domingo, 29 de maio de 2011

É o papai?

1:18 da tarde marca o relógio no painel do carro. Dirijo ao som de You're always on my mind. O pensamento voa longe quando o telefone grita.
- Oi.
- É o papai?
- Oi, meu amor.
- É o papai?
- Não. É o teu namoradinho. Brinquei com ela. Ela então desligou e ligou novamente.
- É o papai?
- Sim, minha filha. Sou eu.
- Eu te amo, tá?
Não tive nem tempo de responder. Larissa - 4 anos - desligou o telefone e o bobão aqui ficou com os olhos alagados e a voz embargada.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

De repente 40

... E ainda tem gente que acha uma maldade a palmada no ato do nascimento. A partir dos 40, antes fosse uma palmadinha.
Parece que foi ontem o teste do pezinho que hoje calça 40. Até outro dia ainda usava fraldas fluffy, e se os próximos 40 anos voarem também, logo, logo estarei usando fraldão pampers e fazendo o caminho do avesso à La Benjamin Button.
A barriga tanquinho – que nunca foi nenhuma coca-cola - virou uma pochete com uma leve tendência a camburão, no entanto a qualidade das lavagens... Ah... É de uma Brastemp.
Até um dia desses era pagão, 40 anos depois de batizado não pago nem minhas promessas e nem sei se tenho religião, deu apagão! Todavia isso tampouco me incomoda, Deus também não tem, já dizia um tal de Mahatma Gandhi.
Nos anos oitenta me divertia nas aulas dos “tios” de inglês, hoje aos 40, me divirto como “tio” de inglês.
No colégio D. Pedro II veio meu grito de independência, foi lá que aprendi a me virar - por favor, não há nenhuma conotação sexual nisso. Estudei pouco, confesso, contudo brinquei muito de coquinho-cocão. Lembram? Coquinho, um beijo inocente no rosto, cocão, um beijo inocente na boca. É bem verdade que só catava coquinho, coitado. Ah, mas hoje quebro o coco e não arrebento a sapucaia! Tem um diabinho aqui no meu ombro direito me perguntando quem estou querendo enganar com esse discurso.
Das paqueras na Praça da Saudade, só saudade. Foi lá que dei o meu primeiro beijo aos 14 anos. Quando me lembro disso dá vontade até de esquecer. Glorinha era o nome dela, morava na Compensa, 14 anos e alguns dentes cariados, ou melhor, estragados mesmos. Lembro que cheguei a pensar durante o beijo que estávamos nos beijando em cima de uma fossa. O leitor deve estar se perguntando, sim, mas o beijo em si foi bom? Então caro leitor, vou ser bem franco, o beijo foi podre! Ao longo desses 40 anos sempre que conhecia uma Glorinha, já ia logo perguntando de cara: Glorinha da Compensa?
Das peladas no Caldeirão do Diabo ficaram muitas reminiscências. O futebol no final da tarde era sagrado, ou profano, como queiram. Com a urbanização desenfreada pela qual passa Manaus, recentemente construíram um inferninho no local, ou seja, quando quiser reviver as peladas do tempo de outrora é só voltar no caldeirão que o diabo continua lá com suas peladas.
Então cresci e parei de brincar de casinha pra correr atrás de construir a minha. Troquei boates por Buarque, cartinhas por Cartola, papai Noel por Noel Rosas, larguei um jardim para cuidar de uma Rosa que me daria além de flores, dois dos meus maiores amores. Hoje estou com 40, não tenho 40, tenho tão somente os anos que me restam.
Bem, se esse texto ficou a desejar, minha trajetória até aqui não. Não tenho do que reclamar e acredito que não tenham muito a reclamar de mim também. Parafraseando Roberto Carlos; Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi.
Então meus amigos, se é verdade que a vida começa aos 40, encerro essas mal redigidas por aqui porque acho que já está na hora de mamar.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Os caras

Com um Machado nas mãos fui desbravando o caminho espinhoso da ignorância e conhecendo caminhos nunca antes pisados por esses pés limpos de cultura. Um Machado genuinamente carioca, aparentemente frágil, desamolado, mas da melhor qualidade.
Nesse chão coberto por Ramos e ladeado por Rosa e Matos com cheiro de Lima conheci um Padre que me mostrou a via crucis de forma nua e crua. Fui cercado por Anjos que alumiou as trevas que insistiam em me acompanhar, e no meio do caminho tinha um Coelho, mas não hesitei em botá-lo pra correr e descartar qualquer hipótese de fracasso.
Isto posto e posto isto, castrei toda e qualquer possibilidade de me perder na selva dos iletrados e levantei o Bandeira da liberdade. Leia e liberte-se. Viva a liberdade!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Nota de Falecimento

Faleceram ontem às 18hs vítimas da famigerada gripe suína aqueles que em vida se chamaram Heitor, Cícero e Prático.
É com grande pesar que as famílias das vítimas convidam a todos para a missa de 7º dia que acontecerá daqui a exatos sete dias na Igreja Nossa Senhora dos Porquinhos.
O mundo animado está de luto, pois, os três porquinhos provaram do próprio veneno.

domingo, 15 de maio de 2011

É nesse vaivém

Mal me aproximei e ela já foi se abrindo
Sem hesitar a atravessei
Sem nenhum pudor fui e voltei
Foi assim, seco, nem hi e nem bye
O ponto G estava bem aos meus pés
Que sensibilidade, um simples toque
E ela se arreganhou gemendo
Não demorou muito e logo percebi
Que não era o único
Ela estava ali, inerte, sem preconceito
Despudorada... A porta safada!!!!!!

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Dias contados

Caros leitores,

Foi um prazer inefável conhecê-los, pois venho através deste informá-los que estou com o prazo de validade contado. Recentemente fui ao médico e ele descobriu que tenho uma doença irreversível.
Tudo começou com uma dor na cabeça do dedão e estendeu-se até o peito do pé. Os dias foram se passando e a dor subiu pra batata da perna, logo depois chegou até o pé da barriga. Mais tarde essa dor migrou pra boca do estômago e não satisfeita estacionou no céu da boca. No último exame detectaram um nódulo no pé da orelha.

Diagnóstico: Catacrese.

domingo, 8 de maio de 2011

Dona Nonata

Você deixou seus sonhos para que eu sonhasse.
Derramou lágrimas para que eu fosse feliz.
Você perdeu noites de sono para que eu dormisse tranquilo.
Acreditou em mim apesar de meus erros.
jamais esqueça que levarei para sempre um pedaço do seu ser dentro do meu próprio ser...

Obrigado Mamãe!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Metamorfose Ambulante




A voz oscila, falha. É grave, é aguda, é motivo de gozação. Um rascunho de bigode se desenha discretamente nos cantos da boca como se fosse um time de futsal – são cinco pêlos de um lado e cinco de outro. Algumas espinhas já começam a pipocar no rosto. Os banhos agora são mais freqüentes e mais demorados. O garoto é a própria testosterona.
No bolso da calça do colégio um bilhetinho. Na hora da saída quero falar contigo atrás da cantina. No Orkut mais scraps. Na prateleira do quarto a coleção do Max Steel ainda faz parte da rotina do menino de quinze anos que acabara de trocar a pubescência pela puberdade, se é que existe alguma diferença.
Depois do banho demorado tem que rolar um perfume, o penteado despenteado tem que estar impecável. A mãe condena o que as gatinhas do colégio absolvem. O desencontro dos cabelos. Penteia esse cabelo direito menino! Que coisa mais feia!
O pai não fala nada, mas se fosse a filha, a Larissa, a conversa seria bem diferente, não é seu Paulo? Podes crê, meu.
O fato é que os anos voaram e as brincadeiras de criança vão cada dia mais dando espaço aos CDs de música, ao isolamento no quarto, aos telefonemas secretos, fins de semana na casa de colegas de escola, etc.
Atravessar a rua de mãos dadas com o pai nem pensar. O que os brothers vão pensar dele. Ele tem que manter a fama de mau. Sabe que um vacilo diante dos amigos pode custar um ano inteiro de piadinhas corrosivas que serão lembradas daqui a cem anos, e não estou aqui usando de hipérboles não. Nessa idade a crueldade dos sarros é implacável.
E quando indagado sobre as súbitas mudanças ele parafraseia Thiago de Melo: Não tenho nada de novo apenas o jeito de andar. Ah moleque!
PS: Júnior ama os pais e sua admiração por eles está tatuada em sua retina. Ele, muito mais que o pai, é coruja.
Parabéns meu filho por mais um aniversário!!