sábado, 4 de setembro de 2010

Ensaio sobre o amor

Chego à escola exatamente na hora marcada. Bato à porta e de cara a vejo de costas. Baixinha, cintura de cavaquinho e cabelos negros pelo meio das costas está ali inquieta remexendo um arcaico fichário de alunos. Ela vira preguiçosamente e seus cabelos sedosos acompanham o movimento do corpo numa dança sensual como um tango argentino. Meu corpo perfumado de Avon é invadido poro a poro por um francês arrebatador que até hoje não consigo pronunciar seu nome.
Ela olha em minha direção e percebo o baile articulado de seus lábios. As mãos – como a de um maestro - sobem e descem. Tremo, o coração entra em descompasso e confrange. Espectros se formam diante de meus olhos subitamente cegos. O relógio na parede branco gelo com a logomarca da escola de informática Computec simplesmente congelou, deu branco. Ó meu Deus! Ela é muda. Eu mudo. É o fim do mundo.
Ricardo – o dono da escola – chega num silêncio lento e de longe sem perceber a minha presença faz um gesto para ela com o polegar direito. Ela olha pra mim e devolve para ele o gesto com o polegar esquerdo.
Ricardo desce as escadas saltitando, atravessa a sala de espera a trotes largos e entra na recepção com os braços vestidos e armados para um forte abraço. Nossos olhares se encontram e percebo descaradamente a articulação de seus lábios. Ó meu Deus! Ele também está mudo. Eu juro. É o fim do mundo.
Começa então uma correria, ele me abana com uma apostila, ela vai em busca de um copo com água e açúcar. Sento no sofá, mas não me sinto... Estava surdo de amor. Aqueles dezenove segundos duraram dezenove anos.

3 comentários:

  1. Olá Paulo
    Sensações causadas por um amor platônico, que a timidez não permite declarar. O primeiro amor a gente nunca esquece.
    Abração

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  2. oi paulo, adorei te receber....e ja estou seguindo..
    concordo com o amigo wanderley ele disse tudo.
    beijos.

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  3. esta dando erro nos seguidores volto logo mais...
    beijos.

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