domingo, 20 de setembro de 2015

Meu irmão

Tinha quatorze anos e um sonho de consumo. Um All Star cano longo. Era o tênis da hora. Todo adolescente de classe média tinha o seu. A minha classe era um pouco abaixo da média, até arrisco a dizer que era paupérrima. A única fonte de renda jorrava de meu pai. Bom, jorrar não é o verbo mais adequado para tal situação. Papai já não cortava mais carne. Foi ser vigia de banco. Ou seja, grana curtíssima pra realizar o sonho do cano longo. Mal dava pra comer. Mal dava pra comer… Então tinha de me conformar com minha conga. Era o que de mais luxuoso tinha pra me calçar. Chegava de conga nos aniversários de quinze anos .
Porém, meu pai, como bom vigia que era, não dormia no ponto e tratou logo de conseguir um emprego pro meu irmão mais velho lá mesmo no banco. Não foi fácil, como nada era fácil pra gente, mas ele conseguiu. Só tinha um problema; era um trabalho não remunerado. Conferente de não sei o quê. E de madrugada.
Meu irmão topou, ou melhor, papai topou por ele. E lembro bem do meu irmão saindo mais cedo do futebol no fim da tarde pra encarar o trampo quase voluntário. Dava uma pena dele. Futebol era nossa diversão mais genuína. Bola dente de leite, pés descalços, duas pedras como traves, e um monte de moleque feliz da vida.
Salvo engano, foram seis meses de ralação até ser contratado. Ele finalmente receberia um salário. Meu irmão nunca tinha visto tanto dinheiro aos dezesseis anos. Quando ele me disse o quanto receberia (um salário mínimo) fiquei ali sonhando com todos os sonhos dele. Imagina, se eu tinha meus sonhos de consumo, que dirá ele.
Então no dia do pagamento ele chegou em casa depois de uma noite em claro conferindo sei lá o quê e disse pra mim e pro meu irmão: “Se arrumem aí que vamos lá no centro comprar o All Star de vocês.” Caramba… Sempre me emociono com esse história… E fomos. Ele ficou feliz com a nossa felicidade. Generoso, muito generoso. O altruísmo em pessoa.
Por que escrevi esse texto? Porque amanhã (14/05) é aniversário dele. Foi a forma que encontrei de homenageá-lo uma vez que não poderei abraçá-lo. A distância não permite, mas sinta-se abraçado meu irmão, Irailton. Eu te amo!

























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