domingo, 18 de dezembro de 2011

Trem Fantasma

Os fãs do futebol arte sonharam com o encontro entre Barcelona e Santos. Dois times que durante 2011 fizeram partidas memoráveis. Messi – o alquimista - fez gol de tudo que é jeito e por outro lado, Neymar – o carrasco - entortou muitos zagueiros.
Porém o sonho logo virou pesadelo. Messi assombrou a linha defensiva Santista, que nem de longe conseguia com Neymar, cujos cabelos denunciavam os fantasmas em campo, puir a turma do Puyol.
Do Daniel Alves, Durval só viu vultos. Assombração... Assombração... Sussurrou ele a seus companheiros de zaga. Arouca, o mais supersticioso, acredita que ali foi enterrado um Ganso.
Enquanto as redes do anjo Rafael balançavam de um lado, um tal de Valdés se embalava do outro com direito a água de coco e havaianas. Campo mal assombrado ou coisa do capeta? Que nada! Só um trem fantasma apelidado de Barça.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Manaus

Manaus...
Habitada por gente simples
De sorriso fácil e jeito faceiro
Esparrama suas idiossincrasias
No chão íngreme de seu canteiro

Manaus...
Aqui se abraça o inimigo
Como se fosse um irmão
Numa alegria atônita
De quem come peixe com as mãos

Manaus...
Que não prescreve o mormaço
De ar molhado como a dizer:
Sou este inferno de amar
Apedreja-me, e ainda terás o meu afago

Manaus...
Perene abrigo verde, tingido
De Eldorado para todas as tribos
E quando do teu arco a flecha parte
Longe de ti... O pior castigo

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Bem que se quis

KELEM saber de uma coisa, resolvi fazer uma sinJÉSSICA homenagem como forma de agradecimento por todo o carinho demonstrado por vocês ao longo do ano. Assim que terminou o primeiro semestre, a coordenadora do curso me chamou e disse a seguinte frase: Paulinho, teus alunos do 2A KELREM estudar contigo novamente. Nossa! Como fiquei FELIPE da vida! Mas logo em seguida pensei: Bom, repetir turma é ter que me reinventar pra não cair na zona de conforto, ou seja, terei que dar salto mortal, twist carpado,fazer a dança da MOTINHA (Rômulo), subir em GOIABEIRA (Wirginia), etc. Mas CESAR lá o que for, vou topar, MARCELA ou mais tarde isso ia acontecer mesmo. E feLIZmente não me arrependi, FARIAS (Andressa) tudo de novo, repetiria todos os PASSOS (Brenda) de outrora.
No entanto não posso negar que me decepcionei após a primeira avaliação, alunos priorizando outras coisas maiores ou menores, não sei, o fato é que agora tinha uma ROCHA (Rosana) no meio do caminho, mas prometi pra mim mesmo que não desistiria de vocês, me peguei com todos os SANTOS (Tatiane), não queria chorar por ter sido BRENDO, então decidi que ia botar pra SIMAS (Adriana). Pensei numa GAMA (Mônica) de possibilidades e optei por apresentações orais. Vou expô-los, se eles querem o sucesso, antes vão ter que comer BARROS (Danielle), não é ANDREZZA, BEATRIZ e ELIZÂNGELA? (aqui já estava me faltando imaginação de encaixar os nomes delas rsrs)
Hoje, THIAGO no peito a sensação de dever cumprido, pois EDWIN que se recebe. Eu dei e recebi e tenho certeza que além da aquisição de outro idioma passei a mensagem de que, como disse Monteiro Lobato, Um THAYS se faz com homens e livros.
PS: Feliz NATHALIA e um próspero ANNA novo!

sábado, 26 de novembro de 2011

Anjo no nome, Angélica na cara

O silêncio sepulcral falava mais alto naquele momento. As palavras encharcadas pelo choro engolido perderam o poder do conforto, elas não tinham sentido, nada mais tinha sentido. Tome Doutor, esta tesoura, e... Corte minha singularíssima pessoa. Foi o que refletiu no retrovisor interno quando encontrei os olhos baços de dona Osmarina, minha tia-madrinha.
Eu no volante do carro, minha tia no banco traseiro e um calor infernal, seguíamos com destino a casa de meus pais enquanto pensava na crueldade do destino. O inferno é aqui mesmo, latejava em minha cabeça. Esbocei uma pergunta, mas o que perguntar naquela hora? Quantos anos ela tem, tia?Ou quem sabe, a senhora acredita em Deus?Porém o nó em minha garganta censurou tais perguntas.
Mais uma conferida no espelho retrovisor e agora as lágrimas apostavam corrida até o precipício do queixo. O rosto corado carecia de um afago. Desabei. Impotente e minúsculo diante do choro contido de minha tia-madrinha. Mal conseguia dirigir. A vontade era de parar o carro e ir abraçá-la e dividir o peso da perda.
E os porquês existentes entre o céu e o inferno afivelavam os cintos ali naquele cemitério de esperança em que se tornara meu carro. Por que minha filha? Por que minha família? Por que ela? Logo ela?A filha única, obediente, religiosa, altruísta? A fé diante da banca do ceticismo. Porém, dona Osmarina em momento algum cometeu o pecado da blasfêmia.
Enfim, chegamos à casa de meus pais com a má notícia legendada em nossas faces. Sintetizei com uma palavra que até minutos atrás não fazia parte do vocabulário de minha tia. Metástase. Só nos restava rezar e alimentar nossa fé em doses de morfina.
Prima Ângela morreria cega três semanas depois de um câncer de mama. Aos trinta e um anos de idade ela teve seus sonhos estuprados. O espelho perdeu o aço...
Essa semana me peguei pensando nessa fatalidade.

domingo, 30 de outubro de 2011

A agonia acabou

O time agonizou por meses na UTI, e nos últimos três, respirou com ajuda dos aparelhos. Sofria o time e todos que estavam a sua volta. Esboçou algumas melhoras, mas logo tinha recaídas e o sofrimento continuava. Já não dependia só de si mesmo para sobreviver, um câncer minou o seu miolo de zaga e um ataque cardíaco e fulminante castrou o ataque do tufão – tufão esse que já não assustava mais ninguém.
Diante desse quadro clínico complicadíssimo, o tufão ainda teve uma melhora no sábado – dizem que é aquela melhora que todos têm horas antes da morte – mas não resistiu e no final da tarde do dia 25 de novembro de 2006 o time bateu a caçoleta e foi condenado a voltar para terceira divisão do campeonato brasileiro. As estrelas já não brilham mais e o arco-íris ficou preto e branco. O futebol amazonense está de luto.
Texto redigido em 2006 quando ainda existia futebol em Manaus, hoje times do futebol amazonense disputam a série D e continuamos a torcer por times de outros estados. Até quando?

domingo, 16 de outubro de 2011

A Danadinha

Daninha Machado. Aos dezessete anos transbordava saúde. Suas curvas eram perfeitas. Rosto angelical, olhos cor de mel, cabelos na altura dos ombros e uma sensualidade que fazia os homens viajarem entre o céu e o inferno.
Filha única de um casal de pipoqueiros, morava no morro do careca – bairro da periferia de Pau Grande. A casa era humilde assim como seus moradores. Havia um quarto, uma cozinha, uma sala e um banheiro.
Na sala havia um sofá marrom rasgado, na cozinha, um fogão de duas bocas que só funcionava uma e no quarto uma cama de casal cujo colchão já estava fundo, pois, lá dormiam três pessoas. Era impossível imaginar que ali naquele casebre morava uma menina-mulher tão linda.
Daninha era ambiciosa e tinha um sonho de se tornar uma juíza de direito a qualquer custo. Ela sabia que para isso precisaria se dedicar aos estudos em tempo integral, pois, no final do ano prestaria vestibular para direito. Pela manhã freqüentava a escola e a tarde estudava mais quatro horas afinco. Não havia fins de semana e nem feriados para descansar, ela estudava sem parar.
Enquanto seus pais iam trabalhar vendendo pipoca na frente do circo, Daninha corria para casa de Neco – seu melhor amigo – para ler os livros de literatura brasileira que seus pais não tinham condição de comprá-los. Neco fazia questão de emprestar seus livros para ela, quando Daninha precisava fazer pesquisas na internet ele sempre oferecia o computador dele.
Daninha nunca havia tido um namorado em toda sua vida, algumas paqueras, mas sua obstinação pela carreira de juíza de direito não a deixava pensar em outra coisa. Neco fez uma ou duas investidas, mas sem sucesso. Neco era de família rica e seus pais não aprovavam sua amizade com a moça pobre, só que Neto não dava a mínima para o preconceito ridículo dos seus pais.
Uma bela noite seu Getúlio – pai de Neco – ouviu uma conversa de Daninha com Neco no escritório de sua casa.
- Poxa, Neco. Não sei se vou conseguir chegar até o final dessa corrida maluca. As coisas lá em casa não andam nada bem. Depois que o circo foi embora, a renda dos meus pais caiu bruscamente. Às vezes não tenho nem o dinheiro da passagem do ônibus.
- Se você quiser posso te emprestar algum dinheiro? De quanto você precisa?
- Não, Neco. Muito obrigado, você já me ajuda muito.
Neco seria capaz de fazer qualquer coisa para ajudar Daninha. Enquanto isso, seu Getúlio esfregava as mãos e um sorriso cretino surgia em seu rosto.
O fim do ano se aproximava, estávamos em meados de Outubro. Daninha chegou atrasada na escola pela primeira vez. Só entrou em sala no segundo tempo e o professor de matemática olhou surpreso para ela.
- Daninha! Essa hora!? O que aconteceu?
- É que eu fiquei estudando até tarde ontem e acabei me atrasando.
Daninha passou a aula toda bocejando. Fato esse que irritava os professores. Se há algo que professor não gosta de ver é aluno bocejando em sala de aula. Esses atrasos se repetiram durante toda aquela semana, ou melhor, durante todo aquele mês.
Primeira semana de Novembro e nada de Daninha aparecer na escola. Uma noite Neco resolveu visitá-la e pela primeira vez ele não a encontrou em casa. Seu Jorge – pai de Daninha – disse a ele que ela tinha ido fazer um trabalho de equipe com algumas colegas.
Estranho. Pensou Neco. Há uma semana ela não aparece na escola, e outra, não há nenhum trabalho de equipe para ser feito.
Passado esses cinco dias Daninha voltou a escola, passava a maior parte do tempo cochilando. Nos intervalos fazia questão de pagar o lanche dos colegas. Neco então decidiu questioná-la o porquê dela não freqüentar mais a casa dele, já fazia algum tempo que não lia os livros que provavelmente constariam na prova do vestibular.
- Como você mudou nesses últimos meses. Não foi mais lá em casa por quê?
- Ando meio ocupada com as tarefas caseiras. Tu sabes né, quando meus pais não estão em casa, tenho que fazer tudo.
- Ah, mas nem por isso devemos esquecer os nossos amigos, né verdade?
Daninha se aproximou e deu um beijo na testa de Neco.
- Não esqueci de você não, meu amor.
Neco ficou boquiaberto com a atitude de Daninha. Ela nunca havia feito isso. Daninha era sempre de uma frieza glacial. Ela realmente é outra pessoa, pensou Neco.
Véspera da prova de química, Neco resolveu dar um pulinho na casa de Daninha e novamente ele não a encontrou em casa. Neco então caminhou rumo a parada de ônibus mais próxima e a alguns metros dali estava Daninha se despedindo de uma amiga e entrando num foxcross preto. Neco ainda acenou para Daninha, mas seu aceno foi em vão.
No dia seguinte Neco evitou fazer comentários, afinal de contas, era dia de prova e os colegas de classe já estavam com os nervos à flor da pele. Daninha foi a primeira a entregar a prova, fato esse que nunca acontecera, ela era sempre a última a sair. Após a prova Daninha foi embora sem falar com ninguém, deixando Neco um tanto quanto triste. A amizade deles já não era mais a mesma.
Neco então decidiu por um fim nisso tudo. Última semana de dezembro, ele sabia que no ano seguinte todo mundo seguiria caminhos diferentes. Queria resolver essa situação a qualquer custo. O que fez Daninha mudar de comportamento? Por volta das onze horas da noite do dia vinte e um de dezembro, aproveitou que seu pai não estava em casa e pegou escondido um dos carros da família e foi até a casa de Daninha. Ao se aproximar da casa de sua amada ele avista o crossfox preto encostado no meio fio com os faróis acessos. Resolve chegar mais perto e não acredita no que vê...
Caralho! JWI 9710. Eu conheço essa placa. Filho da puta, safado. Esbravejou Neco batendo com as duas mãos no volante do carro. Não conseguindo mais conter a razão, ele decidiu sair do carro e correu em direção do crossfox, Neco estava fumaçando pelas ventas.
Neco abre a porta do carro e vê a mulher dos seus sonhos impossibilitada de falar e seu Getúlio com os olhos para o teto. Os dois se assustaram com toda aquela barulheira e seu Getúlio rapidamente pegou uma arma no porta-luvas e foi quando percebeu que não se tratava de um assalto. Por alguns segundos um silêncio ensurdecedor tomou conta dos três.
- Filho, não é nada do que você está pensando, eu....
- O senhor não me deve explicações. Interrompeu-o Neco.
Enquanto isso, Daninha pegou três notas de cinqüenta reais dentro do porta-luvas e saiu sorrateiramente.
Ao chegar em casa Neco contou tudo a sua mãe, sem poupá-la de nenhum detalhe. Dona Amélia escutou tudo passivamente, parecia já saber de tudo. Trinta minutos depois chegou seu Getúlio com a arma em punho e perguntando por Neco. Dona Amélia apontou para a cozinha e seu Getúlio cego de raiva tropeçou no tapete persa da sala de estar e foi quando dona Amélia e Neco aproveitaram para desferir sete facadas. Quatro nas costas, duas no pescoço e uma no braço esquerdo.
Os dois se afastaram de seu Getúlio, dona Amélia ficou aos prantos e Neco olhando para suas mãos ensangüentadas começou a dar gargalhada como um louco desvairado. Seu Getúlio ainda respirou e conseguiu se virar e balbuciar a seguinte frase:
- O testa... testa... testamento... está no nome da... Da... Da...

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Vítimas da Internet

Jucundino, isso mesmo, Jucundino estava completamente apaixonado. Logo ele que sempre teve muita dificuldade em conseguir namoradas devido ao seu tipo físico não muito privilegiado pela natureza.
Jucundino cujo apelido era vassoura, explico o porquê. Garoto alto, braços finos e pernas longas, cabelo tipo espeta-caju e magro como uma vaca do sertão, não fazia muito sucesso entre as garotas do seu colégio nem no bairro onde morava, daí o seu vício de passar horas e mais horas em frente ao computador nas salas de bate-papo ou como os jovens preferem chamar; salas de chat.
O cybercafe que ficava localizado próximo a sua escola era o seu point, uma vez que ele não tinha computador em casa. Todo santo dia Vassoura fazia uma visita ao cyber “Point Net” para teclar com seus vários amigos virtuais que fizera durante esses seis meses freqüentando as salas de bate-papo. Às vezes até esquecia que tinha de ir a escola.
Com a descoberta desse mundo virtual, com todas as facilidades proporcionadas pela internet, o deslumbramento foi inevitável, pois, Vassoura tinha o mundo aos seus pés e tinha mais amigos virtuais que amigos de carne e osso.
Numa dessas conversas via net, Vassoura conheceu uma pessoa chamada Ketlen Maclaren. Ela morava na mesma cidade que ele e era apenas dois anos mais velha. Vassoura tinha só quinze anos e pouca experiência com o sexo oposto.
Ketlen demonstrou-se bastante interessada no varão, pois, sua timidez acabou chamando a atenção da moça que já não via a hora de conhecê-lo pessoalmente, mas Vassoura protelava a data desse encontro sempre que ela partia para o ataque.
Vassoura tinha medo de decepcioná-la, já que durante seus chats ele se apresentava como se fosse o próprio Fábio Assunção e como ele já estava envolvido até o tucupi, o sentimento de medo passou a dominá-lo e o monstro da decepção que ele mesmo criou era maior que sua vontade de ter Ketlen Maclaren em seus braços.
A intimidade entre o casal era enorme, havia uma cumplicidade na relação deles que só há entre os casais cujos relacionamentos são duradouros, ambos já sabiam quase tudo um do outro, com exceção do endereço. Esse era um outro problema, Vassoura morava numa favela e Ketlen era de uma família bem conceituada.
A pressão por parte de Ketlen para conhecer Vassoura já estava ficando insuportável, ela queria a qualquer custo ficar cara a cara com o homem que ela havia escolhido pra ser o homem da sua vida. Então Ketlen resolveu dar um ultimato para Vavá - nick usado por Vassoura no mundo virtual – conhecê-la.
Vassoura se sentindo acuado, não conseguiu mais adiar o tão esperado encontro, mas armou um plano maquiavélico e mandou um amigo no seu lugar para encontrar com a sua amada. O encontro estava marcado para uma sexta-feira, 13 de Agosto de 1994. Exatamente às 19h30min Ketlen Maclaren chegou ao bar de nome Armandu – nome bem sugestivo por sinal.
Enquanto isso, Vassoura acertava os últimos detalhes com seu amigo Ratinho, que iria conhecê-la, mas não poderia tocá-la sequer. Tudo acertado Ratinho chegou com meia hora de atraso. Ketlen estava muito ansiosa e foi logo se apresentando.
- Olá. Então você é o Jucundino. Muito prazer em conhecê-lo.
Ratinho ficou fascinado com tamanha beleza e não hesitou em esticar o braço para cumprimentar a moça e beijá-la no rosto.
- O prazer é todo meu. Você é realmente do jeitinho que você se descreveu.
Ketlen tinha olhos verdes, cabelos louros e compridos, rosto angelical, cintura de violão e pernas bem torneadas.
- Você também é do jeito que eu imaginava. Braços fortes, peito cabeludo, moreno cor de jambo, que por sinal é minha fruta favorita. Você gosta dessa fruta?
Ratinho fez um sinal com a cabeça. Naquele momento ele concordaria com tudo que ela dissesse.
Ketlen já estava impaciente com a lerdeza de Ratinho e propôs que eles saíssem daquele local.
- Eu preciso te falar a verdade. Disse Ratinho.
- O que foi? Você não gostou de mim?
- Não, não é isso. Muito pelo contrário. Você é maravilhosa, mas eu não posso continuar com essa farsa.
- Mas que farsa?! Gritou Ketlen.
- Eu não sou o Jucundino.
Nesse momento Ketlen Maclaren ficou furiosa e pegou Ratinho pelo colarinho e perguntou:
- Quem é você? O que está acontecendo aqui? Quem é você seu imbecil?
Ratinho então abriu o jogo e contou tudo a ela sem poupar-lhe nenhum detalhe.
Ketlen saiu de lá e foi direto pra internet com o intuito de conectar-se e poder teclar com Vassoura e dizer-lhe poucas e boas.
Vassoura estava em casa aflito e ávido por notícias do encontro entre seu amigo Ratinho e sua namorada virtual.
Ratinho sumiu sem nada comentar com Vassoura que naquela noite não pregou o olho pensando no que poderia ter acontecido. No dia seguinte seu café da manhã foi visitar Ratinho que obviamente não estava em casa e seus pais informaram Vassoura de que ele havia viajado para o interior e que deveria passar alguns meses por lá.
Vassoura então foi para o cybercafe na tentativa de teclar com Ketlen. As horas pareciam se arrastar e nada da Ketlen se conectar a net. Após uma hora e trinta e três minutos finalmente Vassoura vê surgir no canto da tela do monitor a seguinte mensagem:
Ketlen acabou de entrar.
Vassoura logo foi se desculpando. Explicou o fato mais de cinco vezes, mas Ketlen simplesmente o ignorava, não queria teclar com Vassoura, ela ainda estava muito amuada com toda aquela situação vexatória. Depois de dez minutos, ela então decide se manifestar. Vassoura então decide pedi-la em casamento e por essa Ketlen não esperava.
- Kero kzar com vc.
- Mas, e seus pais? Vc nem trabalha. Tah louco?
- A gente dá um jeito. Mas tudo q eu kero agora eh ficar com vc.
- Posso pensar?
- Não. Kero uma resposta agora.
Ketlen Maclaren então disse sim e eles então marcaram um novo encontro. Dessa vez o encontro seria na casa do Vassoura. Na verdade Vassoura era órfão e morava com um irmão mais velho.
O encontro foi marcado para sexta-feira da semana seguinte, 20 de agosto às 19h30min.
Na quinta-feira, 19 de agosto, Vassoura teclou com Ketlen e ela disse que ele teria uma surpresa no dia seguinte e que acontecesse o que acontecesse o amor que ela sentia por ela continuaria o mesmo.
Vassoura insistiu para que ela contasse a surpresa, mas ela pediu para que ele esperasse, pois faltavam menos de vinte quatro horas para o encontro que mudaria suas vidas.
Então, Vassoura aceitou suas desculpas e esperou impacientemente pelo dia seguinte. Levantou várias vezes durante a noite, a ânsia estava triturando seu sono. Às cinco da manhã já estava de pé. Fez o café da manhã, começou a fazer uma arrumação na sua humilde casa e não foi à escola, afinal de contas, era o dia do seu noivado.
Ketlen passou o dia no salão de beleza, fazendo tudo aquilo que uma mulher as vésperas de um noivado faz. Seu pai demonstrava certa inquietude, estava tão nervoso quanto à futura noiva.
Vassoura está no portão de sua casa a espera de Ketlen Maclaren. 19h20min surge aquele carro luxuoso de cor preta com os vidros todo revestido de insulfilm 100%. Não dava para enxergar nada. O carro pára bem em frente Vassoura. Com as pernas bambas ele se aproxima do carro, Ketlen surge esplendida, parecia a dama de vermelho.
Vassoura estava tão nervoso que nem convidou Maclaren para entrar. Ambos se olharam da cabeça aos pés. Ketlen Maclaren nem mesmo se espantou ao perceber que ele não era nada daquilo que sempre falou. Simplesmente correu em sua direção e roubou-lhe um beijo, um beijo francês, aquele de língua.
Ele ficou inerte, parecia estar nas estrelas. Quando seus lábios se afastaram dos lábios dela, Vassoura pode perceber que Ketlen tinha um gogó avantajado e uma voz não tão feminina. Ketlen percebendo aquele olhar de desconfiança, nem titubeou em revelar seu segredo.
- Então, meu nome verdadeiro é Antonio Carlos. Isso vai mudar alguma coisa em nossa relação?
Vassoura não sabia o que falar, as palavras fugiram, o sangue fugiu da sua face.
- Fala comigo meu amor. Disse Antonio.
- Você me enganou durante todo esse tempo, isso não se faz, você brincou com os meus sentimentos.
- E você, não? Você é completamente diferente do que me falou e nem por isso estou arrependida. Quero casar com você meu bem.
Vassoura correu dentro de sua casa, pegou uma pistola 765 de seu irmão e ameaçou atirar em Ketlen caso ela não saísse dali imediatamente.
Ketlen saiu aos prantos nos braços de seu pai que tentava acalmá-la. Desse dia em diante Vassoura deixou de freqüentar o cybercafe e passou a dedicar-se de corpo e alma aos seus estudos. Seis meses depois Ketlen casou-se com Ratinho e foi morar na França onde eles adotaram duas crianças ainda recém-nascidas.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Louco Abreu


Microconto. O menino Abreu resolveu brincar fora de casa de botar fogo nas coisas. Sua mãe desesperada ao ver as labaredas da peraltice do filho espirrou um grito daqueles. Tá louco Abreu!

domingo, 2 de outubro de 2011

A Garota do Fantástico

A Garota do Fantástico exibe em cada esquina de suas curvas, poderes de Super Poderosa em 3D. Magnética e vestida para dizimar, exala seu perfume kryptonita causando vertigem naqueles pobres seres de duas cabeças e nenhum cérebro.
Pouco se importa com tanto cavalheirismo oportunista distribuído em volta de cada paralelepípedo por ela pisado, seu coração-canil não hospeda mocinhos e muito menos galãs de meia cumbuca. Para fazer check-in no canil de seu coração tem que ter pedigree e estar preparado para o súbito check-out.
Ela intimida até PhD em cretinice por sua presença de palco e no seu terreiro... Cachorro não canta de galo.

domingo, 25 de setembro de 2011

Maioridade




Dezoito anos atrás nascia de uma partitura normal, portanto dolorosa, o tão festejado Songfest. Na primeira nota um susto, nada de choro. Mais uma nota e nada, na terceira e derradeira ele rasgou o silêncio com um acorde afinado e um lirismo pueril. Características peculiares dos vitoriosos. Nasceu com um sopro no coração... um sopro musical.
Era pequeno como uma clave de sol, tão miudinho que dava . Apenas vinte e um gramas era seu peso, dizem por aí que é o peso da alma e foi exatamente no que se transformou o miúdo Songfest, na alma do Mackinley.
Produção pra de independente, mas independente disso ele não foi fruto de um solo carnavalesco, muito pelo contrario, foi fruto de muita elucubração de uma Guerra. Ser filho de uma Guerra não é pra qualquer um, o Songfest – apadrinhado pela determinação - nasceu de pra lua.
Mas tinha um si no meio do caminho, e se ele não sobreviver? Pois, recurso financeiro para bancar o menino com nome de gringo quase nenhum, porém não tinha como retroceder, nem pensar! Cecília tinha certeza e fé que o sol iria rutilar sinais de dias límpidos para aquele calouro de berço musical.
Começou a andar cedo dispensando o engodo andajá, tanta avidez assim exigia mesmo era um cantajá e não deu outra, cedo balbuciou as primeiras palavras: dó, ré, mi. Neto de radialista, não poderia ter sido diferente, música já estava arraigada ao Songfest desde tenra idade.
Os dias foram varando os anos e o Songfest cresceu e apareceu, mudou de voz sem nem desafinar e seguiu seu rumo cantando conforme o tom. Com uma auréola de vibrações agudas e graves foi deixando de ser recital para ganhar corpo de orquestra sinfônica sob a batuta agora da mãe e das tias também.
A maioridade este ano cingi-lhe a cintura e lhe apresenta um futuro matizado de trabalho árduo, sucesso e a merecida prosperidade. Desvelo, garanto eu, não lhe faltará. Com tanto carinho recebido daqueles que acompanharam e acompanham seu crescimento só amplifica a responsabilidade de continuar caminhando com pés bem fincados no palco da vida.
Então agora Cecília, vem pra cá e assume que o filho é teu!

Songfest é um festival de música da escola que trabalho. É o evento em que os alunos se divertem muito. As apresentações começam pelos professores cantando.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Bodas de madeira

Para fugir do clichê, direi que parece que foi anteontem. Mas lá se vão cinco anos de aliança. Aliança: ato ou efeito de aliar, união, do latim alligare.Mas não vou ficar aqui gastando meu latim tentando definir a palavra casamento. Casamento não se explica, se vive ou se morre. Então Durval e Suymara optaram por vivê-lo dia após dia como manda a cartilha. Opção The Road not taken, eu diria.
Da Rua Rio Madeira – onde tudo começou – para bodas de madeira. É pra comemorar mesmo, meu casal 20, pois, segundo pesquisas, a maioria dos casamentos nos tempos atuais não emplaca dois anos. Mas nem só de casal 20 vive-se um relacionamento, temos os momentos A gata e o Rato também, ou para os mais jovens, momentos Mr and Mrs Smith. O pau quebra e o couro come. É meus amigos, é madeira de dá em doido.
No primeiro ano de casamento, eles comemoraram bodas de papel, cada um fez o seu papel,tudo direitinho, nada de papelão. Estrada asfaltada, dois anos depois lá estavam eles celebrando agora bodas de algodão, era só olhar na cara deles para perceber que o “sim, eu aceito” tinha sabor de algodão doce. Algodão doce nos remete a criança, porém, ainda não era o momento.
Mais uma parte da estrada do casamento pavimentada. Três anos juntos, bodas de couro, manooo! Momento perigoso dos relacionamentos, é quando geralmente o homem pula a cerca, mas a Suy não é nem um pouco boba, a cerca dela é elétrica. E convenhamos, O Durval seria incapaz de tal covardia e tampouco louco. Durval não é do mal.
Quatro anos depois só flores? Não. Relacionamento nenhum é feito só de flores, porém, as bodas sim, essas são de flores. Período de recapeamento do asfalto percorrido. Um buraco aqui, outro acolá, no entanto, nada que prejudicasse a caminhada. Ah, claro, não poderia deixar de citar que a sementinha foi plantada no quarto... No quarto ano.
E cá estamos comemorando com vocês esses cinco anos de união matrimonial e desejando o maior número de bodas possíveis e com a certeza de que com a chegada da Dudinha o laço de amor de sua família ficou ainda mais forte e inquebrável assim como é madeira de dá em doido.
Voltarei a escrever um texto para vocês de novo quando completarem bodas de ouro, daqui a exatos quarenta e cinco anos, isso claro se minhas osteoporose e artrose me permitirem. Parabéns!!!
PS. Suy, você é sui generis...

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Poema Sujo

No perfume de suas palavras,
A alquimia de seus toques,
Embriaga-me rosa rara...
No balé de nossas línguas.

domingo, 31 de julho de 2011

Com o diabo no corpo

Vou fazer um tour pela oficina do diabo prenhe das más intenções, quero anarquizar aquele caldeirão. Vou convidar o tinhoso pra uma partida de xadrez na Praça do Fogo, e ao vencê-lo com um xeque-mate depois de uma silenciosa tragada do cigarro do capeta vou pegar sua puta como prêmio. Vou levá-la aos céus no inferninho mais fuleiro do inferno. O cramulhão vai comer o pão que ele mesmo amassou e só vou me dar por satisfeito quando ouvir da boca do coisa-ruim: Meu Deus! O inferno é aqui mesmo!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Utilidade Pública


O Ministério da Saúde adverte o Ministério dos Transportes: Roubar causa câncer de mamata.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

O Piano - Uma história de amor

Novembro de 2000 fui convidado pela amiga Suymara pra fazer parte do quadro de funcionários de uma escola de idiomas, franquia recém-chegada em Manaus e na época administrado por Durval Braga e Juarez cujo sobrenome não me recordo agora. Então Janeiro de 2001 tive o prazer de conhecer o Durval Braga, cara simpático e jocoso, piadista e proativo, asséptico, habilidoso com as palavras, enfim, um homem que transborda ideias. Espera aí, não pensem que essa história de amor é entre mim e ele, nada contra, mas não é isso não.
Bem, no decorrer desse primeiro ano de trabalho rolou uma sinergia surpreendente entre os professores, coordenação e direção daquela escola, até porque a equipe era bastante coesa, palavra essa que no nosso dia-a-dia tinha se tornado, eu diria, lugar-comum (a cada dez palavras pronunciadas por Juarez, sete delas era a palavra coeso), mas o Durval com o seu rico vocabulário a chamaria de metáfora desbotada.
O tempo foi passando e se encarregando de cada vez mais aproximar especialmente quatro pessoas: Eu, Suymara, Harisson e o proprietário da escola Durval, é claro, não necessariamente nessa ordem. Começamos então a sair juntos nos fins de semana, uma pizza aqui, um cineminha ali, um charutinho acolá, uma cervejinha de vez em quando, e na hora de voltar pra casa, adivinhem quem levava quem? – pois é, eu me encarregava de deixar o Harrison, e o Durval - muito altruísta – fazia questão de levar a Suymara para casa... Eu acho.
Uma bela noite fomos parar no Clave de Sol, lugar fino e requintado, localizado na rua Belo Horizonte, nome de rua bem sugestivo por sinal, e o Durval maquiavelicamente já estava enxergando – parafraseando a música - além do horizonte.
Estava ali esboçado o quadro de uma noite auspiciosa para Durval e Suymara, ao botar os pés naquele lugar, nos deparamos com um ambiente propício para o início de um grande romance, havia apenas dois ou três casais, luz ambiente, uma bateria e um piano. Durval nega de pés juntos, mas já estava tudo premeditado.
Não demorou muito e ele foi logo mostrando seus dotes musicais, enquanto tocava bateria, a admiração estava albergada nos olhos rutilantes da Suymara e pra minha surpresa nos olhos do Harrison também (ah viado!). Não satisfeito ele decidiu tocar piano, ah, aí é pra acabar, a carne é fraca, foi necessário que eu e o Harrison segurássemos o queixo da Suymara.
Brincadeiras à parte, ficou decretado naquela noite, ao som de skyline pigeons fly, que Durval e Suymara deixariam de fazer voos solos para então tornarem-se piloto e co-piloto da mesma aeronave.

Dez anos depois...

Suymara e Durval casaram-se, montaram uma empresa de tradução e consultoria lingüística e mais recentemente dedicam-se a mais nova membro da família.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A visão do inferno

A penumbra esbranquiçada tem um violento cheiro de orgia no ar. A música de gosto duvidoso – é o que menos interessa naquele momento - anima homens solteiros e casados na perene busca animalesca por fetiches e aventuras ilícitas. Na mesa de plástico branco as garrafas de cerveja quente se misturam as vendedoras de sexo em trajes fuck me baby e combinam com a performance fria das strippers.
Na passarela-vitrine putas fora das formas padrão de beleza vêm e vão com um sorriso alugado na cara. É ali naquele cadafalso que elas fazem a exposição da mercadoria de quinta categoria. É a lei da sobrevivência. Elas se rebolam literalmente para tirar daquele mundo profano o pão sagrado de todos os dias.
Os clientes avarentos em seus lares, sonegadores de impostos em seu país e impostores do amor tornam-se verdadeiros perdulários diante dos vícios e dos prazeres selvagens da carne. Os pobres carentes saem da casa só para maiores tão desbotados quanto suas calças jeans encardida. E só caem na real no dia seguinte quando nem o dinheiro do ônibus os infelizes têm. O que eles têm agora é muita vantagem pra contar. Fiz isso, fiz aquilo, foi assim, foi assado, foi cozido, foi guisado.
No próximo pagamento uma nova página dessa busca insaciável pelo prazer será escrita. Parafraseando o saudoso Tim Maia, no inferninho vale tudo, só não vale dançar homem com homem nem mulher com mulher.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Mulheres que pintam os cabelos

Tenho certeza que com esse texto estarei pisando em campo minado. Serei jogado aos leões, apedrejado, me prenderão na solitária, serei condenado à tortura chinesa, cadeira elétrica, etc. Pois vou tratar de um assunto muito delicado. Mulher que pinta os cabelos.
O que falar de uma mulher que pinta os cabelos? Muitos logo dirão que se trata de vaidade, outros dirão que é uma questão de marketing pessoal, mudar é sempre bom, alguns falarão que é porque homem gosta mesmo é de mulher loura, elas são a preferência nacional.
Então vamos lá, vaidade. É considerada um dos grandes males da humanidade. Matamos por vaidade e morremos pelo mesmo motivo.
A vaidade é cheia de artifícios e se ocupa em tirar da nossa vista e da nossa compreensão o verdadeiro ser das coisas, para lhes substituir um falso e aparente.
Marketing. Por trás de qualquer jogada de marketing há sempre uma informação omitida, as letras miúdas que nós nunca lemos, ou seja, mente-se pra atrair o outro.
Mudar sempre é coisa de gente inconstante. O Raul Seixas adoraria, afinal de contas metamorfose ambulante era com ele mesmo.
Homem gosta mesmo é de mulher loura. Homem gosta de mulher, seja ela ruiva, morena, loura, negra, baixinha, gordinha, magrela, etc. Mas as que pintam os cabelos não são confiáveis, pintar os cabelos é dissimular, é querer ser o que não é.
Isso não quer dizer que não respeite as mulheres adeptas do coloramento, muito pelo contrário, tanto é que não as chamam de louras falsas, jamais, prefiro usar de eufemismo do tipo, aquela mulher é um falso cognato. É mais poético e dependendo do grau de instrução dela você ainda recebe um sonoro obrigado.
Descobri em uma pesquisa feita em dez países que tanto para os homens como para as mulheres o mais importante é ser carinhoso e sensível. Elementos como estes estão à frente de senso de humor, boa aparência e boa remuneração.
Então mulheres brasileiras lindas, vocês não precisam desse recurso, a beleza já está inclusa no pacote de vocês, a pele macia, o corpo desenhado caprichosamente, vocês são sublimes e belas por natureza.
Um beijo carinhoso pra todas vocês, inclusive para aquelas que batizei de falso cognato.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Mestre Cuca

O sol já se escondia timidamente instilando um cinza agudo no côncavo do azul como que não querendo presenciar aquele encontro de olhos baços sem nem sequer faiscar uma fagulha de sinergia a ponto de incendiar quarenta e poucas almas, que à primeira vista, se desenharam tão minúsculas.
Olhares atravessados de cima pra baixo fazia daquela sala de produção de conhecimento um verdadeiro formigueiro de desconfiança. Linha cruzada logo no primeiro encontro me fez até apetecer que aquilo fosse tão somente um trote.
Enquanto dava com a língua nos dentes e gastava meu latim, agradecia as paredes por elas terem ouvidos e o discernimento de filtrar entre tantas vozes paralelas o que tinha de informativo naquele meu discurso preliminar.
A essa altura dos acontecimentos a lua linda, surgira nua vestindo de paciência meu corpo lasso de uma longa jornada de trabalho segurando um marcador de quadro branco na mão direita e um apagador branco – como que a pedir paz - na mão esquerda e falando classicamente agora em uma língua bárbara.
Poderia deixar correr à revelia e respeitar as idiossincrasias de cada um naquela sala, porém aquele insólito comportamento comprometeria todo o planejamento de um semestre meticulosamente programado para ser efetivamente bem sucedido.
Então, resoluto a transformar aquela massa heterogênea em homogênea, vesti o avental do mestre Cuca, untei a panela com amor, coloquei um punhado de dedicação, uma pitada de paciência, uma colher de chá de altruísmo, recheio de comprometimento e de cobertura... Superação.
Deixei a sala de aula naquele primeiro encontro com cara de quem comeu e não gostou, hoje redijo esse texto com o sabor doce da saudade e com a certeza de dever cumprido e de um semestre de muito aprendizado para mim. Despeço-me com um grande OBRIGADO!

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Exagerado?

...A nossa música nunca mais tocou... E nem tocará mais. Perdi o norte, estou desatinado. E amanhã quando os raios solares vazarem pelas frestas da persiana e encontrarem meu corpo entorpecido com um buraco no meio do tórax, agradecerei a Vênus se não mais sentir a batida ritmada do meu algoz.
O teu amor é uma mentira... Uma mentira cabeluda de fazer inveja a jovem guarda. Você me vendeu porções de ilusão a bordo de um calhambeque e o bobo aqui embarcou num Cadilac mitomaníaco consumindo cada gota do seu desequilíbrio psíquico.
O tempo não pára... Como preciso acreditar nisso agora. Do contrário me afundarei nessa areia movediça dos dias lentos pós ruptura brusca. A varanda do meu apartamento tem sido uma companheira de noites longas e vazias. Tem sido um cigarro atrás do outro na tentativa de fazer um sinal de fumaça para a deusa Afrodite.
...A emoção acabou...

Amigos, não estou conseguindo comentar nos blogs de vocês, não sei o que está acontecendo por aqui, ok? Não esqueci de vocês não, tenho lido seus textos, sim. abs

sexta-feira, 10 de junho de 2011

And the Oscar goes to...




Na madrugada baldia, numa cama king size com dimensões de um latifúndio sem rainha, ecoam fragmentos do jogo de palavras de uma conversa off the record legendando assim - durante a longa noite – um curta-metragem em flashes tão reais quanto serão as cenas do videoclip que devem ir ao ar sem edição, sem figurantes, numa sessão avant première somente para eles, os atores principais. E a memória seletiva ficará encarregada de cada detalhe do making of.
O silêncio do quarto escuro, como um set de filmagens de um filme de terror, testemunha a agonia entre lençóis, travesseiros, flashes de conotações, denotações e a polução noturna é inevitável. Ela vaza inevitavelmente seus pensamentos cantando I want you... Trilha sonora do vira e mexe solitário no apartamento 207.
Se o céu pode esperar, ele não. A avidez pela estréia o leva a atitudes dignas de um Homem-Aranha, ele sobe pelas paredes sem nem pensar em dublês, ele não quer luz e nem câmera, só ação.
Em quantas partes será exibido esse filme? Dependerá muito do sucesso de bilheteria do primeiro. Candidato ao Oscar? Ainda é cedo. Por enquanto mesmo só dublagem.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Uma partida...

Cafu... Dida... Por trás... Meteu... É goool! Gol contra...

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Vai encarar?

Manaus, sexta-feira, 14:50h, sol escaldante. Corro em direção ao banco, só tenho dez minutos. O sinal fecha, é hora de atravessar a rua. Próximo de mim para um corsa azul metálico e no volante do carro um azulão quase metálico.
Vou caminhando a passos largos em direção a faixa de segurança e olho sorrateiramente para o corsa azul metálico e o negão fita-me com olhos gordos, tira um raio x de mim, sinto-me nu. O rosto esquenta, ruborizo, baixo os olhos e caminho rumo ao meu compromisso bancário.
Paro do outro lado da rua, espero um carro passar. A sensação de estar sendo observado inquietava-me, antes de cruzar a rua minha curiosidade leva-me a olhar para trás e para minha não surpresa o morenão ainda fitava-me com olhos ávidos.
Sinal verde. Ele engata a primeira, dá um sorrisinho maroto e acena com a mão direita. Sorrio amarelo, balanço a cabeça para os lados e finalmente chego a tempo na casa bancária.
Só pra deixar bem claro, sou despido de qualquer tipo de preconceito, mas bem que poderia ter sido uma morenaça, não é?

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Comunicado

A senhora Emoção Profana da Silva está intimada a comparecer no Tribunal de Contas da Razão. Motivo: Superfaturamento de adrenalina.

domingo, 29 de maio de 2011

É o papai?

1:18 da tarde marca o relógio no painel do carro. Dirijo ao som de You're always on my mind. O pensamento voa longe quando o telefone grita.
- Oi.
- É o papai?
- Oi, meu amor.
- É o papai?
- Não. É o teu namoradinho. Brinquei com ela. Ela então desligou e ligou novamente.
- É o papai?
- Sim, minha filha. Sou eu.
- Eu te amo, tá?
Não tive nem tempo de responder. Larissa - 4 anos - desligou o telefone e o bobão aqui ficou com os olhos alagados e a voz embargada.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

De repente 40

... E ainda tem gente que acha uma maldade a palmada no ato do nascimento. A partir dos 40, antes fosse uma palmadinha.
Parece que foi ontem o teste do pezinho que hoje calça 40. Até outro dia ainda usava fraldas fluffy, e se os próximos 40 anos voarem também, logo, logo estarei usando fraldão pampers e fazendo o caminho do avesso à La Benjamin Button.
A barriga tanquinho – que nunca foi nenhuma coca-cola - virou uma pochete com uma leve tendência a camburão, no entanto a qualidade das lavagens... Ah... É de uma Brastemp.
Até um dia desses era pagão, 40 anos depois de batizado não pago nem minhas promessas e nem sei se tenho religião, deu apagão! Todavia isso tampouco me incomoda, Deus também não tem, já dizia um tal de Mahatma Gandhi.
Nos anos oitenta me divertia nas aulas dos “tios” de inglês, hoje aos 40, me divirto como “tio” de inglês.
No colégio D. Pedro II veio meu grito de independência, foi lá que aprendi a me virar - por favor, não há nenhuma conotação sexual nisso. Estudei pouco, confesso, contudo brinquei muito de coquinho-cocão. Lembram? Coquinho, um beijo inocente no rosto, cocão, um beijo inocente na boca. É bem verdade que só catava coquinho, coitado. Ah, mas hoje quebro o coco e não arrebento a sapucaia! Tem um diabinho aqui no meu ombro direito me perguntando quem estou querendo enganar com esse discurso.
Das paqueras na Praça da Saudade, só saudade. Foi lá que dei o meu primeiro beijo aos 14 anos. Quando me lembro disso dá vontade até de esquecer. Glorinha era o nome dela, morava na Compensa, 14 anos e alguns dentes cariados, ou melhor, estragados mesmos. Lembro que cheguei a pensar durante o beijo que estávamos nos beijando em cima de uma fossa. O leitor deve estar se perguntando, sim, mas o beijo em si foi bom? Então caro leitor, vou ser bem franco, o beijo foi podre! Ao longo desses 40 anos sempre que conhecia uma Glorinha, já ia logo perguntando de cara: Glorinha da Compensa?
Das peladas no Caldeirão do Diabo ficaram muitas reminiscências. O futebol no final da tarde era sagrado, ou profano, como queiram. Com a urbanização desenfreada pela qual passa Manaus, recentemente construíram um inferninho no local, ou seja, quando quiser reviver as peladas do tempo de outrora é só voltar no caldeirão que o diabo continua lá com suas peladas.
Então cresci e parei de brincar de casinha pra correr atrás de construir a minha. Troquei boates por Buarque, cartinhas por Cartola, papai Noel por Noel Rosas, larguei um jardim para cuidar de uma Rosa que me daria além de flores, dois dos meus maiores amores. Hoje estou com 40, não tenho 40, tenho tão somente os anos que me restam.
Bem, se esse texto ficou a desejar, minha trajetória até aqui não. Não tenho do que reclamar e acredito que não tenham muito a reclamar de mim também. Parafraseando Roberto Carlos; Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi.
Então meus amigos, se é verdade que a vida começa aos 40, encerro essas mal redigidas por aqui porque acho que já está na hora de mamar.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Os caras

Com um Machado nas mãos fui desbravando o caminho espinhoso da ignorância e conhecendo caminhos nunca antes pisados por esses pés limpos de cultura. Um Machado genuinamente carioca, aparentemente frágil, desamolado, mas da melhor qualidade.
Nesse chão coberto por Ramos e ladeado por Rosa e Matos com cheiro de Lima conheci um Padre que me mostrou a via crucis de forma nua e crua. Fui cercado por Anjos que alumiou as trevas que insistiam em me acompanhar, e no meio do caminho tinha um Coelho, mas não hesitei em botá-lo pra correr e descartar qualquer hipótese de fracasso.
Isto posto e posto isto, castrei toda e qualquer possibilidade de me perder na selva dos iletrados e levantei o Bandeira da liberdade. Leia e liberte-se. Viva a liberdade!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Nota de Falecimento

Faleceram ontem às 18hs vítimas da famigerada gripe suína aqueles que em vida se chamaram Heitor, Cícero e Prático.
É com grande pesar que as famílias das vítimas convidam a todos para a missa de 7º dia que acontecerá daqui a exatos sete dias na Igreja Nossa Senhora dos Porquinhos.
O mundo animado está de luto, pois, os três porquinhos provaram do próprio veneno.

domingo, 15 de maio de 2011

É nesse vaivém

Mal me aproximei e ela já foi se abrindo
Sem hesitar a atravessei
Sem nenhum pudor fui e voltei
Foi assim, seco, nem hi e nem bye
O ponto G estava bem aos meus pés
Que sensibilidade, um simples toque
E ela se arreganhou gemendo
Não demorou muito e logo percebi
Que não era o único
Ela estava ali, inerte, sem preconceito
Despudorada... A porta safada!!!!!!

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Dias contados

Caros leitores,

Foi um prazer inefável conhecê-los, pois venho através deste informá-los que estou com o prazo de validade contado. Recentemente fui ao médico e ele descobriu que tenho uma doença irreversível.
Tudo começou com uma dor na cabeça do dedão e estendeu-se até o peito do pé. Os dias foram se passando e a dor subiu pra batata da perna, logo depois chegou até o pé da barriga. Mais tarde essa dor migrou pra boca do estômago e não satisfeita estacionou no céu da boca. No último exame detectaram um nódulo no pé da orelha.

Diagnóstico: Catacrese.

domingo, 8 de maio de 2011

Dona Nonata

Você deixou seus sonhos para que eu sonhasse.
Derramou lágrimas para que eu fosse feliz.
Você perdeu noites de sono para que eu dormisse tranquilo.
Acreditou em mim apesar de meus erros.
jamais esqueça que levarei para sempre um pedaço do seu ser dentro do meu próprio ser...

Obrigado Mamãe!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Metamorfose Ambulante




A voz oscila, falha. É grave, é aguda, é motivo de gozação. Um rascunho de bigode se desenha discretamente nos cantos da boca como se fosse um time de futsal – são cinco pêlos de um lado e cinco de outro. Algumas espinhas já começam a pipocar no rosto. Os banhos agora são mais freqüentes e mais demorados. O garoto é a própria testosterona.
No bolso da calça do colégio um bilhetinho. Na hora da saída quero falar contigo atrás da cantina. No Orkut mais scraps. Na prateleira do quarto a coleção do Max Steel ainda faz parte da rotina do menino de quinze anos que acabara de trocar a pubescência pela puberdade, se é que existe alguma diferença.
Depois do banho demorado tem que rolar um perfume, o penteado despenteado tem que estar impecável. A mãe condena o que as gatinhas do colégio absolvem. O desencontro dos cabelos. Penteia esse cabelo direito menino! Que coisa mais feia!
O pai não fala nada, mas se fosse a filha, a Larissa, a conversa seria bem diferente, não é seu Paulo? Podes crê, meu.
O fato é que os anos voaram e as brincadeiras de criança vão cada dia mais dando espaço aos CDs de música, ao isolamento no quarto, aos telefonemas secretos, fins de semana na casa de colegas de escola, etc.
Atravessar a rua de mãos dadas com o pai nem pensar. O que os brothers vão pensar dele. Ele tem que manter a fama de mau. Sabe que um vacilo diante dos amigos pode custar um ano inteiro de piadinhas corrosivas que serão lembradas daqui a cem anos, e não estou aqui usando de hipérboles não. Nessa idade a crueldade dos sarros é implacável.
E quando indagado sobre as súbitas mudanças ele parafraseia Thiago de Melo: Não tenho nada de novo apenas o jeito de andar. Ah moleque!
PS: Júnior ama os pais e sua admiração por eles está tatuada em sua retina. Ele, muito mais que o pai, é coruja.
Parabéns meu filho por mais um aniversário!!

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Vida Nova

“Eu os declaro marido e mulher. O noivo pode beijar a noiva.” Como essa cara deve está ansioso para ouvir isso – esse cara atende pelo nome de Harrison – e finalmente colar a aliança no seu-vizinho da mão esquerda.
O anelar destro já tinha experimentado antes o abraço do anel do matrimônio, o “sim” já esteve na ponta da língua, o carequinha quase virou Cacheado (sobrenome da ex), mas o fura-bolo do destino indicou outro caminho pro meu amigo que sofreu pra entender que aquela alma não era sua gêmea.
Gemeu de dor, comeu o pão que o diabo amassou, bebeu corote disfarçado de caipirinha, experimentou o outro lado da moeda, em suma, ficou sem eira e nem beira. Até Joseph Climber – aquele cuja vida é uma caixinha de surpresas – sentiu pena do cara.
Mas numa bela manhã ensolarada ele decidiu curvar todos os dedos em volta do maior-de-todos e gritar: “Aqui pra ti sofrimento! A vida é bela, carpe diem, I will survive!” e tocou o barco rumo a felicidade (esse texto está ficando piegas).
Essa busca frenética pela felicidade a dois o levou a caminhos cheios de cacos de vidros, encontros e desencontros, promessas de nada, nada de promessas, relacionamentos efêmeros, rompimentos duradouros. O cara foi até apedrejado.
A certeza de encontrar alguém que de fato o compreendesse e o amasse na mesma voltagem foi o espinafre desse Popeye tupiniquim. São de suas faculdades mentais, foi justamente na faculdade que o sol brilhou, foi justamente na faculdade que seus olhos brilharam novamente.
Dessa vez tomou todos os cuidados necessários, pra quem nunca foi muito fã de fast-food, fast-love era algo corriqueiro nos seus namoros. Não cometeu os erros de outrora, nada de conhecer num dia e no outro já está dividindo o mesmo tubo de pasta. Agora sim, namoro standard.
Brincadeiras à parte, desejo do fundo do meu coração toda sorte do mundo nessa nova fase de sua vida. Vida a dois não é fácil, mas você com toda sua sabedoria saberá conduzir e contornar as adversidades e torná-las mindinhas.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Ela é uma figura...

Ela não para de me olhar. Aquela mulher me come com os olhos. É melhor deixar as barbas de molho. Está fácil demais. Essa experiência pode me custar os olhos da cara. Vou ficar na minha, a essa altura do campeonato não posso trocar os pés pelas mãos. Às vezes ter o olho maior que a barriga pode causa uma indigestão medonha.
Ela parece querer agarrar a situação com unhas e dentes, aproxima-se, trás consigo risos e alegrias, desce da sua Yamaha com o peito entreaberto na blusa. Não resisto. Qual o seu nome? pergunto. Ela bondianamente responde:
- Meu nome é Nímia. Metonímia.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Ponto Seguido

No início dessa década ainda éramos reticências, dois pontos: interrupção ou continuidade? Uma interrogação pendulava em nossas faces e um travessão nos engasgava a garganta. O ensino médio ou o antigo segundo grau não poderia ser o nosso ponto final. E uma vírgula, somente uma vírgula nos separava do ensino superior. Sem querer abrir parênteses e se esconder embaixo de aspas, fomos tomados pela teoria da evolução de Darwin e o aprendizado acadêmico foi o núcleo do sujeito e o processo de ensino-aprendizagem, me perdoem o pleonasmo, tornou-se o objeto direto de nossos objetivos. Voz passiva que nada! Queríamos o avatar, a metamorfose, não poderíamos continuar sujeitos oculto de nossa sociedade.
Mas o sucesso tem seu preço, não pensem que esse período foi simples, muito pelo contrário, foi um período composto de muitas adversidades e de muita oração também. E haja oração! O presente perfeito fica para os contos de fada. Havia uma dicotomia escancarada ali como um exercício de socialização. Racionais versus emocionais. Às vezes nos faltava corrompimento para o bem-estar do coletivo. Mas os nossos laços de amizade foram se espraiando e se fortalecendo ao ponto de não permitir que um objeto indireto nos levasse a digressão.
Segundo Aristóteles, só há conhecimento da realidade quando há conhecimento da causa – ou seja, conhecer é conhecer pela causa e nossa causa meus amigos, era nobre.
Livros e mais livros lidos, interpretados, analisamos textos, analisamos a relação entre língua e ideologia, quebramos paradigmas, descobrimos que a verdade depende da nossa formação discursiva, buscamos o sentido dos textos e principalmente buscamos o sentido da vida.
E cá estamos, passados cinco anos a freqüência do advérbio de nossos encontros é: às vezes, e é às vezes graças ao poder do verbo de ligação. Mas o mais interessante é que nossas reuniões são sem iguais, não há comparação, é superlativo, é mais que perfeito!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Filhos

É chegado o momento de mudar o disco, o ritmo dos dias - tem a partir do parto - a cadência dos choros da inocência. Planejados ou frutos de uma felicidade fugaz em braços de carnavais eles chegam como uma bomba-relógio subvertendo todo o nosso relógio biológico. Filhos...
Pedaço de mim,
Metade afastada de mim.
Berçando-os baixinhos em versos translúcidos de amor trocamos o dia pela noite, pernoites... Incontáveis pernoites... Trocamos fraudas, mama daqui, mama dali, mamadeira, haja mamadeira, ufa! É madeira de dá em doido. Filhos...
Pedaço de mim,
Metade exilada de mim.
Vêm os primeiros dentes, dói... Dói na gente. Dentes de leite, um sorriso, um deleite. Vêm os primeiros passos inseguros, os seguramos, os levantamos e paramos para vê-los se equilibrando na metáfora da vida. Filhos...
Pedaço de mim,
Metade arrancada de mim.
Eles nos fazem vagar em sonhos quiméricos prenhe de esperança escoltada pelo medo da perda e a coragem de quem ama como um bicho. Medo e coragem, essa antítese ambulante moldurada de porto-seguro disposta a extremos incondicionais. Filhos...
Pedaço de mim,
Metade amputada de mim.
Ensinamos-lhes o beabá e eles nos ensinam a conjugar verbos do tipo: perdoar, dividir, e principalmente amar. Eles crescem e não podemos mais respirar por eles. Mas como bons para-raios que somos estaremos sempre no alto de um arranha-céu desviando-lhes, ou pelo menos tentando, de todas as descargas desse moinho chamado mundo. Filhos...
Pedaço de mim,
Metade adorada de mim.
Agora rezemos para que nunca cantemos... Saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu...

quinta-feira, 31 de março de 2011

NÓS e OS OUTROS ( Por Carmem Guerra)

Por sermos nós nos desatam,
Lançam-nos à terra,
Aos outros,
Mundos incomunicáveis...
Sobreviventes,
A tatear pedras brutas,
Nas arestas do mundo forjamos a vida,
Fazemos morada de quatro paredes
E nelas, penduramos o espelho:
“Espelho, espelho meu”
Que não alberga os outros.
Mas eis que os outros – nossa sina e inferno -
Derrubam as portas,
Invadem a casa,
Convocam-nos pra guerra: ofício diário de conviver
E assim seguimos,
A caminhar num chão de espelhos em pedaços...
Sobre estilhaços que nos ferem
E condenam à irremediável visão: dos outros? De nós?

Por sermos sós nos libertam...

domingo, 27 de março de 2011

nós e os outros

nosotros hibridismo de nós e os outros no ato de um julgamento de uma atitude não condenamos a nós o polvo de nossos mecanismos de defesa condena sempre os outros transferir ferir esses outros desumanos é cinicamente mais fácil julgar a nós nos outros outros e nós híbrido atroz nós e nossos nós nó cego nós cegos no pecado da negação não nos navegamos com o receio da onda quebrar no caudaloso recife de corais de nossa fragilidade mergulhar nos outros o caldo da alma na vida alheia esse espelho sem aço na praia dos outros a areia é quase sempre mais alva para alguns nem doer dói surfar na onda do venha a nós para outros no entanto o vosso reino é um calabouço de angústias lhes deteriorando nos cactos de seus relacionamentos um texto assim mesmo sem maiúsculas ou minúsculas sem pontuação sem respiração caótico confuso tal qual nós tal qual os outros

domingo, 20 de março de 2011

Vida e morte

Numa conversa com a amiga Carmem Guerra tivemos a ideia de escrever sobre qualquer coisa, e o primeiro assunto escolhido foi vida/morte. Trocamos os textos e agora quero compartilhar com todos (2 pessoas) que passam por aqui. O meu vocês já leram.
Prosa poética na veia.

Vai longe o tempo em que vida era uma palavra, nada mais; e morte, o avesso incompreensível da vida: era o terror de ver sandália emborcada ; o pânico de deitar à mesa ao meio-dia; o temor de misturar manga com leite; a sensação aterradora de descobrir um morto vivo na solidão do quarto escuro... Ah, tudo tão simples no quintal da infância...
Mas eis que já não vamos à Espanha buscar nossos chapéus... desfez-se a roda, afrouxaram-se as mãos, e pálidos de espanto nos distanciamos para a execução do dangerosíssimo salto... até nos descobrirmos sem ar, imersos no real significado de tudo o que tivemos naquele ontem, onde era tão fácil encher os pulmões.
Nas profundezas, vida e morte são agora bem mais que duas palavras ou uma antítese, já conhecemos seus múltiplos sentidos e podemos contemplá-las em trajes íntimos. Perdemos a inocência!
Mas estará sempre a doer o nosso quintal da infância... porque eram doces os frutos daquela inconsciência... Vida e morte lá, brincando juntas... velório e festa... apenas duas palavras bailando na superfície de tudo o que um dia fomos.

segunda-feira, 14 de março de 2011

EU ESCREVI UM POEMA TRISTE

Para celebrar o dia da poesia

Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!

Mario Quintana - A Cor do Invisível

PS: Não esqueça do Japão em sua oração!

quinta-feira, 10 de março de 2011

Vida – corredor da morte

No corredor da morte chamado vida os cadafalsos pavimentam nossos caminhos de uma extremidade a outra sem pouparem nem mesmo aqueles que construíram impérios materiais indeléveis. O silêncio abraçará o surdo, o mudo, o cego.
Temos a opção de caminharmos rumo à cascata da finitude com pés calcados de humildade e amor com a certeza de que com o cerrar das pálpebras e o encontro das mãos sobre o peito o lugar-comum missão cumprida confortará aqueles poucos que segurarão nossas mãos até o último suspiro.
Distribuir flores no breu quente de uma rotina espinhosa é fácil aqui nessa folha de papel no conforto do meu quarto climatizado. Quantas vezes já me deparei com a oportunidade de perdoar e não o fiz. Perdoar é um exercício que exige alma grande.
Puxar a descarga do rancor não nos diminui em nada, o máximo que pode acontecer é a caixa de gordura ficar entupida, mas quanto mais vezes ela entupir mais milhas ganharemos no plano de milhagens para o paraíso.
A outra opção é caminharmos calçados de orgulho, empáfia e com a sensação de termos um rei na barriga, para então percebermos lá no final do corredor quão estreito ele foi ficando ao longo dos anos.
Acho que meu texto sofreu uma digressão, pois vim aqui escrever sobre a morte, mas fui surpreendido pela vida. Hoje acordei pensando nessa safada.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Angélica

Escrevo para todos, meu caro amigo...

noite de volta ao samba meu amor ficou num copo vazio. Lágrima de um choro bandido no subúrbio de outros sonhos. Tanto amar... Tanto mar... E depois ouvir um sonoro você não sabe amar.Vai trabalhar vagabundo. De fato, qual foi a filosofia desse meu amor barato? Paulo, cálice. OK, me deixe mudo. Caminho observando as vitrines sem compromisso, sinal fechado, espectros se formam e ouço a voz da impertinente razão: acorda amor. Angélica, pedaço de mim, vou até o fim. Você ainda vai me seguir como o pivete que seguia as mulheres de Atenas. E quando nossos olhos nos olhos se encontrarem reluzirá o romance de futuros amantes. Darei uma feijoada completa, farei uma ode aos ratos, trocando em miúdos, será a minha reconstrução.
Ao Chico com carinho!

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Maior Amor

O sol murupi descasca a noite e encontra-o de bruços amorenando-lhe a tez e enxugando-lhe as costas serenada de um pesadelo que ainda não acabara. A luz do poste em frente ao teatro da rua da Instalação mantém-se fiel ainda por alguns instantes antes de se despedir do ócio do infeliz e deixá-lo por conta da sua própria sorte.
Pés lentos em saltos quase nenhum mais com o amanhecer da madrugada, vultos de passos firmes e botas apressadas não hesitam em esnobar-lhe. Norberto está capotado ali sob olhares sorrateiros entregue ao flagelo duro da sarjeta. O celular no bolso dianteiro esquerdo toca uma, duas vezes e desliga. Norberto acorda deitado e levanta-se do colchão asfáltico nutrindo por sua vez a esperança de recauchutar a noite anterior enquanto sacode o lençol de poeira em meio a uma dor de cabeça que latejava ainda mais com as badaladas do sino da igreja da Matriz. No display do telefone móvel acusava quinze chamadas não atendidas e uma mensagem não lida. Uma sensação prenhe de curiosidade leva-o a conferir de quem eram as insistentes ligações. A ligeira suspeita bate com o número e a mensagem, Mamãe. Norberto já imaginando o teor da mensagem, prefere não lê-la. Norminha no auge de seus trinta e três anos, como todas as outras mães, só sossegava quando o filho matizava o calabouço de suas preocupações.
Norberto caminha por um túnel de flashes tal qual um filme rico em flashback. Porta bang-bang, penumbra, assovios, muitos assovios. A fome intima-o a parar na esquina dos sucos para embuçar o estômago com pastel de queijo e suco de acerola e enfim dar cabo do que acontecera durante a última reunião das estrelas. Os fios do pensamento puídos pelas muitas doses de felicidade etílica dificultavam montar o quebra-cabeça da porta bang-bang, penumbra, assovios, muitos assovios.
- Olha, não temos mais pastel. Pode ser outra coisa?
- Sim. Então traz um sanduíche. Responde Norberto com olhos famélicos.
Aquele jovem cujos ossos pareciam querer furar a pele estava angustiado entre o passado e o futuro sentindo na pele o dissabor do sanduíche da vida. A traição de sua memória o inchava de perguntas sem respostas que num súbito olhar pareciam vir de carona nas pupilas do atendente da lanchonete, um senhor encarquilhado, mas que ainda gozará o tétrico prazer de mais alguns anos por esse plano terreno. Para alimentar uma família, jornada dupla ainda não era o suficiente ao arauto da recôndita verdade perdida nos porões da madrugada.
- De onde nos conhecemos? Pergunta sofregamente Norberto.
- De onde comprar prazer nunca se tornará obsoleto.
Imediatamente Norberto mergulha a mão no bolso dianteiro esquerdo, apanha o celular para ler a mensagem não lida.
“Meu filho, me perdoa por polir o seu futuro com meu presente imundo.”

domingo, 23 de janeiro de 2011

O Piano


Novembro de 2000 fui convidado pela amiga Suymara pra fazer parte do quadro de funcionários de uma escola de idiomas, franquia recém-chegada em Manaus e na época administrado por Durval Braga – primo do ex-governador da cidade - e Juarez cujo sobrenome não me recordo agora. Então Janeiro de 2001 tive o prazer de conhecer o Durval Braga, cara simpático e jocoso, piadista e pró-ativo, asséptico, habilidoso com as palavras, enfim, um homem que transborda idéias. Pera aí, não pensem que essa história de amor é entre mim e ele, nada contra, mas não é isso não.
Bem, no decorrer desse primeiro ano de trabalho rolou uma sinergia surpreendente entre os professores, coordenação e direção daquela escola, até porque a equipe era bastante coesa, palavra essa que no nosso dia-a-dia tinha se tornado, eu diria, lugar-comum (a cada dez palavras pronunciadas por Juarez, sete delas era a palavra coeso), mas o Durval com o seu rico vocabulário a chamaria de metáfora desbotada.
O tempo foi passando e se encarregando de cada vez mais aproximar especialmente quatro pessoas: Eu, Suymara, Harisson e o proprietário da escola Durval, é claro, não necessariamente nessa ordem. Começamos então a sair juntos nos fins de semana, uma pizza aqui, um cineminha ali, um charutinho acolá, uma cervejinha de vez em quando, e na hora de voltar pra casa, adivinhem quem levava quem? – pois é, eu me encarregava de deixar o Harrison, e o Durval - muito altruísta – fazia questão de levar a Suymara para casa... Eu acho.
Uma bela noite fomos parar no Clave de Sol, lugar fino e requintado, localizado na rua Belo Horizonte, nome de rua bem sugestivo por sinal, e o Durval maquiavelicamente já estava enxergando – parafraseando a música - além do horizonte.
Estava ali esboçado o quadro de uma noite auspiciosa para Durval e Suymara, ao botar os pés naquele lugar, nos deparamos com um ambiente propício para o início de um grande romance, havia apenas dois ou três casais, luz ambiente, uma bateria e um piano. Durval nega de pés juntos, mas já estava tudo premeditado.
Não demorou muito e ele foi logo mostrando seus dotes musicais, enquanto tocava bateria, a admiração estava albergada nos olhos rutilantes da Suymara e pra minha surpresa nos olhos do Harrison também (ah viado!). Não satisfeito ele decidiu tocar piano, ah, aí é pra acabar, a carne é fraca, foi necessário que eu e o Harrison segurássemos o queixo da Suymara.
Brincadeiras à parte, ficou decretado naquela noite, ao som de skyline pigeons fly, que Durval e Suymara deixariam de fazer voos solos para então tornarem-se piloto e co-piloto da mesma aeronave.

Dez anos depois...

Suymara e Durval casaram-se, montaram uma empresa de tradução e consultoria lingüística e nas horas livres dedicam-se a escolha do enxoval do primeiro filho do casal.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Rapadura é doce, mas né mole não

Vou começar este texto sendo curto e grosso. Mãe, a senhora é uma heroína. Não falo isso da boca pra fora, os números estão aí para provar.
Veio muito jovem do interior para ganhar a vida na cidade grande, casou-se e teve cinco filhos, mas o coração – que quase lhe traiu em 2004 – ainda tinha lugar pra mais um, ou melhor, mais uma filha.
O poeta escreveu uma vez que tinha uma pedra no meio do caminho, no seu caminho mãe, havia algumas pedras, muitos espinhos e o número seis – vou já explicar o porquê do número seis.
Não foi fácil chegar aqui, a senhora passou muitas dificuldades na sua vida, mas em momento algum fraquejou. Anos oitenta. O país em crise, papai desempregado e a senhora – junto com o papai, é claro – com seis filhos para alimentar.
Deve ter sido muito duro pra senhora ter que olhar pra seis crianças e não ter de onde tirar dinheiro para alimentá-los. Quando conseguia uns poucos trocados pra comprar pão, fazia a multiplicação deles. Lembro que a senhora cortava o pão em fatias bem finas para que pudesse repartir para os seis moleques. Ficava sem comer, mas seus filhos não.
Também lembro quando a senhora acordava de madrugada, fazia o fogo, torcia o pescoço das galinhas e as depenavas uma a uma. E quando os primeiros raios de sol surgiam no horizonte quase todas as galinhas já estavam vendidas. Matava pra não morrer, mas se morrer por nós preciso fosse, ah... Não tenho dúvidas de que a senhora faria isso. Nossa... Com a dona Nonata não tinha tempo ruim. O seu Joaquim sabia que podia contar com ela pro que desse e viesse.
- Nonata, vai acordar os meninos pra nos ajudar, mandava nosso pai.
- Ah, Joaquim, deixa os meninos dormirem mais um pouco, coitadinho dos bichinhos, respondia a senhora.
Ainda lembram do número seis que mencionei no início do texto? Pois é, mamãe tem uma relação visceral com o dito cujo. Vejamos: seis sobrinhos seus moraram em sua casa, todos do interior da cidade com sonhos de vencer na cidade grande e a senhora sempre de braços abertos para recepcioná-los. Teve cinco filhos e adotou uma filha como já mencionei no início do texto, seis perniciosos insistentes derrames e como se não bastasse em 2004 foi preciso corajosamente abrir o peito e construir seis pontes, sendo cinco de safena e uma mamária. Meu Deus! A senhora é duro na queda, hein.
Essa cirurgia no coração me deu a exata dimensão do que somos, somos muito semelhantes a uma vela acesa, - já dizia meu pai - basta um simples sopro e pronto, já era. No dia em que eu e me pai estávamos diante do médico que faria a tal da cirurgia, e ele nos explicando da gravidade do problema, ouvi as mais duras palavras que um filho pode escutar de alguém. Quando alguém nos chama de filho da puta, a gente até releva, mas ouvir um: “Ou ela opera, ou ela tem só mais seis meses de vida.” é duro pra caralho. Olha aí o número seis de novo.
Naquele dia caiu a ficha. A vida da mamãe estava por um fio, então pensei cá com os meus botões. Cara, minha mãe pode morrer. Só que a impressão que tinha é que isso nunca aconteceria.
E agora pra falar pra ela sobre a operação? Quem dá a notícia? Bem, vamos passar a bola pro doutor Sérgio por que afinal de contas ele é preparado pra isso e está acostumado a lidar com esse tipo de situação.
De novo eu e me pai, só que agora acompanhado da mamãe, estávamos diante do médico, é, aquele preparado e acostumado com essas situações. Quando o doutor Sérgio abriu os exames ele balbuciou a seguinte frase: Eu já sabia. Então, levantou a cabeça, olhou nos olhos da mamãe e disse com todo o tato que lhe é peculiar:
Dona Raimunda, vamos precisar abrir o seu peito. Porra, pra falar desse jeito, eu mesmo falaria.
Mamãe desabou, chorava copiosamente. Acho que naquele dia ela sentiu a presença da morte, mas não esqueçamos, mamãe é forte. E ela foi pra cirurgia e tirou de letra, mais uma vez colocou a morte pra correr, corria que batia os pés na bunda, pois a morte é cínica, a morte é vagabunda.
E enquanto ela não se mete a besta de aparecer por aqui, vamos celebrar mais um ano de vida, vamos eternizar cada momento em que estivermos juntos ao seu lado, MAMÃE.