terça-feira, 12 de outubro de 2010

A visão do Inferno

A penumbra esbranquiçada tem um violento cheiro de orgia no ar. A música de gosto duvidoso – é o que menos interessa naquele momento - anima homens solteiros e casados na perene busca animalesca por fetiches e aventuras ilícitas. Na mesa de plástico branco as garrafas de cerveja quente se misturam as vendedoras de sexo em trajes fuck me baby e combinam com a performance fria das strippers.
Na passarela-vitrine putas fora das formas padrão de beleza vêm e vão com um sorriso escravo alugado na cara. É ali naquele cadafalso que elas fazem a exposição da mercadoria de quinta categoria. É a lei da sobrevivência. Elas se rebolam literalmente para tirar daquele mundo profano o pão sagrado de todos os dias.
Os clientes avarentos em seus lares, sonegadores de impostos em seu país e impostores do amor tornam-se verdadeiros perdulários diante dos vícios e dos prazeres selvagens da carne. Os pobres carentes saem da casa só para maiores sem nenhum real furado no bolso da calça jeans encardida. Diante da face do prazer não há amanhã, o limite é a chuva de prata.
Eles só caem na real no dia seguinte quando nem o dinheiro do ônibus os infelizes têm. O que eles têm agora é muita vantagem pra contar. Fiz isso, fiz aquilo, foi assim, foi assado, foi cozido, foi guisado.
No próximo pagamento uma nova página dessa busca insaciável pelo sexo vazio a dois será escrita. Parafraseando o saudoso Tim Maia, no inferninho vale tudo, só não vale dançar homem com homem nem mulher com mulher.

2 comentários:

  1. Paulo, gostei muito do teu texto. Lúcido, verdadeiro, e por isso mesmo triste...

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  2. Oi Paulo...

    Passando para fazer uma visita!

    Que texto de conteúdo forte... Você escreve muito bem! Parabéns!

    Fico...te seguindo!

    Deixo beijo
    Com carinho
    Sil
    Sempre aqui

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