domingo, 20 de setembro de 2015

A amizade

Pelas mãos do samba desenvolvemos um enredo sem o limite da sinopse, sem a burocracia dos jargões, sem as cores tradicionais, sem as plumas e paetês e tacitamente sem as máscaras. Nada de confetes e serpentinas. Foram mãos buscando mãos na construção sólida de nossa comissão de frente: O respeito mútuo. Foi ele quem abriu alas pro nosso carnaval e sempre fiel as nossas leis de cada instante.
Espalhadas pelas outras alas estão a generosidade, o companheirismo, a sinceridade, a liberdade de expressão e a disponibilidade, algo raro nos dias atuais. Basta um único acorde e todos logo chegam junto.
Bom, no início, nossas reuniões eram voltadas para o trabalho de lapidar uma letra e transformá-la em um samba num nível razoável de competição. Célio e Belk começaram tudo isso. Aí veio o Fred, o André, A Stephanny, o Diego e o Henrique. O grupo aumentou e aumentou porque a relação de amizade é sincera. Estivemos juntos na derrota e na vitória. Já choramos de alegria e de tristeza.
Bem, Tudo isso liderado despretensiosamente pela batuta do nosso mestre Agnaldo. Um cara de alma grande e coração bom. É ele quem dá o tom, o ritmo, a melodia e a harmonia pro grupo. Parafraseando o André, essa bichona é um showwww.
A despeito de toda uma história de sucesso no carnaval amazonense, dos títulos nas grandes escolas, das belas composições, o cara continuou com os pés fincados no chão e fez da avenida da vida um congestionamento de humildade. Conheço poucos, ou melhor, raríssimos, que desfilam por essa passarela sem se deslumbrar com as personalidades, os camarotes e as áreas VIPs. É difícil passar por ela sem perder o rebolado.
Agnaldo traz no seu carro abre-alas o bom humor, o cara é Mestre-sala nas sacadas rápidas e inteligentes, nosso Porta-bandeira de boas gargalhadas. Daquele tipo que perde o amigo mas não perde a piada. Confesso que nunca o vi triste.
Porém há momentos em que a vida desafina, atravessa, semitona, e aí meu amigo, a corda arrebenta e o cavaco chora. O surdo fica mudo. A alegria empaca na concentração. Os holofotes se apagam, escuridão… Olha o biiiiicho! Mas o desfile ainda não acabou e nem é você quem decide quando acaba, se é que você me entende. O bicho papão não tem sete cabeças como falam por aí. Às vezes se faz necessário entrar no recuo da bateria e esperar tudo passar. Um passo atrás pode significar dois passos a frente. Então olhe bem ao seu redor. Você não está sozinho. Somos poucos, mas somos verdadeiros.
'Bora, levanta daí! pega esse microfone e limpa a garganta. Meu irmão, atrás da Verde e Rosa só não vai quem já morreu!

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