sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Ela pode esperar...

São exatamente três horas da manhã quando a fragilidade do silêncio é quebrada na soturna casa 211 da pacata Santa Quitéria com os gritos histéricos do telefone convencional posicionado na estante de mogno da sala de estar. Toques sucessivos com ar de urgência e um hediondo aroma de tragédia, toques daqueles de dizimar até a paciência de Jó.
Seu Isaac acorda aturdido e balbucia algumas palavras incompreensíveis como quem tem um bob de cabelo enrolado na língua e levanta-se muito amuado da rede de punhos puídos. Sempre que tomava seus pileques abria mão de dormir na cama de casal. Era embalado na rede que ele curava suas dores de cabeça ainda que com carapanãs lixando seus ouvidos.
Isaac era do tipo que não gostava de atender nem os telefonemas dos próprios filhos, que dirá um trote de algum desalmado com insônia na taciturna noite de dezoito de outubro - dia comemorado como marco da resistência à morte inevitável. Os filhos há algum tempo já nem telefonavam mais pro velho, pois, as chances de ouvirem poucas e boas eram de proporções homéricas. Paulatinamente Isaac levantara muralhas em sua volta e cavara um fosso levando essa animosidade ao aparato tecnológico a osteoporose de seus relacionamentos familiares. Mas num súbito momento de sobriedade lembrou-se do filho caçula recém integrado à polícia federal e que estava em missão na perigosa cidade de Tabatinga.
O envelhecimento dos tecidos já pesava naquela carcaça óssea de setenta e três Julhos, com alguns remanescentes cabelos grisalhos e uma ressaca dionisíaca lá foi ele desnudo pelo corredor inóspito rumo ao impaciente aparelho telefônico. Nunca Alexander Graham Bell foi tão xingado por tal invenção.
Alô? Judeu? Só pessoas muito íntimas o chamavam por esse apelido colocado por ele mesmo. Mas nem a voz lasciva e o tom de intimidade do outro lado da linha o derreteram.
Isso é hora de telefonar pra casa dos outros? O que é? Foi logo fazendo jus a fama de tolerante zero. Queria voltar o quanto antes para rede de punhos puídos e hibernar por dias, se possível.
Sabe quem está falando? Não. Respondeu assim, seco e lacônico. Já estive em sua casa uma vez e fui muito bem servida. Lembras? Isaac resolveu dar voz ao seu desconhecido lado Pollyana. Sentou-se no sofá e continuou com a conversa fiada. Me perdoe, mas não lembro não minha princesa. Eu sou a General das Trevas.
Zuleide tem o sono sacudido pelo frio insuportável e ao levantar as pálpebras percebe a porta do quarto entreaberta e não vê seu companheiro à cabeceira. Aquela frente fria castigava a extensão do inferno, como era mais conhecida a cidade de Manaus.
Isaac? Isaac? Sem obter resposta foi o jeito levantar-se. Mas sem o par de óculos não chegaria a lugar algum. Zuleide vai tateando sobre a penteadeira com uma cautela que lhe é peculiar até derrubar o Terço de madeira antes de triscar nos seus olhos de vidro. Dona Zuleide, de dogmas religiosos muito sólidos, não ia para cama sem antes rezar todo o Terço do Rosário.
General das Trevas? Bom, não me venha com metáforas a essa hora da noite. Seja sucinta e direta. Eu sou a morte e vou aí te buscar. Uma rasga-mortalha pia ironicamente sobre o telhado úmido.
Houve um silêncio. Depois uma gargalhada. A conversa já durava um quarto de hora.
Ah, és tu então sua vagabunda. Se por aqui quiseres aparecer de novo, gostaria que tu viesses desprovida de calcinha e sutiã. E quando eu deitar minhas coxas entre as tuas sentirás que o buraco aqui é literalmente mais embaixo.
Zuleide a poucos metros dali com o Terço nas mãos e os olhos pousados naquele homem nu foi se embriagando com aqueles sussurros temperados de promiscuidade que o silêncio permitia-lhe ouvir. Aproximou-se de Isaac, colocou o Terço em volta do seu pescoço, cobriu-lhe o corpo com a mortalha do amor e voltou a dormir na espera da morte que insistia em não desligar.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Televisão


Televisão: Osteoporose dos relacionamentos familiares.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Mulheres que pintam os cabelos

Tenho certeza que com esse texto estarei pisando em campo minado. Serei jogado aos leões, apedrejado, vão me prender na solitária, serei condenado à tortura chinesa, cadeira elétrica, etc. Pois vou tratar de um assunto muito delicado. Mulher que pinta os cabelos.
O que falar de uma mulher que pinta os cabelos? Muitos logo dirão que se trata de vaidade, outros dirão que é uma questão de marketing pessoal, mudar é sempre bom, alguns falarão que é porque homem gosta mesmo é de mulher loura, elas são a preferência nacional.
Então vamos lá, vaidade. É considerada um dos grandes males da humanidade. Matamos por vaidade e morremos pelo mesmo motivo.
A vaidade é cheia de artifícios e se ocupa em tirar da nossa vista e da nossa compreensão o verdadeiro ser das coisas, para lhes substituir um falso e aparente.
Marketing. Por trás de qualquer jogada de marketing há sempre uma informação omitida, as letras miúdas que nós nunca lemos, ou seja, mente-se pra atrair o outro.
Mudar sempre é coisa de gente inconstante. O Raul Seixas adoraria, afinal de contas metamorfose ambulante era com ele mesmo.
Homem gosta mesmo é de mulher loura. Homem gosta de mulher, seja ela ruiva, morena, loura, negra, baixinha, gordinha, magrela, etc. Mas as que pintam os cabelos não são confiáveis, pintar os cabelos é dissimular, é querer ser o que não é.
Isso não quer dizer que não respeite as mulheres adeptas do coloramento, muito pelo contrário, tanto é que não as chamam de louras falsas, jamais, prefiro usar de eufemismo do tipo, aquela mulher é um falso cognato. É mais poético e dependendo do grau de instrução dela você ainda recebe um sonoro obrigado.
Descobri em uma pesquisa feita em dez países que tanto para os homens como para as mulheres o mais importante é ser carinhoso e sensível. Elementos como estes estão à frente de senso de humor, boa aparência e boa remuneração.
Então mulheres brasileiras lindas, vocês não precisam desse recurso, a beleza já está inclusa no pacote de vocês, a pele macia, o corpo desenhado caprichosamente, vocês são sublimes e belas por natureza.
Um beijo carinhoso pra todas vocês, inclusive para aquelas que batizei de falso cognato.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Sinalizar pra quê?

É surreal como o motorista amazonense não faz uso da comunicação não-verbal enquanto dirige. Nem mesmo o Fred Flinstones dirige assim. Essa frieza glacial dos motoristas nas ruas de Manaus pode ser letal tanto para eles mesmos como para os pedestres.
Do que adianta os carros virem equipados com pisca-pisca, pisca-alerta, triângulo, retrovisores, etc, se os motoristas não fazem uso deles. Sinalizar que vai dobrar a esquerda ou direita parece ser um ultraje a moral de tal motorista. Quem vem atrás tem simplesmente que vaticinar pra que lado o cidadão do carro a frente vai dobrar. E se é um taxista ou motorista de ônibus, o seu poder de adivinhação tem que ser igual ou maior que o da própria mãe Diná.
Até sugiro que os próximos carros a serem fabricados venham equipados com bola de cristal LED de última geração.
No trânsito de Manaus quase tudo pode acontecer, só não espere que os motoristas sinalizem, se comuniquem, avisem que destino eles tomarão – aí também já é querer demais, não é?
Agora uma coisa não podemos negar, o motorista amazonense é bom de buzina. Buzinar é com ele mesmo. A buzina tem o poder de abrir sinais, de desengarrafar o trânsito, é como se falássemos “abre-te Césamo”, e tudo se resolve, até o calor alivia depois de uma boa buzinada.
Só agora percebo a conotação sexual que uma buzina tem, pois, os motoristas adoram passar a mão, tocá-la, cutucar com o dedo, até aposto que tem motorista por aí que passa mais a mão na buzina do que na sua própria mulher.
Outra coisa que os motoristas desta cidade são bons é de comunicação verbal, ah, isso não podemos refutar. Discussões, bate-bocas, xingamentos, alguns gostam de chamar os outros de patriota, “Sai da frente filho da pátria!”, outros gostam de demonstrar o seu apreço por café, “anda logo com essa borra!”, e é daí pra pior. Uma fluência que não melhora em nada o andamento do trânsito, muito pelo contrário, só piora.
Então caro motorista, se vai dobrar, sinalize, se o carro ficou no prego, seja qual for sua natureza, comunique-se! Use o pisca - alerta e/ou triângulo. Faça mais uso da linguagem não-verbal. Sinalizar não contrai HIV, não paga multa, não dói e ainda evita acidentes.

domingo, 28 de novembro de 2010

Bom dia Vietnã

Eles desceram o morro encapuzados de cólera e descarregaram metralhadoras de ódio. Não há mais bala perdida, mas sim, muitas almas perdidas. A guerra já não é mais fria, a chapa esquentou, Rio quarenta graus, Rio... Teoria do caos.
A alegria típica do povo carioca deu lugar ao medo, ao pânico. Carros alegóricos deram lugar aos tanques de guerra, a comissão de frente usa capacete e se blinda atrás de coletes à prova de balas. O som do surdo fez-se mudo. O pandeiro se calou e deu voz ao pandemônio...O puxador de samba agora puxa corpos espalhados pela avenida, o mestre-sala agora faz sala em mais um dos vários velórios que acontecem paralelamente em meio aquele fogo cruzado.
A paz entre policiais e traficantes perdeu a harmonia, atravessou o samba, é o bem e o mal travando o braço de ferro mais sangrento dos últimos anos. Traficantes querendo transformar o Rio em mar vermelho e Polícia, em mar morto.
Dessa vez a bateria não entrará no recuo, a ordem é avançar, avançar, avançar. Que o mestre de bateria tenha peito e a coragem do capitão Nascimento, do contrário, muitos brincantes nascerão para a outra vida.
Torço e rezo para que o refrão desse enredo seja “...O Rio de Janeiro continua lindo...” e que na apoteose da vida vença sempre a justiça e a paz.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Amor Desbotado

A metáfora da morte surgira
À espreita da viva lua
Lágrimas amargas minhas
Lágrimas doces suas

A metáfora da morte presenciara
Os soluços dos dissabores
O cravo morrendo de amor
A rosa vivendo de amores

sábado, 20 de novembro de 2010

How I wish you were here

A distância tem um sabor amargo em princípio, e o tempo parece ser o adoçante que precisamos. Dias vêm, dias vão, o coração aperta, confrange e chora, muitas vezes chora silenciosamente, outras não consegue evitar que os olhos alaguem-se em público. É meus amigos, estou falando de saudade mesmo, esse sentimento paradoxical que nos devora as entranhas, mas que também nos enche de nostalgia.
A distância encurtou e em volta do seu rosto havia uma aura contagiante que veio acompanhada de um aperto de mão firme como quem queria dizer, “Porra, tava morrendo de saudades de você, meu irmão.” A atitude substituiu as palavras, uma vez que nós aqui de casa amamos de forma discreta, assim como os ingleses. Não somos muito bons com as palavras de carinho embora o coração esteja transbordando de alegria.
Cinco dias em Brasília, cinco dias pra eternidade. Lembrarei de cada coisa que fizemos juntos – só faltou o futebol – mas outras oportunidades surgirão, disso não tenho dúvida.
Sabe, às vezes fico meio confuso quando ouço o papai dizer que é bom que tu fiques por aí. Mas começo a entender e me conhecer melhor, cara como eu sou egoísta, é claro que entendo, mas meu egoísmo diminui meu lado racional.
Quando uma pessoa admira a outra ela costuma dizer a seguinte frase: Quero ser que nem você quando crescer. Eu cresci e não consegui ser que nem você. Mas tudo bem, também tenho minhas qualidades, menos visíveis é bem verdade.
O dia de voltar chegou e com ele veio aquele olhar triste, olhar de despedida, e despedidas doem pra cacete. Voltar pra casa é sempre muito bom, mas é melhor ainda quando todos que amamos estão por perto.
Dizem que homem não chora. Gostaria de saber quem inventou essa bobagem. É claro que homem chora, e já chorei algumas vezes de saudades. É dessa forma que consigo aliviar a pressão do aperto no coração. E hoje quando ouvi essa canção ( I wish you were here) lembrei de você e chorei como uma criança, então decidi escrever esse texto e fazer um apelo. Volta meu irmão!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Filha da Floresta

Teu sol murupi rompe a aurora
Carapanãs, caboclos, cunhãs
De suas malocas cedo vão embora

Tuas sumaumeiras ficaram cinza
Diante da urtiga de fogo da ganância
Cresceste, maninha, feito um curupira

Tua mata é onça d’água
Cobiça de anacondas estrangeiras
Até o encontro das águas
Quiseram te roubar sorrateira

Zagaias em mãos
Mapinguaris em trincheiras
Protejam a filha da floresta
Mana Manaus guerreira

Outro poema sobre Manaus, dessa vez com uma linguagem mais amazônica. Estou participando de um concurso de poesia realizado pela Academia Amazonense de Letras. Vamos ver no que dá!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O primeiro dia de aula a gente nunca esquece

Passos ansiosos rumo ao desconhecido mundo novo de quem nele está a pouco mais de três anos. A lancheira no ombro esquerdo combina com a bolsa Pink de rodinha da hello kitty em sua mão direita – ambas escolhidas a dedo por ela mesma. Auto-suficiente e destemida não se parece com o pai em nada.
O escorregador, o balanço, a casinha que ficam espalhados pelo pátio da escola lhe parecem muito mais atraentes que a confortável colorida e climatizada sala de aula. Oi coleguinha, é assim que ela chama a todos que estão uniformizados tal qual ela. Não importa o sexo, a religião, o estado civil, o poder aquisitivo, ela quer mesmo é socializar.
Soa a campainha e a molequinha branquinha de pernas roliças se direciona a sala de aula com um sorriso riscado na face como se fosse uma veterana. Lá vai ela ouvir estórias, fazer sua história, colorir suas tardes, desenhar seus devaneios, escrever seu futuro, lá vai ela pintar o sete, o oito, o nove. Lá vai ela... Sem lenço e nem documento.
Nesse momento o pai a deixa com o coração apertado. E Ela? Bom, ela fica com o coração aberto e jorrando alegria. Alegria é algo que transborda naquela menina. Para ela não tem tempo ruim e ficar quatro horas sem a presença dos pais por perto, imagino que deve ser o paraíso.
Agora é só a Larissa, não tem pai, mãe e nem irmão para protegê-la. Mas isso não parece intimidá-la o que de certa forma me conforta porque um dia isso será real em sua vida. Pois a vida fora de nossos lares é dura e cruel. Mas enquanto esse dia não chega vou enchendo aquelas bochechinhas de beijos doces. Ainda bem que ela não é diabética!

Sem ins(piração) para escrever, vai aí um texto redigido no início do ano.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Extremos




Não ouço a tua voz
Não sinto o teu perfume
Os extremos nos separam
O desejo nos une

Não vejo o teu rosto
Não sei o teu gosto
Mas sei que então...
Amor nenhum é em vão

O frio do sul
Reacendeu o meu calor
Corri pra varanda
Olhei no horizonte
E gritei o teu nome...

Vem pra minha cama,
Moldura de nossa insanidade
Vem pecar com quem te ama
Sob os lençóis da eternidade

Segundo um poeta local, dá pra fazer uma música dessa letra por conta de sua métrica. Alguém se habilita? rsrs

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Vinicius de Moraes





Vinicius, versus, Vinicius...
Seus sonetus, seus poemas...
Meus vícius.

Vinicius,
Seus versus de mim tão íntimus
Quisera eu ter o poder
De não deixá-lus fenecer.

Vinicius,
Perdoa-me pelo poema ínfimu.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Mãe dos deuses





Mãe dos deuses,
Teus expansivos olhos esmeraldinos
Nem de longe lembram o verde de outrora
Em meio à mata virgem descabaçada
Cresceste valente como um Ajuricaba
Já não és a pudica cunhantã da época áurea
Da Borracha perdida
Herdaste o palco da liberdade de expressão
Foste roubada...
Viraste uma Zona
Francamente! Felizmente
Robusta bonança
Da tua fauna aflora o sustento dos ribeirinhos
Quem de teus rios o jaraqui come
Amar-te-á amiúde como amiga e como amante
Mas carinhos inda te negam Mãe dos deuses,
Ainda que o bardo de branco decrete
Que o homem é um animal que ama


Manaus, 341 anos.

sábado, 23 de outubro de 2010

Discurso de Formatura

Lá ia eu começar mais uma aula de inglês em plena manhã do primeiro sábado de fevereiro de 2006. Olhos avermelhados pelo torpor de uma noite mal dormida, sono desenhado na face, e o friozinho na barriga natural do primeiro dia de aula. Friozinho esse que me acompanha desde a primeira aula que ministrei lá no ano jurássico de 1994. Quando não mais senti-lo, é porque o ato de lecionar já há de ter me lesionado.
Antes de entrar na sala uma ligeira prece rogando aos deuses da educação alunos com a mesma disposição e motivação que as minhas. Do contrário o semestre já estaria fadado ao fracasso.
Quando virei a maçaneta e coloquei meus pés naquele espaço que carinhosamente chamo de permuta de conhecimento tive minhas retinas encandeadas pelo brilho faiscante dos olhos ávidos por aprendizado daqueles quatorze quinze alunos.
Silenciosamente agradeci aos deuses da educação e risquei um sorriso no rosto. Então começamos a aula e por tabelinha começávamos ali a estreitar laços de amizade que nem de longe suspeitávamos que aconteceria.
Foi um semestre auspicioso. Diria mais, foi um semestre dos sonhos. Sempre pautado é claro na filosofia socrática – o diálogo. Transmissão de conhecimento meus amigos se dá através do diálogo. Quando a aula não era boa, as sugestões eram sempre bem aceitas por esse humilde educador. E quando vocês não correspondiam as minhas expectativas, meus conselhos sempre revestidos de muito carinho eram sabiamente bem aceitos por vocês também. Parafraseando Platão, o belo é o esplendor da verdade. E foi montado no cavalo da verdade que cavalgamos durante esses quatro anos.
Vocês não tiveram medo de mergulhar nas águas da aquisição de outro idioma. Engoliram água, bateram pernas, bateram braços, bateram cabeças – só não bateram boca - e espantaram todos os tubarões do comodismo e foram paulatinamente aprendendo a nadar. Os homens que me desculpem, mas creio que o segredo está na alma feminina da turma. Acho que poderia até chamá-las de Silmara D’arc, Mônica (Anita) Garibaldi, Martha Tereza de Calcutá, etc.
Mas os meninos, claro, também têm o seu valor. Com eles por perto a turma era ainda mais homo, calma meninos! Quero dizer ainda mais homogênea. Em suma, cá estamos festejando o sucesso de mais uma conquista e o mérito é todo de vocês. Daqui a pouco vocês vão atravessar aquele portão e um rombo se abrirá em nossos corações. Então encerro minha fala com versos de uma música do Lulu Santos. E quando vocês cruzarem aquele portão nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Lei de Talião

...E aquele lobo do homem vivia sob a lei de talião. Com ele era olho por olho e dente por dente. Pobre coitado, acabou cego e banguela.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

domingo, 17 de outubro de 2010

Enigma

Alguém...
Ligeiramente
Incendiou-me
Nas
Entranhas.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O voto

O veneno do voto são nossas conveniências.
(Paulo Medeiros)

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A visão do Inferno

A penumbra esbranquiçada tem um violento cheiro de orgia no ar. A música de gosto duvidoso – é o que menos interessa naquele momento - anima homens solteiros e casados na perene busca animalesca por fetiches e aventuras ilícitas. Na mesa de plástico branco as garrafas de cerveja quente se misturam as vendedoras de sexo em trajes fuck me baby e combinam com a performance fria das strippers.
Na passarela-vitrine putas fora das formas padrão de beleza vêm e vão com um sorriso escravo alugado na cara. É ali naquele cadafalso que elas fazem a exposição da mercadoria de quinta categoria. É a lei da sobrevivência. Elas se rebolam literalmente para tirar daquele mundo profano o pão sagrado de todos os dias.
Os clientes avarentos em seus lares, sonegadores de impostos em seu país e impostores do amor tornam-se verdadeiros perdulários diante dos vícios e dos prazeres selvagens da carne. Os pobres carentes saem da casa só para maiores sem nenhum real furado no bolso da calça jeans encardida. Diante da face do prazer não há amanhã, o limite é a chuva de prata.
Eles só caem na real no dia seguinte quando nem o dinheiro do ônibus os infelizes têm. O que eles têm agora é muita vantagem pra contar. Fiz isso, fiz aquilo, foi assim, foi assado, foi cozido, foi guisado.
No próximo pagamento uma nova página dessa busca insaciável pelo sexo vazio a dois será escrita. Parafraseando o saudoso Tim Maia, no inferninho vale tudo, só não vale dançar homem com homem nem mulher com mulher.

domingo, 10 de outubro de 2010

Metamorfose Ambulante

A voz oscila, falha. É grave, é aguda, é motivo de gozação. Um rascunho de bigode se desenha discretamente nos cantos da boca como se fosse um time de futsal – são cinco pêlos de um lado e cinco de outro. Algumas espinhas já começam a pipocar no rosto. Os banhos agora são mais freqüentes e mais demorados. O garoto é a própria testosterona.
No bolso da calça do colégio um bilhetinho. Na hora da saída quero falar contigo atrás da cantina. No Orkut mais scraps. Na prateleira do quarto a coleção do Max Steel ainda faz parte da rotina do menino de treze quase quatorze anos que acabara de trocar a pubescência pela puberdade, se é que existe alguma diferença.
Depois do banho demorado tem que rolar um perfume, o penteado despenteado tem que estar impecável. A mãe condena o que as gatinhas do colégio absolvem. O desencontro dos cabelos. Penteia esse cabelo direito menino! Que coisa mais feia!
O pai não fala nada, mas se fosse a filha, a Larissa, a conversa seria bem diferente, não é seu Paulo? Pode ter certeza que sim. rs.
O fato é que os anos voaram e as brincadeiras de criança vão cada dia mais dando espaço aos CDs de música, ao isolamento no quarto, aos telefonemas secretos, fins de semana na casa de colegas de escola, etc.
Atravessar a rua de mãos dadas com o pai nem pensar. O que os brothers vão pensar dele. Ele tem que manter a fama de mau. Sabe que um vacilo diante dos amigos pode custar um ano inteiro de piadinhas corrosivas que serão lembradas daqui a cem anos, e não estou aqui usando de hipérboles não. Nessa idade a crueldade dos sarros é implacável.
E quando indagado sobre as súbitas mudanças ele parafraseia Thiago de Melo: Não tenho nada de novo apenas o jeito de andar. Ah moleque!PS: Júnior ama os pais e sua admiração por eles está tatuada em sua retina. Ele muito mais que o pai, é coruja.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Encontro

Quando meus olhos encontram os seus
Eles falam pela boca
Que tímida...lá no fundo deseja a sua
A vontade de roubar-lhe um beijo
Rouba minha razão

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O show tem que continuar

Dizem que o sonho de todo palhaço é ver o circo pegar fogo. O humorista Tiririca - candidato a deputado federal pelo estado de S. Paulo - ensandecido com tantas iniquidades no país do futuro passou a mão no bigode, ajeitou a peruca, derramou litros de gasolina em volta do circo e foi as emissoras de TV pedir que o povo riscasse o fósforo. Pois, segundo ele, do jeito que está pior não pode ficar. A iniciativa irônica rendeu mais de um milhão de fósforos riscados.
Agora a câmara dos deputados estará muito bem representada, o ar lúdico estará impregnado em cada canto daquele lugar, as brincadeiras jocosas darão o tom (que não é o Cavalcante por enquanto, quem sabe nas próximas eleições) dos próximos projetos toscos por eles apresentados, a Florentina fará sucesso por lá. Mas não podemos negar que de agora em diante tais projetos terão a assinatura de um deputado genuinamente palhaço.
Para aqueles que duvidaram: Cala a boca abestado. Afinal de contas, o show tem que continuar. Tiririca pra Presidente!

sábado, 2 de outubro de 2010

Oh gostosa!

Aquele momento foi único
Tudo aconteceu muito rápido
Abri-te, deslizei minha mão sobre teu corpo
Peguei-te ao meio,
Aproximei minha boca da sua;
Você suava, não resisti.
Uma hora você estava por cima
Outra hora estava por baixo
Poucos minutos depois você estava acabada.

Oh coca-cola gostosa!

sábado, 25 de setembro de 2010

É nesse vaivém...

Mal me aproximei e ela já foi se abrindo
Sem hesitar a atravessei
Sem nenhum pudor fui e voltei
Foi assim, seco, nem hi e nem bye
O ponto G estava bem aos meus pés
Que sensibilidade, um simples toque
E ela se arreganhou gemendo
Não demorou muito e logo percebi
Que não era o único
Ela estava ali, inerte, sem preconceito
Despudorada... A porta safada!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Palavras ao Vento

Minhas palavras...
Imagens de meus pensamentos
Procuram no vento
O casto sorriso,
O olhar derretido
Pelo calor de nossa libido
Minhas palavras...
Imagens de meus pensamentos
Perdem-se no tempo
Não encontram o aconchego
Dos seus ouvidos sedentos
Chega de lamúrias
Chega de tormentos
Guardarei minhas palavras
Para ouvidos mais atentos

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

De volta ao inferno

A aurora está rompendo a alvorada sob as águas de março e trazendo consigo o pranto da esperança observada por nuvens densas e negras. As grades enferrujadas, o parco espaço, a imundície daquele lugar e daquelas pessoas, a comida de terceira e o manto da justiça agora são coisas do passado.
Então a raposa vestida de oncinha protegida por um guarda-chuva preto cruza o portão do presídio de segurança máxima como uma gatinha mansa espreitada passo a passo pelo guarda austero da guarita com uma pistola na cintura e um fuzil nas mãos.
Portão aberto, o cansado e velho de guerra carcerário que a acompanha dispara contra ela. Boa viagem Valeska! Ela passa a mão esquerda pelos cabelos maltratados e o ignora.
Familiares do lado de fora, ainda de cara inchada, amigos fieis estalando os dedos do mindinho ao polegar, seu advogado arrogante, imprensa de todas as mídias e curiosos estão ali à porta da desembargador Vidal Pessoa a espera da produtora de moda coadjuvante de uma série de crimes.
A chuva não dá trégua. Castiga. Ela finalmente pisa na calçada da liberdade e um toró de jornalistas a metralha com microfones sua face capituniana. Ela está abatida, só quer o colo da mãe, os amigos e parentes tentam fazer um cordão de isolamento, a celeuma está armada e as perguntas são as mais ácidas possíveis. E o povo com faixas de protesto expectora alguns impropérios.
Valeska não vale nada! Vitupera um cidadão mais exaltado.
Um carro de luxo importado todo preto a espera com o motor ligado a cinqüenta metros dali. Ela parece caminhar num corredor polonês. Vítima ou vilã? Pergunta o repórter. Os cinqüenta metros estão tão longos quanto um dia de fome.
Valeska Silva está ensopada, a natureza insiste em lavar aquela alma encharcada de remorso. Ela enfim entra no automóvel e acomoda-se no banco do carona. Dona Matilde – a mãe – senta-se no banco traseiro e lepidamente afivela seu cinto de segurança. Ela é o próprio lençol de afagos da filha.
- Para aonde vamos? Questiona o motorista desinformado.
Dona Matilde cochicha algo no ouvido do chofer. Valeska não entende o indiscreto segredo e o motora segue no rumo do aeroporto. A viagem foi premeditada, pois a cidade inteira já sabe de sua soltura. Ela corre risco de morte. Mãe e filha dentro do carro como duas estranhas cúmplices de um silêncio inexpugnável do crime.
O silêncio é quebrado pelos gritos dos pneus riscando o asfalto. Só um balão estoura. Valeska faz sua última viagem num voo solo rasante. Confetes de vidros espalham-se pela pista, a mãe aproximasse do cadáver e uma lágrima dissimulada desliza sobre seu rosto pérfido.

sábado, 18 de setembro de 2010

Os Caras

Com um Machado na mão fui desbravando o caminho espinhoso da ignorância e conhecendo caminhos nunca antes pisados por esses pés limpos de cultura. Um Machado genuinamente carioca, aparentemente frágil, pouco amolado, mas da melhor qualidade.
Nesse chão coberto por Ramos e ladeado por Rosa e Matos com cheiro de Lima conheci um Padre que me mostrou a via crucis de forma nua e crua, fui cercado por Anjos que alumiou as trevas que insistiam em me acompanhar, e no meio do caminho tinha um Coelho, mas não hesitei em botá-lo pra correr e descartar qualquer hipótese de fracasso.
Isto posto e posto isto, castrei toda e qualquer possibilidade de me perder na selva dos iletrados e levantei a Bandeira da liberdade. Leia e se liberte. Viva a liberdade!!
Obrigado Graciliano Ramos, Manuel Bandeira, Guimarães Rosa, Augusto dos Anjos, Gregório de Matos, Lima Barreto e claro, Machado de Assis.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Exagerado?

...A nossa música nunca mais tocou... E nem tocará mais. Perdi o norte, estou desatinado. E amanhã quando os raios solares vazarem pelas frestas da persiana e encontrarem meu corpo entorpecido com um buraco no meio do tórax, agradecerei a Vênus se não mais sentir a batida ritmada do meu algoz.
O teu amor é uma mentira... Uma mentira cabeluda de fazer inveja a jovem guarda. Você me vendeu porções de ilusão a bordo de um calhambeque e o bobo aqui embarcou num Cadilac mitomaníaco consumindo cada gota do seu desequilíbrio psíquico.
O tempo não pára... Como preciso acreditar nisso agora. Do contrário me afundarei nessa areia movediça dos dias lentos pós ruptura brusca. A varanda do meu apartamento tem sido uma companheira de noites longas e vazias. Tem sido um cigarro atrás do outro na tentativa de fazer um sinal de fumaça para a deusa Afrodite.
...A emoção acabou...

domingo, 12 de setembro de 2010

Avatar

Balaio de viços...
Refúgio de meus devaneios
Usurpa meus pensamentos
Nua de pudor
Avatar de sentimentos.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Flamengo vence!

Sem ter o que escrever, vou resumir a trajetória do meu time favorito (Flamengo) no campeonato brasileiro. Há vários jogos que não ganhamos de ninguém, só ganhamos mesmo da coca-cola.
Flamengo 1 x coca-cola zero !

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Discurso de Formatura

Lá ia eu começar mais uma aula de inglês em plena manhã do primeiro sábado de fevereiro de 2006. Olhos avermelhados de uma noite mal dormida, sono desenhado na face, e o friozinho na barriga natural do primeiro dia de aula. Friozinho esse que me acompanha desde a primeira aula que ministrei lá no ano jurássico de 1994. Quando não mais senti-lo, é porque o ato de lecionar já há de ter me lesionado.
Antes de entrar na sala uma ligeira prece rogando aos deuses da educação alunos com a mesma disposição e motivação que as minhas. Do contrário o semestre já estaria fadado ao fracasso.
Quando virei a maçaneta e coloquei meus pés naquele espaço que carinhosamente chamo de permuta de conhecimento tive minhas retinas encandeadas pelo brilho faiscante dos olhos ávidos por aprendizado daqueles quatorze quinze alunos.
Silenciosamente agradeci aos deuses da educação e risquei um sorriso no rosto. Então começamos a aula e por tabelinha começávamos ali a estreitar laços de amizade que nem de longe suspeitávamos que aconteceria.
Foi um semestre auspicioso. Diria mais, foi um semestre dos sonhos. Sempre pautado é claro na filosofia socrática – o diálogo. Transmissão de conhecimento meus amigos se dá através do diálogo. Quando a aula não era boa, as sugestões eram sempre bem aceitas por esse humilde educador. E quando vocês não correspondiam as minhas expectativas, meus conselhos sempre revestidos de muito carinho eram sabiamente bem aceitos por vocês também. Parafraseando Platão, o belo é o esplendor da verdade. E foi montado no cavalo da verdade que cavalgamos durante esses quatro anos.
Vocês não tiveram medo de se jogar nas águas da aquisição de outro idioma. Engoliram água, bateram pernas, bateram braços, espantaram todos os tubarões do comodismo e foram paulatinamente aprendendo a nadar. Os homens quem me desculpem, mas creio que o segredo está na alma feminina da turma. Poderia até chamá-las de Silmara Joana D’arc, Monica Anita Garibaldi, Martha Tereza de Calcutá,etc.
Mas os meninos, claro, também têm o seu valor. Com a chegada deles a turma ficou ainda mais homo, calma meninos! Quero dizer ainda mais homogênea. Em suma, cá estamos festejando o sucesso da vitória e o mérito é todo de vocês. Parabéns.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Vida Nova

“Eu os declaro marido e mulher. O noivo pode beijar a noiva.” Como essa cara deve está ansioso para ouvir isso – esse cara atende pelo nome de Harrison – e finalmente colar a aliança no seu-vizinho da mão esquerda.
O anelar destro já tinha experimentado antes o abraço do anel do matrimônio, o “sim” já esteve na ponta da língua, o carequinha quase virou Cacheado(sobrenome da ex), mas o fura-bolo do destino indicou outro caminho pro meu amigo que sofreu pra entender que aquela alma não era sua gêmea.
Gemeu de dor, comeu o pão que o diabo amassou, bebeu corote disfarçado de caipirinha, experimentou o outro lado da moeda, permutou uma pulseira de ouro com algo de couro (rs) e ficou sem eira e nem beira. Até Joseph Climber – aquele cuja vida é uma caixinha de surpresas – sentiu pena do cara.
Mas numa bela manhã ensolarada ele decidiu curvar todos os dedos em volta do maior-de-todos e gritar: “Aqui pra ti sofrimento! A vida é bela, carpe diem, I will survive!” e tocou o barco rumo a felicidade (esse texto está ficando piegas).
Essa busca frenética pela felicidade a dois o levou a caminhos cheios de cacos de vidros, encontros e desencontros, promessas de nada, nada de promessas, relacionamentos efêmeros, rompimentos duradouros. O cara foi até apedrejado.
A certeza de encontrar alguém que de fato o compreendesse e o amasse na mesma voltagem foi o espinafre desse Popeye nortista com nome de ator americano. São de suas faculdades mentais, foi justamente na faculdade que o sol brilhou, foi justamente na faculdade que seus olhos brilharam novamente.
Dessa vez tomou todos os cuidados necessários, pra quem nunca foi muito fã de fast-food, fast-love era algo corriqueiro nos seus namoros. Não cometeu os erros de outrora, nada de conhecer num dia e no outro já está dividindo o mesmo tubo de pasta. Agora sim, namoro standard.
Brincadeiras a parte, desejo do fundo do meu coração toda sorte do mundo nessa nova fase de sua vida. Vida a dois não é fácil, mas você com toda sua sabedoria saberá conduzir e contornar as adversidades e torná-las mindinhas.

sábado, 4 de setembro de 2010

Ensaio sobre o amor

Chego à escola exatamente na hora marcada. Bato à porta e de cara a vejo de costas. Baixinha, cintura de cavaquinho e cabelos negros pelo meio das costas está ali inquieta remexendo um arcaico fichário de alunos. Ela vira preguiçosamente e seus cabelos sedosos acompanham o movimento do corpo numa dança sensual como um tango argentino. Meu corpo perfumado de Avon é invadido poro a poro por um francês arrebatador que até hoje não consigo pronunciar seu nome.
Ela olha em minha direção e percebo o baile articulado de seus lábios. As mãos – como a de um maestro - sobem e descem. Tremo, o coração entra em descompasso e confrange. Espectros se formam diante de meus olhos subitamente cegos. O relógio na parede branco gelo com a logomarca da escola de informática Computec simplesmente congelou, deu branco. Ó meu Deus! Ela é muda. Eu mudo. É o fim do mundo.
Ricardo – o dono da escola – chega num silêncio lento e de longe sem perceber a minha presença faz um gesto para ela com o polegar direito. Ela olha pra mim e devolve para ele o gesto com o polegar esquerdo.
Ricardo desce as escadas saltitando, atravessa a sala de espera a trotes largos e entra na recepção com os braços vestidos e armados para um forte abraço. Nossos olhares se encontram e percebo descaradamente a articulação de seus lábios. Ó meu Deus! Ele também está mudo. Eu juro. É o fim do mundo.
Começa então uma correria, ele me abana com uma apostila, ela vai em busca de um copo com água e açúcar. Sento no sofá, mas não me sinto... Estava surdo de amor. Aqueles dezenove segundos duraram dezenove anos.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Vendedora de Sorrisos

O vermelho do sinal deu passagem para ela ir de carro em carro oferecer suas canetas esferográficas cuja face bordava um sorriso fácil. Motorista nenhum resistia ao seu charminho inocente. Eu a esperava sofregamente. Se aquele sinal esverdear, vou simular uma pane no carro. Não saio daqui sem comprar aquela Bic azul.
- Moço, você comprar uma caneta minha? Só custa dois reais.
- Compro se você me responder o porquê que as pessoas compram suas canetas?
Sua boca como um elástico esticou de ponta a ponta.
- Não faço a mínima ideia.
- Pois eu sei. Respondi a ela.
- Você não vende canetas. Você vende sorrisos.
Ela agradeceu com o rosto ruborizado e um sorriso vitalício nos lábios. Entreguei os dois reais e peguei a caneta relando meus dedos nos delas. Amanhã quero comprar outro sorriso.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

No silêncio da madrugada
Minhas mãos ansiosas
Sob a leveza dos lençóis
Insones te procuram


Sedutoras e delicadas
Migram para o seu corpo
Passeiam languidamente
Buscando o prazer

Em ínfimo tempo invadem
A quietude de seu sono
Afagos indizíveis seduzindo
Despertando seus desejos

Acariciam insaciáveis
A nudez de sua pele quente
Audaciosas ateiam em ti
A chama inflamável da paixão

Minhas mãos tacitamente
Articulam palavras
Numa linguagem indecifrável
Do desejo que me consome

By Carmem

sábado, 28 de agosto de 2010

Quantos anos você tem?

- Quantos anos você tem?
- Não sei.
- Como assim?
- Só sei que tenho mais passado do que futuro.
- Ah não, diga-me, quantos anos você tem?
- Tenho os anos que me restam...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Geografia do Amor

Na geografia da conquista
Teimamos em esconder
O mapa da mina
Um vulcão em erupção
Esconde-se atrás
Dos rochedos da desconfiança
A montanha do medo
Faz sombra ao Pico da Neblina
O planeta aquecido
Degela o abstrato concreto amor
Desembocando a quimera
Do encontro das águas
No leito do rio da morte

domingo, 15 de agosto de 2010

...

Enquanto não superamos
A ânsia do amor sem limites
Não podemos crescer
Emocionalmente.

Enquanto não atravessamos
A dor de nossa própria solidão
Continuaremos
A nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes,
É necessário ser um.

Fernando Pessoa

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Encontro de Fieis

“Ó Santa Luzia, pedi a Jesus, que sempre nos dê, dos olhos a luz...” E os fieis seguem caminhando e entoando um hino atrás do outro. Eles carregam a metáfora da vida nas mãos e cantam a fé em uníssono pelas íngremes e estreitas ruas do Morro do Tucumã. Anunciada pelos tiros dos fogos de artifícios, por onde aquela multidão de gente passa vai arrastando ainda mais seguidores; do mais religioso ao mais agnóstico dos seres. É a fé e o ceticismo de braços dados no dia treze de Dezembro durante a caminhada sacra de Santa Luzia, padroeira do Morro.
E no meio daquele rio de católicos ortodoxos e cidadãos ímpios destaca-se a imagem da Santa carregada por mãos fanáticas de pessoas simples cuja religião é o ópio para uma vida tão sofrida e miserável. Carregar aquela imagem de gesso uma vez por ano é como zerar a quilometragem dos pecados.
O calor naquela tarde de domingo é infernal, porém a via crucis percorre religiosamente, como todos os anos, as principais ruas do bairro. Arriscar-se a caminhar por quase uma hora sob um sol causticante já poderia abater metade dos atos pecaminosos daqueles devotos de Santa Luzia.
Hélio Urubu, proprietário do sindicato do pé inchado, está pagando mais uma promessa. E como tem sido nos últimos anos, ele – em substituição ao pai - é um dos quatro carregadores da Santa.
Ao herdar o bar do pai, cuja morte não poderia ter sido por outra causa a não ser uma cirrose hepática, Hélio Urubu tratou logo de exorcizar a fama de extensão de cemitério que o boteco adquiriu. Muitos alcoólatras saíram direto do balcão do sindicato para o parque... Parque Tarumã, maior cemitério da cidade.
Hélio prometeu ao pai – devoto da Santa - no seu leito de morte que daquele dia em diante dedicaria o dia treze de dezembro àquela popular celebração religiosa.
A procissão já está quase se aproximando do seu destino final, a acanhada igreja de Santa Luzia, onde uma centena de outros devotos a esperam sofregamente. Ao dobrar na rua do sindicato do pé inchado os rojões de foguetes no céu agora são ainda mais intensos, há gritos, bandeiras flamejando, pessoas se abraçando, outras correndo de um lado para o outro, o branco dos fieis se mistura ao vermelho e preto das outras pessoas que se esgoelam feitos loucos no meio da rua e ao fundo um grito estridente de gol que vem da televisão de plasma. Hélio Urubu larga a Santa e se mistura aos outros fieis torcedores do time mais popular daquela cidade. Era o gol do título do time de coração de Hélio. Fé e paixão dividiram naquele dia o mesmo asfalto quente.

domingo, 8 de agosto de 2010

Ventos de Mudança

Voar em céu de brigadeiro cortando nuvens pacíficas, navegar em mar de almirante rasgando as águas do marasmo, banhar-se em mar de rosas lavando as chagas da alma, redescobrir o mel no lamber das línguas. Metáforas desbotadas que até pouco tempo amanheciam e anoiteciam junto ao meu travesseiro azul celeste com cheiro de Jasmim.
O tempo fechou e o céu seu moço, ficou carregado de nuvens negras, o mar enfurecido não dá trégua, o mel virou fel. Agora caminho de pés descalços no submundo do nadando contra a corrente só pra me exercitar. Essa corrente tem a força de uma pororoca que com o passar dos dias vai ganhando proporções de um tsunami.
O alicerce de minha estrutura emocional estremeceu com os impactos e as avalanches de situações que fugiram as minhas rédeas ao longo desses cinco meses. Não há fortaleza emocional que resista a tanta bordoada. Não sei até onde conseguirei segurar a toalha.
Que os novos dias soprem ventos de mudança na temperatura adequada ao meu corpo. Não será uma mera rajada de metralhadora que me levará ao chão.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Ela é uma figura...

Ela não para de me olhar. Aquela mulher me come com os olhos. É melhor deixar as barbas de molho. Está fácil demais. Essa experiência pode me custar os olhos da cara. Vou ficar na minha, a essa altura do campeonato não posso trocar os pés pelas mãos. Às vezes ter o olho maior que a barriga pode causa uma indigestão medonha.
Ela parece querer agarrar a situação com unhas e dentes, aproxima-se, trás consigo risos e alegrias, desce da sua Yamaha com o peito entreaberto na blusa. Não resisto. Qual o seu nome? pergunto. Ela bondianamente responde:
- Meu nome é Nímia. Metonímia.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Pagodeira de Carteirinha

Sexta-feira à noite
É dia de pagode
A pagodeira antenada
Chega antes da meia-noite
Gastar não é com ela
Isso fica pra quem tem bigode
Pagodeira que se preza
Usa gang, salto e top
Vestida para matar
Começa a caça pelo bofe
Não tem um tostão no bolso
Apenas um engove
Mas pra que dinheiro
Se em volta dela tem uns nove
Ela é a dona da situação
Então meu amigo
É ela quem escolhe
Neguinho que tiver de busão
Ela nem dá mole

Alguém interessado em gravar esse pagode? rsrs

quarta-feira, 28 de julho de 2010

PSS

Sou professor da rede estadual de ensino de Manaus, mas não sou concursado. Fazemos contratos de dois anos e somos avaliados ao término de cada ano letivo. Se o professor for bem avaliado no primeiro ano ele continua e cumpre o contrato de dois. Do contrário o professor tem que se inscrever no ano seguinte novamente e esperar ser chamado. O detalhe é que esse professor sai da folha de pagamento e não recebe janeiro e nem fevereiro. Então vamos ao texto de desabafo:

Não tenho nome, apenas me chamam de PSS. Não tenho RG e muito menos CPF. Às vezes me sinto um OB, só sirvo mesmo é pra tapar buraco.
PSS não tem direito a FGTS e se quiser ter o contrato renovado tem que ter QI, do contrário nem com ajuda do FBI. Deveríamos era fazer um BO, pois essa atitude unilateral de quem está no comando da SEDUC é uma agressão aos profissionais de educação.
Então pra onde vão os salários de janeiro e fevereiro? Bom, só descobriremos se instaurarmos uma CPI. Nesse mundo da educação tem muito FDP por aí e o sonho de um PSS é mandá-lo pra PQP, mas como não quero ir parar no primeiro DP é melhor me conter.
Esse texto que escrevo é o meu SOS, não agüento mais todo início de ano ter que emprestar dinheiro do HSBC e isso é só pra comer porque as prestações do carro depois me acerto com o BMG. E o cartão da C e A? E rapaz, é melhor esquecer.
P.S. Professor PSS não é RO, queremos concurso já!

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Dias Contados

Caros leitores,

Foi um prazer inefável conhecê-los, pois venho através deste informa-lhes que estou com o prazo de validade contado. Os médicos descobriram que tenho uma doença irreversível. Tudo começou com uma dor na cabeça do dedão e se estendeu até o peito do pé que foi subindo pra batata da perna, depois essa dor chegou até o pé da barriga. Com o passar dos dias essa dor migrou pra boca do estômago e no último exame detectaram um nódulo no céu da boca e outro no pé da orelha.
Diagnóstico: Catacrese.

Para não ficar sem postar esse fim de semana, vai aí um texto antigo.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

A Despedida

Íngreme barranco barrento
Com água pelos pés batendo
Escalo-te aos troncos...
Hoje não trago um sorriso nos cantos

Não há berros e nem mugidos
Terreiro em soluços
Conversas, cochichos comovidos
Goiabeiras de bruços

A prosaica casa de farinha
Clama por seus compadres poetas
Que agora bebem a sua rainha

E o rio segue seu curso
No vaivém do banzeiro
Saudades, memórias, luto.

Saudades de minhas férias estudantis na casa de minha vó la no Careiro. Semana passada essas reminiscências vieram à tona. Lembrei de detalhes que me assustaram. Vó Doca faleceu em 2005.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Ponto Seguido




No início dessa década ainda éramos reticências, dois pontos: interrupção ou continuidade? Uma interrogação pendulava em nossas faces e um travessão nos engasgava a garganta. O ensino médio ou o antigo segundo grau não poderia ser o nosso ponto final. E uma vírgula, somente uma vírgula nos separava do ensino superior. Sem querer abrir parênteses e se esconder embaixo de aspas, fomos tomados pela teoria da evolução de Darwin e o aprendizado acadêmico foi o núcleo do sujeito e o processo de ensino-aprendizagem, me perdoem o pleonasmo, tornou-se o objeto direto de nossos objetivos. Voz passiva que nada! Queríamos o avatar, a metamorfose, não poderíamos continuar sujeitos oculto de nossa sociedade.
Mas o sucesso tem seu preço, não pensem que esse período foi simples, muito pelo contrário, foi um período composto de muitas adversidades e de muita oração também. E haja oração! O presente perfeito fica para os contos de fada. Havia uma dicotomia escancarada ali como um exercício de socialização. Racionais versus emocionais. Às vezes nos faltava corrompimento para o bem-estar do coletivo. Mas os nossos laços de amizade foram se espraiando e se fortalecendo ao ponto de não permitir que um objeto indireto nos levasse a digressão.
Segundo Aristóteles, só há conhecimento da realidade quando há conhecimento da causa – ou seja, conhecer é conhecer pela causa e nossa causa meus amigos, era nobre.
Livros e mais livros lidos, interpretados, analisamos textos, analisamos a relação entre língua e ideologia, quebramos paradigmas, descobrimos que a verdade depende da nossa formação discursiva, buscamos o sentido dos textos e principalmente buscamos o sentido da vida.
E cá estamos, passados cinco anos a freqüência do advérbio de nossos encontros é: às vezes, e é às vezes graças ao poder do verbo de ligação. Mas o mais interessante é que nossas reuniões são sem iguais, não há comparação, é superlativo, é mais que perfeito.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O primeiro dia de aula a gente nunca esquece

Passos ansiosos rumo ao desconhecido mundo novo de quem nele está a pouco mais de três anos. A lancheira no ombro esquerdo combina com a bolsa Pink de rodinha da hello kitty – ambas escolhidas a dedo por ela mesma - na mão direita. Auto-suficiente e destemida não se parece com o pai em nada.
O escorregador, o balanço, a casinha que ficam espalhados pelo pátio da escola lhe parecem muito mais atraentes que a confortável colorida e climatizada sala de aula. Oi coleguinha, é assim que ela chama a todos que estão uniformizados tal qual ela. Não importa o sexo, a religião, o estado civil, o poder aquisitivo, ela quer mesmo é socializar.
Soa a campainha e a molequinha branquinha de pernas roliças se direciona a sala de aula com um sorriso riscado na face como se fosse uma veterana. Lá vai ela ouvir estórias, fazer sua história, colorir suas tardes, desenhar seus devaneios, escrever seu futuro, lá vai ela pintar o sete, o oito, o nove. Lá vai ela... Sem lenço e nem documento.
Nesse momento o pai a deixa com o coração apertado. E Ela? Bom, ela fica com o coração aberto e jorrando alegria. Alegria é algo que transborda naquela menina. Para ela não tem tempo ruim e ficar quatro horas sem a presença dos pais por perto, imagino que deve ser o paraíso.
Agora é só a Larissa, não tem pai, mãe e nem irmão para protegê-la. Mas isso não parece intimidá-la o que de certa forma me conforta porque um dia isso será real em sua vida. Pois a vida fora de nossos lares é dura e cruel. Mas enquanto esse dia não chega vou enchendo aquelas bochechinhas de beijos doces. Ainda bem que ela não é diabética!

Feliz aniversário meu amorzinho. 4 aninhos nos alegrando.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Chora Brasil

Tinha uma laranja no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma laranja...
O sonho acabou.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Na falta de inspiração...

O Chile não chilegou na partida, cochilou e a seleção brasileira chinelou os chilenos que não esboçaram nem um chilique sequer. Chilascaram! Agora que venha a Iolanda como diria Carla Perez, que a propósito, quer saber quem é essa tal de Sarah Mago que morreu.
E o Flamengo hein! que reclamava que não tinha um matador no time, agora tem.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Para Sempre (Carlos Drummond de Andrade)

Por que Deus permite
Que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
É tempo sem hora,
Luz que não apaga
Quando sopra o vento
E chuva desaba,
Veludo escondido
Na pele enrugada,
Água pura, ar puro,
Puro pensamento.

Morrer acontece
Com o que é breve e passa
Sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
É eternidade.
Por que Deus se lembra
- Mistério profundo -
De tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
Baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
Mãe ficará sempre
Junto de seu filho
E ele, velho embora,
Será pequenino
Feito grão de milho.


Parabéns mamãe pelo seu aniversário!!!

domingo, 27 de junho de 2010

Só sei que nada sei

Vim, vi e desisti, pois, penso e logo desisto.
Agora o sonho acabou e tudo que sei é que nada sei.
Mas Freud dizia que nada é por acaso,
Será que ele explicaria esse fenômeno, de fato?
Portanto, Sócrates tinha mesmo razão,
A verdade absoluta ainda é nossa prisão.
O fato é que nem a esperança me restou,
Pois, esta ficou presa na caixa de Pandora.
E eu não me conheço mais a mim mesmo.
É como se estivesse no fundo do poço
Preso a um grilhão.
Se a perene busca pela conquista
Faz-nos escravo dessa sociedade
Máculas então virão...
Virão sozinhas ou acompanhadas
Coloridas ou descoloradas


Uma brincadeirinha com frases de pensadores!

terça-feira, 22 de junho de 2010

Rio de Janeiro

Rio ... De Enero hasta Deciembre
De mujeres hermosas y calientes
Con sus playas maravillosas cómo
Ipanema, Copacabana y Leme

Rio... De Flamengo y Vinicius de Moraes
Cómo su musicalidad no hay igual
Y las chicas bailando desnudas?
Oh mi compañero, es carnaval

Domingo por La mañana
Playa y sol...
Domingo por La tarde
Maracanã y fútbol...

domingo, 20 de junho de 2010

Cor da Esperança

Meu boi tem a cor da esperança
Tem a magia e o verde que encantam
É boi de raça, se cai, levanta
Da natureza sua força emana

Mas tem o branco com sua empáfia
Destrói a mata e faz fumaça
Ganha dinheiro e nem disfarça
Só não se esqueça que aqui se faz
E aqui se paga

Então meu boi esverdeado
Levanta essa galera com seu bailado
Bate no peito e se ufana
Protege a mata, entra na dança

Então meu boi esverdeado
Levanta essa galera com seu bailado
Bate no peito, se ufana
Protege a mata, entra na dança


Como estamos na época do festival de Parintins, uma letra de boi. Estou ficando muito versátil... e modesto. rsrsrsrss
Dá-lhe Caprichoso!!!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Exilado

Exilado de teus afagos
Vagueio por obscuros atalhos
Experimentando emoções
Longe de seu alento
Inquietude latente
Norteia meus batimentos


fazia tempo que não escrevia um acróstico.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Falta de apetite? Biotônico Fontoura!

Com exceção do jogo da Alemanha contra a raquítica Austrália, a vitória anda de regime nessa Copa do Mundo. Atacantes fortes, mas poucos famintos, tem resultado em placares magros. E na estreia da seleção brasileira não foi muito diferente. Luís Fabiano passou o jogo comendo pelas beiradas, porém, estragou comida. Robinho chorou, chorou, no entanto não mamou. Kaká quer caqui, mas que caqui Kaká quer? Esse ainda está longe de ser aquele jogador exuberante e guloso de um bom futebol. Pois é, nem parece uma seleção patrocinada por uma empresa de alimentos, Seara.
Quem sabe o mais glutão do time seja o atacante reserva Nilmar, que por sinal é o mais light de todos. Entrou no decorrer do jogo e ofereceu um cardápio de jogadas de dá água na boca.
Para uma seleção que chegou com fama de papa-tudo, hoje diante da Coreia do Norte apenas comeu como um canário. Quem sabe para o próximo jogo a seleção canarinho nos mostre de entrada belas jogadas e como prato principal muitos gols e de sobremesa, que tal um chocolate?

sexta-feira, 11 de junho de 2010

África do Sul 2010

E mais uma Copa do Mundo iniciou hoje. Essa é minha oitava Copa. Acompanho os jogos do mundial desde 1982 quando ainda tinha apenas onze anos de idade. Nossa! Estou ficando velhinho. Acompanho pela televisão é claro. Por enquanto acompanhar os jogos in loco é um sonho, um sonho que talvez se realize em 2014 quando o Brasil sediar os jogos pela segunda vez.
E muita coisa mudou no mundo do futebol, na maneira de se transmitir um jogo, na maneira de se jogar o jogo, agora um futebol sem o encantamento e o brilho daquela seleção brasileira de 82. O que se vê nas quatro linhas são seleções muito pragmáticas esperando um erro do adversário para então prepararem o bote.
A propósito, no jogo de abertura no belo estádio Soccer City os “filhos do Mandela” por muito pouco não conquistaram a vitória diante dos mexicanos.O jogo, bem, esse foi bem burocrático. Não fosse o entusiasmo dos torcedores Sul-Africanos que não param um só minuto de cantar e vuvuzelar e também dos atletas da África do Sul, teria sido só mais uma partida de Copa do Mundo.
Os jogadores Sul-Africanos chegaram ao estádio dançando e cantando e não desafinaram enquanto estiveram em campo embalados pelo som retumbante das vuvuzelas. De cara, me identifiquei logo com o jogador Tshabalala – autor do gol – que mais parece um integrante da banda Timbalada. Cabeludo, talentoso e muito aplicado taticamente.
. Torci por eles como se fosse um próprio Sul-Africano. O povo africano merece sorrir, pois, durante muitos anos eles só derramaram lágrimas e o futebol pode lhes dá esse sorriso que o ex-presidente Mandela tanto lutou para tatuar na face de cada cidadão daquele país.
Que nos próximos jogos da África do Sul a vitória possa dar o ar da graça e que a segregação racial existente por lá fique definitivamente de escanteio.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Meu herói... meu bandido

Já escrevi para os meus filhos, para irmão, para minha mamãe, para amigo, mas faltava ainda escrever pro senhor. Vou escrever esse texto ouvindo a música Pai, sabe por quê? Porque muita coisa que ele canta nessa música aconteceu com a gente.
Ninguém sabe e nem nunca viu, mas todo ano no dia dos pais coloco essa música pra tocar e não consigo conter as lágrimas. Passa sempre um filme, um longa metragem na minha cabeça, em trinta e nove anos muitas coisas boas e ruins aconteceram, então é difícil não chorar.
Lembro que quando era moleque tinha o sonho de ser jogador de futebol – assim como todo moleque daquela idade – e o senhor várias vezes, ouvindo aos meus pedidos, me levou para treinar nos clubes aqui de Manaus. E o senhor acreditava muito naquele baixinho magrelo. Lembro da gente cortando caminho por dentro do cemitério para chegar mais rápido lá no Nacional Clube. O senhor lembra disso? Pois é, cortamos caminho, encurtamos a distância, mas eu fracassei e o meu sonho ficou lá onde cortávamos caminho, mas nem por isso o senhor me criticou.
Na primeira vez que disputei os jogos estudantis – as Olimpíadas dos estudantes – o senhor estava desempregado e com todos os problemas do mundo desabando na sua cabeça, mas não demonstrava, a figura de um homem forte é o que ficou na minha retina e sempre que pôde me acompanhou nos jogos, ah! Como eu achava legal, me achava na obrigação de fazer um gol. Queria marcar o gol e correr para os seus braços, mas a minha frieza glacial não me permitia fazer isso.
Outra lembrança forte que tenho envolve futebol também. Estávamos lá no Estádio da Colina pra assistir a Flamengo e Rio Negro pelo campeonato brasileiro de 86, eu acho. O estádio estava lotado, eu jamais levaria o meu filho num jogo daquele, mas o senhor me levou porque sabia que eu adorava futebol. Nunca tinha visto tanta gente reunida num lugar só, lá no meio da galera o medo foi tomando conta de mim, achava que aquilo ali ia desabar, olhava pro senhor e o homem forte tava ali, implorei pra sair dali, mas o senhor segurou a peteca e me protegeu.
Quando a mamãe esteve à beira da morte, olhava ao redor e todos estavam fragilizados, então olhava para o senhor e lá estava aquele homem forte, parecia que nem era com o ele. Só Deus sabia como ele estava se sentindo naquele momento.
Hoje me pergunto: De onde será que vem tanta inteligência emocional? Sinceramente não sei, ou sei? Na verdade acho que vem de uma infância dura, um caminho rodeado de espinhos e cacos de vidros, poucos recursos financeiros e afeto quase nenhum. Foi descobrir o que era beijo e abraço com a primeira namorada.
Começou a trabalhar muito cedo e teve sua infância roubada, teve que amadurecer e virar o homem da casa, já que o pai, sabe Deus por onde esse andava.
Acredito eu que tudo isso tenha contribuído para torná-lo forte e resoluto ao mesmo passo em que dar vazão aos sentimentos, externar suas angústias e seus medos o inibe ao ponto de passar uma imagem estóica, de quem não tem amor no coração.
Mas nos últimos anos a imagem de herói foi ficando arranhada, nossas diferenças ficaram ainda mais latentes e o menino aqui cresceu e viu coisas que não concorda e o senhor sabe do que estou falando. Minha mãe não merecia e nem merece passar...Enfim, apesar de tudo que tem acontecido nos últimos anos, ainda quero guardar a imagem do herói e não do bandido.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Alaga-me

Lânguida obscenidade
Um Amazonas em minha jangada
Inda te quero
Zeus meu, alagando-me
Antes do grito da alvorada


Estou participando de um concurso de poesia com o poema acima.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Gringa no Samba

E o pagodão tá rolando
Embalado pelos ases
Ela vem se aproximando
Ensaiando alguns passes

De olhos azuis e pele branca
Nem parece uma estranha no ninho
Vem gingando, vem gingando
Só no sapatinho

De repente seguro sua mão
E a puxo para bailar
Ela diz, “I’m sorry, eu não saber dançar”

Eh, sujou...gringa no samba é pra acabar
Pra dançar como as brasileiras
Ela vai ter que se rebolar

Bem, seu molejo já dizia tudo
Essa branquela de “All Star”
Parece mesmo de outro mundo

Brevemente vocês estarão ouvindo esse pagode em todas as rádios locais. rsrsrs

terça-feira, 1 de junho de 2010

Em ponto de bala

Não vejam esse texto como uma apologia a violência.
Cuidado, muito cuidado com essa mulher. Ela está com um três oitão (38) cano longo e cheio de balas no tambor. Ela não empresta, não dá e muito menos vende essa máquina. Dizem que o três oitão dela nunca bateu catolé, nunca falhou. É ainda melhor que um 22. Está sempre com uma bala na agulha, duvida? Experimenta apertar o gatilho.
Segundo ela, essa foi a única arma de fogo que ela teve que nunca negou fogo. É um 38 especial, fabricado por encomenda. 38 como esse não se encontra por aí. Tanto é que ela cuida dele com muito esmero, troca as balas – pra não esfriarem – pelo menos umas três vezes por semana. Trocar balas é com ela mesmo, adora um fogo cruzado, um tiroteio, o cheiro de pólvora, o barulho do tiro.
A manutenção é a alma do negócio filosofa ela. Dessa forma você o mantém calibrado, não tem dor de cabeça, melhora a pele e faz com que o aço inoxidável brilhe ainda mais.
E um três oitão bem calibrado, não é gente, é tudo que uma mulher precisa.
Tomara que a Rosângela não leia esse texto, pois acho que ela não vai concordar com tudo isso. Rsrsrs. Texto redigido há um ano quando completei 38 anos. No último dia 27 completei 39.
E vocês mulheres, preferem ouro 18 ou um coroa de 38?

domingo, 30 de maio de 2010

O inimigo mora ao lado

Cada maldade praticada por ele é um fio de cabelo que, envergonhado, salta cabeça abaixo cometendo suicídio por não querer mais sentir o deslizar dos dedos daquelas mãos sujas de empáfia. O símbolo da estupidez humana representado por aquele pobre raquítico de espírito cuja fisionomia esquelética é o rascunho do ódio.
A bandeira da discórdia sempre estiada no topo do mastro revela a falta de altruísmo daquele flagelado órfão do amor. Um mês no meu lar, e ele seria apresentado ao amor, a paz de espírito e ao respeito ao próximo. E não seria eu o encarregado dessa missão, embora seja professor e tenha o dom da paciência, deixaria isso por conta da Larissa de três anos e do Jr de quatorze. Embora essas coisas não ensinemos e nem aprendemos na escola, acredito eu, elas devem vir no nosso DNA. Mas quem sabe eles não conseguiriam salvar essa alma minúscula?
O sujeito citado acima é o meu vizinho muy amigo da direita, que fique bem claro que não há nenhuma conotação política, até porque se tivesse, ele seria da esquerda. Chegou há pouco mais de dois anos e já transformou a pacata Santa Quitéria na própria faixa de Gaza. O clima tenso de uma guerra fria esquenta com o passar dos dias na ex rua mais sossegada do bairro cujos moradores viram da janela dos seus lares a dissipação da harmonia e paz em que viviam voar para bem longe.
O vizinho careca filho da puta e do capeta está criando uma confusão cabeluda desde que começou a reforma da casa – mais carinhosamente apelidada de caverna do dragão – pois a mulher do cara, sósia da Cuca do sítio do pica pau amarelo, solta fogo pelas ventas.
Não podemos esquecer que toda ação gera uma reação e parafraseando o vizinho amigo da onça, quem quer paz tem que está preparado para guerra. Então vou me preparar para a guerra, pois paz foi tudo que sempre quis. No livro A arte da guerra, aprendi que a melhor maneira de enfrentar o oponente é usando as mesmas armas que ele.

domingo, 16 de maio de 2010

Adriano e sua salada de frutas

Texto antigo.

Adriano é a mais recente contratação do flamengo. O jogador queria dá um tempo do futebol, mas o time rubro-negro foi à feira, mexeu seus pauzinhos e logo o contratou.
O atleta vem pro flamengo a peso de fruta, pois é, o pagamento será frutas. Melancia, melão, morango, maçã e de luvas ele receberá caviar. E isso foi uma exigência do próprio jogador.
Vai gostar de fruta assim lá no raio que o parta! Também pudera, ele comeu a mulher-melancia com caroço e tudo, depois tirou gosto com a mulher-moranguinho e de sobremesa pegou a mulher-caviar.
O técnico do S. Paulo Murici (fruta do muricizeiro) não quer ver o Adriano nem pintado de ouro, vai que ele se engrace! E o fluminense, time das laranjeiras? Vai perder de W x O pra não correr nenhum risco. A atriz Camila Pitanga e o marido foram morar no Azerbaijão. Mas em compensação tem muito homem-goiaba se mudando pro Rio de Janeiro.
Só espero que com essa nova aquisição o flamengo não entre numa jaca. (entrar na jaca fica pro Adriano) Mas o vice-presidente Kleber leite, ainda bem que é leite senão ele já ia rodar também, disse não estar preocupado com o calcanhar do jogador – quero dizer o calcanhar de Aquiles de Adriano, a noite carioca – pois ele tem uma carta na manga. Será a mulher-manga??? Não, Kleber disse que se Adriano meter o pé na jaca, ele vai apresentá-lo pra mulher-maracujá de gaveta.
Por outro lado a torcida flamenguista está adorando a vinda do Adriano pro flamengo, pois, só assim o vice-presidente Kleber Leite vai comer abiu (aquela fruta que gruda os lábios) e parar de ficar arrotando abacaba definitivamente.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Mulheres Apaixonadas

As mulheres apaixonadas fazem tudo por amor na esperança de encontrar a felicidade ao lado do seu príncipe encantado e sentir o verdadeiro sabor da paixão.
Nessa história de amor, vale tudo, elas são capazes de enfiar o pé na jaca, de ir ao quinto dos infernos e cometer um pecado capital por conta de sua alma gêmea. Não importa se o motivo dessa busca é um anjo mau, um vira-lata, um vampiro, na verdade elas adoram o beijo do vampiro.
Quantas delas já não deram o pulo do gato e fizeram a viagem para ficar cara a cara com o bem amado, ignorando o fato de que poderiam ser só mais uma na vida dele, ou seja, a próxima vítima.
Quando um anjo cair do céu nessa selva de pedra, e ele se julgando o próprio rei do gado, o salvador da pátria, será um Deus nos acuda, isso repercutirá até na casa das sete mulheres. A rainha da sucata, as perigosas peruas e a dona beija belíssima enfrentariam até os irmãos coragem para ficar com o bebê a bordo e ter um final feliz.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Rosto Casto

Por trás daquele rosto casto
Escondem-se pensamentos insanos
Pensamentos mundanos
Ideias absurdas
Olhos de ressaca num olhar oblíquo
Cobertos com o véu da inocência
Escondendo sua indecência
Movimentos de mãos
Gestos indigestos
Suaves e ríspidos
Como as mãos de um maestro
Palavras proferidas
Curando feridas
Promessas de nada
Nada de promessas
Coração leviano...
Coração levitando


Esse poema foi publicado na II Antologia de Poesia da Canon do Brasil em S. Paulo.

sábado, 1 de maio de 2010

Cores da Vida

Ela estava de vermelho
Ele amarelou
Passaram a noite em branco
Ela não se conformou
Se ele não tem aquilo roxo
Por que se pintou?

Se a vida está um mar de rosas
Tudo fica azul
Mas na falta de um falo de pé
Vá de redbull

terça-feira, 27 de abril de 2010

Voo de Ícaro

Nossas conversas eram fúteis
Mas nossos sussurros...
Ah, esses tenho que censurar
Pois, a influência de seus toques e afagos
Fizeram-me voar
Voar com asas de gelo
Fui Ícaro, fui audaz
Foi efêmero, foi fulgaz
Quisera que fosse real
E não somente uma quimera
Mas daquele voo auspicioso
Só restam agora
As lembranças de outrora

sábado, 24 de abril de 2010

Coisinha Linda

Lindinha ao dormir
Ainda mais linda ao acordar
Revela na íris
Ideologia desde já
Sapiente na conquista
Sapeca até no olhar
Assim é a Larissa... Gostosa de amar.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Que gostosa!

Aquele momento foi único
Tudo aconteceu muito rápido
Abri-te, deslizei minha mão sobre teu corpo
Peguei-te ao meio,
Aproximei minha boca da sua;
Você suava, não resisti.
Uma hora você estava por cima
Outra hora estava por baixo
Poucos minutos depois você estava acabada.

Oh coca-cola gostosa!

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Festa no Céu

Julieta,
Faz de conta que eu morri
E hoje tem festa no céu
Não quero choro e nem vela
Sou convidado de Noel

Não sei com que roupa eu vou
E tenho raiva de quem sabe
Boêmios da vila Isabel,
Vamos ao nosso retiro da saudade

Foi sim uma jura que fiz
E prá esquecer não é assim
Que se dane a Julieta
Sou dono do meu nariz

Noel,
Muito prazer em conhecê-lo
Não é conversa de botequim
O que tenho a dizê-lo

No dia em que partiste
Minha viola chorou
Foi um disse-me disse
Foi quando o samba acabou...


PS: Sambinha feito só com nomes de músicas do saudoso Noel Rosa.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Vida Louca

Não posso viver comigo,
Não posso fugir de mim...

domingo, 4 de abril de 2010

O apocalipse

Vem que estou te esperando. Assim que Luna desligou o telefone correu para tomar um banho, perfumou-se de sensualidade, vestiu um vestido azul marinho sem alça e sem-vergonha e despiu-se da mulher politicamente correta. Aquele encontro de bocas profanas dias atrás tinha mexido com as estruturas de sua personalidade.
Não demorou muito e Ícaro estava lá, na esquina do perigo com o ilícito, a espera daquela que exercia sobre ele um poder de fascinação inefável. Com os olhos pregados no retrovisor do carro não via a hora de ver Luna surgir esplêndida com seus meneios lânguidos e convidativos a uma viagem ao lugar mais recôndito dos prazeres.
Após longos cinco minutos ela dobra a esquina e surge no espelho do retrovisor interno exalando de longe seu perfume de sensualidade. Ícaro se delicia ao vê-la e rapidamente se desespera, ela saiu do seu ângulo de visão, ele mais do que depressa a procura no retrovisor externo do lado direito do carro, e seus olhos voltam a sorrir com a boca. Lá vem ela voluptuosa ajeitando o vestido azul marinho.
Vamos, mas não vai acontecer nada. Afirma Luna ao entrar no carro com um olhar que a desmentia. Ícaro ri sinicamente e a recebe com um beijo no canto direito dos lábios caprichosamente maquiados.
Aquela tarde, brindada com um céu desprovido de nuvens, testemunha aquele encontro clandestino calorosamente como que bronzeando as peripécias de uma amizade colorida. A conversa rola solta ao som de Nirvana. Entre uma marcha e outra, Ícaro deixa a mão escapulir e flutuar pelas coxas de Luna.
Ícaro tem pouco mais de uma hora e meia para comer a maçã e engolir o sétimo dos mandamentos. Ele ainda dirige a esmo quando Luna enfim sugere o Tahiti, o paraíso do amor. Lá estaremos mais seguros.
- Como assim mais seguros no Tahiti? Questiona Ícaro em tom jocoso.
- Vamos fazer tremer aquele lugar. Responde Luna com todo seu humor negro.
Eles chegam ao paraíso do amor e encontram uma fila de três carros, era uma quinta-feira com cara de dia dos namorados. Um Fiat uno rebaixado entra logo depois deles. Ícaro, já com o peito nu e só de bermuda, vai espalhando calidamente suas digitais pelas curvas sinuosas daquele Amazonas de pecado.
Com uma maçã na boca e outra na mão esquerda, Ícaro com a respiração ofegante é castigado pelo medo e flagranteado pelo arrependimento de Luna que - umedecida - sai do carro desesperada e mais desesperada fica quando perceber que no carro de trás está seu marido Barrabás acompanhado de uma mulher.
Ícaro corre para evitar o barraco e fica catatônico quando vê dentro do Fiat uno rebaixado sua mulher acompanhada de um homem casado e mais jovem que ela. O tahiti tremeu...

quarta-feira, 31 de março de 2010

Naqueles dias

Se não falo o que ela quer ouvir
Ela logo faz beicinho
Se a chamo de meu amor
Ela prefere que a chame
De meu amorzinho
Quando essa mulher se zanga
Sai de baixo!
Ela não quer nem saber
Dos meus beijinhos
Calar pode ser o melhor remédio
Ou então sair de mansinho
Pra enfrentar a fera
Só munido de muita paciência
E se peço indulgência
A sua veia religiosa se manifesta
Pedir perdão? Êpa! não é com ela não
Tentar convencê-la do contrário
Eh, será sempre em vão
Ou concorde com o que ela diz
Ou não emita nenhuma opinião

sexta-feira, 26 de março de 2010

Manaus, tua piscina tá cheia de ratos

Família Souza. Idolatrada pelo povo alienado, está na mira da justiça. Ao longo dos últimos dez anos os irmãos Wallace e Carlos Souza ganharam muita popularidade por conta de um programa na TV de cunho policial. Eles inconformados com as iniqüidades sofridas pelo povo decidiram dar a cara a tapa e ir pras ruas como verdadeiros justiceiros da lei com o único intuito de resolver os problemas de segurança pública da nossa cidade.
Então funcionava assim: bateu, levou. Com isso eles caíram nos braços do povão e logo fizeram carreira política. Hoje Wallace é deputado estadual, Carlos é o vice-prefeito e o irmão mais velho, creio eu, acabou de ser eleito vereador.
Só que pra chegar aonde chegaram, inúmeras ações ilícitas foram feitas, as acusações são várias, até o filho de um deles com nome de anjo está envolvido, e claro, não podemos negar que o programa foi a ponte para o sucesso financeiro, se é que podemos chamar isso de sucesso.
Os irmãos coragens – como são mais conhecidos na cidade – pisaram na bola e deram um tiro, dá tiros é com eles mesmos, no próprio pé e abriram os olhos da justiça cega que espero eu, não faça vista grossa pras mil e uma evidências que aí estão gritando.
As suspeitas de crimes cometidos por eles bóiam num mar de lamas a cada dia na mesma proporção em que nossos rios estão enchendo. O que era conjetura agora é realidade. Mas o fator “poder aquisitivo” tem tido sua influência e temo que todas as provas e informações que vazaram para incriminá-los vão embora junto com a vazante.
Os Irmãos coragens - que tem como lema olho por olho, dente por dente – estão mais pra Pluto do que pra qualquer outra coisa, porque pra cometerem os crimes que eles cometem tem que ser um filho da Pluta. Sem contar o arsenal de armas que foi encontrado em poder deles. E tem mais, dar cesta básica em troca de votos é crime, é usurpar o direito de escolha do cidadão, é em português bem chulo, uma putaria.
Mas agora eles estão no olho do furação e a hora é essa, o povo tem de largar essa passividade e ir pras ruas botar a boca no trombone, bater os pés, pintar a cara e desmascarar esses caras e só sossegar quando esses metralhas forem parar atrás das grades, vamos cutucar esse câncer e vomitar sobre eles justiça, honestidade e dignidade.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Ella

Tu boca és un poema
Que todavía no tuve
La oportunidad de leer

Tu cuerpo és la canción
Que aún no tuve
La oportunidad de cantar

sexta-feira, 19 de março de 2010

Avatar

Paulo Medeiros

Balaio de viços...
Refúgio de meus devaneios
Usurpa meus pensamentos
Nua de pudor
Avatar de sentimentos

domingo, 14 de março de 2010

De volta ao inferno

A aurora está rompendo a alvorada sob as águas de março e trazendo consigo o pranto da esperança observada por nuvens densas e negras. As grades enferrujadas, o parco espaço, a imundície daquele lugar e daquelas pessoas, a comida de terceira e o manto da justiça agora são coisas do passado.
Então a raposa vestida de oncinha protegida por um guarda-chuva preto cruza o portão do presídio de segurança máxima como uma gatinha mansa espreitada passo a passo pelo guarda austero da guarita com uma pistola na cintura e um fuzil nas mãos.
Portão aberto, o cansado e velho de guerra carcerário que a acompanha dispara contra ela. Boa viagem Valeska! Ela passa a mão esquerda pelos cabelos maltratados e o ignora.
Familiares do lado de fora, ainda de cara inchada, amigos fieis estalando os dedos do mindinho ao polegar, seu advogado arrogante, imprensa de todas as mídias e curiosos estão ali à porta da desembargador Vidal Pessoa a espera da produtora de moda coadjuvante de uma série de crimes.
A chuva não dá trégua. Castiga. Ela finalmente pisa na calçada da liberdade e um toró de jornalistas a metralha com microfones sua face capituniana. Ela está abatida, só quer o colo da mãe, os amigos e parentes tentam fazer um cordão de isolamento, a celeuma está armada e as perguntas são as mais ácidas possíveis. E o povo com faixas de protesto expectora alguns impropérios.
Valeska não vale nada! Vitupera um cidadão mais exaltado.
Um carro de luxo importado todo preto a espera com o motor ligado a cinqüenta metros dali. Ela parece caminhar num corredor polonês. Vítima ou vilã? Pergunta o repórter. Os cinqüenta metros estão tão longos quanto um dia de fome.
Valeska Silva está ensopada, a natureza insiste em lavar aquela alma encharcada de remorso. Ela enfim entra no automóvel e acomoda-se no banco do carona. Dona Matilde – a mãe – senta-se no banco traseiro e lepidamente afivela seu cinto de segurança. Ela é o próprio lençol de afagos da filha.
- Para aonde vamos? Questiona o motorista desinformado.
Dona Matilde cochicha algo no ouvido do chofer. Valeska não entende o indiscreto segredo e o motora segue no rumo do aeroporto. A viagem foi premeditada, pois a cidade inteira já sabe de sua soltura. Ela corre risco de morte. Mãe e filha dentro do carro como duas estranhas cúmplices de um silêncio inexpugnável do crime.
O silêncio é quebrado pelos gritos dos pneus riscando o asfalto. Só um balão estoura. Valeska faz sua última viagem num voo solo rasante. Confetes de vidros espalham-se pela pista, a mãe aproximasse do cadáver e uma lágrima dissimulada desliza sobre seu rosto pérfido.
Olá pessoal. Vocês devem comentar os textos de nossas aulas no endereço abaixo.
www.jesuspaulo.blogspot.com

quinta-feira, 11 de março de 2010

Palavras ao vento

Minhas palavras...
Imagens de meus pensamentos
Procuram no vento
O casto sorriso,
O olhar derretido
Pelo calor de nossa libido
Minhas palavras...
Imagens de meus pensamentos
Perdem-se no tempo
Não encontram o aconchego
Dos seus ouvidos sedentos
Chega de lamúrias
Chega de tormentos
Guardarei minhas palavras
Para ouvidos mais atentos

quinta-feira, 4 de março de 2010

31 de janeiro

Chego à escola exatamente na hora marcada. Bato à porta e de cara a vejo de costas. Baixinha, cintura de cavaquinho e cabelos negros pelo meio das costas está ali inquieta remexendo um arcaico fichário de alunos. Ela vira preguiçosamente e seus cabelos sedosos acompanham o movimento do corpo numa dança sensual como um tango argentino. Meu corpo perfumado de Avon é invadido poro a poro por um francês arrebatador que até hoje não consigo pronunciar seu nome.
Ela olha em minha direção e percebo o baile articulado de seus lábios. As mãos – como a de um maestro - sobem e descem. Tremo, o coração entra em descompasso e confrange. Espectros se formam diante de meus olhos subitamente cegos. O relógio na parede branco gelo com a logomarca da Computec simplesmente congelou, deu branco. Ó meu Deus! Ela é muda. Eu mudo. É o fim do mundo.
Ricardo – o dono da escola – chega num silêncio lento e de longe sem perceber a minha presença faz um gesto para ela com o polegar direito. Ela olha pra mim e devolve para ele o gesto com o polegar esquerdo.
Ricardo desce as escadas saltitando, atravessa a sala de espera a trotes largos e entra na recepção com os braços vestidos e armados para um forte abraço. Nossos olhares se encontram e percebo descaradamente a articulação de seus lábios. Ó meu Deus! Ele está mudo também. Eu juro. É o fim do mundo.
Começa então uma correria, ele me abana, ela traz um copo com água e açúcar. Sento no sofá preto de couro, mas não me sinto... Estava surdo de amor. Aqueles dezenove segundos duraram dezenove anos.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Bocas Gêmeas

Bocas Gêmeas


O vento gelado assovia
No tom afinado do amor
Aquecendo o encontro de lábios
Molhados de insanidade
Encolerizando o encontro
De bocas profanas e,
De beiços nus e maquiados

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Metamorfose ambulante

A voz oscila, falha. É grave, é aguda, é motivo de gozação. Um rascunho de bigode se desenha discretamente nos cantos da boca como se fosse um time de futsal – são cinco pêlos de um lado e cinco de outro. Algumas espinhas já começam a pipocar no rosto. Os banhos agora são mais freqüentes e mais demorados. O garoto é a própria testosterona.
No bolso da calça do colégio um bilhetinho. Na hora da saída quero falar contigo atrás da cantina. No Orkut mais scraps. Na prateleira do quarto a coleção do Max Steel ainda faz parte da rotina do menino de treze quase quatorze anos que acabara de trocar a pubescência pela puberdade, se é que existe alguma diferença.
Depois do banho demorado tem que rolar um perfume, o penteado despenteado tem que estar impecável. A mãe condena o que as gatinhas do colégio absolvem. O desencontro dos cabelos. Penteia esse cabelo direito menino! Que coisa mais feia!
O pai não fala nada, mas se fosse a filha, a Larissa, a conversa seria bem diferente, não é seu Paulo? Podes crê, meu.
O fato é que os anos voaram e as brincadeiras de criança vão cada dia mais dando espaço aos CDs de música, ao isolamento no quarto, aos telefonemas secretos, fins de semana na casa de colegas de escola, etc.
Atravessar a rua de mãos dadas com o pai nem pensar. O que os brothers vão pensar dele. Ele tem que manter a fama de mau. Sabe que um vacilo diante dos amigos pode custar um ano inteiro de piadinhas corrosivas que serão lembradas daqui a cem anos, e não estou aqui usando de hipérboles não. Nessa idade a crueldade dos sarros é implacável.
E quando indagado sobre as súbitas mudanças ele parafraseia Thiago de Melo: Não tenho nada de novo apenas o jeito de andar. Ah moleque!
PS: Júnior ama os pais e sua admiração por eles está tatuada em sua retina. Ele muito mais que o pai, é coruja.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Amor Desbotado

A metáfora da morte surgira
À espreita da viva lua
Lágrimas amargas minhas
Lágrimas doces suas

A metáfora da morte presenciara
Os soluços dos dissabores
O cravo morrendo de amor
A rosa vivendo de amores

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Nota de falecimento

Faleceram ontem às 18hs vítimas da famigerada gripe suína aqueles que em vida se chamaram Heitor, Cícero e Prático.
É com grande pesar que as famílias das vítimas convidam a todos para a missa de 7º dia que acontecerá daqui a exatos sete dias na Igreja Nossa Senhora dos Porquinhos.
O mundo animado está de luto, pois, os três porquinhos provaram do próprio veneno.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

É nesse vaivém...

Mal me aproximei e ela já foi se abrindo
Sem hesitar a atravessei
Sem nenhum pudor fui e voltei
Foi assim, seco, nem hi e nem bye
O ponto G estava bem aos meus pés
Que sensibilidade, um simples toque
E ela se arreganhou gemendo
Não demorou muito e logo percebi
Que não era o único
Ela estava ali, inerte, sem preconceito
Despudorada... A porta safada!!!!!!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Queda d’água

Suas curvas sinuosas
Deslizam num sobe e desce
Rumando ao encontro azul-esverdeado
E no meio do caminho
Uma depressão – a natureza chora
Sobre faces sorridentes

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Encontro

Quando meus olhos encontram os seus
Eles falam pela boca
Que tímida...lá no fundo deseja a sua
A vontade de roubar-lhe um beijo
Rouba minha razão

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Visão do Inferno

A penumbra esbranquiçada tem um violento cheiro de orgia no ar. A música de gosto duvidoso – é o que menos interessa naquele momento - anima homens solteiros e casados na perene busca animalesca por fetiches e aventuras ilícitas. Na mesa de plástico branco as garrafas de cerveja quente se misturam as vendedoras de sexo em trajes fuck me baby e combinam com a performance fria das strippers.
Na passarela-vitrine putas fora das formas padrão de beleza vêm e vão com um sorriso alugado na cara. É ali naquele cadafalso que elas fazem a exposição da mercadoria de quinta categoria. É a lei da sobrevivência. Elas se rebolam literalmente para tirar daquele mundo profano o pão sagrado de todos os dias.
Os clientes avarentos em seus lares, sonegadores de impostos em seu país e impostores do amor tornam-se verdadeiros perdulários diante dos vícios e dos prazeres selvagens da carne. Os pobres carentes saem da casa só para maiores sem nenhum real furado no bolso da calça jeans encardida. E só caem na real no dia seguinte quando nem o dinheiro do ônibus os infelizes têm. O que eles têm agora é muita vantagem pra contar. Fiz isso, fiz aquilo, foi assim, foi assado, foi cozido, foi guisado.
No próximo pagamento uma nova página dessa busca insaciável pelo prazer será escrita. Parafraseando o saudoso Tim Maia, no inferninho vale tudo, só não vale dançar homem com homem nem mulher com mulher.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Volta Por Cima

Home Sweet Home. Quem nunca ouviu essa expressão por aí? Talvez no nosso lindo português a expressão tenha uma sonoridade ainda mais linda.
Como é bom poder voltar pra casa depois de um longo dia de trabalho, tomar um bom banho, jantar com a família reunida na sala de jantar, na cozinha ou mesmo na frente da TV da sala de estar. Não importa se a televisão é aquela CCE de quatorze polegadas preto e branco cujo controle remoto é o dedão do pé direito ou uma TV de quarenta e duas polegadas de LCD da Sony com entrada para HDMI, time machine e closed caption. O importante é o senso de família, o carinho dos filhos, o beijo molhado da esposa que o espera ávido pra saber como foi seu dia.
Muitas e muitas vezes nos pegamos reclamando de tudo isso. Da mulher que quer saber de tudo, das crianças que fazem aquela barulheira, da imagem do aparelho de TV cuja antena tem uma palha de aço na ponta que não ajuda em nada.
No fundo no fundo reclamamos de barriga cheia. Duro mesmo é voltar pra casa e encontrar no chão tudo que você construiu ao longo de anos de labuta, encontrar em meio as lágrimas e as cinzas do horror o nosso cantinho dissipado. O que era concreto virou abstrato.
E junto com as cinzas estão histórias de vida que foram destruídas em poucos minutos, perda total. Imagina um pai olhar pros filhos ali desabrigados e não poder oferecer sequer um cobertor para proteger o corpo e aquecer a alma. A sensação de impotência diante dos restos de uma casa em chamas, e agora, fazer o quê?
Sem dúvida, fé é o combustível que alimentará o recomeço. Uma porta se fechou, mas uma janela se abriu. Nada a temer se não correr a luta, nada a fazer se não esquecer o medo, já dizia a música. Então meu amigo, levante a cabeça, tenha fé, se arme de coragem e escreva uma nova página na sua vida e que a tinta da sua caneta seja o suor do seu esforço e o papel desse caderno seja a sua dignidade.
P.S: Texto dedicado ao amigo Mario que essa semana perdeu a casa num incêndio. Mas ele não está sozinho nessa, todos os amigos verdadeiros se manifestaram e se uniram em prol de ajudá-lo.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O toco

Marie Claire, você foi muito ingrata comigo. Preparei um jantar todo especial – no capricho - pra nós dois e você nem deu as caras. Veja só quanta ingratidão. E nessa mesma noite um amigo meu disse que te viu lá no shopping, desfilando toda teen e contigo estava um negão de um metro e oitenta. Isto é, isso foi o maior ti ti ti entre os meus amigos. Mas tudo bem, eu ainda te acho uma mulher super interessante. É época de perdoar.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Palavras

Paulo Medeiros

Olho por entre a fresta
E no romper da aurora
Um raio de luz atravessa a sala
Rascunhos espalhados pelo carpete
A xícara de café vazia
Ainda exala o cheiro de uma noite em claro
Noite em busca dos versos perfeitos
Que teimam em escorrer pelas mãos
E ir de encontro ao papel

domingo, 7 de fevereiro de 2010

loura gelada... Que fria!

Devo confessar que de quando em quando bebo minha cervejinha em reuniões com amigos do trabalho, amigos que fiz na faculdade ou até mesmo nas reuniões de família.
Mas também não bebo ao ponto de ficar jogado na sarjeta enquanto um cachorro vira-lata pulguento lambe minha cara da mesma forma com que ele bebe água. Conheço-me muito bem e respeito o limite de três latas da gostosa lourinha amarga.
Mas na verdade o que tem me incomodado ultimamente é o fato da massificação que vem sendo feita na mídia em torno das bebidas alcoólicas, especialmente a cerveja. Comerciais na TV a toda hora, capas de revistas, outdoors e público alvo indefinido.
É usado todo tipo de recurso para atrair à atenção do consumidor. Belas mulheres como a Juliana Paes, jogadores de futebol como Ronaldo fenômeno – até tu Brutus! -bonecos, animações, gráficos pertencentes ao mundo infantil, exploração do erotismo e até slogans menosprezando àqueles que não apreciam a loura gelada.
O interessante é que sempre tem uma mensagem, muito discreta por sinal, alertando para o perigo do consumo exagerado: “beba moderadamente”, ou mais recentemente, “beba com parcimônia”. Então fica a pergunta no ar. Quem tem esse cônscio?
A bem da verdade é que os jovens estão tomando o primeiro gole cada vez mais precocemente. Nem a lei seca tem sido capaz de frear esse boom. Adolescentes sonham com a liberdade que lhes é negada, buscam maturidade de forma frenética e começam a imitar os adultos e a divulgação de produtos associados com a vida adulta é um estímulo para aqueles jovens que ainda estão formando uma personalidade.
Então, o que fazer para frear esse incentivo ao consumo de bebidas alcoólicas?
Devemos combater a venda desses produtos para menores de idade? Como? E as autoridades, onde estão que não tomam nenhum posicionamento? Essas são só algumas das perguntas que – como diz o lugar-comum – não querem calar.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O primeiro dia de aula a gente nunca esquece

Passos ansiosos rumo ao desconhecido mundo novo de quem nele está há pouco mais de três anos. A lancheira no ombro esquerdo combina com a bolsa Pink de rodinha da hello kitty – ambas escolhidas a dedo por ela mesma - na mão direita. Auto-suficiente e destemida não se parece com o pai em nada.
O escorregador, o balanço, a casinha que ficam espalhados pelo pátio da escola lhe parecem muito mais atraentes que a confortável colorida e climatizada sala de aula. Oi coleguinha, é assim que ela chama a todos que estão uniformizados tal qual ela. Não importa o sexo, a religião, o estado civil, o poder aquisitivo, ela quer mesmo é socializar.
Soa a campainha e a molequinha branquinha de pernas roliças se direciona a sala de aula com um sorriso riscado na face como se fosse uma veterana. Lá vai ela ouvir estórias, fazer sua história, colorir suas tardes, desenhar seus devaneios, escrever seu futuro, lá vai ela pintar o sete, o oito, o nove. Lá vai ela... Sem lenço e nem documento.
Nesse momento o pai a deixa com o coração apertado. E Ela? Bom, ela fica com o coração aberto e jorrando alegria. Alegria é algo que transborda naquela menina. Para ela não tem tempo ruim e ficar quatro horas sem a presença dos pais por perto, imagino que deve ser o paraíso.
Agora é só a Larissa, não tem pai, mãe e nem irmão para protegê-la. Mas isso não parece intimidá-la o que de certa forma me conforta porque um dia isso será real em sua vida. Pois a vida fora de nossos lares é dura e cruel. Mas enquanto esse dia não chega vou enchendo aquelas bochechinhas de beijos doces. Ainda bem que ela não é diabética!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Mulheres que pintam os cabelos

Tenho certeza que com esse texto estarei pisando em campo minado. Serei jogado aos leões, apedrejado, vão me prender na solitária, serei condenado à tortura chinesa, cadeira elétrica, etc. Pois vou tratar de um assunto muito delicado. Mulher que pinta os cabelos.
O que falar de uma mulher que pinta os cabelos? Muitos logo dirão que se trata de vaidade, outros dirão que é uma questão de marketing pessoal, mudar é sempre bom, alguns falarão que é porque homem gosta mesmo é de mulher loura, elas são a preferência nacional.
Então vamos lá, vaidade. É considerada um dos grandes males da humanidade. Matamos por vaidade e morremos pelo mesmo motivo.
A vaidade é cheia de artifícios e se ocupa em tirar da nossa vista e da nossa compreensão o verdadeiro ser das coisas, para lhes substituir um falso e aparente.
Marketing. Por trás de qualquer jogada de marketing há sempre uma informação omitida, as letras miúdas que nós nunca lemos, ou seja, mente-se pra atrair o outro.
Mudar sempre é coisa de gente inconstante. O Raul Seixas adoraria, afinal de contas metamorfose ambulante era com ele mesmo.
Homem gosta mesmo é de mulher loura. Homem gosta de mulher, seja ela ruiva, morena, loura, negra, baixinha, gordinha, magrela, etc. Mas as que pintam os cabelos não são confiáveis, pintar os cabelos é dissimular, é querer ser o que não é.
Isso não quer dizer que não respeite as mulheres adeptas do coloramento, muito pelo contrário, tanto é que não as chamam de louras falsas, jamais, prefiro usar de eufemismo do tipo, aquela mulher é um falso cognato. É mais poético e dependendo do grau de instrução dela você ainda recebe um sonoro obrigado.
Descobri em uma pesquisa feita em dez países que tanto para os homens como para as mulheres o mais importante é ser carinhoso e sensível. Elementos como estes estão à frente de senso de humor, boa aparência e boa remuneração.
Então mulheres brasileiras lindas, vocês não precisam desse recurso, a beleza já está inclusa no pacote de vocês, a pele macia, o corpo desenhado caprichosamente, vocês são sublimes e belas por natureza.
Um beijo carinhoso pra todas vocês, inclusive para aquelas que batizei de falso cognato.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Vida Nova

“Eu os declaro marido e mulher. O noivo pode beijar a noiva.” Como essa cara deve está ansioso para ouvir isso – esse cara atende pelo nome de Harrison – e finalmente colar a aliança no seu-vizinho da mão esquerda.
O anelar destro já tinha experimentado antes o abraço do anel do matrimônio, o “sim” já esteve na ponta da língua, o carequinha quase virou Cacheado (sobrenome da ex), mas o fura-bolo do destino indicou outro caminho pro meu amigo que sofreu pra entender que aquela alma não era sua gêmea.
Gemeu de dor, comeu o pão que o diabo amassou, bebeu corote disfarçado de caipirinha, experimentou o outro lado da moeda, perdeu a pulseira (private joke rs) de ouro e ficou sem eira e nem beira. Até Joseph Climber – aquele cuja vida é uma caixinha de surpresas – sentiu pena do cara.
Mas numa bela manhã ensolarada ele decidiu curvar todos os dedos em volta do maior-de-todos e gritar: “Aqui pra ti sofrimento! A vida é bela, carpe diem, I will survive!” e tocou o barco rumo a felicidade (esse texto está ficando brega).
Essa busca frenética pela felicidade a dois o levou a caminhos cheios de cacos de vidros, encontros e desencontros, promessas de nada, nada de promessas, relacionamentos efêmeros, rompimentos duradouros. O cara foi até apedrejado.
A certeza de encontrar alguém que de fato o compreendesse e o amasse na mesma voltagem foi o espinafre desse Popeye tupiniquim. São de suas faculdades mentais, foi justamente na faculdade que o sol brilhou, foi justamente na faculdade que seus olhos brilharam novamente.
Dessa vez tomou todos os cuidados necessários, pra quem nunca foi muito fã de fast-food, fast-love era algo corriqueiro nos seus namoros. Não cometeu os erros de outrora, nada de conhecer num dia e no outro já está dividindo o mesmo tubo de pasta. Agora sim, namoro standard.
Brincadeiras a parte, desejo do fundo do meu coração toda sorte do mundo nessa nova fase de sua vida. Vida a dois não é fácil, mas você com toda sua sabedoria saberá conduzir e contornar as adversidades e torná-las mindinhas.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A despedida

Íngreme barranco barrento
Com água pelos pés batendo
Escalo-te aos troncos...
Hoje não trago um sorriso nos cantos

Não há berros e nem mugidos
Terreiro em soluços
Conversas, cochichos comovidos
Goiabeiras de bruços

A prosaica casa de farinha
Clama por seus compadres poetas
Que agora bebem a sua rainha

E o rio segue seu curso
No vaivém do banzeiro
Saudades, memórias, luto.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Mundo da Lua

Ela é id. Eu? Idiota.
Ela está no cio. Eu? Na maciota.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Alaga-me

Lânguida obscenidade
Um Amazonas em minha jangada
Inda te quero
Zeus meu, alagando-me
Antes do grito da alvorada

sábado, 16 de janeiro de 2010

Dias contados

Caros leitores,

Foi um prazer inefável conhecê-los, pois venho através deste informá-los que estou com o prazo de validade contado. Recentemente fui ao médico e eles descobriram que tenho uma doença irreversível.
Tudo começou com uma dor na cabeça do dedão e estendeu-se até o peito do pé. Os dias foram se passando e a dor foi subindo pra batata da perna, logo depois chegou até o pé da barriga. Mais tarde essa dor migrou pra boca do estômago e não satisfeita estacionou no céu da boca. No último exame detectaram um nódulo no pé da orelha.

Diagnóstico: catacrese.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Vinicius de Moraes

Vinicius, versos, Vinicius...
Seus sonetos, seus poemas...
Meu vício.

Vinicius,
Seus versos de mim tão íntimos
Quiser eu ter o poder
De não deixá-los fenecer.

Vinicius,
Perdoa-me pelo poema ínfimo.