segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Tarde demais



Cansada de minhas noitadas
Nem fermentou a sua partida
Fugiu junto com a alvorada
Em busca de uma nova vida
Mulher decidida da peste
Perdi o norte
A perdi pro nordeste
Não aceitou minha boemia
De mala e cuia foi morar na Bahia
E a felicidade...
Que outrora em meu peito albergava
Agora tem nome e axé
Acarajé e a benção dos caras
Quem sabe assim eu aprenda
A valorizar uma mulher
Pois aquela que se preza e se honra
Não aceita viver de migué

O boêmio e sua ilusão da noite
Essa criança encantada e fugaz
Foi meu prazer foi meu açoite
Uma pena... descobri tarde demais

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Entre seus cachos e seus atos
Levita um perfume raro
Impregnado de leveza e delicadeza
Envolvente inocência
Nas curvas do pecado
Acesa chama do desejo
Incendeia meus pensamentos

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Quando eu era criança em tempo integral fazia da sala de estar da minha casa o meu Maracanã. Afastava os sofás, a cadeira de embalo e a mesa de centro. Os pés da estante eram as traves. A bola era feita de jornal e saco plástico de dois quilos – roubado do açougue do meu pai. Ele ficava muito puto quando descobria que eu rasgava saco. Era como rasgar dinheiro. E ficava mais puto ainda quando procurava o jornal do dia pra ler e o mesmo já havia virado bola oficial da Fifa.
Eu jogava, narrava, me expulsava, fazia gol de impedimento, criava confusão, ganhava títulos... Obviamente para o Flamengo e Seleção Brasileira. Era um mundo só meu onde tudo era possível e nada era absurdo. Não, eu não queria ser jogador de futebol, eu queria ser jogador do Flamengo!
Já pensou você olhar para as paredes de sua casa e imaginar uma multidão de torcedores gritando seu nome numa cobrança de pênalti numa final de Copa do Mundo? E pior, você ficar nervoso durante a cobrança do pênalti? Pois é... Acho que só as crianças mesmo têm esse poder de imaginação. Solo onírico sem pegadas de surrealismo. É tudo real mesmo! Uma pena que o sisudo mundo adulto desmate essa floresta encantada.
Então o sonho de jogar no Flamengo e Seleção não se realizou, mas eu vivi aquilo tão intensamente na minha infância que isso não deixou vestígios de frustração. Na minha cabecinha eu fui o camisa 10 do Flamengo e da Seleção. Então meus futuros netinhos: Preparem-se pra ouvir meus “abacabas”.
Feliz dia das Crianças!

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

JB

"Eu vim para somar." Ainda que seja uma frase clichê, a metáfora desbotada não é uma equação simples de primeiro grau. Vir para somar é uma progressão aritmética digna de uma Madre Teresa de Calcutá, de um Mahatma Gandhi, de um Santo Agostinho. Embora esse último, antes de se tornar santo, participou de inúmeras regras de três e saiu fazendo filho a três por quatro. Obviamente esse não é o caso do nosso amigo em pauta até por que ele manja de tabelas mesmo sendo as tabelinhas pouco confiáveis.
Após alguns anos de reflexão, translação e rotação de figuras na Universidade, formou-se em Matemática, cresceu intelectualmente, vislumbrou novos horizontes e Novo Aripuanã foi ficando pequeno. Era hora de ampliar essa figura geométrica, hora da lagarta quebrar a crisálida e virar borboleta. Hora de bater asas e parar de bater... cabeça. Hora do voo solo. Sem pai nem mãe, mudou-se para a cidade grande.
A vida nova no mormaço manauara ganhou tal proporção de números reais e surreais que a mesma foi a razão e porcentagem de sua hipotenusa, já que por definição, hipotenusa é o lado oposto ao ângulo reto. Entendamos aqui ângulo reto como Novo Aripuanã.
Porém a saudade da família tem preço e ele paga do próprio coração juros simples e composto. Ela aperta daqui, confrange dali, balança no meio dos catetos, e ele, sem seus pares ordenados, se aproxima dos inúmeros primos para a saudade diminuir, para tantas coisas abstrair. Tentativas radicais de sair pela tangente desse conjunto vazio. E sabem por quê? Porque saudade é punk, saudade é foda, saudade é teorema de Pitágoras!
Tento calcular essa relação entre volume e capacidade, esse volume de sólidos retangulares sem sequer imaginar a simplificação dos radicais. E concluo: Não deve ter sido fácil abrir mão de suas raízes pelas quadradas e cúbicas. Talvez essa mudança tenha sido o grade divisor de águas em sua vida. Diria até que tenha sido o máximo divisor, porém não comum!
Em meio a tantas divisões, adições, multiplicações, subtrações, sabemos que a vida não é fácil quanto a casa de multiplicação do cinco ou tão fácil quanto chegar ao resultado de dois mais dois.
Noves fora tudo isso, ganhamos nós com a decisão dele de ganhar a vida por aqui. Os ventos do sul do estado sopraram pra cá a companhia mansa e serena do professor plácido e pacato, de muitos números e poucas palavras, no entanto com uma enorme habilidade de magnetizar todos ao seu redor e sobretudo de harmonizar os polígonos por onde passa. Olha, e digo mais, se humildade fosse uma nota musical sua representação cifrada seria JB. Esse cara é humilde e amigo, amigo no verdadeiro sentido da palavra.
Uma vez um filósofo bebaço disse que a melhor maneira que o homem dispõe para se aperfeiçoar, é aproximar-se de Deus. Gente, esse cara respeita a Quaresma! Não, está mais do que aperfeiçoado, né? Digno até de ser canonizado. Portanto seguindo o conselho de Pitágoras que dizia: Elege para teu amigo o homem mais virtuoso que conheces. Então você, meu amigo "Jente" Boa, é um dos eleitos.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

O Padre

No contexto bíblico, o termo igreja designa reunião de pessoas. E com suas portas sempre abertas essa reunião acontece de forma religiosa. Os fiéis vão lá num ato de fé estreitar o seu relacionamento com Deus. Para aqueles que só o conhecem de vista, ir à igreja é a oportunidade de ter aquela conversinha ao pé do ouvido.
Mas o povo do deserto se perdeu da outra ponta do laço. Sem afinidade com a liderança da assembleia não houve edificação sobre aquela pedra. Afastamento. Descontentamento. E os dias de calvário se arrastaram por dias, semanas, meses.
Comportamento surreal pra quem confiamos o poder de agregar. O sujeito simplesmente bateu no peito e deu as costas pro "Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus." Vendeu a alma pro cão e comprou briga com cachorro grande.
Insanidade adquirida no confinamento. Definhou. Pirou o cabeção. Cruzou a fronteira do sagrado. Com um cruzado de esquerda (sem conotação política, ou não) quebrou o Cruzeiro. Rasgou dinheiro. Cruzado, cruzeiro, cruzados novos. Tal qual nossa moeda, desvalorizou-se dentro da casa. Por sinal, um luxo de casa com sua história jogada no lixo.
Tenha santa paciência! o cara trocou a santa, fez quadradinho de oito e monopolizou a quadra, fez parceria política, subverteu a tradição. Procissão! Procissão! Quase findou em processo. E que processão! Expulsou o Almir. Não, vocês não estão entendendo! Expulsar o Almir é como abrir mão do dizimo. Dizimou os fiéis, isso sim!
A batina não lhe cai bem, você não nos fez bem. E sair pela porta dos fundos é o fim do mundo. Não, você não vai sair sorrateiramente pela porta dos fundos. Vem Navi, saia pela porta da frente porque ela está e sempre estará aberta para o povo de Deus.







segunda-feira, 21 de setembro de 2015

A juventude é curta

Alguns cabelos começam a pratear mas a maioria mesmo está me abandonando. É a vida comendo pelas beiradas ou seria a morte marcando terreno com seu lápis negro? Quem paulatinamente risca linhas na face e capricha nos pés de galinha? A vida ou a morte? Só sei que me desenharam um bigode chinês e arquearam minhas pálpebras soturnamente. É Cecília Meireles, eu também não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro.
A rigidez dos músculos afundou nas areias movediças do tempo. A flacidez nos aguarda lá no fundo do pântano sem pressa, sem promessas e com sua suavidade e grande umidade propícia para a flacidez se expandir.

Retrato ( Cecília Meireles )

Eu não dei por esta mudança, 
tão simples, tão certa, tão fácil: 
- Em que espelho ficou perdida 
a minha face?

domingo, 20 de setembro de 2015

Samba PV

SAMBA CAMPEÃO GRCES PRESIDENTE VARGAS 2016
Enredo: Miscigenação que veste minh'alma, Relicário de Rara Beleza. Meu Querubim fiel e amado. Salve São Gabriel da Cachoeira
Compositores: Paulo Medeiros, Célio Medeiros, Igor Medeiros, Jhones Pereira, Bosco Colares, Agnaldo do Samba, Fred do Cavaco, André Sete Cordas

POR TRÁS DO VÉU DE SEUS MISTÉRIOS
QUEDAS D'ÁGUA, CALHAS E CORREDEIRAS
ÀS MARGENS DO IMPONENTE RIO NEGRO
DESÁGUAM NA BELA ADORMECIDA E FACEIRA
DESBRAVADA PELOS BRANCOS...
ESCRAVIZARAM E CATEQUIZARAM A MALOCA INTEIRA
SIM, A “CABEÇA DO CACHORRO” FOI FORTE
MISCIGENARAM O MEU QUERUBIM, É TERRA NOBRE
BANHADA DE AZUL E AMARELO NA EXPEDIÇÃO DA FOLIA BIS
VEM COM A MIL GRAUS NA CORRENTEZA DA ALEGRIA

EU VOU, EU… EU VOU, EU
EM SUAS ÁGUAS ME BANHAR
AO SOM DA BELA SINFONIA
QUE TRAZES NO SEU CHUÁ CHUÁ

NHEENGATU, BANIWA, TUKANO,
SÃO GABRIEL, UMA BABEL, “EU QUERO TU”
EU VOU E VOLTO NO RAIAR DAS MANHÃS
SEM ESQUECER DOS MEUS XAMÃS,
DAS MINHAS RAÍZES, MEU RITUAL,
NO TEMPLO DOS ARTISTAS VOU DANÇAR O FESTRIBAL
DABUCURI… MEU CARNAVAL
E TODAS… E TODAS AS TRIBOS DE BAMBAS
SAMBANDO NA MESMA ADRENALINA
DE JAÚ AO PICO DA NEBLINA
MATERNIDADE DO SAMBA NA AVENIDA

SALVE SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA
DE PELE MORENA É A NOSSA REALEZA
PRESIDENTE VARGAS VAI TE EXALTAR
MEU RELICÁRIO DE RARA BELEZA

Vestido azul

Ela caprichou no vestido. Era um azul floreado cujo corte conservador representava muito bem o seu estilo setentona. Mamãe, dentro de sua simplicidade, gostava de se vestir bem. Aos setenta anos ainda lhe restava um punhado de vaidade.
Mas o vestido azul não estava combinando com seu sorriso amarelo. Ela estava indo fazer mais uma cirurgia e dessa vez mamãe pintava um medo que, confesso, poucas vezes vi estampado em seu semblante. Dona Nonata era corajosa, não era homem, mas tinha aquilo roxo!
Enquanto a cirurgia acontecia, eu, meu pai e meus irmãos aguardávamos no saguão do hospital envoltos em uma conversa tranquila. Na verdade a tranquilidade estava ali de laranja. A tensão se revelava nos estalar de dedos, nos pés que não paravam de marcar o tempo, no senta e levanta aqui e acolá e no de vez em quando “Tá demorando, né?”
Após algumas longas horas de espera veio a notícia de que a coisa tinha ficado preta. A cirurgia complicou. Mamãe resistiu bravamente aquela noite de trinta e um de Outubro. Dia das Bruxas. Porém foi no desbotar da noite que ela descansou. Mamãe entrou de azul naquele hospital e nós saímos de preto. E nós… ainda não saímos dessa dor. Vira e mexe a saudade dá nas minhas duas. Como hoje logo que vi a foto do vestido azul da minha mãe.
Bença mãe!

Meu irmão

Tinha quatorze anos e um sonho de consumo. Um All Star cano longo. Era o tênis da hora. Todo adolescente de classe média tinha o seu. A minha classe era um pouco abaixo da média, até arrisco a dizer que era paupérrima. A única fonte de renda jorrava de meu pai. Bom, jorrar não é o verbo mais adequado para tal situação. Papai já não cortava mais carne. Foi ser vigia de banco. Ou seja, grana curtíssima pra realizar o sonho do cano longo. Mal dava pra comer. Mal dava pra comer… Então tinha de me conformar com minha conga. Era o que de mais luxuoso tinha pra me calçar. Chegava de conga nos aniversários de quinze anos .
Porém, meu pai, como bom vigia que era, não dormia no ponto e tratou logo de conseguir um emprego pro meu irmão mais velho lá mesmo no banco. Não foi fácil, como nada era fácil pra gente, mas ele conseguiu. Só tinha um problema; era um trabalho não remunerado. Conferente de não sei o quê. E de madrugada.
Meu irmão topou, ou melhor, papai topou por ele. E lembro bem do meu irmão saindo mais cedo do futebol no fim da tarde pra encarar o trampo quase voluntário. Dava uma pena dele. Futebol era nossa diversão mais genuína. Bola dente de leite, pés descalços, duas pedras como traves, e um monte de moleque feliz da vida.
Salvo engano, foram seis meses de ralação até ser contratado. Ele finalmente receberia um salário. Meu irmão nunca tinha visto tanto dinheiro aos dezesseis anos. Quando ele me disse o quanto receberia (um salário mínimo) fiquei ali sonhando com todos os sonhos dele. Imagina, se eu tinha meus sonhos de consumo, que dirá ele.
Então no dia do pagamento ele chegou em casa depois de uma noite em claro conferindo sei lá o quê e disse pra mim e pro meu irmão: “Se arrumem aí que vamos lá no centro comprar o All Star de vocês.” Caramba… Sempre me emociono com esse história… E fomos. Ele ficou feliz com a nossa felicidade. Generoso, muito generoso. O altruísmo em pessoa.
Por que escrevi esse texto? Porque amanhã (14/05) é aniversário dele. Foi a forma que encontrei de homenageá-lo uma vez que não poderei abraçá-lo. A distância não permite, mas sinta-se abraçado meu irmão, Irailton. Eu te amo!

























A amizade

Pelas mãos do samba desenvolvemos um enredo sem o limite da sinopse, sem a burocracia dos jargões, sem as cores tradicionais, sem as plumas e paetês e tacitamente sem as máscaras. Nada de confetes e serpentinas. Foram mãos buscando mãos na construção sólida de nossa comissão de frente: O respeito mútuo. Foi ele quem abriu alas pro nosso carnaval e sempre fiel as nossas leis de cada instante.
Espalhadas pelas outras alas estão a generosidade, o companheirismo, a sinceridade, a liberdade de expressão e a disponibilidade, algo raro nos dias atuais. Basta um único acorde e todos logo chegam junto.
Bom, no início, nossas reuniões eram voltadas para o trabalho de lapidar uma letra e transformá-la em um samba num nível razoável de competição. Célio e Belk começaram tudo isso. Aí veio o Fred, o André, A Stephanny, o Diego e o Henrique. O grupo aumentou e aumentou porque a relação de amizade é sincera. Estivemos juntos na derrota e na vitória. Já choramos de alegria e de tristeza.
Bem, Tudo isso liderado despretensiosamente pela batuta do nosso mestre Agnaldo. Um cara de alma grande e coração bom. É ele quem dá o tom, o ritmo, a melodia e a harmonia pro grupo. Parafraseando o André, essa bichona é um showwww.
A despeito de toda uma história de sucesso no carnaval amazonense, dos títulos nas grandes escolas, das belas composições, o cara continuou com os pés fincados no chão e fez da avenida da vida um congestionamento de humildade. Conheço poucos, ou melhor, raríssimos, que desfilam por essa passarela sem se deslumbrar com as personalidades, os camarotes e as áreas VIPs. É difícil passar por ela sem perder o rebolado.
Agnaldo traz no seu carro abre-alas o bom humor, o cara é Mestre-sala nas sacadas rápidas e inteligentes, nosso Porta-bandeira de boas gargalhadas. Daquele tipo que perde o amigo mas não perde a piada. Confesso que nunca o vi triste.
Porém há momentos em que a vida desafina, atravessa, semitona, e aí meu amigo, a corda arrebenta e o cavaco chora. O surdo fica mudo. A alegria empaca na concentração. Os holofotes se apagam, escuridão… Olha o biiiiicho! Mas o desfile ainda não acabou e nem é você quem decide quando acaba, se é que você me entende. O bicho papão não tem sete cabeças como falam por aí. Às vezes se faz necessário entrar no recuo da bateria e esperar tudo passar. Um passo atrás pode significar dois passos a frente. Então olhe bem ao seu redor. Você não está sozinho. Somos poucos, mas somos verdadeiros.
'Bora, levanta daí! pega esse microfone e limpa a garganta. Meu irmão, atrás da Verde e Rosa só não vai quem já morreu!

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Foi um Chico que passou em minha vida...

Nosso primeiro contato foi selado com um forte aperto de mãos, daqueles típicos de um cearense cabra macho. Confesso que me intimidei com aquela saudação sisuda que no estalar dos ossos quase ouvi um sonoro “O que tu queres com minha filha?”
Na verdade aquele forte encontro de palmas foi um encontro de almas e não uma intimidação como havia deduzido lá no jurássico ano de 1991. Chico Branco era uma pessoa de alma grande e logo percebi que por baixo daquele cabelo prata existia um coração de ouro.
Ele gostava de prosear e a nossa prosa dominical era sempre muito agradável ainda que ele estivesse em estado de felicidade etílica. A conversa fluía e o cara, isso mesmo! O cara porque ele era “o cara” conversava absurdamente sobre tudo apesar do pouco tempo de estudos formais o que não o impediu de diplomar os setes filhos. A sabedoria estava impregnada em sua pele.
Os anos foram se passando e os filhos foram se casando. Vieram então os filhos dos filhos. Por que usei a palavra filhos e não netos? Porque seu Chico tratava todos como verdadeiros filhos. Essa era outra grande qualidade dele, olhar para o próximo sem distinção de cor, credo e conta bancária, o que me causava até uma certa inveja branca. Porém com o meu filho havia uma relação muito além de avô e neto. Uma relação admirável. Então meus amigos, como diz o ditado popular “quem meu filho beija, minha boca adoça”. Se eu já gostava do velho, passei a admirá-lo ainda mais.
Recebi a notícia do seu falecimento no trânsito. Meu filho estava do meu lado e com a voz embargada sussurrei pra ele: Júnior, ele acabou de falecer. Afaguei sua cabeça e continuei: Perdeu o teu avô. Ele num choro represado falou: Perdi um amigo. Foi muito duro ouvir isso. E o coração ficou ainda mais dilacerado ao ouvir da Larissa, aos prantos, minha filha de nove anos, a seguinte frase: Não é fácil perder um avô. E pra mim era a perda de um segundo pai.
Bom, acho que isso que acabei de relatar sintetiza muito bem quem foi seu Chico. Ele pode muito bem agora lá no Reino dos Céus parafrasear o personagem de um filme e bater no peito e cravar: Missão dada, missão cumprida!
Fica aqui registrado no plano terrestre o seu legado de honestidade, generosidade, companheirismo, e solidariedade. Dizem por aí que enquanto a pessoa permanece viva em nossos corações ela não morre. Sendo assim, ele continuará perenemente vivo em nossas vidas. Foi um Chico que passou em minha vida...



































Para meus alunos do terceiro ano

Início de ano letivo com traços de uma pseudo neofobia. What the fuck is Neofobia, professor? Explico. Neofobia é o medo do novo. Mas novo? ₢omo assim? Uma vez que já estamos inseridos nesse ambiente escolar há anos.
Pois é, então foi mergulhando nos porões da minha memória que encontrei uma empoeirada apresentação dos professores cuja alegoria para o ano corrente seria: Professor-chave de fenda, aluno-parafuso. Ou seja, filosofia do aperto para, sem trocadilhos, roscas e porcas. O popular: quem for podre que se quebre!
Isso foi o suficiente para alguns dos finalistas com um ar de estrelismo abrirem suas caixas de ferramentas, sacarem suas chaves estrelas e desparafusarem seus: Aqui eu não fico! Fui! Vou-me embora pra Pasárgada!
E alguns foram, mesmo não sendo amigos do rei. Confesso... temi não estar aqui agora lendo esse texto para vocês. Perdemos alunos e professores, porém, não perdemos o sentimento vital para continuarmos encarando os desafios escolares diários: A coragem. É ela que bombeia otimismo e disposição em nossas veias. Sem ela, sequer, levantamos de nossas camas.
No entanto, apesar do discurso subversivo dessa meia dúzia de neofóbicos, a situação foi contornada e o espírito Macunaímico – ai que preguiça! - que assombrava os corredores dessa escola foi exorcizado. Outro dia mesmo relendo Robert Frost, meu poeta americano favorito, eu os encontrei por lá no poema “The road not taken”. A estrada não trilhada. Vocês sabiamente evitaram os atraentes atalhos sugeridos pela Joana a louca de Espanha e toparam corajosamente caminhar por sobre os cacos de vidros temperados… Isso mesmo! Vidros temperados de dificuldades acadêmicas.
Testes, seminários, teatro, dança, canto, produções textuais, pressão, pressão, e o mantra passar no ENEM, passar no ENEM, passar no ENEM ainda ecoa na acústica de nossas esperanças.
Bom, cá estamos. Vocês conseguiram e chegaram aqui, fragmentados é bem verdade, com seus guetos, com suas tribos, com suas idiossincrasias, com suas desavenças, com seus arranhões, calos e fraturas, mas chegaram.
Todavia, observei do alto da minha laje de vidro a pedra que rolava no meio dos seus caminhos. A diferença. É duro lidar com ela especialmente quando o peito ainda tufa de juventude. Essas diferenças precisavam ser britadas urgentemente para vocês poderem dar vasão a sentimentos mais nobres. Liberté, Égalité, Fraternité. Liberdade, igualdade, fraternidade. Exercício de cidadania que transcende cor, credo, sexo, a matéria favorita, o professor favorito, as páginas dos livros didáticos e as picuinhas dos dias que foram se encardindo, mas que ontem eu tive a certeza que tais picuinhas se desbotaram através do alvejante chamado união.
Fermentem dentro de vocês a sede de vencer sem a arraigada necessidade de artifícios ilegais tão popularizada em território nacional pelos homens de terno e gravata. Sabe, a ilegalidade macro um dia foi micro. A cola é um micro artifício ilegal. Vocês são descolados, vocês foram descolados, então deixem essa porra pra lá! Amputem o jeitinho brasileiro e corram para o sucesso com suas próprias pernas. Pensem fora da caixa, façam a diferença. Façam da zona de conforto uma zona! Ontem vocês pensaram fora da caixa, ontem vocês fizeram a diferença.
Sejam felizes, mas para tal, não tenham medo de seus próprios sentimentos.


domingo, 3 de maio de 2015

frfrfrfrTremeu. É pau. Tremeu. É pedra. Nepal do avesso. Placas tectônicas submissas a força da natureza. Pau mandado. Desconstrução fragmentando dor e desespero. Terra maculada de sangue.
Recomeçar desenterrando para enterrar. Que Deus proteja aquela nação.
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domingo, 8 de fevereiro de 2015

Tem gente que se acha, e por isso, se perde.

Um outro mundo existe...


Já previamente avisado que a turma X do ensino Y era casca grossa, tomei uma dose de cuidados redobrados. Confio muito no teor de convencimento da minha cachaça. Dizem que nos primórdios a danada era usada lá pelas bandas do nordeste para amolecer carne de porco selvagem. Então, foi com ela que abri os serviços. Antes porém, temperatura do estômago: Zero grau. Coisa natural da primeira aula. Frio agasalhado, hora de exorcizar a fama de bad boys daqueles "sabem de nada, inocentes".
De mochila nas costas, all star, camisa de meia e meu velho guerreiro jeans desbotado, entrei na sala meio que despercebido. Eles estavam entretidos numa conversa pra lá de animada. E aí moçada, de boa? O com pinta de líder de black blocs logo catapultou um "Olha aí, professor garotão na área!"
Olhei pra ele com o mesmo olhar que olhei para a atitude da Sheislane. Mas o enterro seguiu e me apresentei ainda em meio àquela patuscada. Sentei sobre a mesa e abri o livro da minha vida. Paulatinamente eles foram se interessando pela minha conversa (a)fiada.
Quando mencionei a Sharp e a Transbrasil, empresas que tive o desprazer e o prazer de trabalhar. Isso! exatamente nessa ordem. Interrompendo a minha fala um eco de "Pé frio o senhor, hein!" flutuou na acústica daquela sala. A gargalhada foi coletiva. A essa altura do campeonato eles já não interagiam entre eles, só comigo.
O bate papo informal e motivacional foi encerrado com um verso de Mário Quintana. Pois falava da importância da leitura e fiz questão de frisar: Moçada, não se esqueça que "Um outro mundo existe..."
Rolou um aplauso no final e um "esse professor é rodado, moleque!" em voz masculina. Foi interessante ver a mudança de feição daqueles jovens já meio calejados da mesmice de nossas aulas. Enquanto falava me lembrava do videoclip de Black and White do Michael Jackson. Mas o motivo que me levou a redigir esse texto, pois deveria estar preparando minhas aulas de amanhã, foi o aluno com pinta de líder black blocs ir até a minha mesa e dizer: Professor, hoje o senhor me fez acreditar que um outro mundo existe.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Subindo o morro



Estava revendo fotos antigas e essa me roubou alguns minutos. Essa me parece uma boa metáfora da vida. Às vezes tenho a impressão que estamos sempre subindo um barranco. E cada um encara a subida de acordo com suas leituras de mundo, suas perspectivas de vida e seus "eu".
Antes da minha filha, subiram outras pessoas da família. fui o primeiro. Subi rindo das dificuldades do terreno. É bem assim que encaro a vida. Quanto mais dificuldade, mais eu rio.
Depois subiu meu pai. Subiu reclamando de quão íngreme era o morro. Papai envelheceu e vive reclamando de tudo.
Subiu minha irmã. Parava, respirava, continuava, fazia um comentário, reclamava. Nunca frequentou uma academia.
Subiu meu filho na velocidade do Usain Bolt. Jovem adulto, vive tudo muito intensamente.
Por último subiu a Larissa. Subiu rindo, cantarolando, brincando. Provavelmente foi a única que apreciou as coisas boas que estavam em volta, como por exemplo, o Rio Negro ali no fundo.

Crônica da bunda ou bunda crônica?

O assunto por essas bandas de cá é bunda. Não sou contra e nem a favor, não sou de esquerda e nem de direita. Não me julgo um contra-bunda. Mas também não sairia nas ruas com a faixa "Vem pra bunda". Pega mal, não pegar na bunda, a faixa. Vou me posicionar no centro. Não, sem maldades por favor. Não quis dizer no centro da bunda, quero dizer no centro dessa discussão.
O fato é que o Brasil tem fama de país da bunda, ou de bundões? Não sei, só sei que uma bunda incomoda muita gente, mas a da Paolla Oliveira incomoda muito mais. Se bobear aquela bunda tem RG, CPF e internet banda larga, no caso dela, bunda larga. Nome de registro? Bunda de Oliveira. Aí, como exercício de imaginação fico pensando aqui quão constrangedor seria a famigerada pergunta: Dona Bunda, quantos anos você tem?
As aulas retornam na próxima semana e bem que os professores de língua portuguesa poderiam evitar a tão batida redação de primeiro dia de aula. Como foram suas férias? Vinte linhas. Essa coisa de dar número de linhas em redação é jurássico, mas há quem diga que é melhor do que dar a... Esquece! Continuando a minha sugestão, já que estamos as vésperas do carnaval mesmo, sei lá, de repente poderia pedir para os alunos redigirem uma redação do tipo "A importância da bunda na formação de leitores críticos e participativos" ou então "Os aspectos bundísticos de nossa sociedade em época de redes sociais e minisséries apelativas".
Não sou muito de assistir TV, mas tenho acompanhado a bunda, digo, a minissérie e confesso que a Paolla Oliveira poderia ficar no ar eternamente. Aí sim o título da minissérie faria todo sentido para os homens. Felizes para sempre, sem a interrogação.
PS. Meu texto sofreu uma digressão. Disse que não ia me posicionar. Viram como uma bunda desconcentra a gente! Só espero que minha mulher não leia esse texto.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

WhatsApp

São raras as vezes que uso meu celular para fazer uma ligação. O WhatsApp trouxe no seu bojo a economia tão sonhada por aqueles que ainda têm plano pós-pago, e por que não os pré-pagos também? Aliás, acho que sou um dos poucos remanescentes a usar o serviço pós-pago.
Porém, para muitas pessoas essa economia custa caro. WhatsApp é um cofre sem senha, cujos segredos digitados ali, estão a um clique de serem desvendados. Antigamente os segredos eram revelados, hoje em dia eles são printados. Mas segundo um amigo meu, o aplicativo está mais para terreno minado do que para qualquer outra coisa.Toda vez que a mulher dele se aproxima do telefone, ele, desesperado, grita: Não toque nisso aí que pode explodir! Homem admirável, não? Quanta preocupação com a integridade física da esposa, ou pelo prisma corporativista, integridade física dele mesmo!
Os mais conservadores acreditam que o WhatsApp é zona do baixo meretrício, uma Itamaracá virtual, com muita putaria e tal. Pelo menos por lá o sexo é seguro. Já os mais religiosos creditam a invenção ao coisa-ruim. É marido deixando mulher de lado, é esposa deixando marido de banda, são famílias inteiras se debandando por conta das tentações WhatsAppianas. Parafraseando minha vizinha, zapzap é coisa do capeta!
Só sei que pra mim o aplicativo tem sido bastante efetivo. Uso para fins profissionais e sociais. Uso com moderação embora minha ex-esposa discorde do meu ponto de vista. Viram? Fui vítima do mal tecnológico do século.. Nem os bons samaritanos escapam da maldição WhatsAppiana. Acho que minha vizinha tem mesmo razão. Zapzap é coisa do capeta!