domingo, 28 de novembro de 2010

Bom dia Vietnã

Eles desceram o morro encapuzados de cólera e descarregaram metralhadoras de ódio. Não há mais bala perdida, mas sim, muitas almas perdidas. A guerra já não é mais fria, a chapa esquentou, Rio quarenta graus, Rio... Teoria do caos.
A alegria típica do povo carioca deu lugar ao medo, ao pânico. Carros alegóricos deram lugar aos tanques de guerra, a comissão de frente usa capacete e se blinda atrás de coletes à prova de balas. O som do surdo fez-se mudo. O pandeiro se calou e deu voz ao pandemônio...O puxador de samba agora puxa corpos espalhados pela avenida, o mestre-sala agora faz sala em mais um dos vários velórios que acontecem paralelamente em meio aquele fogo cruzado.
A paz entre policiais e traficantes perdeu a harmonia, atravessou o samba, é o bem e o mal travando o braço de ferro mais sangrento dos últimos anos. Traficantes querendo transformar o Rio em mar vermelho e Polícia, em mar morto.
Dessa vez a bateria não entrará no recuo, a ordem é avançar, avançar, avançar. Que o mestre de bateria tenha peito e a coragem do capitão Nascimento, do contrário, muitos brincantes nascerão para a outra vida.
Torço e rezo para que o refrão desse enredo seja “...O Rio de Janeiro continua lindo...” e que na apoteose da vida vença sempre a justiça e a paz.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Amor Desbotado

A metáfora da morte surgira
À espreita da viva lua
Lágrimas amargas minhas
Lágrimas doces suas

A metáfora da morte presenciara
Os soluços dos dissabores
O cravo morrendo de amor
A rosa vivendo de amores

sábado, 20 de novembro de 2010

How I wish you were here

A distância tem um sabor amargo em princípio, e o tempo parece ser o adoçante que precisamos. Dias vêm, dias vão, o coração aperta, confrange e chora, muitas vezes chora silenciosamente, outras não consegue evitar que os olhos alaguem-se em público. É meus amigos, estou falando de saudade mesmo, esse sentimento paradoxical que nos devora as entranhas, mas que também nos enche de nostalgia.
A distância encurtou e em volta do seu rosto havia uma aura contagiante que veio acompanhada de um aperto de mão firme como quem queria dizer, “Porra, tava morrendo de saudades de você, meu irmão.” A atitude substituiu as palavras, uma vez que nós aqui de casa amamos de forma discreta, assim como os ingleses. Não somos muito bons com as palavras de carinho embora o coração esteja transbordando de alegria.
Cinco dias em Brasília, cinco dias pra eternidade. Lembrarei de cada coisa que fizemos juntos – só faltou o futebol – mas outras oportunidades surgirão, disso não tenho dúvida.
Sabe, às vezes fico meio confuso quando ouço o papai dizer que é bom que tu fiques por aí. Mas começo a entender e me conhecer melhor, cara como eu sou egoísta, é claro que entendo, mas meu egoísmo diminui meu lado racional.
Quando uma pessoa admira a outra ela costuma dizer a seguinte frase: Quero ser que nem você quando crescer. Eu cresci e não consegui ser que nem você. Mas tudo bem, também tenho minhas qualidades, menos visíveis é bem verdade.
O dia de voltar chegou e com ele veio aquele olhar triste, olhar de despedida, e despedidas doem pra cacete. Voltar pra casa é sempre muito bom, mas é melhor ainda quando todos que amamos estão por perto.
Dizem que homem não chora. Gostaria de saber quem inventou essa bobagem. É claro que homem chora, e já chorei algumas vezes de saudades. É dessa forma que consigo aliviar a pressão do aperto no coração. E hoje quando ouvi essa canção ( I wish you were here) lembrei de você e chorei como uma criança, então decidi escrever esse texto e fazer um apelo. Volta meu irmão!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Filha da Floresta

Teu sol murupi rompe a aurora
Carapanãs, caboclos, cunhãs
De suas malocas cedo vão embora

Tuas sumaumeiras ficaram cinza
Diante da urtiga de fogo da ganância
Cresceste, maninha, feito um curupira

Tua mata é onça d’água
Cobiça de anacondas estrangeiras
Até o encontro das águas
Quiseram te roubar sorrateira

Zagaias em mãos
Mapinguaris em trincheiras
Protejam a filha da floresta
Mana Manaus guerreira

Outro poema sobre Manaus, dessa vez com uma linguagem mais amazônica. Estou participando de um concurso de poesia realizado pela Academia Amazonense de Letras. Vamos ver no que dá!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O primeiro dia de aula a gente nunca esquece

Passos ansiosos rumo ao desconhecido mundo novo de quem nele está a pouco mais de três anos. A lancheira no ombro esquerdo combina com a bolsa Pink de rodinha da hello kitty em sua mão direita – ambas escolhidas a dedo por ela mesma. Auto-suficiente e destemida não se parece com o pai em nada.
O escorregador, o balanço, a casinha que ficam espalhados pelo pátio da escola lhe parecem muito mais atraentes que a confortável colorida e climatizada sala de aula. Oi coleguinha, é assim que ela chama a todos que estão uniformizados tal qual ela. Não importa o sexo, a religião, o estado civil, o poder aquisitivo, ela quer mesmo é socializar.
Soa a campainha e a molequinha branquinha de pernas roliças se direciona a sala de aula com um sorriso riscado na face como se fosse uma veterana. Lá vai ela ouvir estórias, fazer sua história, colorir suas tardes, desenhar seus devaneios, escrever seu futuro, lá vai ela pintar o sete, o oito, o nove. Lá vai ela... Sem lenço e nem documento.
Nesse momento o pai a deixa com o coração apertado. E Ela? Bom, ela fica com o coração aberto e jorrando alegria. Alegria é algo que transborda naquela menina. Para ela não tem tempo ruim e ficar quatro horas sem a presença dos pais por perto, imagino que deve ser o paraíso.
Agora é só a Larissa, não tem pai, mãe e nem irmão para protegê-la. Mas isso não parece intimidá-la o que de certa forma me conforta porque um dia isso será real em sua vida. Pois a vida fora de nossos lares é dura e cruel. Mas enquanto esse dia não chega vou enchendo aquelas bochechinhas de beijos doces. Ainda bem que ela não é diabética!

Sem ins(piração) para escrever, vai aí um texto redigido no início do ano.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Extremos




Não ouço a tua voz
Não sinto o teu perfume
Os extremos nos separam
O desejo nos une

Não vejo o teu rosto
Não sei o teu gosto
Mas sei que então...
Amor nenhum é em vão

O frio do sul
Reacendeu o meu calor
Corri pra varanda
Olhei no horizonte
E gritei o teu nome...

Vem pra minha cama,
Moldura de nossa insanidade
Vem pecar com quem te ama
Sob os lençóis da eternidade

Segundo um poeta local, dá pra fazer uma música dessa letra por conta de sua métrica. Alguém se habilita? rsrs

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Vinicius de Moraes





Vinicius, versus, Vinicius...
Seus sonetus, seus poemas...
Meus vícius.

Vinicius,
Seus versus de mim tão íntimus
Quisera eu ter o poder
De não deixá-lus fenecer.

Vinicius,
Perdoa-me pelo poema ínfimu.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Mãe dos deuses





Mãe dos deuses,
Teus expansivos olhos esmeraldinos
Nem de longe lembram o verde de outrora
Em meio à mata virgem descabaçada
Cresceste valente como um Ajuricaba
Já não és a pudica cunhantã da época áurea
Da Borracha perdida
Herdaste o palco da liberdade de expressão
Foste roubada...
Viraste uma Zona
Francamente! Felizmente
Robusta bonança
Da tua fauna aflora o sustento dos ribeirinhos
Quem de teus rios o jaraqui come
Amar-te-á amiúde como amiga e como amante
Mas carinhos inda te negam Mãe dos deuses,
Ainda que o bardo de branco decrete
Que o homem é um animal que ama


Manaus, 341 anos.