domingo, 5 de janeiro de 2014

História do Brasil

Um dia chego em casa e a encontro chorando. As lágrimas deslizavam com o peso pesado da decepção. Quase não conseguia articular as palavras engasgadas nos soluços da depressão. Ele não quer nada com a história do Brasil. Com essa frase ela trouxe à tona a síntese do seu pranto. Exaurido após um dia árduo de trabalho restou-me abraçá-la num silêncio morno.
No dia seguinte veio o endosso da "tia" na sombra da paráfrase: Olha, ele não quer nada com a história do Brasil. Aquelas palavras ruminavam em minha cabeça como um mantra que não queria descolar da minha retina. Precisava fazer alguma coisa que não fosse transferir a responsabilidade da educação daquele moleque para tão somente minha esposa que já acumulava as funções de mãe, professora, cozinheira, babá, diarista e auxiliar de produção no chão de fábrica de uma multinacional exploradora como todas as outras, mas esse assunto fica para um outro texto.
Como nunca resolvi meus problemas com a covardia da violência - pois ainda prefiro conversar a bater - esperei pelo clichê da calada da noite. E ela veio cálida como são comumente as noites de agosto. Desci as escadas da minha casa segurando pela mão arredia do meu único filho até então. Lá vem o caminhão da Boticário como apelidávamos o caminhão do lixo e mostro a ele a dura realidade daqueles homens anexada a seguinte pergunta: É isso que você quer pra sua vida apesar de toda a dignidade da função? Você já tem quatro anos e é maduro o suficiente pra saber o que quer da vida.Ele respondeu que não sem dizer sequer uma única palavra.
Acho que ele entendeu muito bem minha mensagem revestida de muito amor e carinho. Três de janeiro de 2014 é um dia que ficará estampado na aba da minha memória. Sonhei com esse dia e o tão sonhado "pai, mãe, eu passei!" foi do jeito que imaginei.
Chego em casa e os encontro chorando, só que agora de felicidade. Junto-me a eles e engrosso o caldo do choro. A cumplicidade daquele abraço só nós sabemos. Não foi fácil chegar aqui, porém todo o nosso esforço valeu a pena. Agora,vá ganhar o mundo e escrever sua história junto com a do Brasil.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Quero-quero


Quero visitar lugares inóspitos do coração. Quero hospedar o amor na minha carcaça. Quero amar amiúde. Quero viver desguaritado. Quero exercitar meu diletantismo pelas palavras. Quero continuar afamado como trabalhador insigne. Quero alcançar meus paroxismos do bem. Quero educar para libertar. Quero me libertar para aprender. Quero aprender para ensinar.
Quero ver a escravidão branca dar branco. Quero ver o luto no vermelho. Quero ver a imprensa marrom desbotar. Quero ficar ainda mais íntimo do bom humor. Quero intimar os favores tácitos. Quero dizimar a dor. Quero querer.