra e castigam o traidor
são as mesmas que afagam o rosto do pecador
vem das mãos o poder de salvar
com as mãos Moisés abriu o mar
Davi o gigante venceu
Antonieta seu trono salvou
Pilatos suas mãos lavou

Balé ritmado das mãos, comunicação
linguagem bailada dos surdos, socialização
criam, recriam e curam as chagas
canta Presidente Vargas

Mãos buscando mãos
fiéis às leis de cada instante
pelo amor, paz e união
por um mundo melhor, menos degradante
humildes, poderosas, ímpias ou piedosas
cerradas ou abertas
são os olhos dos cegos e o arco da flecha
Na agulheta da máquina me levam pro fundo do mar
e como pássaros me fazem voar
quando no fim da vida
encontram no peito o seu leito
e hoje na avenida ainda exaltam meu samba
nas mãos de gente bamba

Minha águia é guerreira, tenho tradição
o meu samba é de fé, arte, amor e paixão
ó Matinha querida vem provar que me ama
faz um coração com as mãos

sábado, 7 de setembro de 2013

Vida de prostituta




Microconto. A vida está dura graças a Deus. Trabalho de quatro até altas horas. Nada de papai e mamãe por perto. Me viro sozinha.






sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Amazonas, expressão do meu viver

Espia só, no Amazonas é assim... comeu jaraqui não sai mais daqui nem com nojo. O peixe aqui não é delicioso, é gostoso no balde. Ê caroço! Almeno é o que falam pelos quatro cantos do estado. E não falam debalde!
Caboco, no Amazonas é assim... tá morto de brocado e quer comer um sanduíche? então peça um sanduba no capricho. Comeu e não gostou? Putatinga! Vai para casa e faz uma gororoba. Não encheu? Putitanga!
Camarada, no Amazonas é assim... quer ir embora? Capa o gato, pega o beco, bora? Borimbora. Se vai de vez, vai de mala e cuia. Se decide voltar de carro, vai ter que dar o balão. Se quer ficar, faz hora então. Se está livre, está só de bubuia. E por falar em bubuia, banho na beira do rio gostoso mesmo é com cuia. E no futebol, ah, no futebol, banho de cuia. Do contrário, pimba! Banho de cacimba.
Mano, no Amazonas é assim... povo bacana é chibata de touro. Apesar de nossas mazelas, ou melhor, nossas perebas, nós rimos, ou num bom amazonês, nós achamos graça, né não? Coisa de amazonense.
Márrapá, no Amazonas é assim... se o negócio é sério, eita porra! é dos vera, senão, é dos brinca. Égua, que fuleiragem. Agora eu vi! Mas o povo daqui sabe fazer o caqueado de verdade, estou falando sério, de rocha, não é bacaba não.
Parente, no Amazonas é assim... mulher fácil é piriguete, casa pequena, quitinete, pessoa musculosa, parrudo, coisa boa, porreta, proporções anormais, maceta, chuva forte, pau d’água, coisa boa, paid’égua, tá pra ti? Então te mete!
Meu grande, no Amazonas é assim... faltar a um compromisso é bater fofo o que provavelmente é garantia de um caloroso bate-boca mais tarde com direito a baculejo na carteira, no facebook ou no carro. As mulheres por aqui são desconfiadas que só.
Maninho, no Amazonas é assim... nunca prescreve o mormaço de ar molhado como a dizer: sou este inferno verde, inferno de amar, apedreja-me e ainda terás o meu afago.
Bicho, no Amazonas é assim... um perene abrigo verde tingido de Eldorado para todas as tribos que quando do teu arco a flecha parte, longe de ti o pior castigo.
Enfim, no Amazonas é assim... comeu jaraqui não sai mais daqui.




domingo, 21 de julho de 2013

Muito Obrigado

Se um cachorro lambe minha perna já quero levá-lo para casa. Sou assim, me apego as pessoas na velocidade do Usain Bolt. Essa minha carência crônica faz de mim um sujeito sensível e de fácil acesso. Sim, sou sensível. Choro até assistindo Exterminador do Futuro.
Então há exatos dois meses topei o desafio de ir lecionar em Presidente Figueiredo, 107 km de Manaus, 107 km longe desse urbanismo tão arraigado ao maior orgão do meu corpo. Não, não é o que vocês estão pensando, é da pele que estou falando. E foi justamente lá que senti na pele a brandura de pessoas tão simples quanto eu. Sim, sou simples apesar dos meus três apartamentos na Ponta Negra, casa de praia em Maceió, Ferrari na garagem e dinheiro no banco por mais quatro gerações.
O olhar de desconfiança que fui recebido não durou mais que dois minutos. Bastou eu abrir a boca para conquistar aqueles dezenove alunos. Perceberam minha simplicidade? My name is Fluffy, Paulo Fluffy. Pronto, gelo quebrado, sorrisos arreganhados. E meus amigos, sorriu pra mim, é meio caminho andado para estreitar laços de amizade para a vida toda. Não, não é hipérbole, é eufemismo mesmo.
Ontem foi minha última aula com eles. Fui com o coração na boca e voltei com ele nas mãos. Despedidas doem pra chuchu. Despedida, como diria a Madre Teresa de Calcutá, é foda. Vi uma aluna chorando enquanto os outros clamavam: please, don’t go! Engoli o choro e fui me despedindo de cada um ao som de “You belong with me”, eles ensaiaram e cantaram para mim.
E quando já me encaminhava para o carro uma aluna se aproximou e um tímido “muito obrigado” banhou meu corpo. O muito obrigado daquela aluna ficou ruminando em minha cabeça durante todo o trajeto de volta. Em vinte anos de magistério, essa foi a segunda vez que ouvi um agradecimento tão puro e verdadeiro.
Turma de Presidente Figueiredo, meu muito obrigado.

domingo, 14 de julho de 2013

Retão da BR



Enquanto dirigia a cento e vinte por hora a caminho de Presidente Figueiredo os basculantes do porão dos meus pensamentos abriram-se dando vazão a reflexões ora doces ora amargas. Gostaria evidentemente de ter deixado as amargas na primeira curva mais sinuosa e seguido com as doces no retão da BR.
O porão estava predominantemente sujo de digitais clandestinas e empoeirado de luxúria. Porém entre uma ultrapassagem e outra um filete de luz pousava sobre a prateleira de doces recordações na qual, por sinal, me lambuzava no retão da BR.
Um cochilo de dois segundos e trépido quase capoto os pensamentos. A vida na estrada é muito perigosa, a estrada da vida é prenhe de surpresas. Com espasmos de um medo súbito fechei os basculantes do porão dos meus pensamentos e segui concentrado no retão da BR.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

`Bença` pai

Os braços da saudade me estrangularam assim que desci as escadas e atravessei o corredor. A janela estava aberta, mas ele não estava na cozinha fazendo o café da mamãe. A casa vazia me levou a um vazio continental. O radinho de pilha calado me deixou pilhado. Fui trabalhar sem a benção dele, mais um santo dia sem tomar a benção dele, sem a efígie do homem forte, do homem trabalhador, que acordava cedo e ia à luta sem medo da labuta, sem medo da vida.

Desculpa, não consigo escrever mais nada. Deixa eu ir enxugar as lágrimas agora`Bença` pai.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Nada de Florentinas e Florentinos



´Professor, não queremos mais eles como representantes de classe´. Foi esse o bom dia de protesto da maioria da turma do oitavo ano. Inconformados com o comportamento dos dois alunos escolhidos por eles para representar a turma veio o grito de insatisfação. Aquela sala – na qual sou conselheiro – me pareceu uma miniatura do Brasil. Os representantes da sala foram escolhidos não por serem os melhores a representar os interesses da turma, mas por uma conveniência típica dos eleitores quando vão às urnas. Os mais bagunceiros foram eleitos assim como elegeram o Tiririca. Votando assim nos resta carregar o título de abestado. Como sempre digo, o veneno do voto são nossas conveniências. Impeachment era o grito de ordem hoje cedo!
Portanto meu plano de aula foi para as cucuias! Não poderia perder a chance de conversar com meus alunos entre treze e quatorze anos sobre a importância do voto. Daqui a pouco eles estarão votando e escolhendo os nossos, vereadores, deputados, governadores e presidentes. Chega! Não dá mais para continuar elegendo Florentinas e Florentinos. Nem no oitavo ano do ensino fundamental.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Espírito da coisa

Gostaria de morar num lugar onde a paz de espírito fosse o espírito da coisa. Não tenho estrutura emocional e muito menos física pra lidar com tantos atos de violência.

sábado, 22 de junho de 2013

Nota de Falecimento

Faleceu na semana passada às 17h o senhor República Federativa do Brasil, vulgarmente conhecido como `Pátria de Chuteiras´.Causa da morte: Corrupção crônica. O mesmo deixa órfão políticos corruptos. O corpo foi velado nas ruas. A família convida parentes e amigos para a missa de sétimo dia que será realizada nas mesmas ruas.
P.S: Esse Brasil não deixará saudades.

domingo, 16 de junho de 2013

Caixa-preta

Coração de mulher tem caixa-preta.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Dia dos Namorados

Microconto. Dia dos namorados. Eros uma vez um Playboy...

terça-feira, 4 de junho de 2013

Formador de quê mesmo?

Aquele professor não preparava aulas. Suas aulas eram uma zona e sua zona era de conforto. Vivia a reclamar das condições de trabalho e os alunos a reclamar do seu trabalho sem condições. Ele nunca formou cidadãos, no máximo os informou.
Mecanismo de defesa atacar o sistema embora eu saiba dos muitos esquemas, porém ao engessar a educação ele não imagina o quanto fratura o futuro da nação. Lecionar não é lesionar. Formador de bundão, bundão é.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Quatro Ponto Dois



Graças à boa educação que recebi de meus pais nunca fui um Kid Selvagem e muito menos uma Abelha Abóbora. Andei pelas ruas da Capital do Rei com Uns e Outros sem Inimigos a Rigor. Ultraje Cavadão nem de Biquíni!
Então chego aos quarenta e dois anos de idade sem nunca ter fumado uma fileira de erva e cheirado um tarugo de cocaína doce. Erva Doce, ópio do meu anjo protetor – O Pensador. Agora vocês sabem por que jamais fiz isso? Porque eu sei como a banda canta e por conta disso, hoje, sem pudor algum, quero mesmo é dar a banda. E não me olhem com as retinas esgazeadas do preconceito.
O Cazuza que é o Cazuza deu a banda. E deu o Vermelho pro Barão Frejat. O Zezinho que é o Zezinho quebrou a correia e deu o Carrapicho. O Freddie Mercury que é o Freddie Mercury deu a banda. E deu o Queen que nem fez cara feia. Há pessoas por aí que já deram o Queen pra uma Legião do Sucesso e nem por isso morreram.
Ao longo dessas quatro décadas a trilha sinistra da minha vida tem sido sonora. Blindei-me dos fracassos no côncavo dos Paralamas dos Titãs. Quis ser Engenheiro, mas não consegui nem aqui nem no Havaí, quis ser comissário de bordo e me disseram que eu estava viajando na maionese. Camisa de Vênus nele reverberou meu pai! Porém caminhei pelas ladeiras íngremes da vida de Roupa Livre Sempre Nova. Tornei-me professor. Herói da Resistência brotado da Plebe Rude.
Depois dos quarenta o caminho da Sepultura se estreita e não boceja pra Nenhum de Nós. Portanto cuidado redobrado para não cair na Blitz dos Hermanos Assassinos – Los Mamonas - que não veem a hora de passar o Rappa naqueles que para sociedade vão cada vez mais se tornando um NX Zero a esquerda sem um átimo de chance de Restart.
Hoje sou pai, fui herói, sou bandido, carrego Roses, descarrego Guns. Sou Fool não fui Fighter.Tá Russo Renato, Russo. A maturidade não veio com a idade. Resta-me pedir uma coisa de Deus. Que envelheça nos braços da paz... Da Juliana Paz.




quarta-feira, 15 de maio de 2013

Psiu

Um psiu e o homem vira um pseudo-homem.

sábado, 4 de maio de 2013

17

Embebido de orgulho, hoje, abro a vida na página dezessete convicto de que ainda estou folheando o prefácio de uma prosa poética machadiana. Personagem interessante, leitura leve, doce, um Best-seller cativante e prenhe de lirismo que caiu em meus braços ao cair da noite em dois de maio de 1996.
Livro lícito, mas não planejado, lubrificou meu coração enferrujado, desparafusou minha encarquilhada carcaça adulta, afrouxou meu sorriso, jogou os parafusos fora, anarquizou meu egocentrismo, recauchutou meu altruísmo e embutiu em meu comportamento atitudes desatadas de preconceito.
Cada frase uma fase, cada parágrafo um ponto seguido, cada não um sim pra literatura, cada página virada um ensinamento fremente. Apesar das diferenças entre vírgula e ponto e vírgula isso não impediu a fluidez de seus versos e muito menos o causou um desvio de semântica.
O livro é lindo e traz uma mensagem com a caligrafia de Deus e a rubrica de todos os santos. Esse é meu filho Júnior que hoje completa dezessete anos. Desviando-me do lugar-comum digo que parece que foi anteontem que o observava no berçário. E ali externei meu preconceito ao me deparar com uma criança de cabelo espeta-caju que não parava de chorar. Pensei cá com meus botões: Putz, esperei nove meses por isso? Rsrs. Até que a enfermeira apontou para a outra criança que dormia tranquilamente.
Eu não passaria impune por tal comportamento. Os três primeiros meses ele trocou o dia pela noite. Chorava feito o espeta-caju do berçário. E para o castigo ser completo, não sei por que cargas d´água após o seu primeiro corte de cabelo seus cabelos tomaram formas não convencionais, pra não dizer espetais, mas a mãe não sossegou enquanto não ajeitou o cabelo do menino. Tratamento a base de casca de melancia. Haja esfregar a casca na cabeça da criança que hoje não suporta a fruta.
Ele cresceu, claro, ou vocês acham que sou pai do Benjamin Button? E dizem que ele é a minha cara. Putz, a cara do smigol, não ele não merece tal comparação. Ele merece mesmo é ser muito feliz e rezo para não estar aqui para fechar esse livro.
Parabéns e muitos anos de vida pra você. TE AMO.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Perdi o pezão pela seleção

Quando o bicho pegava pra seleção dos anos sessenta tirávamos da cartola o pé inchado do Garrincha - happy feet dos gramados - evitava o bicho de pé no resultado final do jogo e ainda garantia o bicho do dia pra rapaziada.
Agora da cartola tiramos pé de coelho e esperamos pela sorte bailar de verde e amarelo. No país do politicamente incorreto, a seleção joga um football politicamente correto. Ali dentro das quatro linhas sim deveria haver uma super faturação de gols e jogadas bonitas e não do dinheiro investido nas obras dos estádios pra Copa do Mundo.
Pra quem gosta de futebol como eu, o desejo é de ver um jogador pé de cabra da peste pra arrombar as zagas adversárias e nos entreter durante aqueles noventa minutos de diversão.
Sinceramente,perdi o pezão pela seleção brasileira.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Um erro não justifica outro

Mudaram as estações, as sensações. Mudaram a mão, contra-mão. Flores em volta, sem volta. Espinhos sem versos, acabou a prosa. Perdi a ação. Perderam o cedilha, cederam pro cão. Sonhei com piolho, pior, acordei num pesadelo. O súbito desequilíbrio leva a alma raquítica a considerar o olho por olho como resolução do dente por dente.

terça-feira, 12 de março de 2013

Mr. Bouvary


Um cogumelo de questionamentos surgiu no meio daquele clima Faixa de Gaza. O silêncio foi a trincheira contra o pavio curto de seu temperamento. Rajadas de perguntas ácidas metralharam a base. Granada de insultos explodiu diante da cara pintada. Sete... Pintado, riscado e esquecido.
Alto, forte e olhos engatinhados, porém não és gato, não tens sete vidas. Tens somente uma e dizem por aí que é curta, então curta e faça um curta-metragem sobre Mentira tem pernas curtas. E muitas vezes cambotas também.
O terreno minado não é mais pasto de camuflagem. O passo em falso foi verdadeiro até nos ares. A bomba-relógio do cotidiano explodiu matando réu confesso e inocentes. A guerra deixou de herança aos sobreviventes cicatrizes que doem com a brisa de um vulto.
Entre mortos e feridos ficou para um morto a incumbência de escrever o roteiro desse filme. Mr. Bouvary.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Aos mestres com carinho



Parafraseando Monteiro Lobato, um Thays se faz com homens e livros. Então foi quando resolvemos largar tudo no Brasil para enfiarmos a cara nos livros – ou para alguns enfiamos mesmo foi o pé na jaca – aqui no frio glacial da Philadelphia e dos Philadelphians.
Chegando aqui de cara fomos recepcionados por um tal de choque cultural de 220 volts que nos arrepiou os cabelos e logo percebemos que nossa vida aqui não seria a bed of Rose(s).
Para mim, a gastronomia local foi meu Ademar de Aquiles. A comida apimentada me fazia queimar a língua de saudade do nosso tempero brasileiro Maravilhoso. E aquele arroz doce? Putz, amargou nossos almoços por seis semanas. Doce que amarga? Does it make sense? Faz sim! Antítese culinária. E vocês Kellen saber de uma coisa? Nem a omelete descia mais.
Na segunda semana me peguei refletindo sobre uma frase de Thomas Hobbes – filósofo inglês – O homem é o lobo do homem. O que me levou a pensar sobre isso? As confusões dentro do grupo. Se irRita daqui, se irRita dali, bate-boca pra cá, bate-boca pra lá. Assim não da meus amigos! Pedro amor de Deus! Fabrício comigo não! Só tomando Andrea. Se for assim, Ana que vem não quero nem saber de intercâmbio.
Porém eu tenho algumas certezas. Primeiro, everybody loves Cris. Priscilalmente porque ela é um Douglas de pessoa. Segundo, eu sabia que Marcelo ou mais tarde tudo ia se ajustar. E vamos viver a vida em harmonia, vamos sonhar com a paz, Sônia! Sônia! Caiu meu amigo? Hevanna sacode a Vanessa e dá a volta por cima e deixa a Lúcia me levar, Lúcia leva eu! Sabe por quê? Porque assim Camila a humanidade.
Agora estamos na sexta semAnne (essa eu forcei hein! Lol) e logo logo tudo isso aqui vai ficar no bolso da nossa memória. Não vejo a hora de chegar em casa e matar a saudade com requintes de felicidade.
Foi um prazer enorme ter conhecido todos vocês, Adriana, Narcisa, Marina e Nascimento que não apareceram antes no texto por falta de imaginacão do pseudo escritor.
Despeço me de vocês como comecei o texto, com uma paráfrase. Parafraseando Lulu santos: Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia, tudo passa, tudo sempre passará.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Experiência nos Estados Unidos


Aos quarenta e um anos pela primeira vez passei quarenta e um dias fora de casa. Motivo da separação? Estados Unidos! Precisava vivenciar a experiência da festa estranha com gente esquisita. Precisava vencer meus medos, precisava me libertar da neofobia. Morro de medo do novo e embarquei naquele cilindro de asas rumo a Philadelphia até o tucupi de medo.
Ao desembarcar em Philly a primeira palavra que ouvi foi um “hi” e num ato falho respondi “bye”. Mal cheguei e já queria voltar. Meu coração não estava ali e como diz uma amiga minha home is where the heart is. Mas não podia amarelar afinal de contas tenho aquilo roxo.
A primeira semana no choque cultural é classificada como lua de mel. A minha foi lua de mel de abelha do Paraguai. Queria o divórcio. Sofri. Chorei. Comi a omelete que o diabo amassou. Omelete foi meu prato principal durante algumas semanas. Quem quiser perder o amigo aqui é só me oferecer uma.
Comendo mal desse jeito não poderia ser diferente. Emagreci o corpo, porém engordei a alma. O frio me impedia de ir à academia, mas não de me exercitar. Exercitei a paciência, a ansiedade, o autocontrole. Emagreci. Voltei mais forte. Paradoxical.
Conheci chineses, japoneses, franceses, libaneses, árabes, New Jersey, New York, new things... No entanto, nada comparável aos brasileiros que conheci por lá. Povo espirituoso, cheio de alegria, sorriso desenhado na cara. Não à toa eles se encantavam quando dizíamos que éramos do Brasil. Eita povo animado! O mundo tava desabando e a gente cantando na rua, na fazenda ou numa casinha de sapê. Colocamos os chineses pra sambar bem no dia do ano novo chinês. Porém, perdemos o rebolado no dia da tragédia em Santa Maria. Aquele dia foi punk, foi foda.
Chorei no silêncio do meu quarto, no silêncio da minha impotência. Quis voltar pro Brasil naquele dia e abraçar todas as pessoas que amo. Fomos todos abraçados pelo espantalho da dor com a notícia. Ninguém quer a morte, só saúde e sorte já cantava Gonzaguinha.
Mas a vida continuava e tínhamos uma missão ali. Tínhamos que atravessar uma ponte e o desafio era grande. Conseguimos com êxito. Voltei orgulhoso de mim e com mais bagagem literalmente.
Quanto ao meu inglês? Continua o mesmo. Só mudou o jeito de andar.