sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Terceiro ano 2014

Quarenta e cinco minutos do segundo tempo. Fim de jogo. Quem ganhou e quem perdeu é o que saberemos daqui a alguns dias. Quem se preparou melhor, concentrou e investiu a longo prazo provavelmente continuará no campeonato da aquisição acadêmica. Para aqueles que inventaram contusões, lesões, fugiram da concentração e caíram na armadilha do "viver loucamente" chegam na cara do gol impedidos e, quiça, perdidos.
Porém a vida é assim mesmo. Alguns vencerão, outros não. Só não podemos é perder sem a dignidade de lutar, pois, o gramado da vitória é um tapete observado do alto da arquibancada, no entanto só quem entra em campo é que percebe os buracos do fracasso que estão ali como um goleiro a impedir a investida do atacante adversário.
Pessoal, isso não é resenha de vestiário, só alcança o cume da montanha quem calça a chuteira da determinação. É preciso, como diz a expressão do momento, ter foco. E vocês foram o nosso foco ao longo desses anos. Nós professores sonhamos, torcemos e queremos muito o sucesso de nossos alunos, mas o querer maior tem de ser dos jogadores que estão em campo.
O ensino médio é uma preliminar para o ensino superior e o choque de realidade está logo ali com as presas de fora, afiadas, esperando friamente pelos calouros acadêmicos e calouros da vida. O caminho da vitória é asfaltado de obstáculos e vocês deverão estar uniformizados de humildade e sede de vencer se quiserem sagrar-se campeões.
Mas agora é hora de confraternização e estamos aqui para relembrar alguns acontecimentos que os trouxeram até esse momento. Vocês eram dois e se tornaram um. Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades. Para viver a dois, antes, é necessário ser um, já dizia um tal de Fernando Pessoa. E vocês entenderam isso rapidamente e consolidaram amizades, creio eu, que para a vida toda. As picuinhas foram se dizimando ao longo do ano letivo. Inteligentemente vocês perceberam que a união não faz só açúcar, a união também faz a força e tacitamente vocês foram dando as mãos uns aos outros.
Bobo aquele que bate no peito e brada: Eu não preciso de ninguém. Mas bater no peito não era muito a praia dessa garotada, o negócio deles era bater boca. Pense numa turma encrenqueira!
O importante é que de todas essas desavenças vocês tiraram lições e penso que a maior de todas foi a de aprender a lidar com as diferenças.
As luzes do estádio se apagarão em instantes mas a de vocês torço para que continue acesas perenemente.
Que Deus ilumine os caminhos de cada um aqui. Boa sorte!


quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Matinha, uma estória de amor, cultura e arte (samba enredo)

AQUI ESTOU AO PÉ DO TUCUMANZEIRO
FOLHEANDO ALEGRIAS, AMORES E FESTAS
PÁGINAS DO MEU RELICÁRIO,
EITA POVO TÃO FESTEIRO!
TALENTOS NAS ESQUINAS E BECOS
PRATAS DA CASA TRANSFORMADAS EM OURO
ABENÇOADAS POR SANTA LUZIA
MINHA MADRINHA PELA FÉ QUE NOS GUIA
GRITA JUTAL! LÁ SE VAI MAIS UM DIA
VEM GARROTE LUZ DE GUERRA
LEVANTANDO POEIRA
SEU MARANHÃO ACENDE A FOGUEIRA
SAUDADE INCENDEIA O MEU CORAÇÃO

TIRA ONDA CORONÉ COM OS BRASINHAS NA FOLIA
E O AR DA "GRAÇA" EU QUERO VER
NO BALANCÊ DA PRESIDENTE VARGAS
VOU ENCONTRAR UM CAIPIRA, ANARRIÊ

AINDA MENINA NO MEU COLO ABRACEI
A FRAUTA DE BARRO, COM BACELLAR, POETIZEI
NA CASA DA MÃE DA GENTE É ASSIM
A INSPIRAR GERAÇÕES, POESIAS SEM FIM
TADEU GARCIA MATINHANDO MUNDO AFORA
ENERGIA QUE VIGORA, TIC TIC TAC, UERERÊ
NESSA NOITE ENLUARADA,
CASAGRANDE E MANEL, QUE SAUDADE DE VOCÊS
ZÉ PRETINHO... TUA BATUCADA GANHOU VOZ
NOS TERREIROS DE BAMBAS
MEU AMOR POR TI NASCEU...
NA MATERNIDADE DO SAMBA

A MINHA ÁGUIA VAI VOLTAR
RESSURGIR DAS CINZAS PODE CRER
COM A PRESIDENTE VARGAS EU VOU MATINHAR
SOU MATINHA, ME RESPEITE
EU NASCI PARA VENCER... PARA VENCER

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O último beijo

Passava do meio-dia quando saímos de casa. Ela foi no meu carro. A conversa fluía naturalmente entre mim, papai e ela, mamãe. A cirurgia pela qual ela passaria não estava na pauta, fingíamos que estava tudo bem, mas não estava. Mamãe não estava ali com a gente. Algo a incomodava, não acredito que era a cirurgia em si. Mamãe já havia passado por várias.
Em dez minutos já estávamos no nosso destino, fatídico destino. Santa Júlia, ali no Boulevard Álvaro Maia. A deixei lá e fui estacionar o carro. Na volta ela estava sendo atendida na recepção. Meu pai e meu irmão tratavam da papelada para internação e ela um pouco mais afastada aguardava numa cadeira de rodas. Sua fisionomia era de preocupação. Me aproximei e lembro como se fosse hoje ( um ano depois ) as minhas últimas palavras pra ela. Mãe, tranquilinha que vai dar tudo certo. Então a beijei na testa, o último beijo. Eu, o menos carinhoso, fui o último a beijá-la em vida.
Ela me olhou com a insegurança de uma criança, chorou discretamente e subiu acompanhada do meu pai e meu irmão. Eles não conseguiram se despedir dela por conta de um contratempo. A vida dela foi cheia de contratempo.
A cirurgia complicou. Sete, somente sete horas depois foi que tivemos notícias dela. Os médicos reverteram um quadro complicadíssimo, segundo eles, e mamãe ainda resistiu mais vinte e quatro horas.
O dia seguinte veio para mudar nossas vidas, minha, dos meus irmãos, do meu pai e de todos aqueles que amavam dona Nonata. Estava no trânsito quando meu pai me telefonou e disse: Meu filho, vem pra cá que o pior aconteceu... Essa frase ainda ecoa na minha mente. Não acreditava! Esmurrava o volante do carro enquanto questionava a minha fé. Por quê? Por quê? Por quê?
Cheguei no hospital e vi minha mãe ali dentro de um saco como se fosse um tronco de madeira que não servia mais pra nada. Pesadelo... Pesadelo. Só nós em volta dela sabíamos da grande história de luta, de amor, de simplicidade e dedicação daquela mulher.
Mamãe faleceu no dia primeiro de novembro de 2013. Ontem à noite antes de dormir tudo isso que acabei de escrever veio à minha cabeça, e aí meu amigo, o choro é inevitável. Mas ainda todas as manhãs quando saio de casa para trabalhar eu peço a sua benção.
Bença mãe.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Um leão por dia...

A luta para matar um leão por dia nos deixa arranhões e lesões. Hematomas mal cicatrizados pela necessidade de estar de pé para a próxima batalha. Ainda assim, com algumas feridas abertas e outras fraturas expostas, seguimos para o segundo, terceiro, quarto round. Os rounds não param.
O pouco tempo para a recuperação vai nos enfraquecendo, então o inevitável acontece. Mata-leão do avesso. Somos engolidos por ele. Não se vence sempre. Nos falta força, sabedoria, sapiência. Só não pode é faltar fé, uma vez que ela move montanhas. E move mesmo.
Quase entreguei os pontos. Só não o fiz porque a fé não costuma falhar. Mova-se montanha! mova-se! Já ouço o rugido do próximo leão...

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Tantas emoções

Há uma grandeza tão absurda em coisas tão singelas que a emoção inunda dentro de mim. Vou ilustrar essa afirmação. Hoje era a festinha das crianças na escola da minha filha e ela faria uma apresentação com a turma do balé. Ela, vestida de princesa, esperava enfileirada pela sua apresentação quando me aproximei para tirar algumas fotos. Seus olhos me buscavam em meio aquela muvuca de pais babões querendo o melhor ângulo da foto, flashes pra cá, flashes pra lá e eu ali parado bem próximo dela mas ela não me enxergava. Sua expressão era de preocupação e seus lábios se tocavam freneticamente. Especialista em leitura labial fui me emocionando a cada Cadê o papai? Cadê o papai? Cadê o papai?
No momento que nossos olhares se encontraram um salto de alegria caiu em meus braços. Papai!!! Caramba, eu me derreti todo.
A rotina muitas vezes nos faz esquecer quão importantes somos nas vidas de nossos filhos. E esses momentos acontecem exatamente para nos chacoalhar diante do tempo que perdemos nos apegando a coisas supérfluas.
Eu não abro mão de participar desses eventos. Pequenas apresentações, grandes emoções.

domingo, 14 de setembro de 2014

Festival The Beatles



Como diz o ditado, quem canta, seus males espanta. Ontem meus alunos do ensino médio da rede pública, durante o nosso primeiro festival de música, cantaram exclusivamente as canções dos Beatles. Aquela garotada espantou a cara de interrogação de todos os desconfiados de plantão e num lá maior tufou o meu peito de orgulho.
Confesso que num dado momento dos ensaios pensei em desistir (foram quase 40 dias de preparação e aporrinhação). Muitas intrigas, "panelinhas", birras, beicinhos, e a tal da vaidade... Vaidade, esse grande mal da humanidade. Para o bem do coletivo é necessário o desprendimento da filosofia do "umbiguismo", temos de abrir mão mesmo de nossas verdades absolutas. Verdades absolutas são nossas prisões. Para alcançar o macro é importante pensar no micro e na amplitude de nossas possibilidades.
Porém, abandoná-los no meio do caminho seria deselegante, ou melhor, seria uma covardia, pequenez de minha parte. No entanto, minha mãe, que já não está mais entre nós, me deixou de herança a coragem de lutar até o final independente do tamanho do monstro. E foi com essa virtude herdada de dona Nonata que segui até o final. Já dizia o poeta, tudo vale a pena quando a alma não é pequena.
O sucesso do festival estava depositado na conta corrente deles, corrente sanguínea de adrenalina e empolgação. Para a minha não surpresa eles arrebentaram! E valeu muito a pena. Só não imaginava que iria me emocionar tanto com a alegria esfuziante deles. Durante uma apresentação fui tomado por um arrepio inexplicável, e não é força de expressão. É pura verdade. Eu que disse que não inventaria mais esse negócio de festival já estou aqui pautando o que podemos melhorar para o ano que vem. Porra, vocês são foda!
Obrigado à todos por me proporcionarem tamanha realização profissional. I wanna hold your hands, I love you yeah, yeah, yeah!!

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Pequeno grande homem

No pátio da escola, sentado ao pé de uma árvore, esperava pela Larissa. Outras crianças já se divertiam durante aquele momento mais aguardado da aula - a hora da saída.
Fiquei observando aqueles futuros arquitetos, engenheiros e médicos enquanto eles brincavam. Quanta leveza e pureza nos rostos e nos gestos. Todos desarmados de malícia. Deu até vontade de ser criança de novo, mas quando lembrei do Adail, esse pensamento logo dissipou.
Já passava das cinco horas e o sol já se escondia quando apareceu o garoto, aproximadamente seis anos, um metro e vinte, pardo, voz macia. Aproximou-se e pediu, com o cavalheirismo de um Lord, licença para sentar ao meu lado. Gentilmente permiti sua companhia. Ele carregava duas sementes nas mãos e me ofereceu uma. Aceitei o presente e desembrulhei um "valeu, garoto!" E em seguida perguntei o seu nome. Meu nome é Téo.
E depois disso veio o que me motivou a escrever essas poucas linhas. Téo continuou. Eu gosto de compartilhar. Eu coleciono sementes, mas gosto de dividir. A Larissa então chegou e tivemos que partir. Porém, não poderia deixar de parabenizá-lo. Apertei sua mão e dividi minha impressão sobre ele: Téo, poucas pessoas conhecem a dona generosidade. Continue assim!
Foram necessários apenas cinco minutos para aquele pequeno me ensinar a ser grande.

P.S. Na hora de ir ele sorriu tão bonitinho que acho até que a Larissa deu bandeira pra ele.


quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Dez meses...



Dez meses atrás a morte atracava em meu porto seguro com a fúria de uma pororoca cuja violência virou minha canoa e me afogou no rio negro da ausência. A diabetes fez mais uma vítima. O coração parou. Tudo parou. O barranco caiu. O telefone tocou, as sete trombetas tocaram. Era meu pai: Meu filho, venha pra cá. O pior aconteceu. Não acreditei, como ainda não acredito. Só naquele dia consegui mensurar a força da expressão "ficar sem chão". Não foi fácil continuar respirando.
Hoje o rio segue seu curso com o banzeiro da saudade lambendo minhas vinte e quatro horas. Mamãe foi a própria metáfora do rio, esteve comigo nas vazantes e nas cheias. Foi fiel, fiel aos seus princípios interioranos. A mulher que mal sabia assinar o nome diplomou todos os seis filhos. Sabedoria era íntima da dona Nonata. Ela foi o braço direito e esquerdo do meu pai. Seu Joaquim pode bater no peito orgulhosamente e bradar: Eu casei com uma mulher muito especial. Ela foi mulher no verdadeiro sentido da palavra. Mas o seu dia chegou assim como chegará o meu e o de todos nós. Porém ainda estou com o Drummond. Mães não deveriam morrer.
Bença mãe!

terça-feira, 24 de junho de 2014

Partida de Futebol

A intenção é vencer o adversário sem sabotar as regras do jogo ainda que, como um instinto do ser humano, um ou outro tente ludibriar ou tirar vantagem de um descuido daqueles que arbitram o espetáculo. Fair-play deve vir de berço e não pode ser apenas uma mera questão de ética.
Porém o enganar está inerente ao futebol sob o prisma do gingado do corpo, do balé das pernas, do olhar para esquerda e tocar para direita, da paradinha diante da cal, do drible da vaca, do banho de cuia, do elástico. E essa arte de enganar tem o aval da segunda vara dos atacantes habilidosos. Muitos a querem, poucos a dominam.
Bola rolando, transpiração, ação, corpos suados, sarados, e o senso de equipe em cada passe, em cada lançamento, calça o entrosamento dos poetas dos gramados dignos da Academia Brasileira de Bolas. Vencer requer a sensibilidade de um Vinicius e a sagacidade de um Machado de Assis.
Os esquemas táticos aliados a força física engessaram a espontaneidade enriquecedora dos boleiros menos anarquistas. O que, graças ao deuses do futebol, nem sempre significa vitória dos músculos adestrados. Ainda insisto em dizer: Não é força, é jeito. Portanto o talento individual ainda tem seus aplausos guardados nas palmas das mãos diante do drible desconcertante acompanhado do balanço da rede. Momento esse de pura catarse.
Então viva aos alquimistas Garrincha, Pelé, Rivelino, Sócrates, Zico, Romário, Ronaldo, Ronaldinho, Robinho, e outros poucos, só para citar os brasileiros, que fizeram daquele pedaço de chão verde o palco iluminado de suas subversões levando alegria aos torcedores e despertando paixões inefáveis ao grito alucinado de gol, no levantar sincronizado das mãos na arquibancada e no humilhante coro do "olé".
Para os mais atentos a arquitetura de um texto devem estar dizendo: mas esse texto sofreu uma digressão. Sofreu sim, tal qual uma partida de futebol. Lembram de Brasil e Holanda na última Copa quando tudo ia muito bem para nós e de repente os Holandeses distorceram tudo? Pois é. Foi de propósito.


sábado, 21 de junho de 2014

O Poder da Copa



A Copa tem indiscutivelmente seus encantos. Um evento que consegue reunir até a família mais desunida na sala de estar, unir vizinhos desafetos na hora de arrecadar dinheiro para enfeitar as ruas, criar um calendário escolar especial, esvaziar a Constantino Nery na hora do rush numa quinta-feira, fazer o namorado esquecer a namorada em pleno 12 de junho, levar Caetano Veloso de metrô ao Maracanã para assistir a nossa arquirrival Argentina, agilizar o atendimento bancário em dias de jogo do Brasil, incentivar baianos e amazonenses ao trabalho voluntário ( brincadeirinha), é realmente fascinante.
Acompanho as Copas desde 1982, pois é, eu já era um adolescente. Chorei hiperbolicamente quando fomos derrotados pela Itália. O ato hiperbólico se repetiria em 94 diante da própria Itália, dessa vez de alegria, após vinte e quatro anos voltaríamos a levantar a taça, agora, pela quarta vez. É tetra! é tetra! é tetra! Quem não lembra disso? Ainda gostava do Galvão nessa época.
Eu vi Zico errar um pênalti, Maradona fazer gol de mão, Escobar ser assassinado por fazer um gol contra, o gentleman Zidane agredir outro atleta, mas também vi Romário ganhar uma Copa pra gente, Maradona fazer um gol épico, Ronaldo desbancar a arrogância do goleiro alemão Oliver Kahn, e vi durante esses anos todos o mesmo entusiasmo de milhões de brasileiros.
Agora quero o hexa, quero ver Neymar entortar os adversários, quero voltar daqui a um mês para minha realidade e ver um povo com o mesmo entusiasmo, motivação e união nas outras áreas de nossas vidas também. Que não percamos nunca a nossa fé e esperança de dias melhores. Quem sabe o hexa me faça voltar a falar com meu vizinho chato novamente.

Fifa Fan Piriguete Fest



Dando uma volta pelo Largo São Sebastião ontem à noite fiquei num cantinho a observar toda aquela muvuca. Inglês era o idioma oficial alí. Ingleses, croatas, camaroneses, italianos e piriguetes, muitas. Todas tentando a sorte grande com os gringos mochileiros ( inoceeente! ). E como elas se esforçavam pra se comunicar com os branquelos já vermelhos de tanto sol amazônico. Pensem numas meninas easygoing, mais easy do que going é bem verdade. "What your name?", "How is you?" A gramática era feia, mas as curvas e bundas à mostra davam a fluência necessária para o primeiro passo. Saí dali horrorizado. Nenhuma delas olhou pra mim!

Depois dos 40



Depois dos 40 o pensamento feminino muda, desembaraça.
O sexo não é mais performance, exaustão, é fazer o que se gosta e do jeito que gosta. É aproveitar dez minutos com a intensidade de uma noite inteira, é reconhecer o rosto do próprio desejo no primeiro suspiro, é optar pela submissão por puro prazer, sem entrar na neurose da disputa ou do controle.
A mulher de 40 não diminui o ritmo da intimidade, ela não tem um omento para a sensualidade, a sensualidade é todo momento. A beleza se torna também um estado de espírito, um brilho nos olhos, o temperamento. A beleza é resultado da elegância das ideias, não somente do corpo e dos traços físicos.
Ela não precisa mais provar nada. Já spfreu separações, e tem a consciência de que suporta o sofrimento. Já superou dissidências familiares e tem a consciência de que a oposição é provisória. Já recebeu fora, deu fora, entende que o amor é pontualidade e que não deve decidir pelo outro ou principalmente amar pelos dois.
Em suma, depois dos 40 anos não há depois, é tudo agora

terça-feira, 27 de maio de 2014

Meio velho

No meio da calçada tinha a tal da meia-idade. Ela chegou no cabo de uma bengala e foi logo revestindo o corpo de uma película de meios. Fui ficando meio barrigudo, meio careca, meio míope, meio curvado, meio capenga. Até a libido já andou se beneficiando de meios ilícitos para invadir Tróia. Meios que quase me concederam um presente de grego. Bastou meio cálice pro coração inteiro bombear bipolaridade. Acelerava e parava, acelerava e parava.
Descrente do maquiavelismo de que os fins justificam os meios, evitei algumas vezes os riscos da amarelinha, porém, sem sintomas do meia volta volver típico dos corajosos de meia tigela. Segui em frente com a cartilha tácita do fair-play no bolso da ética. Jamais trapaceei ao rolar os dados ou muito menos pulei duas casas no vacilo do adversário.
O fato é que não tenho mais a calçada inteira pela frente, a sirene do eufemismo melhor idade soou bem diante dos meus olhos verdes. Pai? Pai? Seus olhos não são verdes, são castanhos. Ah tá, agora a minha filha de doze anos vai dizer que estou gagá? Pai, não tenho doze anos, tenho sete! Ah, ok! é... eu vim aqui falar de quê mesmo? Hum lembrei, bom, apesar da miopia cortinada de catarata, vejo pau, vejo pedra, vejo o fim do caminho. Mas como diz o filósofo da modernidade, faz parte. Fazer o quê, não é? Dia desses frequentava o pediatra, que por sinal, semana passada prescreveu um tal de geriatra três vezes ao ano. Quer saber, gosto mesmo é do genérico proctologista. Pena que é só uma vez por ano.
Bom, me cabe agora sair do armário da idade e assumir meu quase meio século de experiência dado a efemeridade da vida e crente da fugacidade do meu ser, desço do muro dos cautos e desmarco a coluna do meio para o grande xeque-mate. Pois, daqui pra frente mais meia-boca nada fazer prometo não... não, não estou louco, foi só meu texto que perdeu a coesão, no entanto eu ainda não perdi o tesão! com osteoporose ou artrose, perda de audição ou hipertensão, vou ser feliz pelos meus meios, vou carpedinhar, viajar, aproveitar a meia-luz, a pouca sombra, o pôr do sol, o meio-termo, a lua cheia, o meio-fio, a calçada, o meio-dia, a meia-noite, a meia-idade, a minha idade, as amizades, o Milton no violão, o Harrison no pandeiro, o Janir no tamborim, a Auricênia no checo-checo, a Rosa na cuíca, a Monica no cavaquinho, a Lucimara no repique, e a vida, ah essa levarei na flauta. Enfim, quero aproveitar os anos que me restam com firma reconhecida no cartório de Deus.
Hoje acordei com o olhar 43!







domingo, 18 de maio de 2014

Vai meu Brasil ( Célio Medeiros, Paulo Medeiros e Milton Freitas )


Vai meu Brasil, calça a chuteira
Tem Brazuca quicando na área
O meu time está com a bola cheia.
Na arquibancadaa galera,pula torce e grita
Toca, toca, toca rasteira
Acerta um chute na gaveta

Uma vitória do povo
Hoje ninguém fica triste
Sair às ruas de novo
Gritar que a gente existe
O futebol para nós
É uma religião
Gritar a uma só voz
Brasil hexa campeão.

A Copa é nossa, Fuleco
vai ter repeteco com a família Felipão
Detono Argentina e Espanha
Pois deixe manha,
Sou Hexa campeão! Hexa campeão!


quarta-feira, 14 de maio de 2014

Taça na raça

Na minha casa somos todos "professores"
Minha irmã, minha mãe e meu irmão
Cada um já escolheu seus jogadores
Todos diferentes do Felipão
Durante o jogo é aquela agonia
Tem pipoca, falta unha, haja coração
Defendemos a bola
Chutamos na hora
Jogamos com a seleção
Família unida
Ganha jogo, meu bem
Meu cachorro já sabe
E o Scolari também
O título é nosso
Narra mais um gol aí Galvão
Esse ano não tem pra ninguém!

Irailton

Numa época de vacas raquíticas, sem dinheiro muitas vezes para o pão, ainda lembro do meu irmão entrando pela porta da sala e dizendo: Paulo e Marcos, vamos lá no centro comprar o All Star de vocês. Caramba, eu que andava de conga ia finalmente ter meu tênis "da hora". Era o primeiro salário dele, se fosse o contrário, eu provavelmente gastaria tudo comigo. Ele me ensinou o altruísmo. Lá se vão quase trinta anos... Hoje é aniversário dele e infelizmente não poderei abraçá-lo por conta da distância, mas sinta-se abraçado e beijado, meu irmão Irailton Jezus. Feliz aniversário. Te amo!

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Não suporto 3D - Dor de Dente

Uma dor no terceiro molar inferior me tirou da cama quando o sol ainda estava embrulhado pela noite. Doía a polpa dentária. Pensei que fosse morrer. Não era dengo, era dor de dente mesmo! Dor latejante, daquela que nos leva a questionar por que temos dente, por que em mim e não naquele aluno bagunceiro que não quer nada com a vida? Por que eu? Por quê?
Queria morfina, um antiinflamatório, um murro que fosse, talvez assim esqueceria a dor no dente, mas o máximo que consegui - já chorando de dor - foi o creme dental sorriso. Quanta ironia. Obturei o dente com pasta. Recurso paliativo que me devolveu a cama quentinha. Consegui trabalhar até às 15h sem o desconforto da noite anterior.
Não teve brecha, tive que visitar um dentista particular e abrir a mão, ou melhor, a boca. Após um raio x o dentista com um sorriso frouxo cravou o diagnóstico: Canal. Lá vai eu desembolsar um terço do meu salário. Ainda brinquei com o japoca odontólogo, canal livre, doutor? Ele afrouxou o sorriso de novo e pediu pra eu ler a placa na porta do consultório: No pain no gain!

domingo, 20 de abril de 2014

Correr

Pratico esporte desde tenra idade. Sou da época do futebol de salão, fui da seleção do colégio Estadual até estourar a idade. Estourar a idade é uma expressão usada no meio futebolístico, depois joguei campeonato amazonense adulto pelo Vilas, um time ali da Cachoeirinha, e isso sem contar minhas inúmeras participações no Peladão. Não, Peladão não é nenhum concurso de homens pelados, é só um campeonato de futebol amador.
Há oito meses descobri a corrida de rua por acidente, não acidente de rua, felizmente. E simplesmente foi amor a primeira largada! Nem sabia que ainda tinha essa coisa da competição dentro de mim e competir com fair play é muito salutar e me faz buscar dentro de mim, lá no lugar mais recôndito, sempre o meu melhor. Acredito que tem de ser assim em tudo que fazemos.
No esporte individual, diferentemente do coletivo, você não precisa esperar pelo outro, é você tentando superar seus próprios limites, e cá pra nós, essa sensação de não depender de terceiros é impagável. Gostaria que fosse assim em muitas outras áreas da minha vida, mas infelizmente não é assim que a banda toca, até porque se fosse não haveria bandas, só carreira solo.
Porém ainda faltava algo, faltava um amigo para me acompanhar nos treinos e convidei o Harrison Lopes, amigo de longa data, ele topou e de cara se tornou um adepto das corridas de rua também. E é durante os treinos que a gente bota a forma e o papo em dia.
Depois meu filho Paulo Medeiros Júnior também se juntou a nós. Menino esperto que é, sempre seguindo os passos do pai exemplar que sou, desculpem minha modéstia. Agora somos três praticantes desse esporte que tem me proporcionado uma melhor qualidade de vida e muito mais fôlego para o corre-corre do dia-a-dia. E na corrida de hoje, corri feito um coelho e meu amigo Harry feito uma tartaruga. Por falar em coelho, Feliz Páscoa!
P.S. Se eu não sacanear com ele, não tem graça.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Errar é umano



Passado a euforia de mais um título em cima do nosso maior rival e deixando de lado as gozações, sarros, sátiras, paródias e piadas em geral, venho através deste me posicionar diante de alguns fatos.
Não que eu seja o advogado do diabo, longe disso, porém acusar o rubro negro de roubo, vociferar que clube e torcedores são tão corruptos quantos os políticos que nos representam é um tanto quanto inverossímil, injusto, quiçá hiperbólico.
O futebol é arbitrado por - lá vai um truísmo - seres humanos e como tal estes são passíveis de erro. Errar é parte intrínseca do jogo, ou o Vasco nunca foi favorecido por erros de arbitragem? Na partida de hoje o "trio" de cinco controladores da regularidade do jogo errou sim ao validar o gol irregular do flamengo.
Obviamente isso não significa que houve favorecimento ilícito ao Clube de Regatas Flamengo, muito menos, uma suposta mala preta prenhe de dólares foi oferecida para os árbitros, como andam dizendo as mentes mais férteis.
Foi um erro horroroso? Foi, no entanto, não foi o primeiro e nem será o último. Os erros continuarão acontecendo, seja com chip na bola, com cinco, seis, sete árbitros dentro do campo, com consulta as emissoras de televisão, rádio e afins. Eles estarão sempre lá.
Agora, acusar de roubo é um erro grave, gravíssimo. Tem de ter provas, mas, como diz o lugar-comum, errar é umano (com U mesmo), então, vascaínos viscerais, vocês estão perdoados.

Carta a minha mãe



Mãe, hoje acordei com a cabeça tão alagada de pueris reminiscências que foi inevitável não armar minha rede com boca de lobo na varanda da minha infância. E no valsar da rede uma brisa saudosista lambeu minha face com memórias das várias Semanas Santas que passei no Careiro da Várzea especialmente na década de oitenta.
Acordar com o canto dos pássaros era uma briga de galo, e a senhora pacientemente acordava de um por um. Eu era sempre o último. Coitadinho do bichinho, deixa ele dormir mais um pouquinho, Joaquim. Assim a senhora exercia a sua autoridade de esposa no diminutivo das palavras.
Já a bordo do Andrade, de propriedade do seu cunhado e compadre, o café quentinho recebia a inusitada visita da bolacha de motor, ah... nada como afogar a bolacha modelo no café garçonete! Esse é um hábito que faço questão de cristalizar.
A culminância dos dias no Careiro era jogar bola no campinho de grama do tio joãozinho e os banhos na beira do Solimões com os primos, mas de acordo com seus dogmas religiosos tal culminância era impensável para a Sexta-feira Santa. Ficava puto, fechava a cara, esperneava, porém, aceitava. Paulatinamente fui entendendo o significado daquele dia.O bom disso é que nem varrer a casa a senhora permitia.
Comer goiaba trepado na goiabeira era tão gostoso quanto o futebol no campinho do tio joão. Como eu gostava de trepar nas goiabeiras. Por favor, que vocês não enxerguem nenhuma conotação sexual nessa oração.
Mãe, até dos mucuins me lembrei hoje. Voltava com o saco até o tucupi de mucuim. Não sei por que cargas d'água eu era um hospedeiro de mão cheia, ou melhor, de saco cheio. Para aqueles que não sabem, mucuim é um inseto encontrado na Amazônia que penetra no saco escrotal, causa vermelhidão e incomoda bastante.
Então mãe, assim tem sido esses meses sem a senhora. Muitas lembranças, um choro aqui, outro acolá, e assim será até o nosso reencontro. Não se esqueça que o pedaço seu que ficou dentro de mim é o que de melhor há em mim. Bença mãe.

domingo, 6 de abril de 2014

Que lugar é esse?

Onde será esse lugar que tanto queremos chegar? Onde seria esse porto seguro? Porto de Quimera? Cais da utopia? E essa pressa de chegar? Eu, por exemplo, às vezes me perco em atalhos na esperança de chegar logo. Só que nem sempre chegar logo significa chegar bem. Encurtar o caminho pode nos deixar ainda mais longe do Porto de Quimera. Agora deixa eu ir içar minhas velas e seguir pra onde o vento me levar.

domingo, 30 de março de 2014

Carrossel da saudade


Reunir com amigos de fé tem o poder de rejuvenescimento. Seja qual for o lugar escolhido para o encontro e ele logo vira o nosso playground cujo brinquedo favorito são as palavras. Fazemos delas a gangorra de nossas piadas, a cama elástica de nossas canções favoritas, o gira-gira de nossas vidas, o escorregador de nossas dores.
No playground dos quarentões é o carrossel da saudade que nos reúne em qualquer esquina, em qualquer praça, em qualquer terreiro, seja ele de terra batida ou de porcelanato esmaltado, seja o encontro regado a coxinha ou lasanha, guri cola ou coca-cola, sangue de boi ou um bom vinho chileno, o importante é o reencontro, o abraço caloroso, o beijo carregado de carinho, a sinergia, e principalmente a admiração que um tem pelo o outro.
Acordo tácito de nossas reuniões itinerantes: Entrar sem a pressa e a caretice da vida adulta. O barato do playground é a perda da noção do tempo. Investir em memória exige desapego. É um ingresso que custa caro, mas vale a pena. E encontrar com esse povo sempre vale a pena. Ontem foi rápido como um rato que atravessa a sala, porém foi gostoso como todas as outras vezes. Voltei para casa rejuvenescido.

sábado, 8 de março de 2014

Coisa boa é mulher

Coisa boa é mulher que madruga pelo nosso bem estar, lava, passa, cuida da casa, dos filhos, faz almoço, janta e café.
Coisa boa é mulher que soma, divide, multiplica, se anula, nos bajula, é moderna, antiquada, espirituosa, emburrada, é do jeito que o homem quiser.
Coisa boa é mulher que até nos dias de cólica atura nossas noites de bebida alcoólica. E quer prova maior de generosidade? Experimenta ficar bêbado e você será servido de um revigorante caldo de caridade.
Coisa boa é mulher que nas noites de frio nos aquece a alma arrepiando até os mais recônditos pêlos, e, ainda entretido pelo cigarro, recebemos aquele cafuné.
Coisa boa é mulher que quando o bicho pega pro nosso lado ainda está ali tal qual Madre Teresa de Calcutá, prenhe de fé, pronta pro que der e vier!
Coisa boa é mulher que à la Joana D'arc vai à luta, entra na guerra, morre queimada, mas não arreda o pé!
Coisa boa é mulher que uma vez emancipada é capaz de cometer suicídio para não mais voltar ao regime escravocrata a exemplo de Dandara, esposa do Zumbi dos Palmares.
Coisa boa é mulher que suaviza a aspereza masculina, dá curvas a linhas retas, perfuma nossos dias, traz a poesia no jeito de andar pro masculinizado mundo sem poemas.
Coisa boa é mulher que é colírio, bálsamo, morfina, música, ópio, irmã, filha, tia, madrinha, esposa, amante, MÃE, sublime criação da natureza.
Coisa boa é mulher que é paradoxo, pararaio, paralama, parachoque, paraquedas, parabrisa, para trânsito!
Coisa boa é mulher que nos aceita na doença, na tristeza, com dinheiro ou sem dinheiro, contanto que tenhamos o bicho de pé!
Então ilustre poeta Thiago de Mello, peço-te a gentileza de reescrever o Estatuto do Homem e faça-me o favor de incluir o décimo quarto parágrafo, que será: Fica decretado a partir de hoje que coisa boa é mulher!

terça-feira, 4 de março de 2014

Vou ali comprar cigarro



Sábado gordo de carnaval. "Vou ali comprar cigarro". Desculpa desbotada até de quem nunca, sequer, acendeu um cigarro só para tragar as festas de Momo à todos pulmões. E o cara só volta na quarta-feira de cinzas com a conta bancária mais magra que o rei Momo da Etiópia, e pior, vai comer ovo até o próximo pagamento fazendo jus a expressão "adeus à carne", do latim carne vale. Agora, quem nunca deu uma tragadinha nessa folia que atire a primeira bagana.
Aproveitando a escapulida enrolado na cortina de fumaça causada pela porção de ilusão que é o carnaval, o sujeito extravasa desejos escondidos e reprimidos nos escaninhos da alma sem nem se importar com o cantar do galo. Contrariando a máxima de que o corpo é a prisão da alma, o folião semi alforriado libera geral e dá vazão as fantasias no choro do cavaco e toque do tamborim.
Imagina um homem sambando de salto agulha dentro de um tubinho preto básico lá no bloco das Piranhas? Pois é, o carnaval tem esse poder, ou a alma frouxa dá esse poder. Poderosa, essa é a verdade, homens querem ter a sensação de como é ser poderosa. Porém não esqueçamos, quarta feira de cinza é hora de voltar pra casa de terno e gravata, uma carteira de cigarros na mão e uma boa explicação para dona Encrenca.

E o sol da liberdade?



O dia amanheceu cinzento. Aonde foi parar o sol da liberdade em raios fúlgidos? E o povo heróico que conquistou o penhor da igualdade com braços fortes? Será que ficou na porta estacionando os carros?
Alguém, por favor, salve! salve! minha Pátria amada, terra adorada, tão bela, porém agora programada pra só dizer sim. O gigante - pela própria natureza - acordou, foi às ruas de cara pintada. Não mostrou a cara. já não é mais forte. Será que é o teu fim?
Minha Pátria atravessou a rua sem olhar para os dois lados. Desafiou a própria morte. E tudo indica que ficarás eternamente deitada aos brados retumbantes. Ó mãe gentil, por onde andaste que nunca aconselhaste seu filho a não aceitar nada de estranhos? Brasil, quem te ofereceu esse cigarro com a promessa de lindos campos prenhe de flores?
Agora tu ergues da injustiça a clava forte e sua imagem resplandece as margens plácidas. Qual é o teu negócio? Paz no passado e glória no futuro? Desse jeito até quem te adora fugirá à luta. Pensando seriamente em ir em busca de terras mais garridas

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Mamãe eu quero...


A festa da carne vai começar. Na minha avenida só um bloco a desfilar, o bloco da nostalgia com seus adereços coloridos de salutar reminiscência. O baile infantil do Nacional Clube com irmãos, pais e colegas não era o meu favorito, mas tinha todo um charme por trás das máscaras das Colombinas que estavam sempre procurando seus Arlequins e eu ali perenemente de Pierrô. Minha timidez não me permitia arremessar uma serpentina sequer.
Porém, os amores platônicos de carnaval me alimentavam até o carnaval do ano seguinte quando tudo se repetia. Pierrô a fim da Colombina, Colombina a fim do Arlequim, Arlequim pegando a Colombina. Minha esperança era de um dia a canoa não virar. Bom, quase sempre virava e apareciam uns Zezés se insinuando diante da minha inocência que ficava a se perguntar: Será que ele é? Será que ele é?
Havia também o baile da Kamélia lá no Olímpico Clube, não estou aqui jogando confete não, mas esse sim era o melhor. Aquela negona testemunhou meu primeiro selinho carnavalesco. Já que não aparecia a Colombina, apareceu a Margarida olê, olê, olá.
Gostava tanto dela que num desses bailes cheguei a ver duas Kamélias. Tudo por conta de um folião mais animadinho que esfregou um lenço em meu nariz até o tucupi de lança perfume. Estava no meio do trenzinho que costurava o salão. O trem descarrilou. Saí cantando: Ó abre alas que eu quero passar e se essa porra não virar, olê, olê, olá, eu chego lá. E cheguei. A viagem durou uns trinta segundos. Me perdi dos meus colegas e me encontrei nos braços da Maria Sapatão.
tinha também o carnaval de rua com o povo jogando maizena em quem passava e entrava na brincadeira. Esse negócio de maizena deixou muita nega do cabelo duro. Tudo isso muito diferente das festas de rua atualmente. As bandas trouxeram para as bandas de cá muita violência e incoerência com o carnaval. Cachaça não é água não meus amigos. Então Jardineiras, cuidem de suas Camélias para que elas não caiam do galho.
Mamãe eu quero... quero os carnavais de outrora.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Autômatos não! Autônomos sim!



... E muitos deles ainda continuam neofóbicos. O medo do novo precisa ser depilado. É preciso estar atento à outras praças, outros mundos. Como diria Mário Quintana, um outro mundo existe. E o professor pode ser um guia para os novos caminhos. Porém o aluno tem de vestir o casaco de turista e se embrenhar na mata virgem do conhecimento.
Tirá-los da zona de conforto tem sido um desafio, Não é fácil sair do esquema livro e quadro branco, professor vomitando uma caralhada de informação e aluno passivo. Educação bancária é educação precária. Nem de banco eu gosto. Então meus alunos da rede pública, preparem-se para as sessões de depilação porque um outro mundo existe.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Malhação?



Pensando em malhar. Porém o ambiente de academia não me apetece muito agora que já sou um quarentão. A música bate estaca, que é até pertinente para o ambiente, não me entusiasma para os supinos, agachamentos e roscas diretas e invertidas. As Barbies de nariz empinado que desfilam suas malhas e tênis da hora como se estivessem pisando em ovos me embrulham o estômago apesar da bunda durinha e a barriguinha sarada.
E os brutamontes com muita massa muscular e pouca cinzenta falando fluentemente sobre suplementos. Entenda-se suplemento como eufemismo de "bomba". É claro que isso não é para todos, há, de fato, os que estão ali em busca de saúde e por que não diversão?
Antes que o texto se perca em minhas digressões, acho que vou continuar mesmo é fazendo meus abdominais. Um quando levanto da cama pela manhã e outro quando volto pra ela à noite.

domingo, 5 de janeiro de 2014

História do Brasil

Um dia chego em casa e a encontro chorando. As lágrimas deslizavam com o peso pesado da decepção. Quase não conseguia articular as palavras engasgadas nos soluços da depressão. Ele não quer nada com a história do Brasil. Com essa frase ela trouxe à tona a síntese do seu pranto. Exaurido após um dia árduo de trabalho restou-me abraçá-la num silêncio morno.
No dia seguinte veio o endosso da "tia" na sombra da paráfrase: Olha, ele não quer nada com a história do Brasil. Aquelas palavras ruminavam em minha cabeça como um mantra que não queria descolar da minha retina. Precisava fazer alguma coisa que não fosse transferir a responsabilidade da educação daquele moleque para tão somente minha esposa que já acumulava as funções de mãe, professora, cozinheira, babá, diarista e auxiliar de produção no chão de fábrica de uma multinacional exploradora como todas as outras, mas esse assunto fica para um outro texto.
Como nunca resolvi meus problemas com a covardia da violência - pois ainda prefiro conversar a bater - esperei pelo clichê da calada da noite. E ela veio cálida como são comumente as noites de agosto. Desci as escadas da minha casa segurando pela mão arredia do meu único filho até então. Lá vem o caminhão da Boticário como apelidávamos o caminhão do lixo e mostro a ele a dura realidade daqueles homens anexada a seguinte pergunta: É isso que você quer pra sua vida apesar de toda a dignidade da função? Você já tem quatro anos e é maduro o suficiente pra saber o que quer da vida.Ele respondeu que não sem dizer sequer uma única palavra.
Acho que ele entendeu muito bem minha mensagem revestida de muito amor e carinho. Três de janeiro de 2014 é um dia que ficará estampado na aba da minha memória. Sonhei com esse dia e o tão sonhado "pai, mãe, eu passei!" foi do jeito que imaginei.
Chego em casa e os encontro chorando, só que agora de felicidade. Junto-me a eles e engrosso o caldo do choro. A cumplicidade daquele abraço só nós sabemos. Não foi fácil chegar aqui, porém todo o nosso esforço valeu a pena. Agora,vá ganhar o mundo e escrever sua história junto com a do Brasil.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Quero-quero


Quero visitar lugares inóspitos do coração. Quero hospedar o amor na minha carcaça. Quero amar amiúde. Quero viver desguaritado. Quero exercitar meu diletantismo pelas palavras. Quero continuar afamado como trabalhador insigne. Quero alcançar meus paroxismos do bem. Quero educar para libertar. Quero me libertar para aprender. Quero aprender para ensinar.
Quero ver a escravidão branca dar branco. Quero ver o luto no vermelho. Quero ver a imprensa marrom desbotar. Quero ficar ainda mais íntimo do bom humor. Quero intimar os favores tácitos. Quero dizimar a dor. Quero querer.