sábado, 30 de janeiro de 2010

Vida Nova

“Eu os declaro marido e mulher. O noivo pode beijar a noiva.” Como essa cara deve está ansioso para ouvir isso – esse cara atende pelo nome de Harrison – e finalmente colar a aliança no seu-vizinho da mão esquerda.
O anelar destro já tinha experimentado antes o abraço do anel do matrimônio, o “sim” já esteve na ponta da língua, o carequinha quase virou Cacheado (sobrenome da ex), mas o fura-bolo do destino indicou outro caminho pro meu amigo que sofreu pra entender que aquela alma não era sua gêmea.
Gemeu de dor, comeu o pão que o diabo amassou, bebeu corote disfarçado de caipirinha, experimentou o outro lado da moeda, perdeu a pulseira (private joke rs) de ouro e ficou sem eira e nem beira. Até Joseph Climber – aquele cuja vida é uma caixinha de surpresas – sentiu pena do cara.
Mas numa bela manhã ensolarada ele decidiu curvar todos os dedos em volta do maior-de-todos e gritar: “Aqui pra ti sofrimento! A vida é bela, carpe diem, I will survive!” e tocou o barco rumo a felicidade (esse texto está ficando brega).
Essa busca frenética pela felicidade a dois o levou a caminhos cheios de cacos de vidros, encontros e desencontros, promessas de nada, nada de promessas, relacionamentos efêmeros, rompimentos duradouros. O cara foi até apedrejado.
A certeza de encontrar alguém que de fato o compreendesse e o amasse na mesma voltagem foi o espinafre desse Popeye tupiniquim. São de suas faculdades mentais, foi justamente na faculdade que o sol brilhou, foi justamente na faculdade que seus olhos brilharam novamente.
Dessa vez tomou todos os cuidados necessários, pra quem nunca foi muito fã de fast-food, fast-love era algo corriqueiro nos seus namoros. Não cometeu os erros de outrora, nada de conhecer num dia e no outro já está dividindo o mesmo tubo de pasta. Agora sim, namoro standard.
Brincadeiras a parte, desejo do fundo do meu coração toda sorte do mundo nessa nova fase de sua vida. Vida a dois não é fácil, mas você com toda sua sabedoria saberá conduzir e contornar as adversidades e torná-las mindinhas.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A despedida

Íngreme barranco barrento
Com água pelos pés batendo
Escalo-te aos troncos...
Hoje não trago um sorriso nos cantos

Não há berros e nem mugidos
Terreiro em soluços
Conversas, cochichos comovidos
Goiabeiras de bruços

A prosaica casa de farinha
Clama por seus compadres poetas
Que agora bebem a sua rainha

E o rio segue seu curso
No vaivém do banzeiro
Saudades, memórias, luto.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Mundo da Lua

Ela é id. Eu? Idiota.
Ela está no cio. Eu? Na maciota.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Alaga-me

Lânguida obscenidade
Um Amazonas em minha jangada
Inda te quero
Zeus meu, alagando-me
Antes do grito da alvorada

sábado, 16 de janeiro de 2010

Dias contados

Caros leitores,

Foi um prazer inefável conhecê-los, pois venho através deste informá-los que estou com o prazo de validade contado. Recentemente fui ao médico e eles descobriram que tenho uma doença irreversível.
Tudo começou com uma dor na cabeça do dedão e estendeu-se até o peito do pé. Os dias foram se passando e a dor foi subindo pra batata da perna, logo depois chegou até o pé da barriga. Mais tarde essa dor migrou pra boca do estômago e não satisfeita estacionou no céu da boca. No último exame detectaram um nódulo no pé da orelha.

Diagnóstico: catacrese.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Vinicius de Moraes

Vinicius, versos, Vinicius...
Seus sonetos, seus poemas...
Meu vício.

Vinicius,
Seus versos de mim tão íntimos
Quiser eu ter o poder
De não deixá-los fenecer.

Vinicius,
Perdoa-me pelo poema ínfimo.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Os caras

Com um Machado nas mãos fui desbravando o caminho espinhoso da ignorância e conhecendo caminhos nunca antes pisados por esses pés limpos de cultura. Um Machado genuinamente carioca, aparentemente frágil, desamolado, mas da melhor qualidade.
Nesse chão coberto por Ramos e ladeado por Rosa e Matos com cheiro de Lima conheci um Padre que me mostrou a via crucis de forma nua e crua. Fui cercado por Anjos que alumiou as trevas que insistiam em me acompanhar, e no meio do caminho tinha um Coelho, mas não hesitei em botá-lo pra correr e descartar qualquer hipótese de fracasso.
Isto posto e posto isto, castrei toda e qualquer possibilidade de me perder na selva dos iletrados e levantei a Bandeira da liberdade. Leia e liberte-se. Viva a liberdade!

domingo, 10 de janeiro de 2010

Lobo do Homem

Fortunas palpáveis
Alma desventurada
Caminhas cego de usura
No lamaçal de verdes cifras

Nas costas carregas
A mesquinha riqueza
Dos raquíticos de espírito

Tudo ao seus pés
É a certeza que trazes no peito
E o encontro frio das mãos
Sobre teu peito calado?
Silenciou... Mal-aventurado

sábado, 9 de janeiro de 2010

Vai encarar?

Manaus, sexta-feira, 14:50h, sol escaldante. Corro em direção ao banco, só tenho dez minutos. O sinal fecha, é hora de atravessar a rua. Próximo de mim pára um corsa azul metálico e no volante do carro um azulão.
Vou caminhando lentamente em direção a faixa de segurança e olho sorrateiramente para o corsa azul metálico e o negão fita-me com olhos gordos, tira um raio x de mim, sinto-me nu. O rosto esquenta, ruborizo, baixo os olhos e caminho rumo ao meu compromisso bancário.
Paro do outro lado da rua, espero um carro passar. A sensação de está sendo observado inquietava-me, antes de cruzar a rua minha curiosidade leva-me a olhar para trás e para minha não surpresa o morenão ainda fita-me com olhos ávidos.
Sinal verde. Ele engata a primeira, dá um sorrisinho maroto e acena com a mão direita. Sorrio amarelo, balanço a cabeça para os lados e finalmente chego a tempo na casa bancária.
Só pra deixar bem claro, sou despido de qualquer tipo de preconceito, mas bem que poderia ter sido uma morenaça, não é?

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Abstêmio

O prazer dos rabiscos
Encontra-se entorpecido
Faz-se o breu, faz-se o dia
O vazio abraça as palavras
Confortando ideias latentes,
Errantes descaindo ao encontro
De um desvario silencioso.