quinta-feira, 28 de abril de 2011

Vida Nova

“Eu os declaro marido e mulher. O noivo pode beijar a noiva.” Como essa cara deve está ansioso para ouvir isso – esse cara atende pelo nome de Harrison – e finalmente colar a aliança no seu-vizinho da mão esquerda.
O anelar destro já tinha experimentado antes o abraço do anel do matrimônio, o “sim” já esteve na ponta da língua, o carequinha quase virou Cacheado (sobrenome da ex), mas o fura-bolo do destino indicou outro caminho pro meu amigo que sofreu pra entender que aquela alma não era sua gêmea.
Gemeu de dor, comeu o pão que o diabo amassou, bebeu corote disfarçado de caipirinha, experimentou o outro lado da moeda, em suma, ficou sem eira e nem beira. Até Joseph Climber – aquele cuja vida é uma caixinha de surpresas – sentiu pena do cara.
Mas numa bela manhã ensolarada ele decidiu curvar todos os dedos em volta do maior-de-todos e gritar: “Aqui pra ti sofrimento! A vida é bela, carpe diem, I will survive!” e tocou o barco rumo a felicidade (esse texto está ficando piegas).
Essa busca frenética pela felicidade a dois o levou a caminhos cheios de cacos de vidros, encontros e desencontros, promessas de nada, nada de promessas, relacionamentos efêmeros, rompimentos duradouros. O cara foi até apedrejado.
A certeza de encontrar alguém que de fato o compreendesse e o amasse na mesma voltagem foi o espinafre desse Popeye tupiniquim. São de suas faculdades mentais, foi justamente na faculdade que o sol brilhou, foi justamente na faculdade que seus olhos brilharam novamente.
Dessa vez tomou todos os cuidados necessários, pra quem nunca foi muito fã de fast-food, fast-love era algo corriqueiro nos seus namoros. Não cometeu os erros de outrora, nada de conhecer num dia e no outro já está dividindo o mesmo tubo de pasta. Agora sim, namoro standard.
Brincadeiras à parte, desejo do fundo do meu coração toda sorte do mundo nessa nova fase de sua vida. Vida a dois não é fácil, mas você com toda sua sabedoria saberá conduzir e contornar as adversidades e torná-las mindinhas.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Ela é uma figura...

Ela não para de me olhar. Aquela mulher me come com os olhos. É melhor deixar as barbas de molho. Está fácil demais. Essa experiência pode me custar os olhos da cara. Vou ficar na minha, a essa altura do campeonato não posso trocar os pés pelas mãos. Às vezes ter o olho maior que a barriga pode causa uma indigestão medonha.
Ela parece querer agarrar a situação com unhas e dentes, aproxima-se, trás consigo risos e alegrias, desce da sua Yamaha com o peito entreaberto na blusa. Não resisto. Qual o seu nome? pergunto. Ela bondianamente responde:
- Meu nome é Nímia. Metonímia.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Ponto Seguido

No início dessa década ainda éramos reticências, dois pontos: interrupção ou continuidade? Uma interrogação pendulava em nossas faces e um travessão nos engasgava a garganta. O ensino médio ou o antigo segundo grau não poderia ser o nosso ponto final. E uma vírgula, somente uma vírgula nos separava do ensino superior. Sem querer abrir parênteses e se esconder embaixo de aspas, fomos tomados pela teoria da evolução de Darwin e o aprendizado acadêmico foi o núcleo do sujeito e o processo de ensino-aprendizagem, me perdoem o pleonasmo, tornou-se o objeto direto de nossos objetivos. Voz passiva que nada! Queríamos o avatar, a metamorfose, não poderíamos continuar sujeitos oculto de nossa sociedade.
Mas o sucesso tem seu preço, não pensem que esse período foi simples, muito pelo contrário, foi um período composto de muitas adversidades e de muita oração também. E haja oração! O presente perfeito fica para os contos de fada. Havia uma dicotomia escancarada ali como um exercício de socialização. Racionais versus emocionais. Às vezes nos faltava corrompimento para o bem-estar do coletivo. Mas os nossos laços de amizade foram se espraiando e se fortalecendo ao ponto de não permitir que um objeto indireto nos levasse a digressão.
Segundo Aristóteles, só há conhecimento da realidade quando há conhecimento da causa – ou seja, conhecer é conhecer pela causa e nossa causa meus amigos, era nobre.
Livros e mais livros lidos, interpretados, analisamos textos, analisamos a relação entre língua e ideologia, quebramos paradigmas, descobrimos que a verdade depende da nossa formação discursiva, buscamos o sentido dos textos e principalmente buscamos o sentido da vida.
E cá estamos, passados cinco anos a freqüência do advérbio de nossos encontros é: às vezes, e é às vezes graças ao poder do verbo de ligação. Mas o mais interessante é que nossas reuniões são sem iguais, não há comparação, é superlativo, é mais que perfeito!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Filhos

É chegado o momento de mudar o disco, o ritmo dos dias - tem a partir do parto - a cadência dos choros da inocência. Planejados ou frutos de uma felicidade fugaz em braços de carnavais eles chegam como uma bomba-relógio subvertendo todo o nosso relógio biológico. Filhos...
Pedaço de mim,
Metade afastada de mim.
Berçando-os baixinhos em versos translúcidos de amor trocamos o dia pela noite, pernoites... Incontáveis pernoites... Trocamos fraudas, mama daqui, mama dali, mamadeira, haja mamadeira, ufa! É madeira de dá em doido. Filhos...
Pedaço de mim,
Metade exilada de mim.
Vêm os primeiros dentes, dói... Dói na gente. Dentes de leite, um sorriso, um deleite. Vêm os primeiros passos inseguros, os seguramos, os levantamos e paramos para vê-los se equilibrando na metáfora da vida. Filhos...
Pedaço de mim,
Metade arrancada de mim.
Eles nos fazem vagar em sonhos quiméricos prenhe de esperança escoltada pelo medo da perda e a coragem de quem ama como um bicho. Medo e coragem, essa antítese ambulante moldurada de porto-seguro disposta a extremos incondicionais. Filhos...
Pedaço de mim,
Metade amputada de mim.
Ensinamos-lhes o beabá e eles nos ensinam a conjugar verbos do tipo: perdoar, dividir, e principalmente amar. Eles crescem e não podemos mais respirar por eles. Mas como bons para-raios que somos estaremos sempre no alto de um arranha-céu desviando-lhes, ou pelo menos tentando, de todas as descargas desse moinho chamado mundo. Filhos...
Pedaço de mim,
Metade adorada de mim.
Agora rezemos para que nunca cantemos... Saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu...