domingo, 20 de março de 2011

Vida e morte

Numa conversa com a amiga Carmem Guerra tivemos a ideia de escrever sobre qualquer coisa, e o primeiro assunto escolhido foi vida/morte. Trocamos os textos e agora quero compartilhar com todos (2 pessoas) que passam por aqui. O meu vocês já leram.
Prosa poética na veia.

Vai longe o tempo em que vida era uma palavra, nada mais; e morte, o avesso incompreensível da vida: era o terror de ver sandália emborcada ; o pânico de deitar à mesa ao meio-dia; o temor de misturar manga com leite; a sensação aterradora de descobrir um morto vivo na solidão do quarto escuro... Ah, tudo tão simples no quintal da infância...
Mas eis que já não vamos à Espanha buscar nossos chapéus... desfez-se a roda, afrouxaram-se as mãos, e pálidos de espanto nos distanciamos para a execução do dangerosíssimo salto... até nos descobrirmos sem ar, imersos no real significado de tudo o que tivemos naquele ontem, onde era tão fácil encher os pulmões.
Nas profundezas, vida e morte são agora bem mais que duas palavras ou uma antítese, já conhecemos seus múltiplos sentidos e podemos contemplá-las em trajes íntimos. Perdemos a inocência!
Mas estará sempre a doer o nosso quintal da infância... porque eram doces os frutos daquela inconsciência... Vida e morte lá, brincando juntas... velório e festa... apenas duas palavras bailando na superfície de tudo o que um dia fomos.

4 comentários:

  1. Bem, bela dobradinha vc e sua amiga Carmem! Podem repetir a dose com outros temas!

    Verdade: tudo era tão simples antes: era só não deixar os sapatos virados... Ou, na minha cabeça tonta, era só pedir para os nossos pais fazerem seguro... A propaganda de seguro de vida da TV me deixava pensando que quem fazia seguro não morria nunca! Simples não???

    Bj e uma ótima semana Paulo!!!

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  2. Oi menino
    Com toda certeza eu preferia quando vida/morte, eram apenas duas palavras sem maiores consequências.(se não se importar, manda pra mim o seu email)
    Bjão

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  3. paulo, muito bom!!! o texto é lindo e nos inquieta, mas ao mesmo tempo, nos faz pensar nos nossos antigos quintais com certa saudade.

    abração

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  4. Oi Carmem. O que é isso?!? Você me brindou com um texto recheado de poesia, imagens e alegorias. Gosto do uso de aliteração ( meio-dia, temor, mistura,manga...) produzindo um efeito sonoro que me leva a significação da palavra-tema (morte) e assonância ( vida, era, uma, palavra, nada, mais ) produzindo um efeito da outra palavra-tema (vida), sem contar com o ritmo agradável que eles dão à leitura. Desculpa a análise mais técnica, embora não tenha pedigree para, mas é que gosto desse entrelaçamento que há nos bons textos, como esse. O conteúdo dispensa comentários. Quero permissão para postá-lo no meu blog, posso?
    Gostei da brincadeira Carmem!! Vamos pensar agora em um outro tópico. Bom domingo!!!
    Beijos

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