quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Dez meses...



Dez meses atrás a morte atracava em meu porto seguro com a fúria de uma pororoca cuja violência virou minha canoa e me afogou no rio negro da ausência. A diabetes fez mais uma vítima. O coração parou. Tudo parou. O barranco caiu. O telefone tocou, as sete trombetas tocaram. Era meu pai: Meu filho, venha pra cá. O pior aconteceu. Não acreditei, como ainda não acredito. Só naquele dia consegui mensurar a força da expressão "ficar sem chão". Não foi fácil continuar respirando.
Hoje o rio segue seu curso com o banzeiro da saudade lambendo minhas vinte e quatro horas. Mamãe foi a própria metáfora do rio, esteve comigo nas vazantes e nas cheias. Foi fiel, fiel aos seus princípios interioranos. A mulher que mal sabia assinar o nome diplomou todos os seis filhos. Sabedoria era íntima da dona Nonata. Ela foi o braço direito e esquerdo do meu pai. Seu Joaquim pode bater no peito orgulhosamente e bradar: Eu casei com uma mulher muito especial. Ela foi mulher no verdadeiro sentido da palavra. Mas o seu dia chegou assim como chegará o meu e o de todos nós. Porém ainda estou com o Drummond. Mães não deveriam morrer.
Bença mãe!

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