quinta-feira, 23 de junho de 2011

Mestre Cuca

O sol já se escondia timidamente instilando um cinza agudo no côncavo do azul como que não querendo presenciar aquele encontro de olhos baços sem nem sequer faiscar uma fagulha de sinergia a ponto de incendiar quarenta e poucas almas, que à primeira vista, se desenharam tão minúsculas.
Olhares atravessados de cima pra baixo fazia daquela sala de produção de conhecimento um verdadeiro formigueiro de desconfiança. Linha cruzada logo no primeiro encontro me fez até apetecer que aquilo fosse tão somente um trote.
Enquanto dava com a língua nos dentes e gastava meu latim, agradecia as paredes por elas terem ouvidos e o discernimento de filtrar entre tantas vozes paralelas o que tinha de informativo naquele meu discurso preliminar.
A essa altura dos acontecimentos a lua linda, surgira nua vestindo de paciência meu corpo lasso de uma longa jornada de trabalho segurando um marcador de quadro branco na mão direita e um apagador branco – como que a pedir paz - na mão esquerda e falando classicamente agora em uma língua bárbara.
Poderia deixar correr à revelia e respeitar as idiossincrasias de cada um naquela sala, porém aquele insólito comportamento comprometeria todo o planejamento de um semestre meticulosamente programado para ser efetivamente bem sucedido.
Então, resoluto a transformar aquela massa heterogênea em homogênea, vesti o avental do mestre Cuca, untei a panela com amor, coloquei um punhado de dedicação, uma pitada de paciência, uma colher de chá de altruísmo, recheio de comprometimento e de cobertura... Superação.
Deixei a sala de aula naquele primeiro encontro com cara de quem comeu e não gostou, hoje redijo esse texto com o sabor doce da saudade e com a certeza de dever cumprido e de um semestre de muito aprendizado para mim. Despeço-me com um grande OBRIGADO!

4 comentários:

  1. "Ao mestre com carinho". Se fosse eu, teria rodado a baiana rsrsrrs
    Bjux

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  2. e aí primo, beleza?

    com esses ingredientes, a receita só podia ser um sucesso!!

    abração

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  3. Escrevendo como aluna e admiradora tanto da sua maneira alegre e comprometida de ensinar, quanto pelo artista da palavra que és, só me resta dizer que você é simplesmente um excelente mestre cuca, um chef de mãos cheias. Os que tiveram a honra de provar um pedaço do seu bolo, certamente tiveram um susto de alegria, pois você nos surpreendeu e nos encantou com a sua simplicidade, com a sua alegria, com a sua amizade e dedicação. Você é adorável e muito querido! É lindo conversar desarmado com você. Poooxa, já estou com saudade :(

    p.s.: Paulo Freire diz:"Ai de nós, educadores e educadoras, se deixarmos de sonhar sonhos possíveis".

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