sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Para meus alunos do terceiro ano

Início de ano letivo com traços de uma pseudo neofobia. What the fuck is Neofobia, professor? Explico. Neofobia é o medo do novo. Mas novo? ₢omo assim? Uma vez que já estamos inseridos nesse ambiente escolar há anos.
Pois é, então foi mergulhando nos porões da minha memória que encontrei uma empoeirada apresentação dos professores cuja alegoria para o ano corrente seria: Professor-chave de fenda, aluno-parafuso. Ou seja, filosofia do aperto para, sem trocadilhos, roscas e porcas. O popular: quem for podre que se quebre!
Isso foi o suficiente para alguns dos finalistas com um ar de estrelismo abrirem suas caixas de ferramentas, sacarem suas chaves estrelas e desparafusarem seus: Aqui eu não fico! Fui! Vou-me embora pra Pasárgada!
E alguns foram, mesmo não sendo amigos do rei. Confesso... temi não estar aqui agora lendo esse texto para vocês. Perdemos alunos e professores, porém, não perdemos o sentimento vital para continuarmos encarando os desafios escolares diários: A coragem. É ela que bombeia otimismo e disposição em nossas veias. Sem ela, sequer, levantamos de nossas camas.
No entanto, apesar do discurso subversivo dessa meia dúzia de neofóbicos, a situação foi contornada e o espírito Macunaímico – ai que preguiça! - que assombrava os corredores dessa escola foi exorcizado. Outro dia mesmo relendo Robert Frost, meu poeta americano favorito, eu os encontrei por lá no poema “The road not taken”. A estrada não trilhada. Vocês sabiamente evitaram os atraentes atalhos sugeridos pela Joana a louca de Espanha e toparam corajosamente caminhar por sobre os cacos de vidros temperados… Isso mesmo! Vidros temperados de dificuldades acadêmicas.
Testes, seminários, teatro, dança, canto, produções textuais, pressão, pressão, e o mantra passar no ENEM, passar no ENEM, passar no ENEM ainda ecoa na acústica de nossas esperanças.
Bom, cá estamos. Vocês conseguiram e chegaram aqui, fragmentados é bem verdade, com seus guetos, com suas tribos, com suas idiossincrasias, com suas desavenças, com seus arranhões, calos e fraturas, mas chegaram.
Todavia, observei do alto da minha laje de vidro a pedra que rolava no meio dos seus caminhos. A diferença. É duro lidar com ela especialmente quando o peito ainda tufa de juventude. Essas diferenças precisavam ser britadas urgentemente para vocês poderem dar vasão a sentimentos mais nobres. Liberté, Égalité, Fraternité. Liberdade, igualdade, fraternidade. Exercício de cidadania que transcende cor, credo, sexo, a matéria favorita, o professor favorito, as páginas dos livros didáticos e as picuinhas dos dias que foram se encardindo, mas que ontem eu tive a certeza que tais picuinhas se desbotaram através do alvejante chamado união.
Fermentem dentro de vocês a sede de vencer sem a arraigada necessidade de artifícios ilegais tão popularizada em território nacional pelos homens de terno e gravata. Sabe, a ilegalidade macro um dia foi micro. A cola é um micro artifício ilegal. Vocês são descolados, vocês foram descolados, então deixem essa porra pra lá! Amputem o jeitinho brasileiro e corram para o sucesso com suas próprias pernas. Pensem fora da caixa, façam a diferença. Façam da zona de conforto uma zona! Ontem vocês pensaram fora da caixa, ontem vocês fizeram a diferença.
Sejam felizes, mas para tal, não tenham medo de seus próprios sentimentos.


Nenhum comentário:

Postar um comentário