sábado, 27 de fevereiro de 2010

Metamorfose ambulante

A voz oscila, falha. É grave, é aguda, é motivo de gozação. Um rascunho de bigode se desenha discretamente nos cantos da boca como se fosse um time de futsal – são cinco pêlos de um lado e cinco de outro. Algumas espinhas já começam a pipocar no rosto. Os banhos agora são mais freqüentes e mais demorados. O garoto é a própria testosterona.
No bolso da calça do colégio um bilhetinho. Na hora da saída quero falar contigo atrás da cantina. No Orkut mais scraps. Na prateleira do quarto a coleção do Max Steel ainda faz parte da rotina do menino de treze quase quatorze anos que acabara de trocar a pubescência pela puberdade, se é que existe alguma diferença.
Depois do banho demorado tem que rolar um perfume, o penteado despenteado tem que estar impecável. A mãe condena o que as gatinhas do colégio absolvem. O desencontro dos cabelos. Penteia esse cabelo direito menino! Que coisa mais feia!
O pai não fala nada, mas se fosse a filha, a Larissa, a conversa seria bem diferente, não é seu Paulo? Podes crê, meu.
O fato é que os anos voaram e as brincadeiras de criança vão cada dia mais dando espaço aos CDs de música, ao isolamento no quarto, aos telefonemas secretos, fins de semana na casa de colegas de escola, etc.
Atravessar a rua de mãos dadas com o pai nem pensar. O que os brothers vão pensar dele. Ele tem que manter a fama de mau. Sabe que um vacilo diante dos amigos pode custar um ano inteiro de piadinhas corrosivas que serão lembradas daqui a cem anos, e não estou aqui usando de hipérboles não. Nessa idade a crueldade dos sarros é implacável.
E quando indagado sobre as súbitas mudanças ele parafraseia Thiago de Melo: Não tenho nada de novo apenas o jeito de andar. Ah moleque!
PS: Júnior ama os pais e sua admiração por eles está tatuada em sua retina. Ele muito mais que o pai, é coruja.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Amor Desbotado

A metáfora da morte surgira
À espreita da viva lua
Lágrimas amargas minhas
Lágrimas doces suas

A metáfora da morte presenciara
Os soluços dos dissabores
O cravo morrendo de amor
A rosa vivendo de amores

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Nota de falecimento

Faleceram ontem às 18hs vítimas da famigerada gripe suína aqueles que em vida se chamaram Heitor, Cícero e Prático.
É com grande pesar que as famílias das vítimas convidam a todos para a missa de 7º dia que acontecerá daqui a exatos sete dias na Igreja Nossa Senhora dos Porquinhos.
O mundo animado está de luto, pois, os três porquinhos provaram do próprio veneno.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

É nesse vaivém...

Mal me aproximei e ela já foi se abrindo
Sem hesitar a atravessei
Sem nenhum pudor fui e voltei
Foi assim, seco, nem hi e nem bye
O ponto G estava bem aos meus pés
Que sensibilidade, um simples toque
E ela se arreganhou gemendo
Não demorou muito e logo percebi
Que não era o único
Ela estava ali, inerte, sem preconceito
Despudorada... A porta safada!!!!!!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Queda d’água

Suas curvas sinuosas
Deslizam num sobe e desce
Rumando ao encontro azul-esverdeado
E no meio do caminho
Uma depressão – a natureza chora
Sobre faces sorridentes

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Encontro

Quando meus olhos encontram os seus
Eles falam pela boca
Que tímida...lá no fundo deseja a sua
A vontade de roubar-lhe um beijo
Rouba minha razão

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Visão do Inferno

A penumbra esbranquiçada tem um violento cheiro de orgia no ar. A música de gosto duvidoso – é o que menos interessa naquele momento - anima homens solteiros e casados na perene busca animalesca por fetiches e aventuras ilícitas. Na mesa de plástico branco as garrafas de cerveja quente se misturam as vendedoras de sexo em trajes fuck me baby e combinam com a performance fria das strippers.
Na passarela-vitrine putas fora das formas padrão de beleza vêm e vão com um sorriso alugado na cara. É ali naquele cadafalso que elas fazem a exposição da mercadoria de quinta categoria. É a lei da sobrevivência. Elas se rebolam literalmente para tirar daquele mundo profano o pão sagrado de todos os dias.
Os clientes avarentos em seus lares, sonegadores de impostos em seu país e impostores do amor tornam-se verdadeiros perdulários diante dos vícios e dos prazeres selvagens da carne. Os pobres carentes saem da casa só para maiores sem nenhum real furado no bolso da calça jeans encardida. E só caem na real no dia seguinte quando nem o dinheiro do ônibus os infelizes têm. O que eles têm agora é muita vantagem pra contar. Fiz isso, fiz aquilo, foi assim, foi assado, foi cozido, foi guisado.
No próximo pagamento uma nova página dessa busca insaciável pelo prazer será escrita. Parafraseando o saudoso Tim Maia, no inferninho vale tudo, só não vale dançar homem com homem nem mulher com mulher.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Volta Por Cima

Home Sweet Home. Quem nunca ouviu essa expressão por aí? Talvez no nosso lindo português a expressão tenha uma sonoridade ainda mais linda.
Como é bom poder voltar pra casa depois de um longo dia de trabalho, tomar um bom banho, jantar com a família reunida na sala de jantar, na cozinha ou mesmo na frente da TV da sala de estar. Não importa se a televisão é aquela CCE de quatorze polegadas preto e branco cujo controle remoto é o dedão do pé direito ou uma TV de quarenta e duas polegadas de LCD da Sony com entrada para HDMI, time machine e closed caption. O importante é o senso de família, o carinho dos filhos, o beijo molhado da esposa que o espera ávido pra saber como foi seu dia.
Muitas e muitas vezes nos pegamos reclamando de tudo isso. Da mulher que quer saber de tudo, das crianças que fazem aquela barulheira, da imagem do aparelho de TV cuja antena tem uma palha de aço na ponta que não ajuda em nada.
No fundo no fundo reclamamos de barriga cheia. Duro mesmo é voltar pra casa e encontrar no chão tudo que você construiu ao longo de anos de labuta, encontrar em meio as lágrimas e as cinzas do horror o nosso cantinho dissipado. O que era concreto virou abstrato.
E junto com as cinzas estão histórias de vida que foram destruídas em poucos minutos, perda total. Imagina um pai olhar pros filhos ali desabrigados e não poder oferecer sequer um cobertor para proteger o corpo e aquecer a alma. A sensação de impotência diante dos restos de uma casa em chamas, e agora, fazer o quê?
Sem dúvida, fé é o combustível que alimentará o recomeço. Uma porta se fechou, mas uma janela se abriu. Nada a temer se não correr a luta, nada a fazer se não esquecer o medo, já dizia a música. Então meu amigo, levante a cabeça, tenha fé, se arme de coragem e escreva uma nova página na sua vida e que a tinta da sua caneta seja o suor do seu esforço e o papel desse caderno seja a sua dignidade.
P.S: Texto dedicado ao amigo Mario que essa semana perdeu a casa num incêndio. Mas ele não está sozinho nessa, todos os amigos verdadeiros se manifestaram e se uniram em prol de ajudá-lo.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O toco

Marie Claire, você foi muito ingrata comigo. Preparei um jantar todo especial – no capricho - pra nós dois e você nem deu as caras. Veja só quanta ingratidão. E nessa mesma noite um amigo meu disse que te viu lá no shopping, desfilando toda teen e contigo estava um negão de um metro e oitenta. Isto é, isso foi o maior ti ti ti entre os meus amigos. Mas tudo bem, eu ainda te acho uma mulher super interessante. É época de perdoar.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Palavras

Paulo Medeiros

Olho por entre a fresta
E no romper da aurora
Um raio de luz atravessa a sala
Rascunhos espalhados pelo carpete
A xícara de café vazia
Ainda exala o cheiro de uma noite em claro
Noite em busca dos versos perfeitos
Que teimam em escorrer pelas mãos
E ir de encontro ao papel

domingo, 7 de fevereiro de 2010

loura gelada... Que fria!

Devo confessar que de quando em quando bebo minha cervejinha em reuniões com amigos do trabalho, amigos que fiz na faculdade ou até mesmo nas reuniões de família.
Mas também não bebo ao ponto de ficar jogado na sarjeta enquanto um cachorro vira-lata pulguento lambe minha cara da mesma forma com que ele bebe água. Conheço-me muito bem e respeito o limite de três latas da gostosa lourinha amarga.
Mas na verdade o que tem me incomodado ultimamente é o fato da massificação que vem sendo feita na mídia em torno das bebidas alcoólicas, especialmente a cerveja. Comerciais na TV a toda hora, capas de revistas, outdoors e público alvo indefinido.
É usado todo tipo de recurso para atrair à atenção do consumidor. Belas mulheres como a Juliana Paes, jogadores de futebol como Ronaldo fenômeno – até tu Brutus! -bonecos, animações, gráficos pertencentes ao mundo infantil, exploração do erotismo e até slogans menosprezando àqueles que não apreciam a loura gelada.
O interessante é que sempre tem uma mensagem, muito discreta por sinal, alertando para o perigo do consumo exagerado: “beba moderadamente”, ou mais recentemente, “beba com parcimônia”. Então fica a pergunta no ar. Quem tem esse cônscio?
A bem da verdade é que os jovens estão tomando o primeiro gole cada vez mais precocemente. Nem a lei seca tem sido capaz de frear esse boom. Adolescentes sonham com a liberdade que lhes é negada, buscam maturidade de forma frenética e começam a imitar os adultos e a divulgação de produtos associados com a vida adulta é um estímulo para aqueles jovens que ainda estão formando uma personalidade.
Então, o que fazer para frear esse incentivo ao consumo de bebidas alcoólicas?
Devemos combater a venda desses produtos para menores de idade? Como? E as autoridades, onde estão que não tomam nenhum posicionamento? Essas são só algumas das perguntas que – como diz o lugar-comum – não querem calar.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O primeiro dia de aula a gente nunca esquece

Passos ansiosos rumo ao desconhecido mundo novo de quem nele está há pouco mais de três anos. A lancheira no ombro esquerdo combina com a bolsa Pink de rodinha da hello kitty – ambas escolhidas a dedo por ela mesma - na mão direita. Auto-suficiente e destemida não se parece com o pai em nada.
O escorregador, o balanço, a casinha que ficam espalhados pelo pátio da escola lhe parecem muito mais atraentes que a confortável colorida e climatizada sala de aula. Oi coleguinha, é assim que ela chama a todos que estão uniformizados tal qual ela. Não importa o sexo, a religião, o estado civil, o poder aquisitivo, ela quer mesmo é socializar.
Soa a campainha e a molequinha branquinha de pernas roliças se direciona a sala de aula com um sorriso riscado na face como se fosse uma veterana. Lá vai ela ouvir estórias, fazer sua história, colorir suas tardes, desenhar seus devaneios, escrever seu futuro, lá vai ela pintar o sete, o oito, o nove. Lá vai ela... Sem lenço e nem documento.
Nesse momento o pai a deixa com o coração apertado. E Ela? Bom, ela fica com o coração aberto e jorrando alegria. Alegria é algo que transborda naquela menina. Para ela não tem tempo ruim e ficar quatro horas sem a presença dos pais por perto, imagino que deve ser o paraíso.
Agora é só a Larissa, não tem pai, mãe e nem irmão para protegê-la. Mas isso não parece intimidá-la o que de certa forma me conforta porque um dia isso será real em sua vida. Pois a vida fora de nossos lares é dura e cruel. Mas enquanto esse dia não chega vou enchendo aquelas bochechinhas de beijos doces. Ainda bem que ela não é diabética!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Mulheres que pintam os cabelos

Tenho certeza que com esse texto estarei pisando em campo minado. Serei jogado aos leões, apedrejado, vão me prender na solitária, serei condenado à tortura chinesa, cadeira elétrica, etc. Pois vou tratar de um assunto muito delicado. Mulher que pinta os cabelos.
O que falar de uma mulher que pinta os cabelos? Muitos logo dirão que se trata de vaidade, outros dirão que é uma questão de marketing pessoal, mudar é sempre bom, alguns falarão que é porque homem gosta mesmo é de mulher loura, elas são a preferência nacional.
Então vamos lá, vaidade. É considerada um dos grandes males da humanidade. Matamos por vaidade e morremos pelo mesmo motivo.
A vaidade é cheia de artifícios e se ocupa em tirar da nossa vista e da nossa compreensão o verdadeiro ser das coisas, para lhes substituir um falso e aparente.
Marketing. Por trás de qualquer jogada de marketing há sempre uma informação omitida, as letras miúdas que nós nunca lemos, ou seja, mente-se pra atrair o outro.
Mudar sempre é coisa de gente inconstante. O Raul Seixas adoraria, afinal de contas metamorfose ambulante era com ele mesmo.
Homem gosta mesmo é de mulher loura. Homem gosta de mulher, seja ela ruiva, morena, loura, negra, baixinha, gordinha, magrela, etc. Mas as que pintam os cabelos não são confiáveis, pintar os cabelos é dissimular, é querer ser o que não é.
Isso não quer dizer que não respeite as mulheres adeptas do coloramento, muito pelo contrário, tanto é que não as chamam de louras falsas, jamais, prefiro usar de eufemismo do tipo, aquela mulher é um falso cognato. É mais poético e dependendo do grau de instrução dela você ainda recebe um sonoro obrigado.
Descobri em uma pesquisa feita em dez países que tanto para os homens como para as mulheres o mais importante é ser carinhoso e sensível. Elementos como estes estão à frente de senso de humor, boa aparência e boa remuneração.
Então mulheres brasileiras lindas, vocês não precisam desse recurso, a beleza já está inclusa no pacote de vocês, a pele macia, o corpo desenhado caprichosamente, vocês são sublimes e belas por natureza.
Um beijo carinhoso pra todas vocês, inclusive para aquelas que batizei de falso cognato.