sábado, 25 de setembro de 2010

É nesse vaivém...

Mal me aproximei e ela já foi se abrindo
Sem hesitar a atravessei
Sem nenhum pudor fui e voltei
Foi assim, seco, nem hi e nem bye
O ponto G estava bem aos meus pés
Que sensibilidade, um simples toque
E ela se arreganhou gemendo
Não demorou muito e logo percebi
Que não era o único
Ela estava ali, inerte, sem preconceito
Despudorada... A porta safada!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Palavras ao Vento

Minhas palavras...
Imagens de meus pensamentos
Procuram no vento
O casto sorriso,
O olhar derretido
Pelo calor de nossa libido
Minhas palavras...
Imagens de meus pensamentos
Perdem-se no tempo
Não encontram o aconchego
Dos seus ouvidos sedentos
Chega de lamúrias
Chega de tormentos
Guardarei minhas palavras
Para ouvidos mais atentos

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

De volta ao inferno

A aurora está rompendo a alvorada sob as águas de março e trazendo consigo o pranto da esperança observada por nuvens densas e negras. As grades enferrujadas, o parco espaço, a imundície daquele lugar e daquelas pessoas, a comida de terceira e o manto da justiça agora são coisas do passado.
Então a raposa vestida de oncinha protegida por um guarda-chuva preto cruza o portão do presídio de segurança máxima como uma gatinha mansa espreitada passo a passo pelo guarda austero da guarita com uma pistola na cintura e um fuzil nas mãos.
Portão aberto, o cansado e velho de guerra carcerário que a acompanha dispara contra ela. Boa viagem Valeska! Ela passa a mão esquerda pelos cabelos maltratados e o ignora.
Familiares do lado de fora, ainda de cara inchada, amigos fieis estalando os dedos do mindinho ao polegar, seu advogado arrogante, imprensa de todas as mídias e curiosos estão ali à porta da desembargador Vidal Pessoa a espera da produtora de moda coadjuvante de uma série de crimes.
A chuva não dá trégua. Castiga. Ela finalmente pisa na calçada da liberdade e um toró de jornalistas a metralha com microfones sua face capituniana. Ela está abatida, só quer o colo da mãe, os amigos e parentes tentam fazer um cordão de isolamento, a celeuma está armada e as perguntas são as mais ácidas possíveis. E o povo com faixas de protesto expectora alguns impropérios.
Valeska não vale nada! Vitupera um cidadão mais exaltado.
Um carro de luxo importado todo preto a espera com o motor ligado a cinqüenta metros dali. Ela parece caminhar num corredor polonês. Vítima ou vilã? Pergunta o repórter. Os cinqüenta metros estão tão longos quanto um dia de fome.
Valeska Silva está ensopada, a natureza insiste em lavar aquela alma encharcada de remorso. Ela enfim entra no automóvel e acomoda-se no banco do carona. Dona Matilde – a mãe – senta-se no banco traseiro e lepidamente afivela seu cinto de segurança. Ela é o próprio lençol de afagos da filha.
- Para aonde vamos? Questiona o motorista desinformado.
Dona Matilde cochicha algo no ouvido do chofer. Valeska não entende o indiscreto segredo e o motora segue no rumo do aeroporto. A viagem foi premeditada, pois a cidade inteira já sabe de sua soltura. Ela corre risco de morte. Mãe e filha dentro do carro como duas estranhas cúmplices de um silêncio inexpugnável do crime.
O silêncio é quebrado pelos gritos dos pneus riscando o asfalto. Só um balão estoura. Valeska faz sua última viagem num voo solo rasante. Confetes de vidros espalham-se pela pista, a mãe aproximasse do cadáver e uma lágrima dissimulada desliza sobre seu rosto pérfido.

sábado, 18 de setembro de 2010

Os Caras

Com um Machado na mão fui desbravando o caminho espinhoso da ignorância e conhecendo caminhos nunca antes pisados por esses pés limpos de cultura. Um Machado genuinamente carioca, aparentemente frágil, pouco amolado, mas da melhor qualidade.
Nesse chão coberto por Ramos e ladeado por Rosa e Matos com cheiro de Lima conheci um Padre que me mostrou a via crucis de forma nua e crua, fui cercado por Anjos que alumiou as trevas que insistiam em me acompanhar, e no meio do caminho tinha um Coelho, mas não hesitei em botá-lo pra correr e descartar qualquer hipótese de fracasso.
Isto posto e posto isto, castrei toda e qualquer possibilidade de me perder na selva dos iletrados e levantei a Bandeira da liberdade. Leia e se liberte. Viva a liberdade!!
Obrigado Graciliano Ramos, Manuel Bandeira, Guimarães Rosa, Augusto dos Anjos, Gregório de Matos, Lima Barreto e claro, Machado de Assis.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Exagerado?

...A nossa música nunca mais tocou... E nem tocará mais. Perdi o norte, estou desatinado. E amanhã quando os raios solares vazarem pelas frestas da persiana e encontrarem meu corpo entorpecido com um buraco no meio do tórax, agradecerei a Vênus se não mais sentir a batida ritmada do meu algoz.
O teu amor é uma mentira... Uma mentira cabeluda de fazer inveja a jovem guarda. Você me vendeu porções de ilusão a bordo de um calhambeque e o bobo aqui embarcou num Cadilac mitomaníaco consumindo cada gota do seu desequilíbrio psíquico.
O tempo não pára... Como preciso acreditar nisso agora. Do contrário me afundarei nessa areia movediça dos dias lentos pós ruptura brusca. A varanda do meu apartamento tem sido uma companheira de noites longas e vazias. Tem sido um cigarro atrás do outro na tentativa de fazer um sinal de fumaça para a deusa Afrodite.
...A emoção acabou...

domingo, 12 de setembro de 2010

Avatar

Balaio de viços...
Refúgio de meus devaneios
Usurpa meus pensamentos
Nua de pudor
Avatar de sentimentos.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Flamengo vence!

Sem ter o que escrever, vou resumir a trajetória do meu time favorito (Flamengo) no campeonato brasileiro. Há vários jogos que não ganhamos de ninguém, só ganhamos mesmo da coca-cola.
Flamengo 1 x coca-cola zero !

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Discurso de Formatura

Lá ia eu começar mais uma aula de inglês em plena manhã do primeiro sábado de fevereiro de 2006. Olhos avermelhados de uma noite mal dormida, sono desenhado na face, e o friozinho na barriga natural do primeiro dia de aula. Friozinho esse que me acompanha desde a primeira aula que ministrei lá no ano jurássico de 1994. Quando não mais senti-lo, é porque o ato de lecionar já há de ter me lesionado.
Antes de entrar na sala uma ligeira prece rogando aos deuses da educação alunos com a mesma disposição e motivação que as minhas. Do contrário o semestre já estaria fadado ao fracasso.
Quando virei a maçaneta e coloquei meus pés naquele espaço que carinhosamente chamo de permuta de conhecimento tive minhas retinas encandeadas pelo brilho faiscante dos olhos ávidos por aprendizado daqueles quatorze quinze alunos.
Silenciosamente agradeci aos deuses da educação e risquei um sorriso no rosto. Então começamos a aula e por tabelinha começávamos ali a estreitar laços de amizade que nem de longe suspeitávamos que aconteceria.
Foi um semestre auspicioso. Diria mais, foi um semestre dos sonhos. Sempre pautado é claro na filosofia socrática – o diálogo. Transmissão de conhecimento meus amigos se dá através do diálogo. Quando a aula não era boa, as sugestões eram sempre bem aceitas por esse humilde educador. E quando vocês não correspondiam as minhas expectativas, meus conselhos sempre revestidos de muito carinho eram sabiamente bem aceitos por vocês também. Parafraseando Platão, o belo é o esplendor da verdade. E foi montado no cavalo da verdade que cavalgamos durante esses quatro anos.
Vocês não tiveram medo de se jogar nas águas da aquisição de outro idioma. Engoliram água, bateram pernas, bateram braços, espantaram todos os tubarões do comodismo e foram paulatinamente aprendendo a nadar. Os homens quem me desculpem, mas creio que o segredo está na alma feminina da turma. Poderia até chamá-las de Silmara Joana D’arc, Monica Anita Garibaldi, Martha Tereza de Calcutá,etc.
Mas os meninos, claro, também têm o seu valor. Com a chegada deles a turma ficou ainda mais homo, calma meninos! Quero dizer ainda mais homogênea. Em suma, cá estamos festejando o sucesso da vitória e o mérito é todo de vocês. Parabéns.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Vida Nova

“Eu os declaro marido e mulher. O noivo pode beijar a noiva.” Como essa cara deve está ansioso para ouvir isso – esse cara atende pelo nome de Harrison – e finalmente colar a aliança no seu-vizinho da mão esquerda.
O anelar destro já tinha experimentado antes o abraço do anel do matrimônio, o “sim” já esteve na ponta da língua, o carequinha quase virou Cacheado(sobrenome da ex), mas o fura-bolo do destino indicou outro caminho pro meu amigo que sofreu pra entender que aquela alma não era sua gêmea.
Gemeu de dor, comeu o pão que o diabo amassou, bebeu corote disfarçado de caipirinha, experimentou o outro lado da moeda, permutou uma pulseira de ouro com algo de couro (rs) e ficou sem eira e nem beira. Até Joseph Climber – aquele cuja vida é uma caixinha de surpresas – sentiu pena do cara.
Mas numa bela manhã ensolarada ele decidiu curvar todos os dedos em volta do maior-de-todos e gritar: “Aqui pra ti sofrimento! A vida é bela, carpe diem, I will survive!” e tocou o barco rumo a felicidade (esse texto está ficando piegas).
Essa busca frenética pela felicidade a dois o levou a caminhos cheios de cacos de vidros, encontros e desencontros, promessas de nada, nada de promessas, relacionamentos efêmeros, rompimentos duradouros. O cara foi até apedrejado.
A certeza de encontrar alguém que de fato o compreendesse e o amasse na mesma voltagem foi o espinafre desse Popeye nortista com nome de ator americano. São de suas faculdades mentais, foi justamente na faculdade que o sol brilhou, foi justamente na faculdade que seus olhos brilharam novamente.
Dessa vez tomou todos os cuidados necessários, pra quem nunca foi muito fã de fast-food, fast-love era algo corriqueiro nos seus namoros. Não cometeu os erros de outrora, nada de conhecer num dia e no outro já está dividindo o mesmo tubo de pasta. Agora sim, namoro standard.
Brincadeiras a parte, desejo do fundo do meu coração toda sorte do mundo nessa nova fase de sua vida. Vida a dois não é fácil, mas você com toda sua sabedoria saberá conduzir e contornar as adversidades e torná-las mindinhas.

sábado, 4 de setembro de 2010

Ensaio sobre o amor

Chego à escola exatamente na hora marcada. Bato à porta e de cara a vejo de costas. Baixinha, cintura de cavaquinho e cabelos negros pelo meio das costas está ali inquieta remexendo um arcaico fichário de alunos. Ela vira preguiçosamente e seus cabelos sedosos acompanham o movimento do corpo numa dança sensual como um tango argentino. Meu corpo perfumado de Avon é invadido poro a poro por um francês arrebatador que até hoje não consigo pronunciar seu nome.
Ela olha em minha direção e percebo o baile articulado de seus lábios. As mãos – como a de um maestro - sobem e descem. Tremo, o coração entra em descompasso e confrange. Espectros se formam diante de meus olhos subitamente cegos. O relógio na parede branco gelo com a logomarca da escola de informática Computec simplesmente congelou, deu branco. Ó meu Deus! Ela é muda. Eu mudo. É o fim do mundo.
Ricardo – o dono da escola – chega num silêncio lento e de longe sem perceber a minha presença faz um gesto para ela com o polegar direito. Ela olha pra mim e devolve para ele o gesto com o polegar esquerdo.
Ricardo desce as escadas saltitando, atravessa a sala de espera a trotes largos e entra na recepção com os braços vestidos e armados para um forte abraço. Nossos olhares se encontram e percebo descaradamente a articulação de seus lábios. Ó meu Deus! Ele também está mudo. Eu juro. É o fim do mundo.
Começa então uma correria, ele me abana com uma apostila, ela vai em busca de um copo com água e açúcar. Sento no sofá, mas não me sinto... Estava surdo de amor. Aqueles dezenove segundos duraram dezenove anos.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Vendedora de Sorrisos

O vermelho do sinal deu passagem para ela ir de carro em carro oferecer suas canetas esferográficas cuja face bordava um sorriso fácil. Motorista nenhum resistia ao seu charminho inocente. Eu a esperava sofregamente. Se aquele sinal esverdear, vou simular uma pane no carro. Não saio daqui sem comprar aquela Bic azul.
- Moço, você comprar uma caneta minha? Só custa dois reais.
- Compro se você me responder o porquê que as pessoas compram suas canetas?
Sua boca como um elástico esticou de ponta a ponta.
- Não faço a mínima ideia.
- Pois eu sei. Respondi a ela.
- Você não vende canetas. Você vende sorrisos.
Ela agradeceu com o rosto ruborizado e um sorriso vitalício nos lábios. Entreguei os dois reais e peguei a caneta relando meus dedos nos delas. Amanhã quero comprar outro sorriso.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

No silêncio da madrugada
Minhas mãos ansiosas
Sob a leveza dos lençóis
Insones te procuram


Sedutoras e delicadas
Migram para o seu corpo
Passeiam languidamente
Buscando o prazer

Em ínfimo tempo invadem
A quietude de seu sono
Afagos indizíveis seduzindo
Despertando seus desejos

Acariciam insaciáveis
A nudez de sua pele quente
Audaciosas ateiam em ti
A chama inflamável da paixão

Minhas mãos tacitamente
Articulam palavras
Numa linguagem indecifrável
Do desejo que me consome

By Carmem