quarta-feira, 31 de março de 2010

Naqueles dias

Se não falo o que ela quer ouvir
Ela logo faz beicinho
Se a chamo de meu amor
Ela prefere que a chame
De meu amorzinho
Quando essa mulher se zanga
Sai de baixo!
Ela não quer nem saber
Dos meus beijinhos
Calar pode ser o melhor remédio
Ou então sair de mansinho
Pra enfrentar a fera
Só munido de muita paciência
E se peço indulgência
A sua veia religiosa se manifesta
Pedir perdão? Êpa! não é com ela não
Tentar convencê-la do contrário
Eh, será sempre em vão
Ou concorde com o que ela diz
Ou não emita nenhuma opinião

sexta-feira, 26 de março de 2010

Manaus, tua piscina tá cheia de ratos

Família Souza. Idolatrada pelo povo alienado, está na mira da justiça. Ao longo dos últimos dez anos os irmãos Wallace e Carlos Souza ganharam muita popularidade por conta de um programa na TV de cunho policial. Eles inconformados com as iniqüidades sofridas pelo povo decidiram dar a cara a tapa e ir pras ruas como verdadeiros justiceiros da lei com o único intuito de resolver os problemas de segurança pública da nossa cidade.
Então funcionava assim: bateu, levou. Com isso eles caíram nos braços do povão e logo fizeram carreira política. Hoje Wallace é deputado estadual, Carlos é o vice-prefeito e o irmão mais velho, creio eu, acabou de ser eleito vereador.
Só que pra chegar aonde chegaram, inúmeras ações ilícitas foram feitas, as acusações são várias, até o filho de um deles com nome de anjo está envolvido, e claro, não podemos negar que o programa foi a ponte para o sucesso financeiro, se é que podemos chamar isso de sucesso.
Os irmãos coragens – como são mais conhecidos na cidade – pisaram na bola e deram um tiro, dá tiros é com eles mesmos, no próprio pé e abriram os olhos da justiça cega que espero eu, não faça vista grossa pras mil e uma evidências que aí estão gritando.
As suspeitas de crimes cometidos por eles bóiam num mar de lamas a cada dia na mesma proporção em que nossos rios estão enchendo. O que era conjetura agora é realidade. Mas o fator “poder aquisitivo” tem tido sua influência e temo que todas as provas e informações que vazaram para incriminá-los vão embora junto com a vazante.
Os Irmãos coragens - que tem como lema olho por olho, dente por dente – estão mais pra Pluto do que pra qualquer outra coisa, porque pra cometerem os crimes que eles cometem tem que ser um filho da Pluta. Sem contar o arsenal de armas que foi encontrado em poder deles. E tem mais, dar cesta básica em troca de votos é crime, é usurpar o direito de escolha do cidadão, é em português bem chulo, uma putaria.
Mas agora eles estão no olho do furação e a hora é essa, o povo tem de largar essa passividade e ir pras ruas botar a boca no trombone, bater os pés, pintar a cara e desmascarar esses caras e só sossegar quando esses metralhas forem parar atrás das grades, vamos cutucar esse câncer e vomitar sobre eles justiça, honestidade e dignidade.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Ella

Tu boca és un poema
Que todavía no tuve
La oportunidad de leer

Tu cuerpo és la canción
Que aún no tuve
La oportunidad de cantar

sexta-feira, 19 de março de 2010

Avatar

Paulo Medeiros

Balaio de viços...
Refúgio de meus devaneios
Usurpa meus pensamentos
Nua de pudor
Avatar de sentimentos

domingo, 14 de março de 2010

De volta ao inferno

A aurora está rompendo a alvorada sob as águas de março e trazendo consigo o pranto da esperança observada por nuvens densas e negras. As grades enferrujadas, o parco espaço, a imundície daquele lugar e daquelas pessoas, a comida de terceira e o manto da justiça agora são coisas do passado.
Então a raposa vestida de oncinha protegida por um guarda-chuva preto cruza o portão do presídio de segurança máxima como uma gatinha mansa espreitada passo a passo pelo guarda austero da guarita com uma pistola na cintura e um fuzil nas mãos.
Portão aberto, o cansado e velho de guerra carcerário que a acompanha dispara contra ela. Boa viagem Valeska! Ela passa a mão esquerda pelos cabelos maltratados e o ignora.
Familiares do lado de fora, ainda de cara inchada, amigos fieis estalando os dedos do mindinho ao polegar, seu advogado arrogante, imprensa de todas as mídias e curiosos estão ali à porta da desembargador Vidal Pessoa a espera da produtora de moda coadjuvante de uma série de crimes.
A chuva não dá trégua. Castiga. Ela finalmente pisa na calçada da liberdade e um toró de jornalistas a metralha com microfones sua face capituniana. Ela está abatida, só quer o colo da mãe, os amigos e parentes tentam fazer um cordão de isolamento, a celeuma está armada e as perguntas são as mais ácidas possíveis. E o povo com faixas de protesto expectora alguns impropérios.
Valeska não vale nada! Vitupera um cidadão mais exaltado.
Um carro de luxo importado todo preto a espera com o motor ligado a cinqüenta metros dali. Ela parece caminhar num corredor polonês. Vítima ou vilã? Pergunta o repórter. Os cinqüenta metros estão tão longos quanto um dia de fome.
Valeska Silva está ensopada, a natureza insiste em lavar aquela alma encharcada de remorso. Ela enfim entra no automóvel e acomoda-se no banco do carona. Dona Matilde – a mãe – senta-se no banco traseiro e lepidamente afivela seu cinto de segurança. Ela é o próprio lençol de afagos da filha.
- Para aonde vamos? Questiona o motorista desinformado.
Dona Matilde cochicha algo no ouvido do chofer. Valeska não entende o indiscreto segredo e o motora segue no rumo do aeroporto. A viagem foi premeditada, pois a cidade inteira já sabe de sua soltura. Ela corre risco de morte. Mãe e filha dentro do carro como duas estranhas cúmplices de um silêncio inexpugnável do crime.
O silêncio é quebrado pelos gritos dos pneus riscando o asfalto. Só um balão estoura. Valeska faz sua última viagem num voo solo rasante. Confetes de vidros espalham-se pela pista, a mãe aproximasse do cadáver e uma lágrima dissimulada desliza sobre seu rosto pérfido.
Olá pessoal. Vocês devem comentar os textos de nossas aulas no endereço abaixo.
www.jesuspaulo.blogspot.com

quinta-feira, 11 de março de 2010

Palavras ao vento

Minhas palavras...
Imagens de meus pensamentos
Procuram no vento
O casto sorriso,
O olhar derretido
Pelo calor de nossa libido
Minhas palavras...
Imagens de meus pensamentos
Perdem-se no tempo
Não encontram o aconchego
Dos seus ouvidos sedentos
Chega de lamúrias
Chega de tormentos
Guardarei minhas palavras
Para ouvidos mais atentos

quinta-feira, 4 de março de 2010

31 de janeiro

Chego à escola exatamente na hora marcada. Bato à porta e de cara a vejo de costas. Baixinha, cintura de cavaquinho e cabelos negros pelo meio das costas está ali inquieta remexendo um arcaico fichário de alunos. Ela vira preguiçosamente e seus cabelos sedosos acompanham o movimento do corpo numa dança sensual como um tango argentino. Meu corpo perfumado de Avon é invadido poro a poro por um francês arrebatador que até hoje não consigo pronunciar seu nome.
Ela olha em minha direção e percebo o baile articulado de seus lábios. As mãos – como a de um maestro - sobem e descem. Tremo, o coração entra em descompasso e confrange. Espectros se formam diante de meus olhos subitamente cegos. O relógio na parede branco gelo com a logomarca da Computec simplesmente congelou, deu branco. Ó meu Deus! Ela é muda. Eu mudo. É o fim do mundo.
Ricardo – o dono da escola – chega num silêncio lento e de longe sem perceber a minha presença faz um gesto para ela com o polegar direito. Ela olha pra mim e devolve para ele o gesto com o polegar esquerdo.
Ricardo desce as escadas saltitando, atravessa a sala de espera a trotes largos e entra na recepção com os braços vestidos e armados para um forte abraço. Nossos olhares se encontram e percebo descaradamente a articulação de seus lábios. Ó meu Deus! Ele está mudo também. Eu juro. É o fim do mundo.
Começa então uma correria, ele me abana, ela traz um copo com água e açúcar. Sento no sofá preto de couro, mas não me sinto... Estava surdo de amor. Aqueles dezenove segundos duraram dezenove anos.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Bocas Gêmeas

Bocas Gêmeas


O vento gelado assovia
No tom afinado do amor
Aquecendo o encontro de lábios
Molhados de insanidade
Encolerizando o encontro
De bocas profanas e,
De beiços nus e maquiados