sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Rapadura é doce, mas né mole não

Vou começar este texto sendo curto e grosso. Mãe, a senhora é uma heroína. Não falo isso da boca pra fora, os números estão aí para provar.
Veio muito jovem do interior para ganhar a vida na cidade grande, casou-se e teve cinco filhos, mas o coração – que quase lhe traiu em 2004 – ainda tinha lugar pra mais um, ou melhor, mais uma filha.
O poeta escreveu uma vez que tinha uma pedra no meio do caminho, no seu caminho mãe, havia algumas pedras, muitos espinhos e o número seis – vou já explicar o porquê do número seis.
Não foi fácil chegar aqui, a senhora passou muitas dificuldades na sua vida, mas em momento algum fraquejou. Anos oitenta. O país em crise, papai desempregado e a senhora – junto com o papai, é claro – com seis filhos para alimentar.
Deve ter sido muito duro pra senhora ter que olhar pra seis crianças e não ter de onde tirar dinheiro para alimentá-los. Quando conseguia uns poucos trocados pra comprar pão, fazia a multiplicação deles. Lembro que a senhora cortava o pão em fatias bem finas para que pudesse repartir para os seis moleques. Ficava sem comer, mas seus filhos não.
Também lembro quando a senhora acordava de madrugada, fazia o fogo, torcia o pescoço das galinhas e as depenavas uma a uma. E quando os primeiros raios de sol surgiam no horizonte quase todas as galinhas já estavam vendidas. Matava pra não morrer, mas se morrer por nós preciso fosse, ah... Não tenho dúvidas de que a senhora faria isso. Nossa... Com a dona Nonata não tinha tempo ruim. O seu Joaquim sabia que podia contar com ela pro que desse e viesse.
- Nonata, vai acordar os meninos pra nos ajudar, mandava nosso pai.
- Ah, Joaquim, deixa os meninos dormirem mais um pouco, coitadinho dos bichinhos, respondia a senhora.
Ainda lembram do número seis que mencionei no início do texto? Pois é, mamãe tem uma relação visceral com o dito cujo. Vejamos: seis sobrinhos seus moraram em sua casa, todos do interior da cidade com sonhos de vencer na cidade grande e a senhora sempre de braços abertos para recepcioná-los. Teve cinco filhos e adotou uma filha como já mencionei no início do texto, seis perniciosos insistentes derrames e como se não bastasse em 2004 foi preciso corajosamente abrir o peito e construir seis pontes, sendo cinco de safena e uma mamária. Meu Deus! A senhora é duro na queda, hein.
Essa cirurgia no coração me deu a exata dimensão do que somos, somos muito semelhantes a uma vela acesa, - já dizia meu pai - basta um simples sopro e pronto, já era. No dia em que eu e me pai estávamos diante do médico que faria a tal da cirurgia, e ele nos explicando da gravidade do problema, ouvi as mais duras palavras que um filho pode escutar de alguém. Quando alguém nos chama de filho da puta, a gente até releva, mas ouvir um: “Ou ela opera, ou ela tem só mais seis meses de vida.” é duro pra caralho. Olha aí o número seis de novo.
Naquele dia caiu a ficha. A vida da mamãe estava por um fio, então pensei cá com os meus botões. Cara, minha mãe pode morrer. Só que a impressão que tinha é que isso nunca aconteceria.
E agora pra falar pra ela sobre a operação? Quem dá a notícia? Bem, vamos passar a bola pro doutor Sérgio por que afinal de contas ele é preparado pra isso e está acostumado a lidar com esse tipo de situação.
De novo eu e me pai, só que agora acompanhado da mamãe, estávamos diante do médico, é, aquele preparado e acostumado com essas situações. Quando o doutor Sérgio abriu os exames ele balbuciou a seguinte frase: Eu já sabia. Então, levantou a cabeça, olhou nos olhos da mamãe e disse com todo o tato que lhe é peculiar:
Dona Raimunda, vamos precisar abrir o seu peito. Porra, pra falar desse jeito, eu mesmo falaria.
Mamãe desabou, chorava copiosamente. Acho que naquele dia ela sentiu a presença da morte, mas não esqueçamos, mamãe é forte. E ela foi pra cirurgia e tirou de letra, mais uma vez colocou a morte pra correr, corria que batia os pés na bunda, pois a morte é cínica, a morte é vagabunda.
E enquanto ela não se mete a besta de aparecer por aqui, vamos celebrar mais um ano de vida, vamos eternizar cada momento em que estivermos juntos ao seu lado, MAMÃE.

4 comentários:

  1. oi paulo, tudo bem?
    cara, que bela homenagem e que mulher forte é essa, primo!!! que ela viva muito ainda e continue inspirando a vida de vocês. talvez mais 6 x 6 x 6... :)

    abraços

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  2. Puxa, belíssima homenagem... Aposto que a rapadura deve ter derretido como uma manteiga, embora seja uma homenagem prá lá de justa! Saúde e muitos anos à D Nonata! E pra vc tb Paulo!! Um abraço

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  3. Nossa que post lindo Paulo, adorei!

    Obaaaaaa fiquei feliz ao saber que vc vem para a minha festa, estou te linkando lá na lista de convidados, mas fiquei sem saber com qual dos seus blogs vc vai participar, de qq forma linkei esse aqui, mas se não for me avise tá?!

    Ahhhhh e achei bonitinho o seu comentário, preciso te dizer que mentalmente a minha doçura foi para o espaço, pois mandei o cidadão ou cidadã anônimo passear para ...... hahaha

    Beijo, beijo!
    She

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  4. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk ri muito com o seu comentário, acho que o/a anônimo/a agora surta de vez....rsrs

    Querido te explico sim, mas espere um pouquinho para pegar por que amanhã vou fazer um post com dois selinhos para vcs escolherem qual prefere... Pois um está mais feminino que o outro...

    Aí amanhã, vc pode fazer o seguinte, clique em cima da imagem do selinho em meu post, e se por acaso clicando normalmente com o mouse a imagem não abrir, basta clicar com o lado direito do mouse que abrirá em nova guia, aí basta vc salvar a imagem em seu computador e depois é só colocar normalmente em seu post, como qualquer outra imagem... ;)

    Qualquer coisa é só me falar que te explico, beijo, beijo!
    She

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